Volume 1 – Arco 6
Capítulo 54: Patrono do Orgulho
— Não me venha com conversa fiada, seu puto! — reclamou Orgulho ao se aproximar do seu parceiro e segurá-lo pela camisa. — Me mandar um sinal de ajuda e quase morrer pra um zé-ninguém?
— Um "zé-ninguém"? Você prestou atenção em quem acabou de atacar?
— Tsc! — Apertou a camisa de Ganância com ainda mais força e o puxou para mais perto. Aquela distância já era possível sentir o seu bafo quente de onça. — E isso importa?!
— O que importa é que aquele desgraçado pode estar com o artefato dos tenjins. — Ao ouvir isso, o brutamontes arregalou os olhos e afrouxou o aperto sobre a camisa do seu parceiro. — Então… vai deixar ele fugir?
— Onde tá o puto? — Logo se virou para a direção na qual o inimigo de Ganância foi lançado.
Todavia, o que ele viu foi um enorme pilar negro em formato circular, o qual vinha rasgando o ar em sua direção.
Por reflexo, o Patrono do Orgulho segurou aquela estrutura — era tão leve quanto uma pena — e a arremessou para o alto.
No entanto, algo lhe chamou a atenção: ainda que ele fosse absurdamente forte, aquele pilar estava leve demais. Foi nesse momento que a ponta do objeto que estava virada para ele se abriu.
"Estava oco?!" Tão rápido quanto percebeu, um pé cheio de poeira atingiu a sua cara.
A sola do sapato de Raizel desceu arranhando a face do brutamontes. Também materializou duas espadas e fincou-as nos ombros do seu inimigo, uma de cada lado.
Todavia, as lâminas nem chegaram a perfurar a pele do pecado. As armas tencionavam a carne, mas nada além disso.
"Esses músculos…" O nefilim nem teve tempo de concluir o seu pensamento.
Os braços do seu oponente vinham prontos para agarrarem a sua perna, então o garoto optou por chutar a garganta dele, fazendo o patrono desviar o foco dos seus braços e dando a Raizel uma oportunidade de pegar distância.
— Pfft! — Orgulho passou uma mão pela sua face, ela formigava por causa dos arranhões. Entretanto, o que mais incomodava era o gosto de areia na sua boca. — Que nojo.
"O que diabos é esse cara?", pensou Raizel.
Assim como no caso de Ganância, o outro também possuía a aura semelhante a de um monstro. Todavia, o que mais chamava a atenção, era a quantidade de energia.
E não, não era porque Orgulho possuía mais energia que Ganância, na verdade, era o completo oposto.
Aquele cara estava usando uma quantidade de energia tão pequena que talvez fosse apenas a necessária para conseguir voar.
Isso explicaria o fato de ele ter se aproximado com facilidade durante a luta dos outros dois, porém para esse patrono ter causado dano suficiente a ponto de quebrar alguns ossos de Raizel…
"Foi só na força bruta, sério?" O nefilim sorriu. "Esse vai ser mais divertido do que o outro".
Orgulho também sorriu ao reconhecer a aparência do seu inimigo. Quem diria que o encontraria tão cedo?
— Raizel Stiger. — Juntou as mãos e começou a estalar seus dedos numa sequência de sons secos. — Sempre quis te arrebentar.
O brutamontes firmou a base dos seus pés no ar, como se estivesse sobre o chão, então tencionou os seus músculos e fechou os punhos.
Nas suas mãos surgiram densas luvas negras, feitas do que parecia uma espécie de liga metálica, as quais possuíam algumas protuberâncias.
— Oh! Um guerreiro usa luvas em vez de um machado? — Dado as suas características, era evidente que o seu inimigo era da Classe Guerreiro. No entanto, aquelas armas… — Que incomum.
— Não me compare com aqueles merdas que se escondem atrás de armaduras.
Agarrou a própria camisa com uma de suas mãos, rasgou-a e jogou-a fora, expondo os seus densos e salientes músculos.
— Eu vou te mostrar o que é um guerreiro de verdade.
— Oh! — Seguindo o exemplo do seu adversário, Raizel também rasgou e se desfez do restante dos trapos da sua camisa.
Em termos de porte físico, a diferença entre os dois era clara como a água. Não que Raizel fosse fraco fisicamente; mas, se a luta consistisse apenas em musculatura, o nefilim perderia antes mesmo de começar.
— Precisa se exercitar mais, garoto. — Batia com força em seu peito, demonstrando supremacia. — Tem que ser blindão.
Contudo, o garoto estava focado em retirar o pingente do sol do seu pescoço e guardá-lo no anel de ressonância.
Por mais resistente que o acessório fosse, tê-lo balançando para todos os lados seria algo incômodo.
Pela primeira vez durante o confronto, os olhos de Ganância brilharam. Aquele ver possuía uma beleza incomparável, certamente possuía um grande valor. No entanto, se os olhos de Ganância brilharam, os de Raizel ficaram frios.
Tudo bem se quebrassem os seus ossos, mas se tocassem no pingente dourado que Petra lhe deu… conheceriam o que era o inferno na terra.
— Venha. — Criou algumas armas ao seu redor e provocou o grandão com um movimento de mão. — Eu te mostrarei que nem só de músculos vive o homem.
Os dois lutadores, que sempre foram confiantes em sua vitória, agora observavam um ao outro com atenção, prontos para o seu primeiro movimento.
E aquele a atacar foi… Raizel.
O nefilim disparou algumas dezenas de armas em alta velocidade contra o seu adversário. As lâminas avançaram zunindo e cortando o ar até alcançarem o seu alvo.
Sem receio, o patrono socou e quebrou cada uma delas. Seus punhos eram tão potentes que o estrondo dos golpes se comparava a explosões.
Todavia, a investida de Raizel não havia se encerrado. Os pedaços das armas brilharam e explodiram, cercando o seu oponente pelo calor e pela ferocidade das detonações.
Quando, de repente, o som de um bater de palmas se sobrepôs ao barulho das explosões, e o ataque do nefilim foi varrido do ambiente.
Tudo o que restava era o Patrono do Orgulho com as palmas das suas mãos juntas e o corpo ileso. No seu rosto, um sorriso de orelha a orelha.
— Nada mau, mas eu esperava mais!
Em um piscar de olhos, o pecado se pôs cara a cara com Raizel e desferiu um soco girando o seu punho, carregando o ar em forma de vórtice.
O nefilim desviou o rosto para o lado, mas o vórtice de ar ainda conseguiu agredir sua bochecha com alguns arranhões.
Quem realmente teve o azar de receber o ataque foi uma montanha que estava localizada logo atrás. O relevo foi completamente destruído, deixando apenas a memória daquilo que fora algum dia.
Mesmo desviando do soco, Raizel recebeu um chute na barriga que o lançou contra em direção ao chão.
Enquanto caía, o rapaz podia ouvir o sibilar agourento do vento, até que…
Boooom!
O chão estremeceu com sua queda, e pedaços de rocha, junto à poeira, voaram para o alto. No entanto, isso era apenas o início da catástrofe.
Seu inimigo caía como um meteorito, que queimava pelo atrito com a atmosfera, pronto para acertar mais um chute ainda mais poderoso que o anterior.
Sem pensar uma segunda vez, usou um Círculo de Propulsão para se afastar da área de colisão e assim escapar do ataque do seu adversário.
Mais uma vez a terra tremeu, e ainda iria tremer muito mais.
O nefilim se levantou, enquanto restaurava os ossos trincados. Foi aí que Orgulho se deu conta de algo — de um desafio.
— Ah, é mesmo. Os nefilins não sentem dor quando ativam essas runas, né não?
Então colidiu os seus próprios punhos, numa altura entre o seu abdômen e o seu peitoral, fazendo o som agudo das luvas de metal ecoar pelo local.
— Eu serei o primeiro a fazer você sentir dor, mesmo com as suas runas ativas! — Pôs-se a gargalhar feito um louco, com uma mão em sua face. — A dor do mais forte!
— Convencido só por causa de uns soquinhos? — Algumas aberturas para propulsores surgiram na prótese negra do seu braço. — Cê vai rodar.
— Quer cair no soco comigo? Hahaha! — Fechou o seu punho direito. Os músculos do seu braço enrijeceram. As veias incharam. — Pois bem. Venha!
Com os punhos cerrados, os dois logo avançaram, cravando os seus pés no solo e se mostrando implacáveis frente ao outro.
Os seus punhos sedentos e vorazes carregaram o ar e a determinação dos guerreiros consigo.
— Divisor de Terras!
Não se podia esperar nada menos do que uma colisão descomunal.
— Punho de Adão!
Tão intenso foi o impacto que, num primeiro momento, todo o ar entre os dois foi dissipado, gerando uma espécie de vácuo.
Encaravam-se e cerravam os dentes com força, enquanto tentavam — com ímpeto — empurrar o golpe do outro para trás.
O solo do continente inteiro começou a tremer, como se estivesse sob o efeito de um assombroso terremoto.
Logo os tremores alcançaram o oceano de Erebus e iniciaram um agitamento avassalador das águas, que logo se transformou em vários tsunamis.
Mais tarde, essas ondas gigantescas alcançariam as cidades costeiras dos continentes próximos ao Polo Norte, assombrando a todos com o que deveria ser um evento natural.
Como dois leões, os guerreiros rugiam um para o outro. Todavia, os seus gritos eram incapazes de cruzar a distância entre eles.
As ondas de choque, que haviam se tornando visíveis, empurravam o som de duas vozes para trás.
As veias de Orgulho incharam tanto que poderiam estourar a qualquer momento. O braço mecânico de Raizel tentava se manter firme na disputa, com a ajuda dos seus propulsores.
No entanto, a prótese do nefilim já começava a demonstrar sinais de rachaduras, indicando que a derrota dele se aproximava.
Ganância, por sua vez, apenas observava aquela disputa do alto. Os seus braços cobriam o rosto, para o defender das rajadas de ar e das ondas de choque que o agrediam.
O ar parecia o maltratar com chicotadas, ao passo que as ondas de choque o atropelavam como um caminhão.
"Esses desgraçados…" Era difícil acreditar que estavam fazendo aquilo apenas com os seus punhos. "São dois monstros".
Pedaços da prótese de Raizel se soltaram e atingiram a lateral da sua testa. A resistência do seu inimigo estava muito acima do esperado.
Não havia outra alternativa.
O nefilim cedeu e deixou o seu punho ser empurrado para trás. Nesse instante, o patrono sorriu pela sua vitória. No entanto, como Raizel cedeu de repente, o seu corpo acabou inclinando para a frente por causa da inércia.
Foi nesse momento que o nefilim criou uma grande marreta de um um material brilhante — em tom de azul-claro — e bateu com tudo contra o rosto do patrono.
Com o Orgulho lançado para longe e indefeso no chão naquele instante. Raizel criou a oportunidade perfeita e logo a aproveitou.
Pegou a marreta e avançou contra o pecado, pronto para esmagar a sua cabeça em um único acerto. No entanto…
Boooom!
Vendo o seu companheiro em meio a uma situação crítica, Ganância disparou uma chuva de flechas explosivas, forçando Raizel a se defender e deixar o outro de lado.
— Tsc! — A sua chance foi pelo ralo.
O Patrono do Orgulho começou a se levantar. Passou uma mão pelo seu nariz. Sangrava e ardia.
Era grande o desejo de indagar sobre qual material aquela marreta era feita. Afinal, o que poderia ser capaz de feri-lo?
Mas o que saiu da sua boca foi um:
— Que merda você tá fazendo, Ganância?! — O olhar que foi direcionado para o seu parceiro no céu carregava a mais pura indignação.
— Que merda você tá falando?! Eu acabei de salvar a tua vida!
— Ele é a minha caça! A minha presa! — Apontou o dedo manchado pelo seu sangue viscoso. Poderia muito bem ser o sangue do próprio Ganância. — Atrapalhe de novo, e eu mesmo mato você!
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