Volume 1 – Arco 2
Capítulo 16: Mau Presságio
Uma vez que as Cadeias de Abaddon drenavam energia demoníaca, cada um dos golpes de Raizel reduziam por um instante a resistência do seu inimigo.
Não sendo o bastante, a potência daqueles socos e chutes ainda estava muito além do que alguém pensaria em suportar.
O rapaz já era rápido demais só com as runas e os Círculos de Propulsão; com aquela asa, ele estava tão rápido que seu deslocamento entre cada um dos círculos era quase instantâneo.
O Pseudoleviatã defendeu o próximo chute do garoto com o seu antebraço esquerdo e, com o direito, lançou a sua investida.
Com o auxílio de um Círculo de Propulsão, Raizel desviou para o lado sem muita dificuldade e impulsionou-se com outro círculo.
O nefilim chutou o tridente da criatura para cima. Diante da oportunidade, prendeu-o com uma corrente e emendou outro chute na mão do monstro, a que segurava a arma, forçando-o a soltá-la.
O tridente foi puxado para longe e selado pelas várias Cadeias de Abaddon.
— O que vai fazer agora? — indagou o nefilim, ao passo que girava seu tronco e direcionava um soco de esquerda no rosto da criatura.
O monstro conseguiu se defender com um braço de última hora, mas ao fazer isso a sua visão foi levemente tampada e logo um potente chute o alcançou bem no rosto, fazendo-o tombar para trás; mas não sem que ele segurasse a perna do rapaz e batesse o corpo do nefilim contra o chão.
As Cadeias de Abaddon que estavam na perna de Raizel se enroscaram no braço do seu adversário. Não tardou para que a força do monstro diminuísse, e o dano causado no nefilim fosse mínimo.
— Acha que é o único aqui a ter uma boa resistência? — O nefilim usou sua asa para atacar o rosto do oponente e, por mais incrível que pudesse parecer, a monstruosidade sangrou. Um corte fino e cirúrgico foi criado no rosto demoníaco.
Aquela asa era mais do que um ornamento, era a própria manifestação da divindade de Raizel ou, ao menos, parte dela.
A segunda asa, a esquerda, surgiu logo em seguida, e o rapaz alçou voo tão rápido que o bater de suas asas abalou o solo e levantou uma devastadora quantidade de poeira.
O braço da criatura ainda estava preso à perna dele, o que forçou o boss a subir junto ao nefilim. Em um piscar de olhos, os dois estavam tão alto que tudo abaixo parecia minúsculo.
Tão rápido quanto subiram, disparam em direção ao solo. A corrente apertou ainda mais o braço do Pseudoleviatã, e o outro pé de Raizel mirou a cabeça dele.
A colisão estremeceu todo o lugar com um baque de estourar os tímpanos alheios e criou uma cratera imensa, como se um meteoro tivesse acabado de cair.
O monstro podia sentir o gosto amargo do sangue em sua boca. O líquido viscoso escorria pela sua testa também. Nunca ficou tão ferido. Aquelas malditas correntes eram a pior arma que ele poderia enfrentar.
"Esse anjo dos infer…" Ao abrir os olhos, sua espinha gelou.
Com sangue nos olhos e as correntes girando freneticamente ao redor de seu braço, Raizel ia com tudo para fazer um furo profundo no rosto do inimigo.
— Morra! — esbravejou, sanguinário.
A criatura esgueirou-se o mais rápido que pôde por uma fenda dimensional, desaparecendo da visão do rapaz, evitando um buraco bem no meio da testa, por muito pouco.
— Tsc!
Frustrado, Raizel se viu forçado a entrar em posição defensiva e ficar atento a qualquer alteração que ocorresse no ambiente.
Em pouco tempo, o monstro voltou a dar as caras por uma fenda que se abriu logo ao lado do nefilim. Mantendo firme a base dos seus pés, Raizel rebateu o soco do monstro com um de direita.
A colisão contra a corrente, presente no punho do rapaz, não enfraqueceu o golpe do monstro o suficiente. Por outro lado, a força da aberração continuava a crescer.
“Pura força física?!”
Mesmo com a vantagem momentânea de força, o boss desistiu do embate e partiu com as mãos abertas, pronto para abraçar e restringir os movimentos de Raizel.
Em resposta, o garoto segurou as mãos da criatura para evitar o agarrão, e os dois entraram em uma disputa direta de força.
Quatro crateras se abriram aos pés deles, e a força do monstro continuava a aumentar cada vez mais.
"Sinto muito Sophie, mas a sua suposição estava errada." Aquele desgraçado não precisava morrer para evoluir. "Ele evolui constantemente".
As asas de Raizel se prepararam para o próximo ataque, mirando nos olhos do seu adversário; todavia, o monstro abriu os braços e puxou o rapaz para perto.
Pego de surpresa, o nefilim curvou seu joelho esquerdo e colocou uma perna no abdômen do adversário, impedindo o seu corpo de colidir contra o dele; em seguida, cravou as asas nas costas dele.
Em vez de vacilar pela dor, a aberração apertou as mãos do oponente com ainda mais força, prendendo-o com firmeza.
O próximo passo da evolução do Pseudoleviatã acabava de se concretizar.
Um espinho envolto por uma aura roxa surgiu do peito direito do monstro e foi disparado em alta velocidade contra o peito esquerdo de Raizel.
O rapaz nem tentou resistir; sabia que seria inútil. Aquela maldita aura roxa; ele, melhor do que ninguém, conhecia bem os efeitos e a letalidade dela.
O seu coração foi perfurado.
— Argh! — Seu peito ardeu, como se tivessem aplicado lava no seu interior. Então, expressou com dificuldade: — Maldito… Nether!
— Você conhece... essa... habilidade?
As armas imbuídas pelo Nether, a energia primordial da morte, ignoravam as defesas de corpos orgânicos. Defender-se daquilo era mais do que difícil, era inimaginável.
— Humanos morrem... muito… fácil.
Por ser uma energia associada a algo tão desprezível quanto a morte, era comum que muitas pessoas vissem o Nether como uma energia oriunda do Submundo.
Usuários medíocres daquele poder já eram capazes de secar uma floresta inteira apenas com a sua presença ou matar um elefante adulto com um arranhão.
As pernas de Raizel cambalearam. O corpo dele se inclinou para trás. Logo a criatura o soltou, para vê-lo cair como um saco de lixo, enquanto ela sorria triunfante.
Na sala da residência do Top 1 Rank S, Petra e Andrew dividiam a mesa, um de frente para o outro, sem falar nada.
O silêncio dominava o ambiente. Diferente de Valentina, a relação de Andrew com a garota à sua frente nem era tão profunda.
Contudo, a falta de proximidade estava longe de ser o motivo do silêncio sepulcral. Os dois estavam super mal pelo que aconteceu na floresta da estátua de Ziz.
A moça ficou calada durante a maior parte do tempo. Era nítido que se considerava como a razão de toda aquela confusão.
Raizel teve que matar muitas pessoas. Manchou suas mãos de sangue. Tudo para proteger sua parceira de duo.
"Se descobrirem o que ele fez…" Ela simplesmente não queria imaginar.
Era óbvio que aquilo traria grandes consequências para o rapaz. Principalmente, considerando a posição dele na Academia de Batalha.
Andrew observou o olhar baixo da menina; desejava dizer algumas palavras de conforto, mas como poderia fazer aquilo?
Tudo o que ele fez enquanto as garotas — enquanto a sua própria parceira estava em perigo — foi apenas apanhar feito merda.
Como poderia ser tão fraco? Naquele momento, invejou a força de Raizel. Por bem ou por mal, as pessoas podiam fazer o que quisessem, desde que tivessem o poder necessário para tal.
Naquela hora, Joseph tinha o poder para fazer o mal, mas Andrew não possuía as capacidades para fazer o bem.
— Ei! — Valentina entrou na sala, quebrando o silêncio, enquanto segurava uma garrafa de vinho em suas mãos. — Olha só o que eu achei.
— Espera, isso é…? — Do nada, um frio tomou conta da barriga do rapaz.
— Vinho. — Álcool logo nas mãos daquela moça… — Hehe!
O garoto se levantou com calma, foi até a parceira e, antes que a garota tivesse a oportunidade de reagir, ele tomou a garrafa das mãos dela.
— Nós vamos devolver isso agora. Onde foi que você…? — Em um movimento abrupto, Andrew teve que erguer a garrafa.
— Devolve! — Valentina pulava tentando recuperar a bebida, mas seu duo era mais alto do que ela. — Tinha um monte, ele nem vai sentir falta. Vai, devolve!
— Nem pensar.
— Humph! — Vendo que jamais o alcançaria, Valentina ficou na frente dele e fez cara de brava. — Andrew, como você é cruel.
— Já esqueceu do barraco que fez na última vez que bebeu? — Tudo o que ele recebeu foi um olhar de dúvida. Aquela garota só poderia tá brincando com ele. — Você subiu na mesa e quase tirou a roupa.
— Huh? — Levou um dedo aos lábios e indagou, enquanto cogitava dar um chute na canela daquele poste, para que ele se abaixasse: — Eu fiz algo assim?
— Você esqueceu mesmo?!
— Haha! — Pela primeira vez desde o incidente, Petra riu. — Só você mesmo, Valentina.
Por mais sem noção que a amiga fosse, ela sabia como descontrair o ambiente. Talvez, ao menos enquanto Valentina estivesse ali, Petra poderia sorrir um pou…
O peito da garota doeu.
— Petra? — Valentina foi a primeira a perceber o problema da amiga, que levou uma mão até a região que doía. Era como se uma lança tivesse perfurado o seu peito.
Petra jamais esqueceria da primeira vez em que sentiu o alerta de perigo do Pacto de Ressonância.
— Rai…
Um guerreiro tinha o dever de aproveitar as oportunidades que surgiam no campo de batalha. E quando elas não surgiam? Era o seu dever criá-las.
Raizel tentou criar uma oportunidade perfeita, algo que lhe garantisse a vitória no período em que pudesse empunhá-la.
Ele falhou e pagou o preço. Ainda assim…
Com o peito perfurado e o coração destruído, enquanto caía, pronunciou:
— Manifeste-se… — Ele prometeu para a sua parceira que voltaria. Morrer ali estava fora de cogitação. Que tudo ali fosse resolvido na base da ignorância do puro poder. — Espada do Fim dos Tempos.