O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 5

Capítulo 46: Ao Resgate

Um pouco à frente dos outros, Sophie seguia voando com os olhos fixados no horizonte. Depois que recebeu a mensagem de Trevor, a ressonância enfraqueceu. Alguém removeu o anel dele.

"Trevor…" Uma confusão tomava conta tanto da sua barriga quanto da sua mente, acompanhada de um certo medo.

De qualquer forma, ela podia sentir pela ressonância, ainda que de forma bem fraca, que ele permanecia em Hervrom. Havia ao menos isso para confortá-la. Mas achá-lo com precisão era muito difícil.

— Tá tudo bem fazer isso? — indagou Eirin, logo atrás.

O seu questionamento era nítido para qualquer um deles, afinal a garota estava usando a Aceleração Temporal continuamente para que pudessem alcançar o seu companheiro o quanto antes.

— Esses pecados são bem perigosos, não é? — ressaltou Klaus. — É melhor alcançar eles em boas condições de luta.

— Eu… eu sei, mas… — Um pouco mais à frente, a garota pôde perceber um pequeno brilho verde misturado com azul-escuro, perdido em meio a um rastro de destruição. — Então descartaram você aqui.

Sophie desceu e pegou o anel de ressonância de Trevor, que agora fazia companhia ao que estava em seu dedo.

— Cara, o que foi que rolou por aqui? — Klaus observava os arredores com os olhos bem abertos.

Estava tudo um caos: buracos e fissuras na terra, além de uma espécie de ácido que derretia as rochas, e as árvores que foram torcidas de forma brutal pela Distorção Espacial.

— Não importa agora. — Sophie não estava disposta a gastar mais tempo ali. Ela já havia recuperado o anel, agora tinha que recuperar o seu parceiro.

Ela estava para alçar voo mais uma vez quando, pela segunda vez, algo chamou a atenção dos seus olhos.

A garota se aproximou a passos largos e pegou o objeto sem pensar duas vezes.

”Isso é…" Uma peça de xadrez reluzia um pequeno brilho a partir do seu vidro esmeralda.

Ela jamais esqueceria aquele objeto, afinal pensou que o havia perdido em meio à confusão do dia em que conheceu o seu duo.

Usando a Reversão Temporal, reparou a peça de xadrez trincada, manchada de poeira e de cinzas: o rei esmeralda.

— Maldito nefilim! — Enquanto voava, Gula observava o braço quebrado, envolto pela sua aura para acelerar o processo de cura. — Aquele último quadro foi horrível.

— Siim. — Assentiu, abraçada à píton.

Os eventos que se sucederam, após o garoto perder a consciência dentro do Ateliê Eclético, faziam jus ao nome daquele quadro: O Caos na Guerra.

Uma verdadeira chuva de bombas, mísseis e ogivas que, independente de para onde os seus inimigos fossem, restava-lhes apenas um destino: ser explodido.

Mesmo após o bombardeio cessar, e os dois pensarem que aquela bagunça tinha chegado ao fim, ainda restavam algumas minas terrestres espalhadas por todo lado.

Para fechar o pacote, os seus Dispositivos de Teletransporte foram danificados no processo. Agora tinham que levar o seu refém até Erebus na base do voo.

A missão ficou mais trabalhosa, e Preguiça ficou com muita raiva daquele nefilim idiota. Ter que voar? Já não bastava o esforço da luta?

Hãã?

De repente, a dupla sentiu a energia dos seus inimigos aproximando-se em uma velocidade verdadeiramente insana.

— Eles nos alcançaram tão rápido?

O homem cogitou segurar o esquife transparente que guardava o corpo do rapaz, que flutuava ao seu lado, e partir o mais rápido que pudesse.

No entanto, uma lança passou flamejando entre eles e, ao colidir contra o chão logo adiante, criou um muro de fogo cujo calor queimava mesmo à distância.

— Magnífico! — exclamou o homem esquelético, abandonando o refém e se jogando em meio ao fogo. Aquilo seria uma ótima refeição.

Ahh! — Ficou sozinha e responsável pelo refém, ou seja… mais trabalho. — De noovo?

Restava-lhe criar alguns lobos e leões de veneno para fazer a sua escolta e atacar os seus adversários, que não tardaram em aparecer.

Várias estacas de gelo vieram em direção à garota, a qual estava apoiada na sua serpente de estimação. Todavia, os animais de veneno se puseram na frente e receberam o ataque por ela.

Tão rápido quanto Eirin atacou, suas estacas derreteram ao entrarem em contato com o veneno presente nos corpos das criaturas que se posicionaram em frente à sua mestra para a defender.

— Ooi — disse, acenando levemente com uma de suas mãos.

— Oi! — Todavia, quem respondeu foi o garoto que avançou com tudo contra ela, desarmado.

Isso até que a sua arma saiu do meio do muro de fogo, girando como um boomerang e encaixando-se perfeitamente em sua mão.

Dado o calor das chamas, algumas criaturas de veneno foram evaporadas antes que a substância dos seus corpos tivesse oportunidade de se opor àquela investida.

Com a arma vindo sedenta em direção ao seu rosto, a garota fechou os olhos e torceu para que sua serpente desviasse a tempo.

No entanto, quem a salvou foi o seu companheiro — Gula — que agora estava mais para um brutamontes do que para um esqueleto.

Hahahaha! A arma tem um gosto tão bom quanto as chamas?! — De fato, o muro de fogo que Klaus criou desapareceu um instante antes do ex-esqueleto salvar a sua aliada.

— "Gosto"? — Foi quando o lanceiro viu uma boca se formando no peito do seu inimigo, pronta para engolir a sua arma. — Merda!

No último instante, conseguiu desmaterializar sua arma, evitando o pior e deixando o pecado a comer vento.

— Não, não, não — lamentou, balançando a cabeça para os lados. — Que estraga prazeres.

Todos se encararam no ar. Klaus e Eirin de um lado; Gula, Preguiça e a serpente do outro; e Trevor um pouco mais distante, inconsciente, dentro do esquife transparente.

— Eu cuido do grandão. — O nefilim materializou sua arma mais uma vez e se inclinou para a frente, em posição de batalha.

Sem hesitação, avançou contra o seu adversário e tentou perfurar seu peito com a lança, aquecendo-a a ponto de assumir o aspecto de brasa. Caso o troglodita tentasse engoli-la de novo… bem, era melhor que não tentasse.

Contudo, o seu ataque foi defendido pela espada do seu oponente. O Homem se esforçava para se manter firme usando apenas o braço que lhe restava.

Ainda que tenha curado o braço esquerdo, após devorar as chamas do seu inimigo, o braço que perdeu na luta anterior fazia falta — e muita.

— Ei, garoto. Eu quero mais daquele fogo. — O grandão pressionou a sua arma contra a do garoto, forçando-o para trás. — Você poderia me dar mais?

— Eu vou dar — disse, ao inclinar a sua lança para o lado, fazendo a espada do seu inimigo deslizar por ela. Assim, girou, incendiando seu pé e chutou as costelas do seu inimigo, jogando-o para longe. — Eu vou dar uma bela surra nessa sua cara!

Enquanto isso, Eirin lutava para se desviar das criaturas de veneno da Preguiça. Derrotar aquela garotinha não deveria ser difícil, tendo em vista que mal se mexia.

Passar por aquelas criaturas era o verdadeiro problema. Nas poucas vezes que tocaram na espadachim, a pele dela ardeu e começou a derreter.

— Eu odeio Manipulação de Veneno — Contudo, era inegável que o veneno era a forma mais eficaz de matar alguém realizando pouco esforço físico.

Após congelar mais algumas das criaturas, a garota se aproximou da Preguiça e estava para desferir um ataque fatal. — Agora sim eu posso dizer "oi"!

— Neem. — As criaturas que a garota congelou se soltaram da sua prisão, ainda mais fortes e com uma coloração diferente: azul-claro.

O veneno azul possui a capacidade peculiar de se fortalecer em temperaturas baixas, algo ideal para derrotar uma usuária de Manipulação de Gelo.

Só mais um pouco e os monstros rasgariam o rosto delicado da garota com as suas corrosivas.

Nesse mesmo instante, Klaus lutava para fincar sua arma na boca do peito do seu oponente quando, de repente… ele trocou de lugar com Eirin.

Os seus adversários ficaram confusos e, por um momento, voltaram os seus olhos para o único ali que deveria ser capaz de mudar a posição de objetos no espaço — Trevor — mas o mesmo continuava dormindo.

De qualquer forma, essa pequena surpresa foi o suficiente para a espadachim congelar a boca que estava no peito do seu inimigo e o lanceiro queimar e cortar um dos braços da usuária de venenos.

— Nós vencemos! — exclamou o duo em plena vantagem.

Hm! Hm! — negou Preguiça, com um balançar de cabeça enquanto usava sua energia para estancar o sangramento do seu braço. — Mooraam!

Os dois, que até então estavam na posição de vencedores, sentiram uma forte sensação de náuseas. Manchas roxas começaram a se espalhar pelos seus braços, pescoço e rosto.

"Essa pirralha envenenou a gente?" Questionou-se Klaus.

— Então… — A garota se aproximou do lanceiro, colocando a mão em seu queixo e se aproximando do rosto dele. — Quem venceeu?

Ao ver aquela garota com o rosto tão próximo da face do seu parceiro, algo quente brotou em Eirin, e não foi por causa do veneno.

No entanto, uma voz soou do alto: — Nós que vencemos! — Em cima de uma nuvem estava Sophie com seu arco, e uma flecha verde sendo carregada.

Ao disparar o projétil, um brilho esmeralda desceu até a terra. Foi uma bela cena que logo se tornou uma explosão, em larga escala, que devastou o lugar.

Inimigos ou aliados, todos foram engolidos pelo ataque cujo impacto mudou a geografia do lugar e poderia ser ouvido a milhas de distância.

Ao desvanecer do ruído, apenas uma risada pôde ser ouvida:

Ahahahaha! — Gula gargalhava em meio à poeira. O seu corpo repleto de ferimentos, além do gelo que percorria o peito. — Vocês são loucos mesmo!

Então o brutamontes viu, pela primeira vez, a imagem com clareza daquela que os atacou. Descendo como um anjo, os seus cabelos dourados resplandeciam com o brilho do sol.

— Imperatriz Chronos. Entendo… — Quando aqueles dois trocaram de lugar, foi ela que parou o tempo para que eles fizessem isso. — O elemento surpresa.

O homem viu a situação ficar ainda pior quando um brilho verde-claro envolveu os corpos dos seus adversários. A Reversão Temporal começou a purificar o veneno da Preguiça.

— É, agora…

— Fudeeu de veez — completou a sua parceira que também estava repleta de feridas.

— Pois é. — Logo atrás, a voz de Trevor soou sonolenta, ao passo que acabava de acordar. É claro que a garota não esqueceria de usar a Reversão Temporal no seu parceiro.

— Sim, Preguiça, fudeu de vez. — Feridos, exaustos e numa desvantagem de dois contra quatro. Realmente, não havia expressão melhor para definir a sua situação.

Para a sorte dos pecados, várias latinhas  surgiram do nada. Todos, exceto Gula e Preguiça, acharam aquilo estranho. De todas as coisas incomuns que já viram na vida, uma chuva de latinhas era a primeira vez.

Logo as latinhas explodiram, liberando uma enorme quantidade de fumaça por todo o ambiente, ao passo que a presença dos seus inimigos sumia.

Só aí Trevor se deu conta do que aconteceu: objetos sendo criados a partir do nada.

"Essa habilidade." O poder que se assemelhava à Conversão de Energia de Raizel, porém em sua definição mais pura. "Criação de Matéria".

Cof! Cof! Cof!

— Olha só pra vocês — disse uma voz feminina.

Quando Gula e Preguiça abriram seus olhos, se viram em um corredor escuro e familiar. Na sua frente estava a sua salvadora: Inveja.

— Vão para a enfermeira logo — disse, enquanto se retirava. — E tratem de preparar uma desculpa para quando encontrarem o mestre.

Ter que encarar aquele homem chateado era algo que fazia os seus corpos tremerem, mais do que se estivessem despidos no frio de Erebus.

Hmmm! Sem saal. — Tão séria. Por isso ninguém, além da Luxúria, gostava de ter aquela garota por perto.

Na noite daquele dia, Trevor acabara de sair do banho. Uma toalha sobre os seus cabelos molhados descia até a altura do seu peitoral nu.

Sentia-se péssimo, afinal quem não se sentiria? Foi incapaz de ajudar no portal de Viena e, ainda por cima, quase sequestrado.

Ao menos, foi informado de que tudo ocorreu bem no portal, e estava a salvo na sua residência. Destruído por dentro, mas inteiro por fora.

A parte boa, a única, foi que ele descobriu que a Organização Perpetuum tinha interesse em usuários de Manipulação Espacial.

Um humano sendo usado para a construção de algo assim era um pensamento absurdo. Só uma coisa era certa e desagradável: sofrimento e morte.

— Essa gente é insana. — O rapaz se sentou na cama e encarou a sua escrivaninha. Sobre ela havia alguns rascunhos dos seus desenhos e uma peça de… de xadrez?

O garoto se levantou, quase pulando, e foi de encontro ao rei esmeralda. Ele sentiu falta do objeto quando acordou. Imaginou tê-lo perdido durante a luta.

Ah, entendo. — Só uma pessoa poderia ter colocado aquele objeto ali enquanto ele estava no banho.

Agora Sophie não só sabia que seu parceiro estava com o rei por todo esse tempo como também que ele o escondeu dela.

Sentindo seu estômago embrulhar, Trevor levou uma mão até o rosto quente.

— Então é assim que é morrer de vergonha.


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