O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 34: Socialização

Trevor e Sophie andavam por um largo corredor enquanto se dirigiam para a sala do diretor Nosferatu.

Estranhamente, durante todo o percurso, o garoto manteve um olhar vago e distante. Sem perceber, vez ou outra, soltava alguns suspiros desesperançosos.

— Se você continuar suspirando assim — disse Sophie, encarando o rapaz com um olhar melancólico — eu vou ficar pra baixo também.

Trevor, repentinamente, voltou a si e, ao olhar para a sua parceira, as suas pupilas se dilataram perante os olhos marejados de Sophie.

Ela sempre carregava uma luz vívida em seus olhos esmeralda. Vê-la assim, fazia o coração dele doer.

Para se redimir, por deixá-la triste, Trevor colocou uma mão sobre a cabeça dela e forçou um pequeno sorriso.

— Está tudo bem.

— Você parece que só fica pensando naquela garota — falou, expondo uma pitadinha de ciúmes. — Isso me incomoda um pouco.

De repente, a mente de Sophie congelou por um instante, e a garota engoliu suas palavras em seco ao perceber o que disse.

— Nã... Não foi isso que eu… — Vê-lo tão frágil, sempre a fazia baixar a guarda. "Nãão… Pra que eu fui dizer isso?"

— Obrigado, Sophie — disse, com um sorriso sincero, dessa vez. — Não sei o que seria de mim sem você.

Com bochechas coradas e coração palpitante, quem ficou em silêncio o restante do caminho, foi ela.

A garota só se desfez do emaranhado de emoções quando viu o assistente do diretor em uma situação pior que a dela.

Atrás do balcão, o jovem rapaz estava pálido como um queijo, parecia que viu um fantasma. No entanto, os dois só saberiam o motivo disso após passarem por aquela porta.

— O diretor está? — perguntou Trevor. — É urgente.

— Si-Sinto muito — disse o assistente, levantando-se sem jeito. — Ele não está presente no momento, mas… — Engolindo em seco ele continuou: — Ela pode atender vocês.

"Ela?", pensou Trevor enquanto o rapaz se dirigia para abrir a porta e anunciar a chegada deles. "Ah! Entendi… ela".

Para o pobre coitado estar mal se aguentando em pé, só poderia ser coisa daquela mulher.

Um antigo membro da Academia de Batalha Ziz, conhecida desde criança por empalar monstros dentro de caixões de ferro cheio de frias estacas pontiagudas.

— Boa sorte — disse o assistente em tom baixo, ao que se despedia. — Vocês vão precisar.

E lá estava ela, sentada na cadeira do diretor, uma jovem mulher de cabelos pretos e olhos que pareciam duas safiras.

Sapphire de Leroy… a Dama de Ferro.

A mulher logo os encarou com um olhar de superioridade, juntando as mãos em cima da mesa.

— É deveras satisfatório revê-la, vice-diretora — disse o rapaz, fazendo uma pequena reverência.

Quem sabe assim ele conseguia animar o humor dela?

— Cortês como sempre, senhor Foster — respondeu, cruzando ligeiramente o seu escultural par de pernas. — Ao contrário daquele seu companheiro irreverente.

— Eu fico lisonjeado, senhora.

— Se vocês estão de volta, creio que trazem boas notícias — perguntou com um tom de voz mais sério. — Estou certa?

De repente, os créditos que Trevor obteve ao elogiá-la pareciam ter ido por água abaixo.

— Nós temos notícias — disse, inclinando a cabeça e fechando os olhos, como se fosse receber uma sentença. — No entanto, não sei se são das melhores.

— Vamos — ordenou, com uma mão. — Diga.

Assim, o duo relatou brevemente, desde as investigações falhas até o seu encontro com a garota que se intitulava Luxúria.

E sobre as habilidades dela, que se equiparavam às de um Top Rank, bem como os traços de energia bestial que a garota carregava.

O semblante da vice-diretora fechou ao final da explicação. Quando ela suspirou pesadamente, o duo soube que coisa boa não viria dali.

— Em um embate de dois contra um, vocês quase morreram? — disse, encarando-os com olhos que poderiam devorar suas almas. — Quanto o nível dessa instituição decaiu?

— Bem, vice-diretora, a gente…

— Sem desculpas, senhorita Alvarez. — disse, calando a garota de imediato. Argumentar com aquela mulher era pior que enfrentar um portal sozinho. — Eu estarei esperando o relatório completo por escrito.

Enfim, aquela conversa intimidadora chegou ao fim. Durou quase nada, mas pareceu uma eternidade para os dois.

Sophie já suspirava aliviada ao dar as costas, quando Trevor falou:

— A senhora poderia informar por que o diretor não está na Academia?

Ah! Aquele velho caquético — falou, fazendo descaso com um balançar de mão. — Ele foi convidado pelo diretor da Academia de Batalha Leviatã para organizar um possível evento entre as Academias.

"As outras Academias?" Fazia um bom tempo desde a última vez que se encontrou com o pessoal de lá. — Obrigado, senhora.

Assim, o duo se retirou da sala, despedindo-se também do assistente, que voltou à sua postura de animal encurralado.

"Eu que não quero ficar sozinha com aquela mulher", pensou Sophie. — Sério, eu pensei que ela ia me engolir viva.

Foi nesse momento que a garota recebeu uma notificação de Eirin, pelo MIC, convidando-a para uma socialização naquela mesma noite.

— Ela percebeu a gente bem rápido.

Quando Trevor e Sophie chegaram para a socialização, na residência de Klaus e Eirin, eles se depararam com Valentina e Andrew. Para a surpresa dos dois, Giovanna também estava lá.

— Vocês nem avisam quando retornam — reclamou Eirin, fazendo beicinho. — Grandes amigos vocês são. Rum!

— Não fica assim. Vem cá, me dá um abraço — disse Sophie, já a abraçando.

— Vocês sentiriam a nossa energia de qualquer forma — explicou o rapaz — e a gente tinha que cumprir algumas formalidades antes.

Nesse momento, Klaus interrompeu a conversa dos outros e apresentou o jogo da noite: dominó.

Entretanto, havia um pequeno problema: sete participantes eram demais para um jogo de vinte e oito peças.

— Nós podemos jogar em duplas — sugeriu Trevor. — Duas se enfrentam, e uma fica de reserva. A dupla que perder cede a vaga. Alguma objeção?

— Por mim tudo bem, mas alguém não vai ficar de fora? — ressaltou Andrew.

— Como fui eu que sugeri, eu me voluntario a ficar como juiz.

— Nós vamos virar a noite jogando! — disse Eirin com um largo sorriso no rosto. — Hehe!

Com isso, as duplas formadas foram: Andrew e Valentina, Eirin e Klaus, Sophie e Giovanna.

Para definir as primeiras duplas a se enfrentarem, Sophie, Eirin e Valentina disputaram pedra, papel ou tesoura, com Sophie perdendo no processo.

Assim, enquanto os outros jogavam sentados no tapete, em volta de uma mesa baixa de mármore, cada um de frente para a sua dupla; Sophie, Trevor e Giovanna conversavam no sofá.

— Foi tudo bem na missão de vocês?

— É, pode-se dizer que sim — disse Sophie, inclinando-se um pouco para frente para observar Giovanna, pois Trevor estava entre as duas. — Além disso, a gente vai ter que voltar pro laboratório.

— Tem um material que a gente precisa estudar — comentou Trevor, referindo-se à mão de Luxúria. — Afinal, está tudo bem você ficar acordada até tarde?

Ah! Tudo bem. Amanhã ainda é minha folga, mas caso precisem de ajuda, eu posso dar suporte a vocês.

A proposta de Giovanna era tentadora, tendo em vista as suas habilidades como analista. Contudo, Sophie sabia que eles não poderiam aceitar.

— É sua folga, aproveite. Mas quando retornar venha dar um "oi" pra gente, ok?

— Sim! — disse, com um pequeno sorriso.

Giovanna não conhecia Sophie tanto quanto os outros, até ficou um pouco receosa de participar daquela socialização, mas ela realmente estava contente de vê-la de novo.

— Ao menos a Academia vai cuidar da outra questão — disse o garoto, no tangente ao interrogatório dos prisioneiros. — Se o Raizel ainda estivesse aqui, essa questão seria resolvida bem mais rápido.

Hih! Nem me lembre disso. — Sophie até sentia um pequeno calafrio na espinha.

Só de imaginar aquelas pessoas descobrindo de quantas formas seus órgãos poderiam ser reorganizados dentro do corpo, já era agoniante.

Mas, para esses prisioneiros, a Academia ofereceria acordos em troca de informações. Se colaborassem com o interrogatório, poderiam ter penas menos severas quando respondessem pelos seus crimes no Tribunal de Justiça.

Assim, a Academia tomaria medidas visando a segurança das fontes, para não serem assassinadas ao saírem dos domínios da Academia.

— Raizel… — refletiu Giovanna, observando que as pessoas presentes eram bem diferentes das características atribuídas ao Primordial. — Como ele é?

— As pessoas não o compreendem muito bem, mas ele é super gente boa. — Sophie tentou aliviar a barra do seu amigo para não assustar Giovanna, mas...

— Suuuuper gente boa. — Klaus se intrometeu na conversa, no momento em que ele tinha apenas três peças restantes em suas mãos. — Tão gente boa que me chutou pra dentro de um poço cheio de cobras. Você se lembra, Trevor?

Com isso, o esforço de Sophie, para construir uma imagem positiva de Raizel, foi por água abaixo.

Tudo o que Giovanna pensava, naquele momento, era que ela não estava nem um pouco afim de conhecer esse cara.

Se fazia isso com os amigos, imagina com ela? Dava até arrepios.

— No fim, o Raizel era a pessoa mais adequada para o nosso treinamento como nefilins — ressaltou Trevor. — Se bem que naquela época, ele era meio... impiedoso no treinamento.

— Se fosse só naquela época — murmurou o outro.

— Ei! Ei! — Valentina acabou deixando as suas últimas peças caírem no chão, devido ao choque. — A Petra tá treinando com um cara doido assim?!

— Eu torço por ela — ressaltou Klaus, colocando a sua última peça em jogo. — E nós ganhamos!

O garoto e Eirin se inclinaram para a frente, batendo suas mãos em comemoração.

Hehe! Sinto que tô pronta pra vencer aquele cara no dominó — enfatizou a garota. Ela sempre perdia para Raizel nos jogos, mas agora que ele estava ocupado em Erebus, era o momento para tirar vantagem. — Aquele trapaceiro que me aguarde!

Giovanna e Sophie tomaram a vaga no jogo, mas, eventualmente, elas sofreram o mesmo destino dos outros dois.

De longe, Klaus e Eirin possuíam a maior sincronia entre as duplas. Os dois dominaram praticamente todas as partidas.

Mas, com o decorrer do tempo, Eirin acabou sendo a primeira a ceder ao sono. Então Klaus se sentou ao lado dela, usando seu colo como travesseiro para a garota.

— Foi uma ótima noite, pessoal — disse, enquanto acariciava os cabelos da jovem adormecida. — A próxima socialização pode ser na residência do Andrew e da Valentina, se estiver tudo bem.

— Todos serão bem-vindos — afirmou Andrew, em concordância com o seu mestre.

Terminando de se despedir do pessoal, Klaus ficou sozinho com a moça que dormia em seu colo.

Ele apreciou aquelas feições angelicais que só ela era capaz de lhe proporcionar.

Ah, minha Bela Adormecida — disse, ao passo que deslizava os dedos gentilmente pelos lábios macios de Eirin. — Eu deveria acordá-la com um beijo?

Na caverna, em Erebus, Raizel meditava em posição de lótus. As suas runas ativadas emanavam um tênue brilho vermelho que iluminava parcialmente o ambiente à volta.

Do outro lado, Petra dormia calmamente, após mais um dia exaustivo de batalhas contra as criaturas vorazes da ilha.

A garota abriu os olhos devagar, bocejando um pouco. Seu corpo ainda estava cansado e ansiava por mais uns cinco minutinhos de sono.

— Ainda é noite, senhorita — disse, ao que interrompeu a sua meditação.

— Rai... você não dorme mesmo… né? — ressaltou, esfregando os olhos.

— Você ainda tem algum tempo pra descansar. É melhor aproveitar, afinal — falou enquanto observava os fios de cabelo rebeldes da sua parceira — pela manhã, nós vamos brincar com aquelas Quimeras-Escorpião.

Uhum! — disse, deitando-se novamente e levando o cobertor até a altura da boca. Então com uma voz fofa, ela disse gentilmente: — Até amanhã… Rai.


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