Volume 1 – Arco 3
Capítulo 25: Pupilos
Sophie, Valentina e Andrew estavam reunidos com Klaus e Eirin, na residência desses dois últimos.
Trevor se despediu dos três e seguiu direto para o Laboratório de Análises da Academia para antecipar o trabalho com as amostras.
Sophie, por sua vez, ficou responsável pela apresentação e o pedido de Andrew e Valentina.
— Então você quer que a gente treine os dois até o Raizel e a Petra retornarem, é isso? — perguntou Klaus.
— É isso! Vocês possuem as mesmas classes que eles, então são mais aptos para isso do que eu e o Trevor.
— Por mim tudo bem — disse Eirin, esboçando uma animação inesperada. — Eu também vou poder ter a minha própria pupila. Você é a espadachim, né?
— Eh… Sim — disse Valentina, um pouco sem jeito.
— Se vocês são os amigos mais próximos da parceira do Raizel, eu também não me importo. — Klaus, que estava ao lado de Eirin, também se impôs. — Mas o tempo tá bem apertado, então a gente só pode treiná-los no máximo umas duas vezes por semana.
— Nós agradecemos — falou Andrew, solenemente.
— Que é isso, cara? Não precisa ficar acanhado. Vocês só precisam jogar duro e fazer o nosso tempo valer a pena.
— Nós faremos, com certeza.
Assim, Sophie começou a se levantar para sair da sala com a sensação de trabalho concluído.
— Ah! Que bom que deu tudo certo. — Ela já não conseguia mais esconder seus desejos contidos. — Agora é a minha próxima parada.
O ambiente nas Montanhas Belluno estava mais calmo que o habitual. Petra e Raizel não estavam causando explosões, nem colidindo as suas espadas como foi até então.
No meio de algumas árvores, os dois estavam sentados no chão com um tabuleiro de xadrez entre eles. Mas ninguém ousava tocar as peças com as mãos.
— Tudo bem a gente só ficar jogando? — perguntou Petra.
— Nós não estamos jogando, nós estamos treinando.
Raizel apontou um dedo para um peão que logo se movimentou para servir de isca para o cavalo de Petra.
— Movimente as peças usando Atração e Repulsão, sem jogá-las para fora do tabuleiro. E eu vou perceber se você usar apenas energia espiritual para movimentar as peças, em vez da gravidade.
Quando Petra movimentou o cavalo para capturar o peão de Raizel, ela acabou fazendo o que ele disse, e todas as peças foram para cima do rapaz.
— É, eu estava esperando por esse momento.
Nesse instante, uma bola d'água surgiu acima da cabeça da garota e caiu sobre ela, molhando-a.
Petra deu um pulinho por causa do susto, enquanto o nefilim esboçava um sorriso baixo.
— Brrrr! — Uma pequena sensação de frio se espalhou pela sua pele. Aquela água estava bem gelada — De onde saiu isso?
Com o auxílio da sua energia, Raizel manuseou as peças no ar e colocou todas elas de volta no tabuleiro.
— Uma bola de água toda vez que você errar.
— Você é meio cruel, sabe? — Fez biquinho e virou o rosto para o lado. — Humph!
"Desde quando ela se tornou rebelde?" Riu levemente, e a garota o encarou de canto de olho.
— A ideia é praticar movimentos de pinça. — O rapaz estendeu uma mão e criou uma esfera de energia vermelha. — É necessário para dominar uma Habilidade Inata até o mais profundo da sua essência.
Ao usar a Conversão de Energia, o rapaz condensou a esfera em sua mão e a transformou em uma caneta de plástico.
Depois a caneta virou um palito de madeira e, reduzindo ainda mais o seu tamanho, ela se transformou em uma agulha de prata.
— Note que mesmo que o tamanho e as características tenham mudado, a quantidade de energia continua sendo a mesma. — Então deu um peteleco na agulha, que disparou em alta velocidade. — Isso é o que diferencia os homens dos meninos no campo de batalha.
Mais ao longe, aquela agulha criaria túneis em uma sequência de três montanhas de grande porte.
— Mas tudo bem a gente parar o treinamento com as runas?
Esse comentário de Petra despertou os sentidos de mestre de Raizel. Era evidente que ele não facilitaria.
— De onde tirou essa ideia, minha jovem pupila? — perguntou, olhando nos olhos da garota. — Por quanto tempo você acha que consegue manter as runas ativas sem estar em batalha?
— Uma hora e meia… talvez.
— Que pena, porque você vai ter que mantê-las ativas até a hora do almoço.
— Isso são… umas três horas?
Petra abriu bem os seus olhos, mas ela já estava começando a se habituar com os métodos de Raizel. Nas mãos dele até algo simples se tornava um desafio.
— No entanto, seria injusto impor apenas punições — disse, ao passo que movimentava seu primeiro peão. — Me pergunto que tipo de premiação eu deveria te dar, caso cumpra o desafio das runas.
Aquilo era nitidamente uma provocação para fazer sua parceira refletir sobre quais eram seus desejos mais profundos.
— Sabe… — disse com o olhar baixo e encarando as peças no tabuleiro — tem algo que eu quero.
— Oh! Estou curioso para saber em que tipo de situação difícil você me colocará, senhorita.
— Uma dança.
— Huh? — Nisso, ele foi pego de surpresa. — Dança?
— Eu não tive uma no meu aniversário de 16 anos, então…
Era costume, principalmente entre as famílias nobres, celebrar o décimo sexto aniversário das garotas com uma dança especial, geralmente com o pai ou o irmão.
E, embora Petra não tenha celebrado a sua, ela sempre quis fazer isso.
Nas vezes em que perguntou a Valentina como tinha sido a dela, a sua amiga sempre falou com entusiasmo, o que a cativava cada vez mais.
— Entendo.
Raizel não esperava por algo tão sentimental, então ele sugeriu um desafio bem difícil.
Seria ruim para o treinamento caso entregasse as recompensas mesmo com ela falhando, nesse caso estava tudo nas mãos da determinação dela.
— Vejamos do que é capaz, senhorita.
Quando Sophie chegou ao Laboratório de Análises, ela foi recebida por uma jovem de olhos e cabelos castanhos — que a princípio pareceu um pouco insegura diante de uma figura como a Top 2 Rank S.
A garota era um pouco mais baixa do que Sophie e usava um jaleco branco, além de um par de óculos que a proporcionava um certo charme intelectual.
— É um prazer recebê-la em nosso Laboratório, senhorita Alvarez — disse, educadamente. — O senhor Foster já está te esperando.
— Er, acho que você não precisa ser tão formal comigo. — Com um sorriso simpático, cativou a atenção da outra. — A gente tem praticamente a mesma idade, né?
Isso era uma mentira. Desde que Sophie fez o Pacto de Ressonância com Trevor ela só envelheceu até alcançar os vinte anos.
Então ela era mais velha do que aparentava, no fim, dado a sua personalidade não havia quem pensasse isso.
— Ah! Sinto muito. Eu não me apresentei. Eu sou Giovanna Valentine, a responsável técnica desse Laboratório de Análises.
“Tão jovem e já é responsável por um laboratório inteiro? Ela deve ser bem promissora”, pensou Sophie, observando bem a garota diante de si. — Nesse caso, me chame de Sophie. Eu posso te chamar de Giovanna?
— Tudo bem mesmo, senho...? — A moça encarou-a levantando uma sobrancelha. — Sophie.
— Uhum!
No caminho até Trevor, sua companheira observou cada detalhe à sua volta.
A sua guia lhe apresentou algumas salas nas quais várias pessoas trabalhavam com microscópios, tubos de ensaio, colorímetros, agitadores e estufas.
Essas salas eram minuciosamente organizadas e possuíam um espaço considerável para um grupo de cinco pessoas trabalharem tranquilamente.
Todos utilizavam jalecos, luvas, óculos de proteção e máscaras. O ambiente era bem iluminado e transmitia um minucioso ar de higiene.
Não se poderia esperar menos do famoso Laboratório de Análises da Academia de Batalha Ziz.
Em todo o tempo em que Sophie esteve na Academia, foram poucas as vezes em que foi convidada para trabalhar lá.
— Nós possuímos os melhores técnicos e analistas de todo o norte de Hervrom. — Isso Giovanna podia dizer com orgulho.
Quando Sophie chegou na sala em que Trevor estava analisando as amostras dos portais irregulares, a garota ficou surpresa com a aparência dele usando jaleco e óculos de proteção.
“Que bonito!”
— Você demorou mais que o esperado. — Trevor interrompeu o seu trabalho e se voltou para ela. — Deu tudo certo por lá?
— Uhum! Sim.
— Eu vou deixar os dois sozinhos agora. Se precisarem de ajuda, podem me chamar pelo MIC. Eu vou passar a minha linha pra vocês — disse Giovanna, se preparando para sair da sala.
— Tchau, Giovanna! — Sophie acenou para a garota.
— Tchau, Sophie.
Quando Giovanna saiu, Trevor comentou:
— Você já fez amizade com ela, não foi?
— Surpreso? — disse Sophie em tom provocativo.
— Na verdade, não. — O rapaz apontou para uma porta ao fundo. — Você pode higienizar as suas mãos no banheiro.
Quando Sophie terminou de se preparar, ela se apresentou de jaleco para Trevor.
— Como estou? — disse dando uma pequena e sutil volta.
— Combinou bem com você.
— Obrigada. Então… que você obteve até agora?
— Quase nada. Eu analisei pouca coisa e a quantidade de amostras é muito grande.
— Então vamos dar andamento ao procedimento. — disse, puxando um pouco mais a luva da sua mão esquerda em direção ao pulso.
No dia seguinte, Valentina e Andrew chegaram para o treinamento com Klaus e Eirin numa arena de batalha.
Se Sophie já era uma pessoa amigável, Eirin era ainda mais. A garota os recebeu pontualmente e os levou para a arena onde poderia treinar livremente.
Eirin era uma garota com traços femininos bem acentuados. Até mesmo Valentina, que se considerava uma pessoa vaidosa, foi cativada por ela.
— Então… — disse Eirin gentilmente, fazendo uma pequena pausa e voltando-se para a moça — você vai ser minha responsabilidade daqui pra frente.
— Sim! — disse Valentina prontamente.
Enquanto isso, Andrew foi levado por Klaus para o outro lado da arena. Aparentemente, os dois não pretendiam focar no trabalho de equipe inicialmente.
— Você pode me mostrar a sua arma astral?
Valentina materializou a sua espada, ela possuía aproximadamente um metro de comprimento e alguns pequenos entalhes em tom de rosa-claro.
— Uma espada longa. Nós duas somos bem compatíveis, não é? — observou Eirin. — Até as cores dos nossos cabelos são parecidas
— Ah, é mesmo.
Exceto pelos cabelos de Eirin serem curtos, enquanto os de Valentina eram longos.
— Qual é a sua Habilidade Inata, mesmo?
— Manipulação de Ar.
Eirin se afastou um pouco e invocou a sua espada longa, que também possuía entalhes em tom de rosa, e ficou em posição de defesa.
— Pode mandar um ataque com tudo o que você tiver.
— Sério?
— Eu preciso averiguar o quão forte você é e o nível de refinamento das suas habilidades. Pode ficar tranquila... eu vou ficar bem.
Valentina concentrou o máximo de energia na sua espada e dirigiu uma potente rajada de vento que saiu destruindo tudo no caminho até chegar em Eirin.
Contudo, a garota facilmente resistiu ao ataque sem qualquer tipo de dano.
— Só serviu de uma pequena brisa, o meu ataque... com tudo o que eu tinha?
— Isso está longe de ser o seu máximo. — A garota voltou a se aproximar de Valentina. — Bem, quando você soltou o ataque, até que ele estava com uma potência bem legal, mas ele deu uma enfraquecida no caminho.
— Huh?
— Inicialmente, nós vamos praticar ataques com o ar concentrado na espada. Depois a gente ver os ataques de maior alcance.
— Tá certo.
— Se bem que essa deve ser a especialidade do seu parceiro.
As garotas olharam para Andrew que observava Klaus lhe mostrar alguns movimentos complicados com sua arma.
Apesar disso, os movimentos do lanceiro eram belos e elegantes. O rapaz manejava a arma como uma extensão do seu próprio corpo.
Valentina pôde observar como esses dois eram diferentes de Raizel, tanto em aparência quanto em personalidade.
Aquele cara era sério, tinha uma aparência desleixada e não se importava com o que as pessoas pensavam dele.
Já Klaus e Eirin eram muito sociáveis e demonstravam se importar bastante com a imagem que transmitiam para os outros.
— O Klaus é o lanceiro mais forte dessa Academia, não é? — perguntou Valentina.
— Sim, e eu sou a segunda espadachim mais forte.
— Segunda? Mas o Trevor e o Raizel não estão na sua frente no Ranking da Academia?
— Bem, sim. O Trevor é o espadachim mais forte daqui. Mas o que tem o Raizel?
— Eu pensei que ele fosse o espadachim mais forte.
— Ah! Deve ser porque aquele cara gosta de sair balançando um monte de espadas por aí, mas ele nem é da classe espadachim.
Siga-nos nas redes sociais Instagram e Discord.