Volume 1 – Arco 5
Capítulo 44: Emboscada
Enquanto voava em alta velocidade, o vento balançava seus cabelos fortemente, fazendo algumas mechas rodopiar e quase agredirem os seus olhos.
Há pouco tempo atrás, Trevor foi notificado pelo MIC sobre a ruptura do portal de Viena. Dado a urgência da situação, achou melhor se adiantar e ir em auxílio aos seus companheiros, saindo sozinho.
O que ele não esperava era se deparar com dois indivíduos flutuando logo à frente. Aquele manto preto e aquela máscara que cobria a parte superior do rosto, o nefilim jamais esqueceria.
Surpreso, desacelerou e parou a uma distância segura dos outros dois. Um sentimento quente começou a surgir dentro de si. Aquelas vestes o faziam se lembrar dela… Luxúria.
— Quem são vocês? — indagou, observando os suspeitos: o cara era alto e magro, já a pequena garota abraçava uma grande serpente verde, como se fosse seu suporte.
O primeiro a responder foi o homem: — Você é o tal da Manipulação Espacial que a Luxúria falou, né?
"Então eles realmente estão com ela?" De todas as possibilidades que passaram pela sua mente, nunca considerou que a Organização viria pessoalmente atrás dele. — E se for eu?
— Você vem com a gente — disse o homem ao levar um dedo até a boca e mordê-lo, fazendo-o sangrar.
Dado o seu tamanho e a pouca massa visível por baixo daquele manto, era esperado que o indivíduo fosse magro, mas aquele dedo era simplesmente esquelético.
— Acho que terei que recusar o convite. — Sem baixar a guarda, preparava-se para materializar a sua espada, quando a garota abriu a boca.
— Aaah! Que caara chaato — disse enquanto repousava abraçada à píton. Sua voz pausada e suave transmitia um certo teor de sono. Trevor até poderia jurar que a viu bocejar, mesmo diante de um inimigo. — Nem um poouco… charmooso.
— "Charmoso"?
Tá aí uma informação que ele não esperava que aquela garota fosse julgar como relevante, ou talvez sim, a Luxúria era louca, afinal.
Mas já que a tão cautelosa Organização Perpetuum decidiu agir abertamente, Trevor esperava que aquela garota viesse lhe dar ao menos um "oi". Assim resolveria suas desavenças com ela logo de uma vez.
— Ela… chateaada — disse, ao apontar lentamente um dedo para ele — com vocêê.
— Comigo? — Não era como se ele tivesse decepado a mão dela.
Mas o que realmente se passava pela mente do nefilim era: qual os pecados desses dois? A garota, nitidamente era a preguiça, mas o cara…
Ganância, inveja, ira, orgulho. Ele não aparentava carregar nenhum desses traços. A gula, então? Mas magro assim?
— Nós vamos te levar — disse, lambendo os beiços — por bem ou por mal.
Logo Trevor materializou a sua espada, e as runas se espalharam pelo seu corpo. Dado a dificuldade pela qual passou na luta contra Luxúria, ele sabia que vacilar contra aqueles dois seria fatal.
O primeiro a atacar foi ele próprio.
— Corte Multidimensional!
Com um único balançar de espada, vários cortes surgiram, tirando dos inimigos qualquer possibilidade de rota de fuga.
O indivíduo magro materializou a sua própria espada e começou a rebater os cortes de Trevor tão rápido quanto podia, mas defender todos era quase impossível.
A sua parceira, por sua vez, nem se moveu. Estava cansada demais para isso. Então coube à píton o papel de defendê-la.
A serpente envolveu-se ao redor da garota, recebendo todos os ataques em seu lugar. O corpo animal segurou bem a maior parte dos cortes, o que era de se surpreender, até que chegou no ponto em que começou a sangrar.
— Samaeel… — Comovida pelo seu pet, a preguiçosa começou a curá-lo quase que de imediato. — Maldiiito!
Trevor já estava preparado para realizar o seu próximo movimento. Derrotaria eles e os capturaria, sem chance de reação.
Com a Distorção Espacial, quebraria os seus braços para evitar que usassem algum Dispositivo de Teletransporte para escapar, como a Luxúria fez.
Contudo, antes que pudesse ativar a técnica, ouviu o som de um líquido formando-se nas suas costas, acompanhado de um cheiro pungente.
Virou-se tão rápido quanto pôde para desviar de uma garra verde que vinha em direção ao seu rosto, pronta para parti-lo de cima a baixo.
Diferente do que esperava, teve que utilizar a Distorção Espacial de forma defensiva, desviando a direção do ataque inimigo.
Prestando um pouco mais de atenção, entendeu do que aquilo era feito. — Veneno?
Em instantes, o líquido viscoso tomou a forma de um pequeno dragão que insistia em desferir ataques e cuspir veneno no garoto.
Felizmente, para Trevor, nenhum daqueles ataques o alcançou, nada o tocaria enquanto estivesse dentro do espaço distorcido.
Mas por quanto tempo ele poderia continuar na defensiva? Era preciso atacar. Ninguém vence uma luta só correndo.
A Preguiça criou mais três Dragões de Veneno ao redor do garoto, e os Cortes Multidimensionais de Trevor finalmente cessaram.
— Tsc!
Ele precisava partir para a ofensiva logo, mas respirar perto daqueles dragões era perigoso.
Então desfez sua defesa, e quando os monstros vieram para cima, abriu quatro Portais Dimensionais que os engoliram.
Logo abriu a saída dos portais bem em cima do suposto Gula. Era hora de lançar o feitiço contra o amigo do feiticeiro.
Com um dos seus oponentes distraídos pelo veneno, Trevor partiu para cima da Preguiça. Ela era a que apresentava menor movimentação, então poderia lidar com ela facilmente e depois render o outro.
A garota ao ver a aproximação do seu inimigo, lançou várias Criaturas de Veneno contra ele, que prosseguiu cortando cada uma delas sem cessar o seu avanço.
Para evitar a inspiração do veneno, o nefilim improvisou uma máscara, distorcendo o espaço ao redor do seu rosto.
As criaturas criadas pela Preguiça não eram tão resistentes quanto, perigosas. Sem inspirar o veneno, eram apenas monstros comuns.
A um passo de golpear a garota, a sua arma foi interceptada pela espada do outro pecado.
— Valeeu. — A moça apenas continuou abraçada à serpente Samael enquanto o seu parceiro a defendia de Trevor. — Vocêê… tá cheeio?
Sem perder tempo, o indivíduo abriu a boca, em seus lábios estava o líquido verde dos monstros que Trevor havia jogado contra ele. Assim, a garra de uma das criaturas saiu lá de dentro e acertou o ombro do rapaz, errando o seu rosto por muito pouco.
Ele podia ignorar a dor, mas sabia que aquilo era ruim, a sua pele estava queimando e fumaçando. Se não fosse pelo reforço de cura das runas, até os seus ossos teriam derretido em instantes.
Contudo, aquilo também era uma oportunidade, e ele a aproveitaria. Com os seus oponentes tão próximos, era difícil desviarem agora.
— Xeque!
Desde o seu ombro, até tudo o que estava pela frente, o espaço foi torcido em uma espiral impiedosa.
Gula escapou por pouco de ter um buraco no seu peito, mas não sem antes perder o braço direito, o que segurava sua arma.
Preguiça, que estava um pouco mais distante, escapou com menos danos por causa da ajuda da cobra que, graças ao seus instintos, se antecipou ao perigo. Mas a ponta da sua cauda ainda foi atingida.
O espadachim conseguiu uma certa vantagem no duelo, mas sabia que colocar aqueles dois em uma posição onde pudesse atacá-los ao mesmo tempo de novo seria mais complicado dali para a frente.
Além disso, o limite da habilidade do Gula ainda era desconhecido. Aquele cara engoliu uma criatura feita de veneno e estava agindo como se nada tivesse acontecido.
— Ha! Ha! Hahahaha! — O indivíduo ria loucamente enquanto passava os seus dedos, sujos pelo sangue do seu braço arrancado, pela boca. — Tão gostoso! Eu deveria terminar de comer o resto do meu corpo também?!
"Esse cara é louco", pensou enquanto analisava as brechas. "Não, louco é pouco."
De qualquer forma, o delírio do seu inimigo lhe proporcionou a chance de se teletransportar bem nas costas da Preguiça.
A sua espada brilhou e estava para cortar um dos braços da garota, mas o corpo dela foi jogado para o lado por aquela cobra de novo.
"Mas que cobra é essa?!" O rapaz ficou levemente irritado, mas o pior ainda estava por vir. A sua espada travou. "Quando ele…?".
Gula apareceu repentinamente na sua frente. A mão nua e ensanguentada segurava a arma de Trevor sem nenhum remorso.
Aquilo era loucura, bastava o espadachim puxar a sua arma e ele cortaria os dedos do seu inimigo. Aquela atitude apenas lhe favorecia.
Ele não podia estar mais equivocado.
Ao puxar a sua espada, ela simplesmente se recusou a obedecer. Pior do que isso, foi puxada para dentro da mão do seu inimigo.
— Quê?! — Uma boca bizarra surgiu na palma da mão do Gula e começou a engolir a arma de Trevor.
— Aaah! — O homem cadavérico salivava pela boca e pela mão. — Que gosto único! Essa é a energia de um nefilim?
Uma língua comprida saiu da sua mão e se envolveu por toda a lâmina de Trevor, avançando para agarrar o braço dele.
Tentou energizar a sua espada, mas toda a energia foi engolida pela mão do seu adversário. Para completar, a Preguiça e a serpente, que ainda estavam próximas, assopraram uma nuvem de gás tóxico na sua direção.
Tomado por seus instintos, Trevor soltou a sua arma, pulou para trás e ativou a sua defesa para dissipar o veneno.
A uma distância segura, porém desarmado, Trevor viu a sua espada ser completamente devorada pelo seu inimigo.
O homem, que até então era um saco de ossos, começou a inchar. Os seus músculos se expandiram, conforme absorvia a energia da arma do garoto.
— Aah! Que maravilha! — Agora, maior e mais forte do que antes, Gula estendeu o braço para receber a arma que havia caído quando Trevor arrancou o seu braço direito. — Essa é a hora, Preguiça!
— Ah! Logo eeu? — Fazer aquilo cansava demais; mas, ainda assim, juntou suas mãos, e o espaço ao redor começou a mudar. — Espaçoo… Dimensionaal…