Volume 1 – Arco 5
Capítulo 42: Dentro da Toca
A floresta, em forma de touro gigante, caminhava em meio às chamas que devastavam os destroços da cidade de Viena. As suas patadas causavam tremores que abalavam tanto a terra quanto a moral dos guerreiros.
Toda a vantagem que conseguiram após mandar os monstros de Rank S para os espaços dimensionais foi perdida por causa de um único ataque daquela criatura.
— Um Classe Catástrofe? — Enzo apertava a sua lança com força. Frustração percorria seus dedos e estendia até a ponta da sua arma. — Só pode tá de brincadeira.
O colossal voltou a sua atenção para ele, que flutuava no alto, então a energia verde voltou a se condensar entre os seus chifres de madeira.
Em resposta, o rapaz jogou a sua lança no meio das nuvens que trovejaram mais uma vez. Nem ferrando que ele deixaria aquela aberração lançar aquele ataque de novo.
— Eu cuido dele — disse para Samantha. — Você ajuda os feridos.
— Mas… — A garota se viu entre santo e a espada.
Mesmo que Enzo não tenha sido tão negligente quanto ela, ele também passou vários dias em lutas quase constantes, e o cansaço já estava afligindo o seu corpo.
Os outros duos de Rank S ainda estavam dentro dos seus espaços dimensionais, então, caso ela se ausentasse, seu parceiro teria que lidar com aquele monstro sozinho.
Além disso, muitos membros se feriram após o ataque do boss e precisavam de ajuda. Alguns ainda estavam saindo dos escombros com ferimentos que iam de hematomas a fraturas.
— Fulgor Incandescente! — A lança de Enzo despencou contra as costas do boss, espalhando feixes de eletricidade por todos os lados que cobriram os céus e podiam ser vistos mesmo ao longe. — Se eu me tornar um dos feridos, você me ajuda, ok?
— Não se machuque só pra receber os meus cuidados, tá?! — Assim, a garota partiu em disparada ao encontro dos feridos, relutante, mas partiu.
"Obrigado, mas uma massagem sua quebraria os meus ombros." O rapaz então canalizou os raios, causando uma explosão que liberou uma enorme quantidade de luz, ofuscando os olhos da criatura.
Aproveitando-se de que estava fora da visão do monstro, voou o mais rápido que pôde para baixo dele e, com a sua arma, saiu cortando a barriga do boss.
Então o rapaz percebeu uma coisa: aquela criatura não sangrava. Mesmo os monstros feitos de materiais inorgânicos deveriam esboçar alguma reação de raiva ou indignação ao terem o seu corpo danificado, era isso ou…
— Merda.
Cipós surgiram da barriga da criatura e avançaram contra ele, mas, por sorte, o rapaz foi feliz em desviar dos primeiros ataques, o que não se manteve por muito tempo.
A sua perna foi envolvida por um cipó que o jogou em direção ao chão em alta velocidade, fazendo seu corpo se arrastar por asfalto, pedra e chama, até que ele conseguiu cortar sua amarra e foi jogado de forma desengonçada contra algumas ruínas.
Sem perder tempo, o boos lançou uma chuva de cipós tão pontudos quanto arpões, forçando o desorientado Enzo a se defender da forma que podia. Por mais que cortasse aqueles ataques, eles nunca paravam de cair.
— Ahhh! — Em meio a tantas investidas para lidar, um cipó se esgueirou por debaixo da terra e perfurou a sua panturrilha. — Argh!
Cambaleante, o lanceiro envolveu o seu corpo em eletricidade e descarregou de uma vez para todos os lados, dizimando o que estava perto.
Então, com um feixe condensado de eletricidade, cortou as pernas do monstro, fazendo o seu grande corpo vir a baixo.
Enzo saltou para cima da cabeça do monstro e lançou mais um Fulgor Incandescente que apagou qualquer indício de que aquela criatura alguma vez pisou naquelas terras.
Ofegante e se esforçando para se manter de pé, o humano se viu vitorioso.
— Ele tinha bastante energia, então por que foi tão fácil destruí-lo? — O rapaz voltou a olhar para o vórtice dourado no centro da cidade. Algo estava errado, mas o quê? — Urgh!
Antes que se desse conta, uma estaca perfurou o seu estômago pelas costas, enquanto outras passaram zunindo perto dele.
Ao olhar para trás, viu diversas plantas que se erguiam do chão e preparavam mais e mais daquelas estacas.
— Essa não… — Ele se preparou para contra-atacar, mas se mover fez o seu estômago doer.
Não daria tempo de reagir.
— Fogo na Babilônia! — Uma lança imbuída em chamas passou flamejando por cima de Enzo.
A arma acertou as plantas, queimando-as até virarem apenas cinzas. Até mesmo as estacas que estavam no ar foram dizimadas apenas pelo calor.
Essa arma, Enzo a conhecia muito bem. Ela que o impedia de ser o melhor lanceiro da Academia de Batalha Ziz, a lança do Cavaleiro das Chamas, Klaus Austing.
— Vai uma lança amiga, aí? — perguntou, ao se aproximar do garoto.
Ao lado de Klaus estava Eirin e, atrás deles, estavam os reforços que já chegaram se pondo aos inimigos e amparando os feridos.
— Esse não era pra ser o boss? — indagou Eirin, vendo a cratera onde deveria estar o corpo dizimado do touro gigante. — Por que o portal ainda tá aberto então?
— Falso. — O rapaz se esforçava para falar da forma mais resumida possível. Só respirar já doía. — É a floresta ou algo… que a controle de longe.
— Uma espécie de marionete? — Klaus levou uma mão ao queixo. Nem precisou de muito tempo para se decidir. — Nós vamos encarar o boss lá dentro, você cuida desse ferimento aí.
— Certo.
Assim, o duo Top 3 Rank S partiu para a sua empreitada em meio àquele labirinto em forma de floresta, deixando Enzo para trás.
Antes que ele pudesse fazer algo em relação ao projétil cravado na sua barriga, Samantha chegou no local após sentir, através da ressonância, que ele corria perigo.
— Você quer tanto assim os meus cuidados?! — Aproximou-se com as mãos indignadas na cintura. — Me manda embora pra ser empalado por um galho?!
— Juro que não foi de propósito. — O rapaz se sentou com cuidado, ao passo que a moça puxava a estaca com força. "Puta merda!"
Ela tinha que aprender a ser mais gentil nessas horas. No entanto, o rapaz tinha preocupações maiores. Era preciso estancar o sangue que escorria em abundância e reparar os órgãos danificados.
Seria necessário um bom tempo até tratar tudo aquilo, por sorte ele não foi partido ao meio. Todavia, de repente, uma aura verde envolveu o seu corpo, e a sua cura foi acelerada. Não só a dele como a de todos no campo de batalha.
— Então você também veio — comentou Samantha, olhando para trás, como se procurasse por alguém — Imperatriz Chronos.
Dentro do portal, Klaus e Eirin sobrevoavam o local e se deparavam com um caos completo. Enzo havia dito que aquilo era uma floresta, mas estava mais para um enxame de árvores, sem qualquer abertura para eles descerem.
Todas as plantas balançavam constantemente de um lado para outro. Não demorou para que a floresta percebesse a presença dos intrusos, e o balançar das árvores ficasse ainda mais caótico.
Eles não eram bem-vindos ali.
— Hora de abrir caminho.
O garoto fez um corte no ar com a sua lança, as chamas se propagaram e queimaram tanto o ar quanto as árvores abaixo de si.
A floresta se enfureceu e lançou vários cipós para os capturar, mas os dois conseguiram desviar em pleno ar e adentrar aquela estrutura caótica.
Lá dentro, os galhos e as folhas se fecharam acima de si, mas os ataques não pararam. Klaus estava preparado para lançar fogo em tudo, quando o ambiente ao redor esfriou e cada pedacinho virou gelo.
— Sem fogo, meu cavaleiro — disse Eirin, levando as mãos para as costas e tomando a dianteira. — Sem fogo.
— E eu vou lutar com o quê?
— Imagina a fumaça que ia ficar aqui.
— É… — O rapaz parou para pensar um pouco. — Tá, você tem um ponto.
Eirin esboçou um sorrisinho de vitória e ativou as suas runas. Com a percepção aprimorada, os dois passaram a ouvir melhor os sons do ambiente, e havia algo em especial que chamava a sua atenção.
Era um som peculiar que parecia se camuflar em meio a vários outros, todavia era fraco demais para ser o som do boss de um portal de Rank S.
— Será que está ocultando parte da sua energia?
Os dois logo partiram rumo àquele som peculiar, e a garota ficou encarregada de abrir caminho até lá. Por mais que a floresta insistisse em se opor, restava-lhe apenas o destino de virar gelo e se desfazer em cristais.
Nenhum monstro além da própria floresta tentou impedir o avanço da dupla, a maior parte das criaturas já havia saído para fora. Mas por meio do olfato e da audição, eles sabiam que o perigo ainda rondava em meio àquele mato todo.
Alguns minutos se passaram, os dois pararam abruptamente a algumas dezenas de metros do seu objetivo. Eirin foi a primeira a fazer careta e levar as mãos ao nariz.
— Que cheiro de gambá morto! — disse a garota, sentindo um fedor que jamais imaginaria em toda a sua vida.
— Não insulte os gambás, eles são até cheirosos perto disso. — O rapaz se viu forçado a desativar as runas do rosto.
Infelizmente, a percepção aprimorada, o reforço de cura e a tolerância à dor seriam perdidas no processo. Ainda assim, era melhor do que sentir aquele cheiro multiplicado por mil.
Avançando mais um pouco, os dois se depararam com um orbe, semelhante a uma grande semente flutuando no ar. Ao redor do boss, um grupo de criaturas servia de guarda-costas.
Os seus corpos eram parrudos, revestidos por impenetráveis pelos avermelhados, mas o que se destacava era o único olho presente em sua testa e a boca na sua barriga.
Mapinguari, o Selvagem Destemido.
No chão, os corpos de outros monstros serviam de tapete, e nas bocas das criaturas, que rondavam o boss, estavam as cabeças dos cadáveres. Os guarda-costas as devoravam lentamente, saboreando cada pedaço daqueles crânios.
Então os Mapinguaris perceberam a presença da dupla que os observava. As suas bocas cheias de dentes soltaram um sorriso ensanguentado e guloso.
Prato novo à vista.