O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 24.5: Fantasy

Ahh! Eu não aguento mais trabalhar! — praguejou Eirin com as mãos fechadas em frente ao corpo. — Isso é ex-plo-ra-ção!

Sentado do outro lado da mesa, Klaus observava o movimento da rua pela vidraça da sorveteria. Embora estivesse quieto, o rapaz estava com o psicológico tão exausto quanto o da garota.

Ei! Será que você poderia parar de me ignorar? — reclamou Eirin ao ver o rapaz distraído. — Ruuum!

Hã? — Ao voltar a si, Klaus se deparou com um belo e revoltado biquinho da sua parceira. — Ah, sim. Você falava sobre…

— Nem prestou atenção em mim. — Cruzou os braços e virou o rosto para o lado, então completou com voz dengosa, como uma criança fazendo birra: — Cavalheiro falso.

— Foi mal, eu tava… — Que desculpa o salvaria dessa situação? — Distraído com a sua beleza.

— E olhando pro outro lado? — disse desconfiada.

— Bem… — Ao menos ele tentou. — Sinto muito, mademoiselle.

Sua mente estava tão cansada que nem mesmo conseguia pensar em uma desculpa decente.

Hmm! Tá bom. — Com os cotovelos apoiados sobre a mesa, inclinou-se em sua direção com um semblante esbelto. — Eu vou tolerar dessa vez, só porque eu sei como você está cansado.

Uma vez que não surgisse algo como o portal de Oprantis, a Crise dos Portais Irregulares não era algo que fugia das capacidades de batalha de Klaus e Eirin.

Uma pena que o mesmo não poderia ser dito das capacidades psicológicas.

Em comparação ao dano causado ao corpo, o causado à mente se sobressaía com larga vantagem.

Momentos como esse, onde os dois poderiam parar para apreciar um bom sorvete, frente a uma tarde calorosa, estavam se tornando cada vez mais raros.

— Senhores, aqui está o seu pedido — disse a garçonete que trazia saborosos lanches numa bandeja. — Um sorvete de samarilho com kiwano e outro de pitaya com leite de cococabra.

— Obriga… do? — A voz de Klaus quase foi barrada pelas orelhas e cauda de gato da garçonete. Palavras não existiam para descrever tamanha fofura.

— Senhor? — A voz da moça expressava confusão, mas logo foi sobreposta pelo som irritado das cordas vocais de Eirin.

— Sim, é aqui mesmo. Agora pode ir.

A-Ah, sim! — disse, enquanto entregava o pedido e se preparava para sair. — Tenha uma ótima refeição, senhora.

— "Senhora". Humph! — falou em tom baixo após a moça se afastar um pouco. — Como se eu fosse alguma velha.

— Sabe, você foi um pouco rude com a moça, mademoiselle.

Quando Eirin ficava assim, tentar argumentar era inútil. Tudo o que Klaus recebeu foi uma encarada e uma ameaça em forma de colher de sorvete.

Rum! — Cerrou os olhos e enfiou a colher de sorvete goela a baixo. É, a situação estava ruim.

"Por que eu tô com uma leve sensação de que fiz merda?"

Puxar assunto parecia estar distante de ser algo palpável. A garota simplesmente passou a ignorá-lo e a comer em silêncio.

“Sério, ela vai nem dar uma olhadinha pra mim?" Klaus sorriu de leve, para que Eirin não percebesse. "Birrenta e fofa, do jeito que o pai gosta".

Ainda assim, ele sabia que tinha que arrumar um jeito de corrigir a merda que fez. Ficar mal com a sua mademoiselle era algo que estava fora de cogitação.

Antes que pudesse pensar em alguma coisa, ou terminasse de comer, Eirin bateu as mãos na mesa e se levantou de repente.

Sem dar qualquer explicação, a garota se dirigiu a ele, o pegou pelo braço e disse:

— Vem!

— Mas eu ainda nem terminei o sorvete de pirata com cococab…

— Eu quero ir em um lugar, então só… — De forma inesperadamente fofa, Eirin virou o rosto rosado para o lado e, com um tom de voz que apenas Klaus poderia ouvir, continuou: — Só vem comigo, tá?

Tímida e fofa, do jeito que ele gostava.

— Como desejar — disse enquanto a observava com ternura. — Estou ansioso para descobrir para onde me levará, mademoiselle.

Um longo e desconfortável chá de cadeira foi o que ela planejou para puni-lo? Klaus não podia parar de pensar nisso.

Quanto tempo havia se passado desde que Eirin entrou naquele provador? Do lado de fora, ele a esperava sentado enquanto usava um clássico par óculos escuro, o qual comprou durante o longo período de espera.

"Que chato", pensou com o queixo apoiado no punho fechado. "Por que ela me trouxe pra um lugar desses do nada?"

Como Klaus sempre foi atencioso com a sua própria aparência — fosse em termos de vestimenta, cabelo ou perfumes — ele costumava acompanhar a garota nesse tipo de compras.

No entanto, se havia um lugar ao qual não se lembrava de tê-la acompanhado, era aquela loja de fantasias.

À esquerda ou à direita, acima ou abaixo, independente de para onde olhasse, era impossível evitar cruzar os olhos com uma princesa, um bardo, um mago ou um pistoleiro.

Fosse intencional ou não, Eirin nem mesmo deixou que ele visse a fantasia que ela escolheu. Isso só aumentava a ansiedade do pobre rapaz.

Que a garota demorava para se arrumar, isso Klaus já sabia, mas aquela demora toda era demais até para ela.

Mademoiselle, você está bem? — indagou para a porta fechada. O nefilim já havia alcançado o seu limite.

Um silêncio perturbador se estendeu por alguns segundos.

Sem resposta.

— Eirin! — Sua voz soou preocupada. Klaus se levantou e se dirigiu até o provador.

Se sua parceira tivesse passado mal, ou algo do tipo lá dentro, ele não hesitaria — nem por um segundo — antes de dar um pontapé naquela porta.

— Klaus, eu… — Enfim uma resposta. O rapaz parou o pé antes de chutar. — Eu não consigo sair.

— Como assim? Você tá presa?

— Não é isso. Eu só… tô com vergonha. Sério, por que fui ter uma ideia dessas?!

Essas palavras eram música para os seus ouvidos. Tudo o que Klaus conseguia pensar, naquele momento, era: "Agora é que eu quero ver mesmo".

Logo, o som da tranca se abrindo pelo lado de dentro do trocador soou piamente até os seus ouvidos.

— Você poderia entrar? — Disse a voz doce e frágil. — Se só você ver eu não me incomodo.

Aquela era, sem sombra de dúvidas, uma proposta tentadora. O único problema era que se tratava de um provador feminino.

Se alguém da loja o visse se esgueirando para dentro, ele passaria por um belo vexame.

Mas, e daí? Grandes recompensas vêm com grandes riscos.

Deu uma olhadinha de leve para os lados, como quem não quer nada — mas querendo — então decidiu se jogar.

Quando a porta de um dos provadores, um pouco mais distante, se abriu, o fez dar meia volta e se fazer de desentendido.

A garota que saiu do provador o encarou com um olhar de desconfiança. Talvez ele devesse melhorar suas técnicas de atuação.

Por sorte, a moça o ignorou e continuou seu caminho. Quando ela enfim saiu do seu campo de visão, Klaus abriu a porta e foi para dentro sem dar sequer uma piscada para trás.

O que viria a seguir seria de cativar seus olhos e de roubar o fôlego de seus pulmões. Ele sempre a achou bela, mas aquilo… aquilo era divino.

— Se você rir, eu te bato, tá? — falou com uma voz frágil, enquanto segurava o uniforme da empregada-gato sem jeito.

As cores pretas constratavam com a tonalidade do seu cabelo rosa curto e, claro, com o seu rosto rosado de vergonha.

Ainda assim, nada se comparava às orelhas felinas e... à calda. Que bela orelhas. Que linda calda.

O peito de Klaus foi invadido por uma agradável e generosa onda de satisfação. Antes que ao menos percebesse, ele retirou seus óculos escuros para que a visse melhor.

Sem dizer uma palavra —  no mais puro silêncio — aproximou-se de Eirin. Sozinho com ela naquele pequeno espaço fechado por quatro paredes e, ainda por cima, naquela situação...

— Kla-klaus? — Insegura, deu alguns passos para trás, enquanto seu parceiro se aproximava, até que suas costas encontraram as gélidas paredes do provador.

Ao colocar suas mãos contra a parede, o rapaz a deixou sem saída, então disse, encarando-a com um olhar de desapontamento:

— Ter guardado essa visão apenas para si mesma por tanto tempo é tão injusto, mademoiselle.

— O que eu podia fazer se você não tirava os olhos daquela garçonete?

Ha! Então você ainda está incomodada com aquilo?

Humph! — Com o rosto virado para o lado, continuou: — Até parece. Só porque ela tinha aquelas orelhinhas fofinhas? E se o cara tiver alergia a gatos? O que ela poderia fazer? Servir uma xícara de café? Grande coisa.

Suas palavras foram interrompidas pelo toque dos dedos de Klaus no seu queixo. Com o mínimo de esforço, ele virou o rosto dela em direção ao seu.

— Eu realmente sinto muito.

— Só precisaria pedir desculpas se eu estivesse incomodada.

"Tsundere, do jeito que o pai gos… Ah, a quem eu tô tentando enganar? Eu gosto dessa garota de todos os jeitos."

— Que foi? — indagou ao notar que ele a encarava reflexivo.

— Sejam meus braços ou pernas, mãos ou pés, tudo em mim, incluindo meus olhos, são apenas seus — disse, enquanto seus lábios desciam desejando os dela — mademoiselle.

Eirin se viu rendendo-se ao Cavalheiro das Chamas. Não, ela já havia se rendido a ele há muito tempo. Tudo o que desejava agora era usufruir daquele a quem queria apenas para si própria.

Infelizmente, o som da porta atrás de Klaus sendo aberta por fora a tirou da imersão do seus pensamentos.

Dado o impacto que teve, devido ao vislumbre da fantasia da sua parceira, o garoto simplesmente se esqueceu de trancar a porta.

Agora, uma moça — que pretendia se trocar naquele provador — os encarava de pé e boquiaberta.

— De-Desculpe. Não era minha intenção interrompê-los.

Ei! O que vocês pensam que estão fazendo?! — gritou um funcionário que passava por ali ao ver a porta aberta.

"Bando de estraga-prazeres", pensou Klaus. "Não podiam ter demorado só mais um pouco?"

Ah, foi mal. — Ajustando a saia do uniforme, Eirin se escondeu atrás do parceiro. — Eu só vou me trocar e já tô saindo.

— De qualquer forma — disse Klaus para o vendedor enquanto saía do provador — nós vamos levar a roupa.

Huh? — A moça ficou um tanto surpresa. Nunca foi sua intenção comprar aquela fantasia.

Todavia, Klaus se virou para ela com um olhar malicioso de "a gente termina isso… em casa".


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