O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 5

Capítulo 43: Acrópole

Em um instante, uma garra negra banhada em sangue avançou contra o rosto de Eirin, forçando a garota a dar um passo para o lado enquanto o vento do ataque passava pelo seu rosto.

Com um giro rápido, a espada seguiu seu movimento, deslizando pela pelagem densa da criatura e fazendo faíscas subir devido ao atrito.

Deu um salto para trás, na tentativa de escapar da investida de outro Mapinguari,  então restabeleceu sua base e avançou contra as criaturas, ao passo que sua uma arma soltava um sútil vapor gélido.

Conforme os ataques acertavam, as criaturas urravam de raiva e dor. Seus pelos congelavam e, em um piscar de olhos, os músculos atrofiavam.

Eirin cravou a espada na perna de uma das criaturas, abaixou-se para desviar das garras do segundo monstro e espalhou uma camada de gelo pelo braço dele.

Um terceiro Mapinguari entrou no combate apenas para ter a sua perna envolta numa espessa camada de gelo que surgiu do chão.

A garota aproveitou a abertura, ignorou os outros dois atrás dela e avançou para furar o olho do monstro à sua frente.

No entanto, antes que a lâmina chegasse a tocá-lo, uma raiz surgiu do chão e prendeu o pé da espadachim, puxando-a para trás.

Ela congelou a raiz tão rápido quanto pôde, mas a distração foi o suficiente para que fosse atingida pelas garras de um Mapinguari e jogada contra uma árvore, que se quebrou sem resistência.

Argh!

Mesmo defendendo a maior parte do dano com a espada, as garras da criatura ainda rasparam a lateral da sua barriga. Uma fina camada de sangue escorria por sua cintura.

— Não é assim que se trata uma dama, sabe? —  Com um salto para se pôr de pé, a temperatura do ambiente se tornou negativa, e tudo congelou de imediato. — Eu vou te ensinar boas maneiras.

Um pouco mais distante, Klaus enfrentava os outros guarda-costas do boss.

Como prometeu à sua parceira, ele não estava usando suas chamas, no entanto, concentrou tanto calor na lança que  a pelagem das criaturas derretia ao entrar em contato com ela.

Ao se aproximar de um dos monstros, lançou uma investida direta para perfurar o olho do grandalhão. A criatura segurou a arma por instinto, e a sua mão ardeu.

A ideia não foi ruim, foi péssima. Sua pele carbonizou em um instante.

Seu adversário, por sua vez, não perdoou o erro e, enfim, conseguiu o seu primeiro abate ao perfurar o olho da criatura e partir o seu corpo ao meio com um ataque descendente.

— Então, quem é o próxi…?

A língua comprida de um dos monstros se enrolou em seu abdômen, e estava para ser puxado para a boca do Mapinguari.

Descumprindo o que prometeu para Eirin, cobriu o seu corpo com um manto de chamas e queimou a língua da criatura, fazendo-a grunhir de dor.

Tão rápido quanto uma bala, impulsionou seus pés com as chamas e avançou contra o monstro, perfurando seu coração antes que o mesmo reagisse.

Double kill! — Os inimigos remanescentes deram um passo para trás.

Era melhor lutar contra a garota do gelo a ter que enfrentar o menino-brasa. Assim pensavam, até escutarem um som estranho logo atrás.

Os monstros que estavam enfrentando Eirin viraram picolés. Com um balançar de espada, a garota os quebrou em vários cristais transparentes.

De um lado o menino-brasa, do outro a garota-gelo. O duo avançou com tudo, deixando os monstros em uma sinuca de bico.

Os Mapinguaris eram rápidos, mas os seus adversários eram mais; eles eram fortes, mas os seus adversários eram mais; eram… estátuas de gelo derretendo.

— Eu matei uns cinco — comentou Klaus, ao que fincava sua arma na cabeça do último sobrevivente.

Humph! — Com uma viradinha de queixo, contra-argumentou: — O que vale é o boss.

Parado e sem esboçar preocupação, o dito cujo quase não interferiu na luta e também não deu indícios de que iria fugir. A razão para isso logo se manifestou.

Surgindo de cima dos galhos que cobriam o lugar, um raio de energia verde rasgou e explodiu tudo o que viu pela frente.

Cinco plantas gigantes, semelhantes a girassóis, circundavam a área ao redor dos invasores. Sem perder tempo, o boss voou em direção a uma delas, refugiando-se dos seus algozes.

— Acho que uma lança quentinha não vai dar conta disso, mademoiselle. — Quando a poeira baixou, Klaus e Eirin se revelaram dentro de um escudo de energia. — Eu cuido dessas coisas, você finaliza o boss.

— Nesse caso, o que eu ganho com isso? — perguntou em tom provocativo, levando as mãos para trás da cintura. — É uma aposta, né?

Hã? — A proposta era tentadora, mas os monstros estavam pouco a fim de contemplar um teatrinho. — Tá. Pode ser.

Os dois partiram para cima, desviando de um disparo de energia; o segundo disparo, Klaus defendeu girando sua lança como uma hélice; e o terceiro, teve que refletir com um escudo de energia.

Ao fim do ataque, suas mãos tremiam e formigavam. — Esses são bons.

Segurando a arma com força suficiente para fazer as veias do braço saltarem, disparou uma Cabeça do Dragão de Fogo, partindo o ataque do monstro ao meio e destruindo-o no processo.

Enquanto isso, Eirin desviava dos disparos dos outros dois e avançava contra o boss.

— Vem me dar um abraço, vem! — A garota perseguia o orbe, disparando várias estacas de gelo em sua direção.

O monstro se jogou outra vez no meio das árvores. Quanto mais plantas para controlar melhor. Além disso, quando se tratava de correr, o bicho era uma lebre. Nesse caso, para pegá-lo…

— Prisão de Gelo! — Uma parede cristalina surgiu bem na frente do monstro, fazendo-o bater de cara.

Antes que pudesse tomar qualquer atitude, o cubo de gelo terminou de se fechar, aprisionando ele e Eirin lá dentro.

A garota sorriu.

Já Klaus, continuava na sua luta árdua. Cortar essas criaturas pela cabeça era meio chato. Embora elas fossem grandes, possuíam uma agilidade considerável para se balançarem de um lado para o outro.

Mesmo recebendo uma rajada de energia nas costas, de cima para baixo, o rapaz se manteve firme em busca de cortar o mal pela raíz.

Concentrando o disparo das chamas de modo a criar uma espécie de laser de fogo, foi possível cortar a criatura com mais facilidade.

Agora só faltavam mais duas.

Ele correu entre as árvores para evitar que os monstros previssem os seus movimentos, o que fez os girassóis dispararem vários tiros de energia para todos os lados na esperança de acertá-lo.

Inútil. Logo mais um foi ao chão.

— Prepare-se, mademoiselle. — O rapaz foi com tudo para cortar o seu último obstáculo. — Eu ven…ci?

 O monstro simplesmente despencou aos seus pés, causando um estrondo e lançando uma densa nuvem de poeira no seu rosto.

Um pouco antes, dentro da Prisão de Gelo, Eirin estava com dificuldade em acertar o boss. O ser, pequeno e rápido, ficava ricocheteando nas paredes do cubo como uma bala.

A garota deu um passo para trás para desviar da investida do monstro que veio em sua direção, acertando-a de raspão na bochecha. Mais um ricochete e a sua perna foi atingida.

Se as coisas continuassem assim, a sua Prisão de Gelo acabaria por se voltar contra ela mesma. Então decidiu reduzir drasticamente a temperatura lá dentro.

Conforme ficava mais frio, o monstro se tornava cada vez mais lento, assim Eirin encontrou a oportunidade de perfurar a bola desgraçada, pondo fim àquele ping pong.

Quando saiu do cubo de gelo, já estava com uma pequena esfera verde na sua mão, o núcleo do boss, ainda menor do que o próprio. Então viu o seu parceiro olhando para cima com uma mão no rosto.

Ah, cara! Foi por pouco!

Hehe! — A garota se aproximou, ostentando o núcleo em mãos. — Eu quero a minha recompensa, viu?

Com um suspiro de frustração e um olhar para baixo, o rapaz se viu completamente derrotado. Só lhe restava se entregar ao limbo do fracasso.

— Um jantar — disse, pondo-se na frente dele com o rosto inclinado na sua direção e com as mãos atrás da cintura. — Me leve pra um lugar beeem legal, tá?

Klaus ficou em silêncio por um tempo após ouvir esse tipo de pedido. Ele esperava por algo mais mirabolante. Até se  sentiu um pouco  culpado ao considerar o que tinha em mente para sua parceira.

Por falar na moça, ela se aproximou um pouco mais e deslizou sua mão bem devagar pelo peito dele.

— E você… o que queria?

— Vejamos. — Fingindo uma espécie de reflexão, olhou para o céu trincado logo acima. — Talvez eu tenha comprado uma fantasia de coelhinha sexy ou algo do tipo.

— Hmmm… — Eirin se pôs nas pontas dos pés para ficar na altura dele, colocou uma mão no seu ouvido e sussurrou vagarosamente, como se soprasse as suas palavras: — Seria um desperdício jogar fora, né?

Fora do portal, as coisas tinham se acalmado. A Maior parte dos monstros foi contida, e alguns duos já podiam descansar. Todos clamavam por isso, exceto Samantha que andava de um lado para outro.

— Ainda tem alguns monstros espalhados por aí — disse, olhando sem parar para as ruínas da acrópole.

— Confie mais nos seus companheiros. — Enzo repousava sentado no chão.

Insatisfeita, a guerreira sentou-se com os braços cruzados e expressão fechada ao seu lado. Ultimamente ele a tinha repreendido bastante. Isso era algo raro, então  iria permitir dessa vez, mas só dessa vez.

No fim, a conversa foi interrompida pela chegada de Eirin com o núcleo do boss. No entanto, o que chamou a atenção dos dois foi o tamanho da esfera que ela carregava. Nem de longe aquilo era um núcleo de um de Rank S Classe Catástrofe.

— Vocês podem entregar pro Setor de Espólios.

— Onde você arrumou essa… bolinha de gude?

— Dá pra fazer uma Gema Espectral com isso? — lamentou-se Enzo. Depois de todo o trabalho que tiveram, aquilo era a recompensa?

— É isso. Vou indooo! — Eirin se despediu, quase correndo, deixando para eles a tarefa de carregar aquela decepção.

O silêncio reinou entre os dois por alguns segundos.

— Aham! — Samantha limpou a garganta para a sua voz sair com mais confiança, mas não foi bem o que aconteceu. — Sinto muito por hoje.

— O que quer dizer?

— É, bem… eu fui inconsequente e perdi a minha compostura quando as coisas ficaram complicadas. Eu te dei muito trabalho e… o meu comportamento não foi digno de uma Top Rank.

— Sei que você vai compensar isso depois. — Tentar confortá-la só iria deixar ela para baixo, então ele preferiu motivá-la, em vez disso. — Todos aqui confiam em você, Mantha.

Aquele apelido de novo? A moça ficou vermelha, só era difícil saber se era de vergonha ou de raiva. Dando um murro no ombro dele, virou o rosto emburrado para o lado.

Rum!

Em outra área, Andrew acabou de matar um monstro lagarto. As suas roupas estavam sujas do sangue da criatura. Diferente dos outros, esse foi persistente até o último suspiro.

De repente, um braço envolveu o seu pescoço, sem que tivesse tempo de perceber o que tinha acontecido. Klaus abraçava ele, mesmo estando todo sujo.

— Me-Mestre?!

— Vejo que obteve ótimos resultados. — O Top Rank encarava o monstro morto. — Esse é o meu pupilo! — Deu uns tapinhas no peito do rapaz.

— Você parece bem animado, mestre. Aconteceu alguma coisa boa?

Hahaha! — Então viu Valentina mais à frente conversando com o duo que ela e Andrew salvaram na luta anterior. — É, parece que vocês avançaram bem pouco.

Soltou o ombro do rapaz e se pôs a sair. Ele só queria ver o desempenho do seu pupilo e se o mesmo estava bem. Com um aceno de mão despediu-se ao longe.

Andrew viu o seu mestre ir sem dizer mais nenhuma palavra, depois voltou sua atenção para Valentina que sorria junto às pessoas que acabara de conhecer.

A garota reparou no seu parceiro sozinho e, com um sorriso, acenou para ele chamando-o para se juntar ao grupo.

Um sorriso tênue se formou no rosto de Andrew. Abaixou sua cabeça por um instante, então ergueu-se novamente e caminhou em direção ao grupo.

"Ela é gentil com todo mundo, mestre, apenas isso."

Quando Klaus se reencontrou com Eirin, a moça estava acompanhada de Sophie que, por alguma razão, parecia bem agitada. Sua parceira tentava acalmá-la, mas a garota a ignorou e saiu voando rumo a lugar nenhum.

 — O que rolou aqui?

— O Trevor. — Por sinal, aquele cara nem deu as caras durante a operação. Para alguém tão responsável, era estranho ele não ser um dos primeiros a chegar no campo de batalha. — A Sophie acabou de receber uma mensagem dele no MIC.

— E o que tem isso?

Engolindo em seco, a moça puxou Klaus pelo braço e se pôs a seguir a sua amiga. Durante o trajeto recitou o simples e direto conteúdo da mensagem:

— Gula e Preguiça.


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