Volume 1 – Arco 2
Capítulo 10: Reino das Espadas
Joseph encarava Raizel com um olhar selvagem enquanto o rapaz segurava Petra em seus braços. Os subordinados dele, por sua vez, estavam em posição de ataque, à espera de uma oportunidade.
Quão tolas aquelas pessoas eram para deixarem sua intenção assassina tão evidente? Contra um oponente mais forte, era necessário agir com esperteza e malandragem, coisas que aquelas pessoas pareciam desconhecer.
A vergonha da profissão.
Era lógico pensar que o nível do subordinado definia o nível do líder, e Joseph, aos olhos de Raizel, teria que melhorar muito para ser mediano.
— Vão me enfrentar com um nível de poder tão baixo? — disse o nefilim, ao passo que voltava sua atenção para os subordinados do inimigo. — Cês vão rodar.
Um terrível frio percorreu as espinhas dos pobres infelizes. Eles sabiam que estar na mira do Top 1 Rank S de uma Academia de Batalha era uma das piores coisas que poderiam lhes acontecer, principalmente se fosse o Top 1 daquela Academia.
— De qualquer forma. — Raizel reparou em Andrew e Valentina, que seguravam seus braços doloridos. — Vou querer ao menos um braço ou perna de cada um de vocês como forma de compensação.
Só quebrar os subordinados seria pouco pelo mal que causaram a Petra e aos amigos dela, mas eles ainda poderiam sofrer um pouco menos que o Joseph.
Aquele imundo iria comer o pão que o diabo amassou.
— Então foi você que armou a fuga da Petra da mansão dos Lavour. — Acusou o nefilim, apontando o dedo indicador, o louco que era o único que parecia ignorar o perigo que corria. — Vai pagar por isso.
Com uma pequena risada, Raizel percebeu o quanto o seu inimigo era ingênuo. Aquele imbecil caiu feito um patinho nas informações falsas que Trevor e Sophie montaram.
— Eu sou um nobre e também um Rank S. — Impôs-se a anta, levando um punho fechado ao peito. — Não pense que sairá impune por atrapalhar o meu casamento.
— Status? Ranking? — Meneou a cabeça com o ânimo que era pensar sobre aquilo. — Você confia tanto assim nessas coisas?
— É apenas isso o que importa. — Desviando o foco para Valentina, que montou um duo com alguém que não era da nobreza, Joseph quase cuspiu na cara dela. — Sua família devia sentir vergonha.
— Então me diz, nobre, você já teve que confiar sua vida ao fio da sua espada? — contrapôs o nefilim, mas o indivíduo pareceu não entender a profundidade das suas palavras. — É, foi o que eu imaginei.
Pensando que Raizel estava com a guarda baixa, por causa da conversa, os subordinados tentaram um ataque furtivo.
Todavia, ao realizarem um movimento hostil, cada um sofreu vários ataques semelhantes a linhas de luz vermelhas.
Seus membros, os que usaram para atacar, foram decepados na hora, fazendo-os gritar de dor e agonia.
— Olho por olho, dente por dente e…
Ao que Raizel colocou Petra no chão, ele desapareceu da visão de todos, aparecendo logo ao lado de Joseph.
Antes que o imbecil infeliz pudesse esboçar qualquer reação, um forte impulso atingiu seu peito, lançando-o contra o farfalhar de algumas árvores.
— …Costela por costela.
Raizel saiu da posição do chute e colocou as mãos nos bolsos. Joseph, por outro lado, sentia dificuldades para se levantar e limpar a poeira em seu uniforme.
A dor era tamanha que seus pulmões quase pararam de funcionar, e o ar se recusava a passar pela sua garganta. Tossindo, se viu obrigado a encarar o oponente hostil de baixo.
— Preste bastante atenção. — Raizel proferiu para Petra, olhando-a por cima dos próprios ombros. — Algum dia você também vai ter que criar o seu próprio Espaço Dimensional, entendeu?
— Uhum! — A moça concordou com um balançar de cabeça.
— O Espaço Dimensional é, em suma, uma dimensão de bolso que nós moldamos conforme a nossa vontade e o ligamos à nossa dimensão de origem por meio de um canal — explicava, ao passo que ignorava os inimigos completamente, o que deixou-os bem infelizes. — Claro, nós só conseguimos modelar o espaço de acordo com o que o nosso poder permite.
— Pretende dar uma aula no meio de uma luta, seu lixo?! — vociferou a anta.
— Nós também podemos acrescentar algumas leis a esses espaços. — O que tornava aquela técnica tão perigosa.
Para se opor às leis de um Espaço Dimensional seria necessário ultrapassar a quantidade de energia do usuário somada a quantidade do seu Espaço Dimensional, que também acumulava energia ao longo do tempo, como uma espécie de bateria.
— Deixe de ficar me ignorando, maldito! — Joseph, enfim, conseguiu se recuperar do chute, ao menos para se levantar e berrar.
As espadas que flutuavam começaram a vibrar no ar, de imediato. Só aí o nobre arrogante se deu conta do que aconteceu com seus subordinados, antes dele.
— A lei que acrescentei ao meu Reino das Espadas é bem simples. — Raizel continuou a explicação: — Todo movimento hostil usado contra mim é contra-atacado por essas espadas, que se aperfeiçoam com o tempo. Em outras palavras...
— Eles não podem atacar — comentou Andrew enquanto olhava atônito para as pessoas segurando os seus ombros, que sangravam horrores pela ausência de um braço ou perna.
Considerando o tempo de existência daquele Espaço Dimensional, as armas do Reino das Espadas estavam em um nível absurdo de capacidade de corte, resistência e velocidade.
— A parte do corpo que usarem contra mim vai ser decepada. — Um queixo erguido, um olhar recheado de desprezo e uma voz arrogante foi tudo o que Joseph recebeu do seu inimigo. — Acha que pode se opor às minhas espadas... Rank S?
Todo o corpo do nobre começou a arder em puro ódio. Aquele indivíduo ousou levar a sua noiva e ainda pretendia lhe pisar sem que ele pudesse oferecer resistência?
— Idiota! Espaço Dimensional! — Tudo o que ele precisava fazer era sair dali e ter a vantagem de terreno, mas nada aconteceu. — O… quê?
— O idiota aqui é você. — Aquela técnica não era um critério para alcançar o Rank S à toa. — Acha que pode superar um Espaço Dimensional milenar? Logo você?
"Mentira! Isso só pode ser mentira!" O lábio inferior de Joseph sangrou pela pressão imposta pelos seus dentes. Que fim mais patético ele teria.
Aquilo já era o bastante para uma aula introdutória. Então, saindo da sua postura descontraída, Raizel aumentou a pressão no ambiente apenas com a sua aura.
— Vocês morrem... aqui.
Sem chance de reação, os subordinados de Joseph foram atacados em seus corações e pescoços pelas armas do Reino das Espadas.
Em um piscar de olhos, todos foram mortos. Era desnecessário perder tempo com peixes pequenos. Apenas Joseph continuou vivo, porém com cortes por todo o corpo.
— Você, verme imundo, não terá a minha misericórdia — disse, nitidamente furioso, enquanto se aproximava.
O verme estranhou o fato de Raizel ter apresentado um pequeno aumento de energia após matar seus subordinados. Mas isso logo sumiu da sua mente. Ele estava a ponto de morrer.
— Você será punido por matar membros da Academia dentro dos seus territórios!
— Academia? — Raizel olhou para cada árvore e neblina do ambiente. — Onde você tá vendo alguma Academia por aqui?
— Seu desgraçado! — Tentou partir para cima, mas teve seus tendões de aquiles cortados pelas espadas e caiu de joelhos.
— Ah, sim. Eu fiz uma pequena alteração na lei do Reino das Espadas para que você dure um pouco mais. — Os olhos do nefilim brilharam em um tom aterrorizante de vermelho. Deliciava-se com o medo e o desespero da vítima. — Você não terá a minha misericórdia, lembra?
Joseph sentiu uma sensação inquietante no peito e um forte frio na espinha. Sua respiração ficou pesada. Sem dúvidas, aquela era a sensação do medo.
Aquele que a pouco sentia-se como um deus, agora era apenas um animal indefeso e encurralado.
— Como podem ter morrido de forma tão patética?! — reclamou para os corpos dos seus subordinados. — Vocês deveriam me proteger, seus vermes!
Em meio ao desespero, ele revelava sua verdadeira identidade: um fracassado que intimidava os fracos para se sentir forte e que dependia da ajuda de pessoas ainda mais fracas, por ter medo de ser traído.
Quando estava para pegar uma das armas e perfurar o joelho do miserável, Raizel se lembrou do anel de ressonância de Petra.
No momento em que sua conexão com a garota enfraqueceu, o nefilim sentiu que alguém tirou o anel de ressonância dela.
— Está com você… O anel dela.
Mostrando o acessório para Raizel, Joseph soltou uma pequena risada de vanglória torta. No fim, ainda que estivesse encurralado, havia do que se orgulhar.
— É isso o que você quer?
De imediato, uma forte sensação de ardência subiu desde o estômago do nefilim até passar pela sua garganta e chegar à boca. Ver aquele lixo imundo segurar o símbolo de ligação que ele possuía com a sua parceira causava-lhe ânsia de vômito.
— Tire... — disse, ao passo que o ódio alterava o tom da sua voz — as suas mãos imundas…. desse anel…!
Joseph ainda tentou se impor por puro orgulho, mas, no momento em que olhou para sua mão, ela foi decepada por uma linha vermelha.
Gritou de horror ao ver a carne e os ossos do próprio pulso expostos. Sangue jorrava como nunca antes tinha visto. E justo o sangue dele.
Várias espadas foram cravadas em seu corpo: braços, pernas, mãos, pés, barriga, ombros, nada foi poupado.
Raizel se aproximou a passos pesados, pegando-o pelo pescoço. Após erguê-lo para o alto, chocou ferozmente o corpo dele contra o chão.
— Argh! — Sangue escorreu em abundância da sua boca. Cada arma perfurou ainda mais carne e órgãos. — Argh! — Sem ajuda, morreria em breve.
Dizem que antes de morrer sua vida passa perante seus olhos, como se fosse um filme. E Joseph viu cada momento.
Desde quando criança, era bajulado. Um garoto bonito com pele e cabelos macios e um rosto delicado.
Aliado ao fato de fazer parte de uma família nobre, sempre pôde se sobrepor aos funcionários que eram mais velhos do que ele. Tudo o levou a se sentir superior aos demais.
Quando alcançou a idade de doze anos, pôde fazer o Teste de Aptidão, onde descobriu que possuía uma Habilidade Inata.
Com os resultados do seu treinamento, foi aclamado como alguém com potencial para alcançar até mesmo o Rank S.
Seu orgulho cresceu ainda mais.
Todas as garotas o viam com bons olhos e o desejavam, exceto uma certa pessoa. Ele a viu em uma visita que sua família fez ao líder da casa dos Lavour.
Aquela garota era muito bonita e, de longe, superava qualquer uma das outras que ele tinha conhecido até então.
"Por que você me rejeitou? Eu... era… perfeito."
Uma forte dor no peito de Joseph o trouxe de volta à realidade. Raizel enfiou a mão no peito esquerdo dele, quebrou algumas costelas e abriu um espaço entre a carne.
Vomitar sangue foi inevitável. O infeliz sentia que, caso aquilo continuasse, ele enlouqueceria antes mesmo de morrer.
— Po-Por favor — pediu enquanto o sangue escorria pela sua boca e as lágrimas desciam pelo rosto. — Me… poupe.
— Por ter machucado o meu duo. Por ter tocado no é que meu… — disse, aproximando-se do rosto do rapaz, para que ele escutasse bem suas últimas palavras — peça misericórdia no inferno.
"Nesse caso… ao menos ela… eu vou…" Com o que lhe restava de forças, Joseph estendeu uma mão e disparou uma rajada de energia que passou pelo lado do seu oponente.
Raizel olhou para trás e viu que o golpe se aproximava de Petra e dos amigos dela. O estrondo da explosão jogou a névoa do ambiente para longe e levantou uma grande quantidade de poeira.
Ao baixar da fumaça, uma parede improvisada pelas armas do Reino das Espadas havia se formado para proteger os três. A estrutura foi montada tão rápido que ninguém percebeu o momento em que ela surgiu.
— Apenas morra logo de uma vez!
Raizel esmagou o coração de Joseph e jogou o corpo para dentro da névoa onde, gradativamente, tudo se tornou um completo breu para o rapaz caído.
Com tudo acabado, o nefilim foi em direção à mão decepada do seu adversário, a que ainda segurava o anel de Petra.
Criou uma toalha feita de um material esponjoso, o qual absorveu todo o sangue podre que entrava em sua própria mão.
Quando pegou o anel de ressonância, o Espaço Dimensional começou a regredir para o local onde todos do grupo estavam anteriormente.
Os corpos dos que Raizel matou continuaram isolados naquele lugar, o túmulo deles, onde ninguém jamais os acharia.
Ao ver seu parceiro se aproximando, Petra abaixou a cabeça. Era difícil encará-lo sabendo que tudo aquilo aconteceu por causa dela, porque hesitou na hora de usar o Dispositivo de Teletransporte.
— Eu sinto mui... — Foi interrompida no momento em que Raizel colocou a mão sobre sua cabeça e afagou seus cabelos.
— Eu sinto muito, senhorita. — O que ele estava dizendo? Se tinha alguém que deveria se desculpar era… — Você se machucou porque a minha proteção foi ineficaz.
A garota queria contra-argumentar, mas ao ver o rosto dele, suas palavras esvaíram-se junto ao vento. Os olhos de Raizel carregavam um certo pesar, mas também um pouco de alívio.
Quando o nefilim ofereceu o anel de ressonância de volta para, Petra virou o rosto para o lado e, com um pouco de vergonha, estendeu a mão para que ele mesmo o colocasse em seu dedo.
Raizel sorriu enquanto colocava o anel. De alguma forma, a reação da garota lhe causou uma certa empolgação. Vê-la daquela forma até que era prazeroso.
— Usem isso para retornar em segurança. — O nefilim tirou uma esfera cinza do seu próprio anel e entregou para os outros.
Ele havia guardado um Dispositivo de Teletransporte para retornar mais rápido, caso necessário, porém os três precisavam daquilo mais do que ele no momento.
Com tudo pronto, Raizel se preparou para ir embora, de volta à Oprantis, ainda havia mais trabalho para ele fazer até o final daquele dia; mas Andrew indagou:
— Aquele cara disse que foi você quem tirou a Petra da mansão dos Lavour, mas...
— O Trevor e a Sophie já cuidaram disso — interrompeu a fala do outro. — Eles mudaram algumas informações para limpar a barra de vocês dois.
Só aquilo e mais algumas coisinhas.
— Por que você ajudaria a gente? — continuou o rapaz.
— Não seja tolo. — Repreendeu-o enquanto dava as costas para ele. — Um certo alguém estava preocupado com vocês, é claro.
De fato, se o líder dos Lavour obtivesse provas de que os dois estavam envolvidos no desaparecimento da garota…
Andrew queria indagar mais, contudo sabia que o parceiro da sua amiga tinha outra missão de extrema urgência para cumprir.
Logo Raizel alçou voo, deixando apenas os três para trás, ainda um pouco incomodados com o que tinha acabado de acontecer: quase morreram e ainda presenciaram uma chacina.
De qualquer forma, ninguém queria se arriscar continuando naquele lugar. Andrew e Valentina colocaram suas mãos sobre os ombros de Petra e ambos foram teletransportados para a segurança da residência de Raizel Stiger.