O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 9: Reforços

Trevor e Sophie sobrevoavam o vasto oceano. Ao longe, uma enorme torre, em tom de azul-marinho, se destacava em meio a uma imensidão de águas, tão grandiosa que parecia almejar os céus.

Contudo, tal construção aparentava estar inacabada. Seja quem a idealizou, não teve sucesso em seu objetivo.

Abaixo, vários monstros, que possuíam chifres e aparência de animais marinhos, como: caranguejos, tartarugas, polvos e crocodilos estavam cortados, perfurados, queimados ou congelados.

Digno do Cavalheiro das Chamas e da Princesa do Gelo — observou Trevor.

Uhum! — Sophie concordou com um balançar de cabeça. — Parece que a gente vai esbarrar com bastante monstros de Rank S por aqui.

Os monstros do Rank S — em especial — eram classificados pelas Academias de Batalha como: Classe Destruição; Classe Catástrofe e Classe Apocalypsis.

Com essa ordem indicando o grau de risco de cada um desses deles. Assim, esses seres eram capazes de pôr em risco desde uma cidade até todo um ecossistema, ou ainda, a vida presente no planeta.

Uma criatura poderia receber uma dessas classificações baseada em seu poder destrutivo ou em alguma habilidade de alto risco, como: reprodução acelerada, criação de pragas ou controle mental a nível planetário.

— Socorro! Por favor, me ajudem! — Em cima de uma grande pedra, uma bela moça de cabelos loiros clamava e acenava ao longe.

Os seus cabelos brilhavam em meio à água e a sua voz era doce e meiga, tão agradável e seduzente de se ouvir que chegava a ser tentadora.

— Por favor! Antes que os monstros retornem!

“O que uma humana faz dentro de um portal?”, pensou Trevor, ao fazer menção de se aproximar da moça.

Com um pequeno movimento de mão para Sophie, indicou que ela deveria continuar onde estava e observar o panorama geral de longe.

Aquela mulher estava em um ponto relativamente baixo, era surpreendente que ainda estivesse viva… ou não.

Ao aproximar-se da mulher, Trevor indagou:

Olá! Como você…? — Várias flechas de energia verde passaram por trás das suas costas.

O alvo, no entanto, era a moça na grande pedra. Trevor não tentou protegê-la. A ressonância com Sophie era clara ao gritar “perigo” em seu peito.

Logo várias cabeças de serpentes surgiram debaixo da água para defender a moça das flechas da arqueira.

A pedra em que a bela mulher estava começou a se contorcer junto com as serpentes. Só então o rapaz notou que, na verdade, a pedra era uma parte do próprio corpo da criatura.

A Devoradora de Marinheiros — Scylla.

“Uma Classe Destruição?” Que bela forma de ser recebido.

As serpentes avançaram sobre o rapaz, mas o espaço ao seu redor se distorceu em várias ondulações, como quando o vento bate em uma cortina.

Essa era a Distorção Espacial de Trevor, a habilidade de contorcer o espaço ao redor do usuário, evitando-o de ser atingido.

— Monstros traiçoeiros para um portal traiçoeiro.

Vendo que o ataque direto falhou, Scylla soltou uma espécie de fumaça verde das suas seis bocas de serpente. Um veneno capaz de derreter tudo o que tocava.

Contudo, o garoto dividiu o espaço existente entre ele e a criatura, abrindo um caminho livre do veneno. Assim, conseguiria se aproximar e cortar a cabeça da sua adversária com a espada.

Mas nem tudo saiu conforme o planejado. Como a Distorção Espacial afetava a área ao seu redor, os ataques dele também não alcançavam o alvo enquanto a técnica estivesse ativada.

Era preciso desativar a defesa quase absoluta para poder atacar. Assim, enquanto avançava contra o monstro, sentiu uma mão úmida segurar sua perna.

A água do oceano tomou a forma de um rosto medonho e de um braço tão horripilante quanto o rosto do bicho.

O membro do Elemental de Água foi estourado por uma das flechas de Sophie, mas logo foi restaurado e se conectou ao pedaço que ainda segurava a perna do rapaz e — em um instante — puxou-o para o fundo do oceano.

— Trevor! — gritou para o seu companheiro, mas agora ela tinha que se preocupar mais consigo mesma.

As serpentes de Scylla se esticaram até lhe alcançar. Viu-se forçada a realizar acrobacias em pleno ar. Um combate de perto se mostrava problemático para uma arqueira.

— Por que todos fogem de mim?! — esbravejava a criatura, levando as mãos à cabeça.

Quanto mais a parte humana se lamentava, mais as serpentes se agitavam e se contorciam de forma selvagem.

Sophie ativou as suas runas. As tatuagens tribais de cor verde-esmeralda se espalharam pelo seu rosto, braços, pernas e busto, todas de uma só vez.

Pegou uma das serpentes pela cabeça e conseguiu torcer o seu pescoço e esmagá-la antes que expelisse o veneno.

Diferente dos demais, Sophie não possuía técnicas de corte para curta distância, mas isso não significava que ela era uma gatinha indefesa no combate corpo-a-corpo.

O monstro gritou de dor por perder um de seus membros, levando mais uma vez as mãos à cabeça, e também ao rosto, a ponto de causar pequenos cortes em sua bela face com as garras.

Sangue verde escorria pelo seu pescoço, soltando uma fumaça cinza e provocando uma sensação de ardência. Ai daquele que fosse tocado por tal sangue corrosivo.

Em resposta, suas serpentes criaram uma verdadeira cortina de fumaça venenosa ao redor de Sophie, a qual se espalhou ainda mais rápido com a ajuda do vento — embora de forma desorganizada.

Mas a garota repentinamente desapareceu do campo de visão da criatura. Era como se ela tivesse sumido, ou melhor, era como se o tempo tivesse parado.

Aproveitando-se da chance, Sophie se aproximou das costas do monstro e carregou uma flecha apontada para a cabeça dele.

Xeque-mate.

Ao soltar o projétil, o crânio do monstro foi completamente estourado, e sangue verde jorrou do seu pescoço e manchou a pele da garota, causando algumas queimaduras no seu corpo.

Contudo, por alguma razão, Sophie não esboçou indícios de dor em seu rosto — por menor que fosse.

Logo, Trevor saiu todo encharco do oceano e com alguns rasgos em suas roupas.

Antes que sua parceira pudesse falar algo, o garoto a pegou pelo braço e — rapidamente — puxou-a para longe dali.

Não havia tempo para explicações.

Mais abaixo, uma sombra colossal e negra se aproximava.

Klaus desviou de mais um jato de água pressurizada. Já estava cansado de ter os seus escudos de energia fatiados com facilidade.

Normalmente, deveriam ser bem resistentes, mas em contato com a água daquele oceano, pareciam ser feitos de papel.

— Cabeça do Dragão de Fogo! — Jogou sua lança no momento em que um monstro saltou em sua direção.

A pobre criatura recebeu um belo buraco em seu peito, e as chamas — com a forma da cabeça de um dragão — começaram a consumir seu corpo. Ao menos, até cair novamente dentro oceano.

As chamas se apagaram em instantes.

— Essa água já tá enchendo o saco. — Um usuário de Manipulação de Fogo em meio àquele tipo de ambiente.

Era possível sentir a sua frustração.

Contudo, o verdadeiro problema estava na propriedade especial do oceano.

Nesse instante, um belo e doce som ecoou do fundo das águas. Lindas mulheres com cauda de peixe surgiram, fazendo aquela encantadora canção ressoar por todo o local.

Tudo ao redor começou a ficar turvo e parecia girar. Era como se estivesse entorpecido pela mais poderosa das drogas.

Antes que percebesse, Klaus abaixou sua arma e começou a descer em direção às Sereias. Junto a elas estavam outros monstros sedentos para tragar a carne do garoto.

Foi quando, de repente, uma mão puxou o colarinho da sua camisa por trás com bastante força.

Várias estacas de gelo surgiram e acertaram ombro, peito e barriga das criaturas, fazendo-as cessar a canção e mergulhar em busca de refúgio.

— O que pensa que tá fazendo, garanhão?! — reclamou Eirin, nitidamente incomodada.

— Fo-Foi mal. Eu acabei perdendo a consciência por um instante.

— Eu espero que tenha sido só isso mesmo! — Um biquinho e um rosto virado para o lado foi tudo o que o rapaz recebeu. — Humph!

— Valeu. Se estivesse sozinho, eu provavelmente estaria morto agora. — Observava o mar de monstros abaixo de si.

As águas começaram a se agitar, e as criaturas ficaram tensas do nada, deslocando-se para todos os lados — fugindo.

Uma grande mancha negra se formou na água. Dela saíram vários tentáculos em direção ao duo.

Sem pensar duas vezes, Klaus lançou uma labareda de chamas através da sua lança, e Eirin soltou uma rajada de ar frio contra os tentáculos.

Todavia, o efeito das técnicas enfraqueceu ao entrar em contato com a água, a qual ainda estava presente nos tentáculos da criatura.

Tsc! Que saco!

Viram-se obrigados a desviar.

O rapaz retirou algo semelhante a uma joia escarlate do seu anel de ressonância. O objeto possuía formato losangular e brilhava como cristal — uma Gema Espectral.

A gema ardia como brasa em sua mão, uma vez que foi criada a partir do núcleo de um boss Dragão. Contudo, o nefilim só poderia segurá-la tranquilamente por causa da sua Resistência ao Fogo.

— Sério que eu já vou ter que usar isso? — Acoplou a Gema Espectral na sua arma. Logo a lança adquiriu um formato mais rústico, semelhante a labaredas. — E a gente ainda nem encontrou a desgraça do boss.

Mas, dado a dificuldade que estavam passando por culpa daquela água, o Cavalheiro das Chamas não tinha outra escolha senão aperfeiçoar sua lança com o poder de outro monstro.

Tentou mais uma investida. Dessa vez, lançou sua arma girando como um bumerangue, conseguindo causar uma ferida profunda em um dos tentáculos da criatura.

— Agora sim!

Eirin, ao ver a atitude do seu cavalheiro, não teve escolha senão usar a sua Gema Espectral também.

Diferente da de Klaus, a sua ardia por causa do frio extremo que carregava na sua composição.

Dessa forma, também conseguiu causar um dano significativo ao cortar um dos tentáculos, mas — no momento em que o membro do monstro iria congelar — o efeito da técnica enfraqueceu.

Para piorar a situação, as feridas provocadas logo começaram a se fechar.  Mesmo com as armas aprimoradas, isso serviu apenas para deixar o monstro marinho ainda mais furioso.

Ao colocar o rosto para fora da água, cinco fileiras de dentes — mais afiados do que navalhas — e olhos verdes como musgo surgiram.

Classe Apocalypsis: Kraken.

Um grunhido ensurdecedor saiu da garganta do colossal, forçando a dupla a tapar os ouvidos. Nisso, uma esfera de água se formou do oceano e foi lançada contra eles.

Tentar desviar em meio a todo aquele barulho era inútil. A esfera explodiu, lançando várias agulhas de água para todos os lados.

Klaus e Eirin fizeram o possível para se proteger. Ainda assim, braços, pernas e tronco foram perfurados diversas vezes. Por sorte, evitaram danos em pontos vitais.

Todavia, muitos buracos — dos quais escorria o sangue que manchava suas roupas — se tornaram nítidos em seus corpos.

Logo uma espécie de choque os atacou por dentro. Suas forças começaram a diminuir, ou melhor, a sua energia espiritual começou a enfraquecer.

Explosões foram ouvidas ao longe, chamando a atenção tanto das pessoas quanto dos monstros. Aquela era uma energia espiritual familiar.

— Antes tarde do que nunca. — Os dois ignoraram o inimigo e os ferimentos e partiram o mais rápido que podiam em direção aos seus companheiros.

O Kraken, que não abriria mão tão fácil das suas presas, os perseguiu numa velocidade tão alta quanto a deles.

No entanto, só ao avistar os seus amigos ao longe que a dupla perceberia o quão grande os seus problemas estavam se tornando, e Klaus diria: "Mas que diabos de bicho é aquele?"


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