O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 28: Rumo a Erebus

Raizel e Petra caminhavam por uma cidade movimentada, cercados por lojas dos mais variados tipos: alimentícias, armamentos, adereços, vestimentas, materiais, etc.

Petra observava o ambiente com certa nostalgia. Finalmente, depois de três meses, eles abandonaram o ambiente isolado das montanhas Belluno e partiram rumo ao seu objetivo principal.

— Essa é realmente uma cidade bem animada — disse a garota, observando as lojas, os vendedores e os clientes com brilho no olhar.

Raizel, por outro lado, não demonstrava muito interesse nas pessoas ao redor e preferiria cumprir o seu objetivo naquela cidade e ir embora o quanto antes.

Contudo, isso se mostrou uma tarefa difícil, ao que as pessoas reparavam no comportamento vibrante da sua companheira.

— Mamãe, olha que cabelo bonito! — disse uma garotinha, apontando para Petra.

— Não saia apontando para as pessoas, menina! Isso é feio! — A pequena foi repreendida pela sua mãe tão rápido quanto fez o comentário.

Raizel voltou sua atenção para a criança, que após encarar os olhos lilás do rapaz, rapidamente desviou o seu rosto, agarrando-se com medo no braço da sua mãe.

Mesmo disfarçando os seus olhos vermelhos com energia lilás e os cabelos com energia preta, as crianças continuavam com essa reação.

— Você nunca veio pra uma cidade assim antes? — indagou, observando o comportamento da sua parceira.

Hm! Hm! — negou com um movimento de cabeça. — Era bem difícil sair de casa.

— Entendo — disse com uma voz mais sutil que a habitual. — Vamos fazer as compras logo.

Aludra era uma das maiores cidades voltadas para o comércio em Hervrom. Além disso, ficava no caminho direto para Erebus.

Era o local perfeito para comprar os mantimentos e materiais necessários para a longa jornada.

— Nós vamos comprar isso tudo mesmo?

— Bem, sim. É isso ou você vai ter que comer carne de monstro quando a comida acabar... senhorita nobre.

Ergh! — Petra fez uma feição de nojo ao pensar na cena. — Deve ser bem ruim.

Haha! Você nem imagina.

Os jovens passaram por várias lojas comprando tudo o que viam pela frente, deixando os vendedores perplexos e sem entender para que eles precisavam de tantos alimentos.

Além disso, olhavam para eles com desconfiança. Aqueles dois tinham mesmo dinheiro para pagar por tudo aquilo?

Contudo, a desconfiança dos vendedores logo sumia quando Raizel retirava algumas moedas de ouro do seu anel de ressonância.

Com isso, os dois seguiram para mais algumas lojas onde a cena continuava a se repetir.

— Eu não sei se fico surpresa por todo mundo desconfiar da gente ou por você sair por aí gastando dinheiro como se fosse papel.

Nesse momento, Raizel parou em frente a uma loja de materiais, observando pela vitrine uma espécie de isolante térmico para paredes.

Um senhor idoso que estava na frente da loja se aproximou dos dois na expectativa de conseguir vender algo.

— Vocês estão à procura de algum tipo de material, meus jovens?

— Quais as especificações daquele isolante térmico? — Raizel perguntou observando bem o velho vendedor.

Ah! Esse isolamento é de fácil adesão em paredes e, embora não seja muito grosso, retém muito bem a temperatura do ambiente interno.

— Eu vou querer todo o isolante que o senhor tiver disponível.

O idoso ficou surpreso com o pedido do garoto. Por um momento, Petra pensou que ele iria agir como os demais e desconfiar do pedido absurdo deles.

Contudo, o vendedor os convidou para entrar e começou a preparar o material, sem questionar.

— O senhor trabalha sozinho aqui? — A garota perguntou ao ver o ambiente sem mais atendentes.

Ah, minha jovem! Eu trabalho aqui com a minha esposa, mas ela está doente.

Petra se sentiu um pouco desconfortável e triste pelo vendedor, mas Raizel lhe deu um beliscão antes que pudesse expressar um semblante muito triste.

— Ai! — Se virou com uma feição um pouco irritada para ele. — Isso do nada? — Mas ele a ignorou, como uma estátua faria.

O rapaz pagou ao vendedor, após enviar as pilhas de isolante térmico para dentro do seu anel de ressonância.

Quando os dois estavam para ir embora, Raizel olhou para o semblante caído da garota uma última vez, então se virou para o vendedor.

— Qual é o problema que a sua esposa tem?

— Ela está com Alpinéia.

Uma doença que afeta ossos e músculos, deteriorando-os gradativamente ao longo do tempo. Sem o tratamento adequado, a pessoa estaria fadada a perder os movimentos do próprio corpo.

— Deveria haver uma porção para tratar isso.

— Sim, mas é muito cara.

Ao que o senhor terminou de falar, Raizel estendeu uma mão, onde uma esfera de energia se formou e começou a se condensar em um pequeno frasco.

Dentro do recipiente, um líquido verde-cristalino brilhava vívido. O rapaz pegou o frasco e jogou para o vendedor, que o segurou firme.

— Meu jovem, isso é...

— Uma gorjeta pelo atendimento.

"Esse poder de criação…" indagou-se o atendente.

Só havia uma pessoa no norte de Hervrom que possuía tal habilidade, e pelo que ele ouviu falar, não devia ser uma pessoa tão boa.

— Eu desejo melhoras para a sua esposa, senhor. — Petra sorriu para o vendedor, enquanto fez menção de se retirar com Raizel.

— Muito obrigado, Raizel Stiger — agradeceu com a voz baixa.

Do lado de fora, a garota sorria feliz por ter ajudado aquele homem, até o mundo parecia que brilhava mais.

— Você é uma pessoa bem gentil.

— Essa é você — disse enquanto olhava fixamente para a frente. — Você estava triste por causa daquele homem.

— Estava tão óbvio assim? — Juntou as mãos frente ao corpo e olhou sem jeito para baixo.

— Até um cego veria.

Hehe! Foi mal.

— Contudo, eu não acho que nós deveríamos expressar tristeza para alguém que se esforçou pelo seu propósito. Isso é, no mínimo, desrespeitoso.

Agora ela entendeu porque ele a beliscou antes. No entanto…

— Eu discordo! — disse firmemente, ao que parou um pouco atrás. — Nós devemos simpatizar até mesmo com a tristeza dos outros.

Huh?

— Isso é empatia, e mostra que a pessoa não precisa lidar com a sua dor sozinha, que existe quem se importa com ela.

O rapaz apenas observou sua companheira, que esboçava a mesma expressão de convicção do dia em que a conheceu.

Naquela época, ele nem mesmo possuía a perspectiva de formar um duo, quanto mais que encontraria uma pessoa tão boa.

Essa convicção que Petra demonstrava o encantava a ponto de colocar a sua mão na bochecha dela.

— Sabe, eu realmente gosto disso em você — disse, ao passo que a olhava nos olhos. — Acho que eu ficaria contente se, algum dia, você fizesse isso por mim também.

A garota o encarava sem reação. Seu coração batia forte. Será que ele conseguia ouvir seus batimentos cardíacos? Porque ela ouvia claramente.

"Como posso dizer que eu já fiz isso?", pensou, lembrando-se da discussão que teve com Samantha antes de partir da Academia.

Seus pensamentos foram interrompidos ao ver dois jovens usando o uniforme da Academia de pé em frente a uma carruagem.

Se havia um duo ali, então era possível que houvesse um portal. Contudo, qualquer indício de algo assim era imperceptível. Além disso, a cidade não foi evacuada.

— O que eles fazem aqui, Rai?

— "Rai"? — indagou o rapaz, ignorando a pergunta.

— É, bem… — Petra havia se perguntado se poderia chamá-lo dessa forma, mas nunca teve coragem de usar o apelido.

 Por ter se distraído com os acontecimentos recentes, o apelido acabou por sair naturalmente.

— Tudo bem se eu te chamar assim?

— Bem, se for você, não vejo problema. — Soltou um leve sorriso, o que a deixou sem graça mais uma vez, então dirigiu o seu foco para o duo a que Petra se referiu. — Parecem um duo de Rank B ou C.

Os membros da Academia ganham um salário mensal para resolver os problemas dos portais, mas eles também podem realizar pedidos do governo como investigações.

As missões mais complicadas são passadas para membros que estejam no mínimo no Rank A. Mas os duos de ranking mais baixo também podem ser solicitados pelos cidadãos para missões de cunho civil.

Essas missões, em especial, não fazem parte do serviço obrigatório de um membro, então contam como renda extra.

— Mas por que você deduziu que eles eram de um ranking mais baixo?

— Missões como escoltar, patrulhar uma cidade ou combater um animal geralmente são passadas para esses rankings.

— Entendi.

— De qualquer forma, nós já conseguimos tudo o que queríamos, então podemos ir embora.

— Eu estava pensando em procurar alguma coisa pra levar pro pessoal como lembrança.

— Bem, se você quiser algo especial, nós podemos levar algo da Terra para eles.

Pelo o que Raizel tinha lhe falado, a Terra estava fora do universo observável de Calisto, então como eles iriam e voltariam em um tempo tão curto?

— Tudo bem — disse, percebendo a preocupação da garota. — Eu criei um pequeno portal que liga os dois planetas.

Como a distância era muito grande, acabava por  exigir um gasto considerável de energia, mas isso não era um problema tão grande para ele.

 — A gente só não pode passar mais de um dia por lá, ou a chefia angelical vai encher o nosso saco.

Petra já conseguia imaginar a reação de Valentina ao receber um produto feito por um alien.

— Tudo bem contar pra Valentina e o Andrew que você não é daqui?

— Qualquer coisa eu faço uma lavagem cerebral neles depois.

Ei! — Petra imediatamente se opôs à ideia.

Haha! Eu só tô brincando. — Então completou em tom sarcástico: — Bem, talvez.

Após longas horas, os dois chegaram à Noire, a cidade de Hervrom mais próxima a Erebus.

Diferente de Aludra, essa cidade parecia um cemitério vazio, ou talvez uma cidade fantasma.

Haviam apenas alguns homens vestindo um uniforme semelhante ao da Academia com o símbolo da Grande Águia Ziz estampado nas mangas das suas camisas.

Membros da Academia de Batalha que não trabalhavam mais como duos, mas que foram selecionados para ficarem responsáveis por guardar as fronteiras do norte de Hervrom e do oceano que os separava do Continente Sombrio.

Os homens ofereceram certa resistência ao ver os dois aproximando-se ao longe, ainda que estivessem usando os uniformes da Academia.

Contudo, toda a resistência foi embora ao verem a declaração que Raizel retirou do anel de ressonância.

— Eu não sei se vocês são corajosos ou loucos por decidirem ir para aquele lugar — disse um dos soldados que segurava um grande machado, um membro da classe guerreiro. — Mas eu espero que retornem com vida.


Siga-nos nas redes sociais Instagram e Discord.



Comentários