Volume 1 – Arco 6
Capítulo 52: O Lamento do Bravo
Raizel tirou sua mão do rosto, respirou fundo e acalmou um pouco a sua aura. Ainda assim, precisava extravasar aquela vontade repentina de matar alguém.
Então olhou para o inimigo à sua frente.
— Vai ter que servir.
Em um piscar de olhos, avançou contra o patrono, no entanto — no momento em que iria cortá-lo — houve uma pequena explosão no cabo da sua espada.
Ao que Raizel perdeu a estabilidade do ataque, Ganância materializou um arco e disparou uma flecha contra o seu oponente.
O peito do nefilim foi queimado pela ardência da explosão, lançando-o para trás. Com isso, um buraco surgiu na sua camisa e a sua runa peitoral ficou visível.
— É só isso, Primordial?
O garoto viu o patrono estender uma das suas mãos em direção a ele. Em resposta a isso, vários pássaros de energia, brilhantes como faíscas, apareceram e o atacaram.
Raizel começou a cortar os pássaros em uma velocidade extraordinária. Os animais se desfaziam em um brilho forte conforme eram dilacerados.
A quantidade de inimigos era grande demais para cortar todos de uma vez. Aos poucos os pássaros começaram a explodir em uma sequência de detonações que envolveram o nefilim em um verdadeiro carnaval.
— Você fala demais. — Ganância mal terminou de falar, e um corte de energia saiu de dentro das explosões. Ele se jogou para o lado, mas o ferimento no ombro foi inevitável. — Argh! — O sangue viscoso esguichou, manchando seu rosto.
— Quem "fala demais"? — Ao baixar da fumaça caótica, Raizel se revelou dentro de uma esfera translúcida de energia. — Agora é o meu turno.
Criou várias espadas e lanças negras e, com um movimento de mão, lançou-as contra o patrono. Assim como o seu adversário, Raizel explodiu as suas armas quando se aproximaram dele.
Outro festival de explosões.
No entanto, o inimigo não utilizou nenhum escudo de energia para se proteger. Na verdade, todo o efeito das detonações foi, aos poucos, sendo absorvido pelas suas mãos.
— Entendo — observou Raizel. — Manipulação de Explosões, heim?
— Demorou pra perceber.
— É fácil lidar com gente como você. — Dessa vez disparou as armas sem a intenção de explodi-las. O foco era cortar e perfurar.
Como esperado, o seu adversário era incapaz de absorver as armas enquanto não se transformassem em explosões. Além disso, ele também possuía uma certa resistência ao efeito da sua Habilidade Inata.
Ganância se esforçava para desviar e rebater tantas armas, mas esse não era o maior dos seus problemas. Raizel nunca foi de ficar observando de longe.
Apareceu nas costas do patrono e cortou-as com um ataque descendente. Nisso os movimentos do seu oponente vacilaram, sendo, assim, perfurado por algumas das armas.
— Absorva isso agora!
Afastou-se com o auxílio de um Círculo de Propulsão pouco antes de as espadas e lanças no corpo do pecado explodirem.
O efeito das detonações logo foi tragado pelas mãos do seu inimigo, ainda assim, havia ferimentos espalhados pelo seu corpo manchado pelo sangue carmesim.
— É só isso, patrono?
Os dois se encararam. O nefilim estava altivo, mas não satisfeito — ele queria extravasar ainda mais. — O patrono, por sua vez, ardia de raiva, indignado.
"Tsc! Esse maldito já conhecia o ponto fraco da minha Absorção de Explosões."
De fato, detonar as armas, depois de terem perfurado o corpo do seu inimigo, era uma forma efetiva de lhe causar algum dano.
Se não fosse pela sua Resistência à Explosões, o resultado teria sido muito pior.
— Você vai pagar por isso! — Ao mover das mãos do pecado, vários Círculos Explosivos surgiram ao redor de Raizel.
O garoto logo se afastou para evitar os danos. Mesmo com a resistência proporcionada pelas runas, receber danos de explosivos com frequência era uma ideia ruim.
Conforme cruzava os céus, o brilho e os estrondos das explosões o perseguiam, mas não o alcançavam. Ele era rápido demais.
Pegou impulso em um Círculo de Propulsão e disparou contra Ganância. Aproveitando que ele ia em linha reta, o seu inimigo criou algumas Gemas Explosivas no caminho e se preparou para disparar mais uma flecha.
Todavia, Raizel usou o seu braço esquerdo e conseguiu absorver boa parte das gemas, além de desviar da flecha do seu oponente.
No fim, apenas alguns arranhões e pequenas feridas marcaram o seu corpo. Um pequeno preço a ser pago para alcançar o pecado.
Desesperado, o patrono preparou outra flecha para disparar com o seu arco. No entanto, a sua flecha era feita de energia. Raizel poderia absorver como fez com as gemas.
Graças à hesitação gerada por esse pensamento, o nefilim conseguiu perfurar o ombro do seu inimigo com a Espada do Princípio.
— Argh! — Em contrapartida, mesmo sentido dor, desfez o seu arco e conseguiu cravar a flecha no ombro esquerdo de Raizel.
Como se estivessem em sincronia, ambos liberaram energia e explosão no ombro um do outro, lançando sangue, carne e ossos para todos os lados.
Ganância fez uma expressão de dor, diferente de Raizel que — por estar com as runas ativas — pôde ignorar a ardência e dar um chute na barriga do pecado, jogando-o para trás.
— Oh! Isso sim foi uma explosão de verdade. — O nefilim tocou o seu ferimento com os dedos da prótese negra e observou a textura do seu próprio sangue.
Assim como o outro braço de Raizel, o de Ganância estava inerte, caído contra o seu corpo. Os dois haviam destruído boa parte da clavícula um do outro. Só mexer os dedos já era difícil.
— Humph! — O Patrono da Ganância estava contente. Embora estivesse com um braço inutilizado, ele conseguiu invalidar o braço orgânico do nefilim.
Se a sua intuição estivesse correta, Raizel não conseguiria usar a Absorção de Energia com o seu braço mecânico. Então ele tinha que aproveitar essa oportunidade antes que o garoto curasse o seu ferimento.
Estava na hora de usar o seu brinquedinho especial.
— Hahaha! Vire pó, Primordial!
O meio-anjo entendeu as palavras do seu inimigo no instante em que viu uma grande ogiva cair do céu. Possuía formato cilíndrico e era algumas vezes maior que o próprio Raizel.
A quantidade de energia concentrada ali era muito grande. Rapidamente, o nefilim concentrou energia no fio da sua espada e preparou o Terceiro Ato para cortá-la. No entanto, logo interrompeu seu movimento ao se lembrar de um detalhe importante.
Caso uma bomba explodisse no ar, as ondas de choque iriam rebater contra a superfície e se ampliar umas às outras. O alcance seria maior, e o efeito seria devastador.
Caso ele tentasse pegar a bomba no ar — para a absorver — o seu adversário provavelmente iria detoná-la por causa do desespero. Ele não tinha outra opção: era aceitar ou aceitar.
— Exploda, Lamento do Bravo!
Em um piscar de olhos, um forte brilho, seguido por um barulho ensurdecedor, e poderosas ondas de choque e de calor acabaram por sepultar a acrópole que os guerreiros sobrevoavam.
Os prédios e demais construções, já desgastados pelo tempo, foram reduzidos a nada mais do que pó. Até mesmo a densa névoa do continente foi abalada.
O ambiente gelado do Polo Norte foi aquecido a ponto de se tornar um verdadeiro forno ardente, capaz de cremar qualquer coisa em instantes.
Mesmo a milhares de quilômetros de distância, e com a visão obstruída pelo miasma carmesim, ainda era possível observar o tenaz brilho alaranjado da explosão.
No meio do vapor escaldante, Ganância se via vitorioso. O seu inimigo havia desaparecido por completo, junto a qualquer indício da sua energia espiritual.
No pior dos casos, o garoto deve ter ficado com medo e fugido. No entanto, isso era um problema. O patrono nunca esteve realmente interessado em matá-lo. O que ele queria era o anel de ressonância que guardava a caixa de madeira.
Violar o conteúdo de um Dispositivo de Guarda Dimensional era algo mais do que difícil, mas com a ajuda do doutor Arklev, isso seria bem simples.
— Merda. Será que o anel ainda tá inteiro por aí…? — Do nada, correntes douradas prenderam os seus braços e pernas. — De onde…?
— Elas saíram? — disse Raizel ao sair do meio da névoa e do vapor. O seu corpo estava envolvido por uma aura vermelha-clara, a sua energia divina. — As Cadeias de Abaddon podem sair de onde elas quiserem.
— Mas… Mas como?! — Era difícil de acreditar. O nefilim estava bem ali de pé e com o seu ombro curado, mas não era possível sentir a sua energia. Só então o pecado se deu conta de algo. — Furtividade?
Embora parecida com a habilidade da Classe Assassino, a Ocultação de Energia era uma habilidade independente. Afinal, Raizel nem era daquele mundo. Ele sequer possuía uma Classe de Batalha.
— Vamos lá. Você realmente achou que poderia me vencer só por que invalidou um dos meus braços? — Mostrando o dedo indicador para o pecado e balançando-o para os lados, provocou em negação. — Que ingênuo.
Quanto mais o garoto falava, mais o ódio de Ganância crescia.
— Acho que isso já acabou, Patrono da Ganância.
Ao estalar dos dedos de Raizel, uma estrutura surgiu atrás do seu inimigo. Era semelhante a um caixão negro ornamentado com a cabeça de uma mulher e cheio de espinhos por dentro.
As Cadeias de Abaddon se ligaram à nova estrutura e começaram a puxar o patrono para dentro.
— Não… Não! — Se debater ou espernear era inútil. O ranger do metal se assemelhava ao grunhido de uma criatura, fazendo parecer que o caixão negro estava verdadeiramente vivo. — Pare! Pare!!
— Vamos! — Com os braços abertos, proclamou: — Entregue os seus gritos de agonia para a minha Dama… de Ferro!
Fechou o punho metálico, e o seu inimigo foi puxado com ainda mais força para dentro do caixão. O destino parecia selado, no entanto…
Um punho repentino, vindo de trás da Dama de Ferro, estraçalhou-a em pedaços, e um vulto passou ignorando Ganância e se dirigindo contra o nefilim.
O garoto cruzou os braços para se defender, mas apenas o som da quebra do seu braço metálico e dos ossos do seu antebraço esquerdo foi ouvido.
Impiedosamente, o seu corpo foi arremessado para longe, chocando-se contra o solo e deixando apenas um rastro de destruição, que se perdeu em meio à névoa.
Uma grande sensação de alívio preencheu o peito do Patrono da Ganância. Dentre todos os que poderiam ter vindo ao seu encontro, aquele brutamontes era uma das melhores opções.
— Que merda é essa que eu tô vendo aqui, Ganância?!
O indivíduo à sua frente era alto e possuía um físico definido somado a uma aparência selvagem. Combine isso aos seus dentes de serra e pelos acentuados, e você veria uma verdadeira fera em forma de gente.
— Acho que eu nunca estive tão feliz de te ver… Orgulho.
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