O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 6

Capítulo 56: Nêutrons

— Agora nós podemos continuar de onde paramos — disse Orgulho, enquanto colocava seu nariz de volta no lugar.

O que deveria ser uma dor horrenda para outra pessoa, para aquele brutamontes era menos que uma picada de mosquito.

— Fala aí, que marretona é essa? — Não era qualquer arma que conseguia tirar sangue do seu rosto.

Aquela coisa tinha que ser algo minimamente absurdo. Ele jamais aceitaria algo abaixo disso.

Por outro lado, a resposta lançada pelo nefilim veio carregada de uma ausência de empolgação quase frustrante.

— Só uma marretinha de nêutrons.

No rosto do patrono, um largo e orgulhoso sorriso se formou. Ele sabia, ele sabia que aquilo era especial.

Uma arma formada a partir do material de uma estrela de nêutrons era dotada de uma densidade incomensurável. Uma simples gota daquela marreta já deveria pesar milhões de toneladas.

Só de pensar em realizar alguns levantamentos com aquela arma fazia o patrono entrar em estado de êxtase.

Ah! Ahaha! — Com uma mão no rosto, era incapaz de segurar o riso. — Eu não consigo mais conter isso. Hahahaha!

"Esse cara é doido das ideias", pensou Raizel enquanto olhava para a sua mão mecânica se fechando. "Bem, talvez eu também esteja um pouco empolgado".

Comparado aos outros dois, que enfrentou pouco tempo atrás, esse cara estava se mostrando um desafio bem mais interessante.

— Então grandão… — Pegou o machado de nêutrons que flutuava ao seu lado e se preparou para a batalha. — Vamos continuar?

— Sim, vamos! — Um brilho emanou do relógio do Orgulho, sendo seguido por duas pedras marrons. — Eu vou levar isso um pouco mais a sério, então.

Oh! Gemas Espectrais?

Sem pestanejar, bateu as Gemas Espectrais com força contra os dos lados externos de cada uma das luvas, que passaram a adquirir uma aparência mais rústica.

Com as suas armas aprimoradas, o patrono partiu com tudo para cima do nefilim, o qual ergueu a sua arma com um movimento ligeiro.

Então, na  colisão contra o primeiro soco do rival, a onda de impacto foi tão intensa que se tornou visível, lançando tudo para longe deles.

O solo estourou sob seus pés. Surpreendente, o Orgulho não foi empurrado para trás por causa do peso da arma, por outro lado, ele se mantinha firme.

"Que força insana."

Dado a dura disputa, o nefilim girou o corpo e, carregando a arma com o impulso do movimento, partiu para a segunda ofensiva.

Dessa vez, incapaz de resistir, o corpo do seu inimigo foi arremessado para trás. Fincando os pés contra o chão, um rastro de destruição foi formado, marcando sua trilha.

Com esforço, conseguiu parar a uma distância considerável e lambeu os lábios, em sinal de excitação.

— É, eu gostei.

E, em um piscar de olhos, desferiu um soco devastador cuja pressão limpou o terreno até alcançar Raizel.

Surpreso pela velocidade do ataque, o nefilim pôs a marreta em frente ao corpo para absorver o impacto, obstruindo parte do seu campo de visão.

Ao perceber que seu corpo foi pressionado para trás, Raizel teve certeza de algo: tanto a força quanto a velocidade dos socos daquele cara haviam aumentado.

Apesar das Gemas Espectrais não terem lhe proporcionado um aumento na velocidade de movimento, quando se tratava da velocidade dos punhos, a história era outra.

O estrondoso som de um "boom" veio logo em seguida para anunciar o segundo soco do patrono.

Por alguma razão, o brutamontes não aproveitou que a visão de Raizel foi obstruída pela marreta para se esgueirar pelas costas dele e atacá-lo por trás.

Continuou a socar e socar a arma constantemente. Parecia que ele queria a destruir para só então ir contra o seu usuário.

Compreendendo a intenção do rival, Raizel apenas se manteve firme enquanto aceitava a enxurrada de golpes estourando à sua frente.

Aos poucos, tanto a superfície da arma quanto as luvas do patrono começaram a adquirir um tom escaldante e abrasador.

O atrito intenso e constante fazia as armas aquecerem a ponto de que derreteriam em instantes se não fosse pela densa energia espiritual que as revestia.

Ahahaha! Ahahaha! — Ignorando o calor que fluía em suas mãos, Orgulho se deleitava naquele delirante momento de excitação.

Não havia prazer maior do que a sensação da adrenalina que fluía loucamente pelo seu sangue.

Rir de empolgação era inevitável.

Do outro lado da marreta, o nefilim também compartilhava das mesmas emoções.

Enquanto se esforçava para resistir àqueles socos de pressão descomunal, o rapaz sorria.

"Cara, esse maluco é bom mesmo."

Por sua vez, quem não estava nem um pouco empolgado com a situação era o Patrono da Ganância, que os observava do alto.

Se aqueles dois lutavam entre si, Ganância lutava para não ser empurrado para longe pelas ondas de impacto que limpavam o ambiente ao redor.

— Mas que porra é essa?! — gritava desesperado, ao passo que levava um braço em direção ao rosto para proteger os olhos. — Esses desgraçados!

Com aqueles dois brigando ali, o apelido de Erebus como o Continente dos Monstros fazia total sentido.

Ao conseguir olhar para a origem dos impactos, Ganância ficou a ponto de espantar-se: aquilo… era um vácuo.

A colisão entre os punhos de Orgulho e a superfície da arma de Raizel expurgava todo e qualquer resquício de ar que existia entre eles.

Em um mínimo espaço de tempo, o vácuo sugava o ar ao redor, o qual voltava a ser expelido pelos ataques.

Isso continuou até o quase imperceptível soar de um "crack" surgir em meio ao barulho ensurdecedor: a arma de Raizel finalmente havia trincado.

Ahahaha! Isso é tão… — exclamava, ao menos, até o momento em que percebeu uma pequena esfera azul, semelhante à marreta, se formar sob seus pés — empolgan…?

O "vruuum" do desprender da energia da mini estrela de nêutrons ecoou impiedosamente desde a terra até os céus, carregando o corpo do patrono consigo.

O feixe de luz rasgou a atmosfera do planeta e se fez contemplativo em uma magnífica visão astronômica.

O peito de Ganância foi tomado por uma aflição diante de tal cena. Nem mesmo o corpo absurdamente resistente do seu companheiro seria capaz de suportar o disparo de uma estrela.

— É, foi bom enquanto durou. — Pouco a pouco, a arma e o braço mecânico de Raizel se desfizeram em um brilho vermelho.

Com isso, tanto a diversão da luta quanto a satisfação de usar aquela prótese de metal negro haviam se esvaído.

Então observou o braço que já havia regenerado há algum tempo atrás.

— Agora só falta voc… Hã? — Ao olhar para cima, para ver o Patrono da Ganância, seus olhos foram presos por outra coisa. — Cê só pode tá de brincadeira.

O que se assemelhava a um corpo humano, despencava violentamente do alto.

— Aquele cara ainda existe?

Poeira e pedaços de pedra foram erguidos para cima e acompanharam o estrondo da queda do foderoso Orgulho.

Por alguns segundos, o silêncio reinou.

Ganância observava boquiaberto o corpo do seu companheiro se erguer, ao menos, o que poderia ser chamado de corpo.

Carne exposta pela ausência de pele, sangue evaporado e queimaduras por todas as partes eram o básico da sua situação.

Partes dos ossos do maxilar e dentes se tornaram visíveis, além de uma região do cabelo que foi queimada e um olho que estava ferido, cego.

Como aquele cara ainda conseguia ficar de pé? Um simples movimento já deveria equivaler a uma tortura.

Diferente do que os outros esperavam, o patrono levou uma mão ao rosto e começou a rir para o alto.

— Enfim… enfim eu encontrei um oponente digno! — Abriu seus braços para o céu, pronto para utilizar uma certa técnica. — A nossa disputa será lendária!

Os instintos de Raizel gritaram para ele se preparar: o que estava por vir seria perigoso.

— Espaço… Dimensional!

Quando o nefilim se preparou para manifestar a primeira asa, ele viu Ganância se esgueirando pelas costas do outro, e ambos sumiram.

— Entendo. — Então aquela gente tinha algo assim guardado.

Surpreendeu-se ao olhar as mórbidas paredes cinzas e os equipamentos da sala de treinamento.

— O que você fez?! — Pegou seu parceiro pela camisa e o bateu contra a parede. — Ganância!

— Isso estava se tornando perigoso demais — rebateu, como se falasse o óbvio. — Olhe só pra si mesmo!

— Eu ainda consigo lutar… muito… mais! — Jogou o outro com brutalidade contra a parede do lado, enquanto saía daquela sala. — Eu não sou um merda que nem você, seu fracote.

Sentado no chão, Ganância refletia sobre tudo o que aconteceu.

Foi uma verdadeira lástima não ter roubado a relíquia que Raizel obteve, no entanto, agora eles tinham noção de para onde ela seria levada.

Inusitadamente, a porta da sala voltou a se abrir. Será que aquele cara havia retornado para bater mais nele?

No fim, quem passou por aquela porta foi uma bela garota de olhos e cabelos negros — Luxúria.

Tudo naquela garota era sexy, fosse o jeito de andar, a forma de olhar ou o som da sua doce voz.

Hmmm… — expressou com um dedo nos lábios carnudos. — O grandão tava bufando pelas narinas. Isso foi coisa sua, né?

— E isso é da sua conta?

— É assim que você trata seus companheiros? Rum! — Virou-se lentamente, colocou as mãos para trás e olhou de canto para o rapaz no chão. — Por isso é um virgem que não pega ninguém.

Sozinho em meio ao miasma do continente, Raizel usou a Conversão de Energia para improvisar algumas roupas novas, as antigas estavam só os trapos.

Após enfrentar tanta gente, que por alguma razão estava atrás daquela caixa, o rapaz se perguntava em que tipo de problema Nosferatu o envolveu.

De repente, a ressonância bateu forte em seu peito, anunciando que sua parceira estava passando por uma situação difícil.

— Petra…? — Também era possível sentir a sua energia novamente naquele lugar.

Estava na hora de se reencontrar com a sua preciosa companheira. O problema estava em usar o tempo do percurso para inventar alguma desculpa que justificasse o seu desaparecimento.


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