O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 24: Incumbências

Diante do diretor Danter Stear Nosferatu, Trevor e Sophie ouviam atentamente as suas palavras.

O semblante de todos expressava seriedade e preocupação por causa da situação atual.

— Tem se tornado difícil trabalhar com os duos de Rank A — disse o diretor, inclinado para a frente e com as mãos juntas, apoiando os cotovelos sobre a mesa. — Dois ou três portais irregulares por ano já era algo difícil de se imaginar.

— Nós estamos à par disso — disse Sophie, colocando a mão sobre o peito esquerdo. — Todo mundo tá se esforçando bastante.

— Sim, e eu sou grato aos meus duos por isso.

O diretor retirou alguns frascos de diferentes cores do relógio em seu pulso esquerdo. Os recipientes continham uma espécie de plasma colorido.

— Essas são algumas das amostras que conseguimos retirar de alguns dos portais irregulares — disse o diretor, pegando um frasco de amostra azul. — Vocês dois terão acesso a essas amostras e ao Laboratório de Análises.

— Sério?! — disse Sophie com empolgação e brilho nos olhos. — Trevor, tem tanto tempo que a gente não pisa lá.

O diretor soltou um pequeno riso diante da reação da garota, então continuou:

— Eu imaginei que você fosse gostar da notícia, senhorita Alvarez.

— Sim, sim. — Sophie assentiu com um sorriso largo no rosto.

— A senhorita Giovanna Valentine ficará responsável por auxiliá-los no processo.

Parecia que a conversa encerraria por ali, mas havia algumas coisas incomodando Trevor, coisas que ele não poderia deixar passar.

— Diretor, o senhor pretende chamar ele de volta?

Dado os problemas atuais, era inevitável que os duos começassem a questionar a ausência do seu membro mais forte.

— Não será necessário — disse, ao passo que encostava as costas na poltrona. — Não se engane, senhor Foster. O poder desta Academia de Batalha está além de um único membro.

Além disso, havia uma coisa que aquele garoto tinha que fazer para Nosferatu no continente de Erebus — uma coisa que poderia superar até mesmo esses portais, em grau de importância.

 

Nas montanhas Belluno, Raizel e Petra lutavam em um ritmo muito mais frenético que o habitual.

Raizel utilizava dez espadas contra a garota que continuava a sofrer pressão.

Contudo, os movimentos do rapaz pareciam ficar cada vez mais lentos.

Quando ele estava para acertá-la com oitos das espadas, as armas repentinamente foram cravadas no chão.

 Raizel se viu forçado a se aproximar com as duas espadas que restavam nas suas mãos.

Quando ele chegou perto da garota, as espadas nas suas mãos foram atraídas uma contra a outra.

Tch! — Ao que Raizel perdeu sua postura, Petra avançou contra ele.

— É o fim! — disse enquanto saltava para cima de Raizel com a Bellatrix.

Ele soltou rapidamente as espadas e materializou uma nova arma para bloquear o ataque da sua oponente.

— Então… quantas você pode prender ao mesmo tempo? — perguntou Raizel, materializando mais uma espada em sua outra mão.

Petra usou o rapaz como Foco Gravitacional para puxar todas as armas, que estavam no chão, contra ele, mas aconteceu o inverso.

As armas saíram da prisão da gravidade e voaram em direção à garota, ficando ao redor do seu corpo e imobilizando os seus movimentos.

— Precisa de mais gravidade pra segurar as minhas armas.

Então as espadas a liberaram e se posicionaram ao redor da cintura de Raizel.

— É muito difícil controlar a gravidade. — Petra se encostou pensativa em uma árvore com uma mão no rosto.

Ela tinha melhorado o seu Foco Gravitacional, mas ainda lhe faltava criatividade para usar esse poder da forma mais eficaz.

Os seus pensamentos foram interrompidos quando Raizel tirou uma maçã do seu anel de ressonância e jogou na cabeça dela.

— Ai!

— Teve alguma ideia agora?

— Acho que não — disse pensativa, passando a mão na área atingida.

— Com o Newton deu certo.

— Quem é Newton?

Ao se aproximar dela, desmaterializou as suas armas, deixando apenas duas. Então soltou uma das suas espadas no chão e fez a outra flutuar entre ele e a garota.

— Você está apenas aumentando o peso das armas pra puxar elas pro chão e desviar o foco do ataque.

— Fica bem difícil quando aumenta a quantidade de armas.

— Mas isso é apenas a superfície da sua Habilidade Inata.

Huh?

— Aumentar ou diminuir a gravidade sobre um corpo pode tanto deixá-lo mais lento quanto mais rápido.

— Mais rápido? — Diminuir a gravidade aumentaria a velocidade? Isso sequer fazia sentido?

Oh! Duvida das palavras do seu mestre? — Com um movimento de mão, desafiou sua pupila. — Vamos, tente.

Ao seguir sua ideia, Petra fez como ele havia pedido, no entanto tudo o que ela conseguiu foi flutuar no ar.

— Eu não consigo me movimentar direito.

— Pense fora da caixa — disse Raizel, estendendo a mão para a espada que estava flutuando. Imediatamente, a arma foi até ele. — Nós utilizamos energia espiritual, lembra?

Com o auxílio da sua energia, enfim a garota conseguiu estabilizar o seu corpo no ar, mas ainda não era diferente de voar.

— Agora, com o seu corpo mais leve… me ataque.

Com a quantidade de energia utilizada, seu corpo disparou como um flash. Dado o aumento repentino na velocidade, a garota não parou a tempo e se chocou contra Raizel.

Os dois foram ao chão.

— Parabéns, pela primeira vez, você me levou ao chão — disse Raizel enquanto observava o céu azul.

O rosto da garota estava encostado contra seu peito, e os cabelos dela se espalharam sobre ele, aqueles cabelos que emanavam um cheiro suave.

Huh? — A garota se apoiou com as mãos no chão e o seu rosto ficou um pouco acima do de Raizel. — De-Desculpa.

Petra se levantou e foi para o lado, ficando quase de costas para Raizel, escondendo o rosto envergonhado.

— Por ora — disse, retomando o assunto de origem — nós vamos treinar o Foco, a Atração e a Repulsão Gravitacional. Depois a gente parte pra algo mais avançado.

— Entendido.

Um pouco depois, os dois retornaram para o local do acampamento. Raizel invocou o seu piano do seu anel de ressonância e tirou algumas partituras.

Petra fez o mesmo com o seu violino, enquanto observava as partituras que Raizel pegou.

— O que a gente vai tocar hoje?

— Considerando a sua evolução, acho que podemos tocar essa belezura aqui.

Raizel entregou algumas partituras para Petra que, depois de observá-las por um momento, indagou:

— Q-Que música é essa?

Deus Salve o Rei.

— Deus salve o violinista, isso sim — disse Petra surpresa. — São precisos quantos dedos pra tocar isso? E o trabalho com o arco?

— Deixa de drama. Nem é tão difícil assim.

Como demonstração, começou a tocar a composição no piano. Dado o ritmo mais lento, o início nem parecia algo "tão" complicado.

O problema surgia quando a velocidade ia aumentando. Quanto mais ele avançava, mais frenético ficava.

Com os olhos esbugalhados, Petra observava os dedos do seu parceiro quase se enroscando em um nó.

No entanto, era inegável que era uma ótima música para ouvir. Para tocar? Aí já era outra história.

Encerrando de executar a composição como um expert, o rapaz encarou a garota em tom desafiador:

— Então... é a sua vez, garotinha.

— Dá pra tocar no violino, mesmo?

— Ela foi feita por um violinista, afinal.

— Quem?

— Niccolo Paganini. Eu gostava de vê-lo tocar — disse em tom reflexivo, lembrando-se de uma das suas viagens à Terra. — Aquele cara fazia umas coisas absurdas, não era à toa que o chamavam de o Violinista do Diabo.

Sophie estava na sala da sua residência quando alguém apertou a campainha. Duas figuras inesperadas estavam esperando-a do lado de fora.

—Oi! É a primeira vez que vocês dois fazem uma visita a mim — disse Sophie com contentamento.

Eh! Sinto muito — disse Valentina, abaixando um pouco a cabeça e juntando as mãos. — Na verdade, a gente não veio só para fazer uma visita.

Hmm! — Sophie observou a reação da garota por um momento. — Entrem! Vamos resolver isso aqui dentro.

Enquanto eles caminhavam até a sala, Sophie pensava sobre o que Valentina queria tratar com ela e o porquê da garota parecer meio para baixo.

— Eu vou pegar um pouco de chá pra gente. Espero só um pouquinho. — Sophie deu uma piscadinha para Valentina.

— Tá... Tá certo.

Dentre os duos de nefilins, Sophie era a pessoa com quem aqueles dois mais se sentiam confortáveis. No entanto, ainda era meio estranho estar na residência de um Top Rank.

Após algum tempo, Sophie chegou carregando uma bandeja com uma garrafa de chá e algumas xícaras.

Enquanto apreciavam o chá, Sophie indagou:

— Vocês não me parecem muito bem. Se quiserem algum conselho amoroso, acho que eu não sou o melhor exemplo.

— Nã-Não é isso! — Valentina ficou um pouco envergonhada, enquanto Andrew olhou para o lado.

Hmm! Então o que seria?

— Nós precisamos da sua ajuda para treinamento... se possível. — Falou, enquanto levantava um pouco sua cabeça.

— Nós sabemos que isso pode ser inconveniente, uma vez que vocês devem estar bem ocupados —  complementou Andrew.

— Entendo. Mas vocês já têm o treinamento da Academia, não é?

— Nós precisamos de mais — disse Andrew com convicção.

Sophie parou para observar os semblantes determinados deles. — Por que querem treinamento extra?

— Eu quero... ser capaz de ajudar a Petra — expôs Valentina. — Eu não quero ser só um fardo.

O desejo de ajudar os outros, a sensação de insegurança e a necessidade de apoio. Tudo isso a fazia lembrar de si mesma, naquela época.

— Por que se preocupa tanto com ela?

— A minha mãe teve complicações no meu nascimento e não pôde ter mais filhos. — Era difícil para ela falar sobre isso, mas  era necessário. — A Petra é como a irmã mais nova que eu não tive.

Em seu peito brotava a vontade de ajudar aqueles dois. No fim, todo mundo mundo estava se esforçando por algo.

— Então… quais são as classes de vocês?

— Espadachim — disse Valentina.

— Lanceiro — completou Andrew.

Hmm! Nossas classes não são compatíveis. Eu sou uma arqueira e o Trevor é um espadachim.

— E nós estamos ocupados com uma missão agora — disse Trevor que acabou de chegar. Os seus dedos estavam manchados da tinta dos quadros que ele estava pintando no seu ateliê.

Eh… Nós sentimos muito pelo inconveniente — disse Valentina, imaginando que seu pedido seria negado.

— Eu disse que nós não podemos treinar vocês, contudo…

— Então você pensou na mesma coisa que eu? Hehe! — perguntou Sophie com um sorriso convencido.

Valentina e Andrew, por sua vez, ficaram sem entender direito sobre o que os dois estavam falando.

— Então… — disse Sophie — acredito que vocês já tenham ouvido falar sobre a Princesa do Gelo e o Cavalheiro das Chamas.


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