O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 29: Sejam Mal-Vindos a Erebus

Após algumas horas desde a sua partida do continente de Hervrom, Raizel e Petra ainda sobrevoavam o vasto oceano.

Eles estavam em uma velocidade relativamente baixa, pois queriam poupar a energia da garota durante o trajeto, para chegar em Erebus em condições adequadas de luta.

Chegando lá, os dois teriam poucos momentos para desfrutar da utopia chamada paz.

— Você tá calado há um bom tempo — indagou a moça. — Tá tudo bem, Rai?

Mesmo para o nefilim, ficar calado por tanto tempo era algo incomum, então a garota começou a preocupar-se com ele já havia algum tempo.

Principalmente, pelo fato de ele não expressar preocupações habitualmente.

Se ele, que era o mais forte ali, demonstrasse algum tipo de insegurança ou preocupação, então essas emoções negativas passariam para a sua companheira.

— Tudo bem — expressou um pequeno sorriso confiante para a garota.

Era inegável que esse era o método mais adequado para alcançarem o objetivo deles, mas ainda era um grande risco para a vida da garota.

— Que tipo de lugar é Erebus, afinal?

— O continente dos monstros, um lugar onde até duos de Rank S temem adentrar sozinhos, inicialmente era povoado pelas quatro raças como zona de interação para estimular o senso coletivo e amenizar guerras.

— Parece ser uma ideia boa. Mas como ele se tornou um local povoado apenas por monstros? — indagou Petra, começando a sentir curiosidade pelo assunto. — Principalmente, como um continente inteiro foi dominado por monstros?

— Na verdade, foram dois continentes. Erebus, o continente do Polo Norte; e Nix, o continente do Polo Sul.

O buraco era mais fundo do que aparentava.

— Os portais normalmente passam sete dias fechados, então nós temos algum tempo para nos preparar. Contudo, imagine um portal maior que três cidades se abrindo assim que surgiu.

Essa explicação causou um certo desconforto no estômago da garota. Um portal dessas proporções, sem tempo de reação, surgindo do nada só poderia significar uma coisa.

Petra não gostava de ter que imaginar isso, mas ela teve que expressar os seus pensamentos:

— Houve muitas baixas?

— Por sorte, as pessoas que estavam próximas à costa do continente conseguiram sobreviver.

— Sorte? — expressou com a voz pesada e mordendo os lábios. — Milhões, ou até bilhões devem ter morrido.

— Nós estamos falando de uma catástrofe a nível continental, afinal — continuou enquanto observava a água abaixo de si. — A sorte foi isso não ter se espalhado pelo mundo inteiro.

Huh? — Engoliu em seco. — Algo assim é possível?

— Os continentes de Erebus e Nix foram tomados por uma densa névoa que saiu do portal e se espalhou a uma velocidade insana; e esses monstros, em especial, não saem para fora dela.

Nesse momento, o corpo de Petra tremeu um pouco. Eles já estavam começando a se aproximar do continente, então a sensação de frio estava começando a se intensificar.

Os dois pararam para trocar suas roupas por algumas mais adequadas ao clima gélido. Nos primeiros meses, eles teriam que se vestir assim.

Ao menos, até que a garota se habituasse a usar energia para regular a temperatura do corpo, sem que isso comprometesse o seu desempenho a médio ou longo prazo.

Embora as novas roupas não fossem grossas — para não atrapalhar na hora do combate — elas possuíam alta resistência ao frio.

Foi um pouco desconfortável trocar de roupas em pleno ar, principalmente para Petra, ainda que os dois estivessem de costas um para o outro.

Raizel reconheceu — para si mesmo — que foi um erro tolo não fazerem isso antes de sair de Hervrom.

— Os monstros que estão nas extremidades do continente são de Classe Destruição — continuou sua explicação, para aliviar o clima — mas a situação muda no centro, próximo ao portal que permanece aberto até hoje.

— Quão forte eles são? — perguntou, ao passo que terminava de fechar sua blusa.

— O centro está cheio de  monstros da Classe Apocalypse. Se eles saíssem de lá, até a Academia derrotar todos, o mundo já estaria em ruínas.

A propriedade com a qual Raizel falava não era a de alguém que ouviu essas histórias em livros ou através de outras pessoas.

Era como se o rapaz tivesse presenciado esse massacre; e considerando o quão antigo ele era, isso era bem possível, mas se esse era o caso...

— Você estava presente na época?

— Isso aconteceu pouco antes da minha chegada a esse mundo.

Naquele momento, já era possível observar uma densa névoa de tom avermelhado ao longe.

Raizel deixou a conversa de lado e logo manifestou vinte espadas, dez ao redor da sua cintura e cinco em cada lado das suas costas.

Petra compreendeu a situação e materializou a sua espada Bellatrix. Era muito provável que os monstros pudessem atacá-los a qualquer momento depois de entrarem naquela névoa.

Embora fosse possível ver através do miasma carmesim, nenhum ponto de terra era observável àquela distância.

A névoa tomava o oceano, se distanciando do continente. A área de atuação dos monstros era maior do que a explicada por Raizel.

— A névoa se expande aos poucos para alcançar os demais continentes — falou ao entender a dúvida da garota. — Se nada for feito a tempo, essa névoa vai cobrir todo o planeta algum dia.

— O que as quatro raças estão fazendo quanto a isso? — Era óbvio que algo assim não poderia ser ignorado.

— Muitas pesquisas foram realizadas para anular os efeitos da névoa, mas isso tem se mostrado uma tarefa árdua.

— O que você quer dizer com anular os efeitos?

— Você vai entender quando a gente começar a matar esses monstros.

Petra não gostava muito que Raizel só explicasse algumas coisas no momento da demonstração.

Mesmo ela comentando isso algumas vezes, ele continuava com esse método sob o pretexto de que ela dificilmente teria todas as informações do seu oponente antes de enfrentá-lo.

Era necessário se habituar a pensar de forma rápida e inteligente durante uma batalha.

Ao entrarem naquela névoa, era perceptível como a atmosfera ficou mais pesada, até respirar era difícil.

Contudo, o que mais se destacava era a quantidade de monstros que estavam dentro do oceano ou sobrevoando pelo ar.

Quando as criaturas aladas perceberam os dois, elas não perderam tempo e logo avançaram contra o duo.

Uma grande nuvem de monstros, que se assemelhavam a pterodátilos, os cercaram por todas as direções.

Apenas as costas dos dois que estavam voltadas para fora da névoa, se apresentavam como uma rota de fuga.

Todavia, eles não estavam ali para fugir, enfrentar aquelas criaturas era a única opção.

Raizel tomou a iniciativa e partiu para cima dos monstros. A quantidade de inimigos era grande demais para Petra lidar naquele momento.

Ele precisava segurar a maior parte e deixar passar apenas a quantidade que a garota pudesse enfrentar nas suas condições atuais.

A forma com a qual o nefilim começou a lutar surpreendeu a sua parceira. Diferente do treinamento, a intenção de matar dos seus golpes estava muito intensa, inundando o ar com uma densa sede de sangue.

Todos os seus golpes sempre visavam pontos críticos e vitais. Além disso, Raizel estava utilizando algo que ele não tinha mostrado para Petra antes: os Círculos de Propulsão.

 Os círculos se pareciam com pequenas plataformas que após pisar nelas, Raizel era impulsionado em uma velocidade muito maior que a habitual, sumindo dos sentidos aprimorados de Petra.

Os movimentos dele produziam várias linhas de energia vermelha, derivadas da sua aura, que começavam na origem de um Círculo de Propulsão e se encerravam no círculo seguinte.

A garota achou aquele estilo de luta magnífico a ponto de se sentir um pouco frustrada por Raizel não ter lhe mostrado isso antes.

Em algum momento, ela certamente iria aderir a esse estilo de luta, embora não tivesse tantas armas quanto Raizel para executar aqueles belos movimentos de alternância.

Mas com o auxílio da Redução de Gravidade, ela conseguiria ficar ainda mais rápida do que já estava.

Entretanto, o tempo que a garota teve para observar os movimentos de Raizel já estava para acabar, pois cinco monstros passaram por ele e estavam vindo em sua direção.

Petra logo partiu para cima dos monstros em alta velocidade, atacando os pescoços deles, assim como Raizel estava fazendo.

O seu corte não foi profundo o suficiente para decepar a cabeça do monstro.

"Tão duro", pensou. "Então esse é o nível de um monstro de Rank S?"

A garota logo teve que se impulsionar para trás, para não ser pega pelo bico pontudo do monstro pterodátilo.

Nessas condições, ela só podia desviar dos ataques enquanto tentava encontrar uma forma de cortar as suas cabeças.

Contudo, os resultados das suas tentativas lhe mostraram que ela provavelmente não conseguiria e, para piorar, a quantidade de monstros estava aumentando.

Ao realizar um giro pela lateral, para desviar outra vez do ataque de uma das criaturas, Petra notou que as suas asas tinham um certo tom de transparência por baixo.

"Encontrar as fraquezas do inimigo, né, Rai?"

Aquelas asas poderiam ser menos resistentes que o pescoço, ao menos a parte que não estava conectada a algum osso.

Nisso, a garota usou a gravidade para aumentar o peso da maior quantidade de monstros possível, fazendo-os ter dificuldades em continuar voando.

Rapidamente, cortou as partes mais finas de suas asas, antes que atingisse o seu limite de contenção.

Com isso, os monstros começaram a despencar rumo às águas do oceano em meio a tentativas falhas de continuar batendo as asas cortadas.

— Acho que  tirar o seu domínio de atuação já conta como uma vitória. — Petra sentiu uma certa sensação de satisfação com o seu feito.

Após terminar de derrubar os monstros que a estavam atacando, ela retornou sua atenção para Raizel que estava cercado de uma camada mais densa da névoa avermelhada.

Além disso, não havia indícios dos corpos dos monstros que ele matou em local nenhum do oceano.

Ela só percebeu o motivo disso ao ver o corpo de um monstro, que estava caindo, começando a virar fumaça e se misturar ao miasma.

— Será possível que…?

A garota teve pouco tempo para refletir sobre o assunto, uma vez que Raizel partiu em sua direção, trazendo uma enorme massa de monstros consigo.

Se ele estava fazendo isso, só podia significar uma coisa: era hora do trabalho em equipe.

Petra começou a acumular energia para produzir um poderoso Campo de Repulsão até o momento em que o rapaz entrou dentro da área da sua barreira.

— Agora! — gritou Raizel, que não carregava mais nenhuma das suas espadas consigo, deixando-as para fora da barreira para servirem como forma contenção contra algumas das criaturas.

No momento em que a barreira foi erguida, todos os monstros que tocavam na proteção eram ferozmente repelidos para o lado. Contudo, isso ainda era pouco para quebrar seus pescoços, asas ou garras.

Mas era o suficiente para ganhar o tempo necessário para Raizel manifestar o seu arco e preparar uma poderosa flecha apontada para cima.

A garota percebeu que a quantidade de energia concentrada naquela flecha era descomunal.

A pressão no arco era tão grande que ele poderia quebrar a qualquer momento.

No instante em que Raizel disparou a flecha para os céus, Petra imediatamente abriu uma brecha na parte superior da sua barreira para que o projétil passasse perfurando os monstros no seu caminho.

— Aguilhão dos Céus: — Ao alcançar uma altura considerável, a flecha gerou uma poderosa explosão no céu, fazendo uma chuva de pequenas flechas cair do alto. — Saraiva!

Embora as flechas resultantes fossem pequenas, as explosões causadas por elas eram devastadoras.

Todo o ambiente ao redor foi dominado pelo barulho ensurdecedor das explosões constantes.

Todos os monstros foram atingidos pelas detonações, e a água abaixo começou a se dissipar, mesmo os monstros marinhos sofreram com esse ataque.

Ao fim, nada sobrou além dos rastros da destruição causada pelo ataque de Raizel.

Contudo, os dois não podiam parar para respirar tranquilamente naquele local, uma vez que o uso de energia espiritual e o barulho causado pelas explosões atrairia ainda mais criaturas.

— Vamos. — disse Raizel, olhando para o horizonte esquerdo. — Eu consigo ver uma ilha nessa direção. Se ela for adequada, nós vamos usá-la para o seu treinamento.

Durante o percurso até a ilha, eles encontraram alguns monstros aquáticos. Eles os acompanhavam, como se estivessem perseguindo as suas presas na espera de uma oportunidade para dar o bote.

Nesse caso, era bom que não fossem capazes de sair para terra firme, como as tartarugas.

Essa era uma ideia que perturbava Petra, uma vez que — embora aqueles monstros se assemelhassem a golfinhos, tubarões ou polvos — a sua aparência era distorcida e bizarra, cheia de dentes, espinhos e chifres.

Uma visão do inferno.


❂Raizel Stiger — um pequeno vislumbre❂

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