O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 15: Mundo dos Sonhos

Uma pequena Eirin, com idade próxima a doze anos, estava sentada no assento de uma carruagem luxuosa.

Os bancos eram feitos de um couro marrom-escuro e estavam organizados em duas filas. A garotinha se encontrava no banco de trás.

Alguns cristais de luz branca brilhavam nos cantos e iluminavam o recinto. As janelas, por sua vez, absorviam o preto absoluto da frieza da floresta noturna.

Do lado de fora, guardas a cavalo faziam a escolta, uns logo à frente; outros, atrás.

Tanto as roupas da garota quanto as daqueles que a acompanhavam pareciam ser da mais alta qualidade: feitas de linho e de seda pelos mais excelentes alfaiates.

Ao lado da criança, uma mulher adulta estava sentada com um semblante sério. Ainda assim, tal expressão era incapaz de abalar a beleza que seu rosto transmitia.

Os cabelos e olhos da mulher eram de um rosa-claro e encantador, da mesma cor que os da garotinha: Adamantina Rigel, a mãe de Eirin.

A carruagem parou bruscamente.

Todos foram chacoalhados, e as duas que estavam nos bancos traseiros quase bateram de cara no assento da frente.

— O que diabos houve aqui?! — indagou um senhor de bigode e barba preta, Frederick Rigel, o pai da mocinha.

— Abaixem-se todos, nós estamos sob ataque! — gritou um dos guardas que acompanhava a carruagem. — Rápido!

"Esse… Esse dia…?" A respiração de Eirin ficou pesada de repente. A pequena levou as mãos ao coração, que batia forte contra seu peito. — Por que…? Hoje…?

Eirin se inclinou para a frente, quase ficando em posição fetal. Suas mãos tremiam sem parar. A garotinha suava, e suava frio.

"Por quê? Por quê? Porquê…? Por que isso tá acontecendo de novo?"

— Eirin? O que houve, mocinha? — indagou sua mãe. — Que comportamento inapropriado para a nossa classe.

A mulher encarou a menina com desdém. Eram apenas uns ladrões quaisquer, coisa que seus guardas bem preparados dariam conta com facilidade; no entanto Eirin a respondeu com lágrimas nos olhos e, com voz de choro: — Mãe a gente…

A carruagem foi atingida por um impacto seco e tombou para o lado, quebrada.

Um garotinho de cabelo azul-escuro acabava de abrir os seus olhos, dentro de uma cápsula transparente cheia de um líquido azul-claro.

Uma máscara conectada ao rosto da criança impedia que o líquido alcançasse os seus pulmões, enquanto lhe fornecia oxigênio. Ele usava nada além de uma pequena sunga preta colada ao corpo.

Apenas alguns fios se conectavam ao corpo dele para coletar os dados do estado da sua saúde frágil.

Tudo estava turvo, afinal era a primeira vez em que ele abria os olhos. Ainda assim, jamais esqueceria daquele dia, das palavras que ouviu e nem dos rostos daqueles que o encaravam.

— Tudo está indo bem até aqui — disse um senhor que usava um jaleco branco.

Era difícil discernir, mas parecia que ele estava em alguma espécie de sala bem iluminada. Outras pessoas o encaravam, alguns com o que poderia ser empolgação, outros com preocupação… talvez?

Mas quem realmente se destacava entre todos era um homem alto e forte, o qual trajava um terno preto colado aos seus músculos salientes. A barba, o bigode e os cabelos cinzas indicavam a sua idade um tanto quanto avançada.

— Então, você já pensou em um nome para ele, meu rapaz? — indagou o velho parrudo para alguém. — O nome é algo de suma importância para uma pessoa. Escolha com zelo.

— Trevor. — Os olhos do pequeno começaram a enxergar com mais nitidez a figura do rapaz de olhos e cabelos vermelhos que estava ao lado do senhor de terno. — O nome soa bem e não remete à impureza de um nefilim.

Raizel se aproximou da câmara e encostou a palma da sua mão no vidro gelado, então encarou os olhos da criança. — O sobrenome você mesmo pode escolher, desde que seja diferente do meu.

Tudo ficou escuro, todos sumiram. Em um instante, restava apenas o garoto dentro da cápsula e os fios, espalhados pelo seu corpo, que se moveram sozinhos e envolveram os seus membros.

Um dos fios finos se enrolou no pescoço do pequeno Trevor e a máscara se soltou do rosto dele; sem ar ao redor estava para morrer afogado e em agonia.

— Eu já disse que você não vai! — exclamou uma mulher loira para a menina sentada à sua frente. — Isso é perigoso demais, Sophie!

— Mas mãe, eu…

Ao lado da mãe de Sophie, o pai dela, um homem de olhos verde-esmeralda, se mantinha em silêncio, em afinidade com a opinião da sua esposa.

Cabelos loiros, olhos verde-esmeralda, a combinação que acompanhava a aparência da pequena Sophie. Eles eram semelhantes em aparência, contudo, quando se tratava de opinião…

— Quem colocou essa ideia ridícula na sua cabeça, menina?! — A sua mãe estava para se levantar e segurá-la pela blusa, mas seu pai a acalmou ao colocar a mão sobre o ombro dela. — Essas loucuras vão levar ela ao mesmo fim que o avô!

"Loucuras? Esse é apenas o meu sonho. Ninguém colocou nada na minha cabeça.” Ainda que sem coragem para argumentar, a garota resistia em sua mente. “Ele só abriu os meus olhos, revelou o que eu insistia em negar por causa de vocês”.

Sophie se levantou de imediato e se pôs a sair, ignorando qualquer repreensão advinda dos seus progenitores. Todavia, o que ela recebeu foi uma vez estranha que soou atrás de si.

— Você acha que possui direito de escolha, criança estúpida?

Quando a menina se virou, o que viu quase fez os seus joelhos cederem. Aqueles eram mesmo os seus pais?

As figuras, do que antes pareciam pessoas, se assemelhavam a criaturas bizarras. A pele e os músculos derretidos escorriam dos seus corpos até o chão. Os olhos ficaram frouxos em suas órbitas, estavam a ponto de cair.

— Mas o que…? — Sophie tentou reagir, mas foi inútil. O seu corpo estava inerte.

As criaturas aproximaram-se e passaram suas mãos pútridas pelo rosto da menina. Ela queria gritar, mas nem mesmo a sua voz saía. Ele nunca sairia daquela casa.

— Como você consegue andar ao lado daquele maluco? — indagou um garoto para Klaus. Eles estavam acompanhados por outros dois, todos bem jovens. — Você é bem educado, já ele é de causar medo.

Aos olhos daquelas pessoas, Klaus era bem bonito, eloquente e forte. Tudo o que as meninas queriam. Até mesmo alguns dos seus amigos sentiam inveja dele.

Para fechar o pacote, recentemente o nefilim foi convidado para estampar a capa de uma revista bem famosa. Todavia, ele achou melhor recusar. Ainda era jovem demais para se envolver com aquele tipo de coisa.

— Eu não sei quanto à beleza. — Raizel podia ser menos vaidoso, mas era inegável que ele era até bem bonito, era filho de um anjo, afinal. — Mas quanto à força, eu me destaco justamente por causa dele.

— Cara, você se sente em dívida com aquele monstro? — Riu um dos amigos. — Esse teu gosto por cavalheirismo vai acabar te matando algum dia, tá ligado?

Se fosse assim, ele seria o cavalheiro que estaria ao lado do monstro, mesmo que precisasse encher o saco dele. Olhou para cima com um semblante calmo e sereno.

"Esse é o meu orgulho como cavalheiro."

— “Orgulho de cavalheiro?” — expôs um dos garotos, deixando Klaus surpreso. — Isso é o que você pensa.

— Como você…?

— Li seus pensamentos? — O indivíduo se jogou para cima do nefilim, fazendo-o revidar por extinto, e o que deveria ser um simples empurrão acabou por quebrar os ombros do garoto.

Sangue, carne e ossos ficaram expostos. Todos ao redor começaram a observar a cena, horrorizados.

— O que você pensa que tá fazendo, pirralho?! — indagou um homem que se aproximou irritado. — Tá maluco?!

— Eu… não foi o que eu… — Suas justificativas foram em vão. Ao se aproximar, o corpo do homem irritado começou a se desfazer e a cair aos pedaços.

As pessoas correram e gritaram com medo da criança, chamando-a de monstro, de… aberração.

— Eu… Esperem…

— É inútil! — exclamou o suposto amigo de Klaus. — De nada adianta se vestir como um cavalheiro. Uma aberração sempre será uma aberração!

Os olhos de Raizel pesaram. O seu corpo clamava por um pouco de sono e descanso depois de tudo o que o ocorreu naquele dia desgastante.

— O que você pensa que está fazendo? — A voz de uma garota, uma bem familiar, chegou aos ouvidos do nefilim. — Parece que você continua o mesmo de sempre.

Aquela voz… quando foi a última vez que ele a ouviu mesmo? Já havia se passado tanto tempo. Pensou que nunca mais a ouviria, e se a ouvisse, seriam apenas palavras carregadas de ódio e amargura.

Mãos geladas tocaram o rosto dele. A garota flutuava à sua frente, ficando quase da mesma altura que Raizel. Os cabelos dela eram escuros como a noite; os olhos, de um lilás puro, duas lindas ametistas.

— Quando os outros mais precisam da sua ajuda, você nunca está lá. — A garota envolveu o pescoço dele com os braços e sussurrou em seu ouvido: — Eu fui mesmo uma garota tola ao te amar, meu Neblim.

Raizel fixou os pés no chão e manteve sua postura. Por um momento, os seus joelhos quase vacilaram, ele deu de cara no chão.

— Hahaha! — Um pouco mais distante, os outros quatro estavam caídos, sem esboçar qualquer reação. — Que perigo.

— Vo-Você… como?

O nefilim alongou os braços, para se desfazer do sono, e se preparou para continuar com aquela desgraça de luta.

— Então… pronto pro próximo round?

— Vo-Você não vai… usar uma ar-armadura? — A criatura apontou um dedo para o rapaz. — Va-Vai morrer.

— Que voz desagradável. — Era como escutar alguém falando em frente a um ventilador. — Vamos fechar essa sua boca.

Antes de tudo, Raizel criou três domos de energia vermelha ao redor deles: um para Trevor, um para Sophie e outro para Klaus e Eirin — que estavam bem próximos.

No estado atual, os seus amigos estavam vulneráveis demais: essa era a sua preocupação primária no momento.

"Eu acordo vocês daqui a pouco", pensou, enquanto se afastava deles e se preparava para encarar a bizarrice à sua frente.

— E-Eles… voltar… nunca.

O Pesadelo Eterno fazia o indivíduo reviver alguns acontecimentos do passado, porém de forma distorcida e grotesca, e se houvesse algum trauma para ser explorado, era pior ainda.

Mesmo que percebessemque aquilo era só uma ilusão, a pessoa continuaria presa no pesadelo enquanto a técnica continuasse forte o suficiente para atormentá-la.

— Você perguntou se eu iria usar uma Veste Divina, certo? — O nefilim estendeu o braço direito para o lado, e uma Cadeia de Abaddon surgiu envolvendo-o desde o antebraço até a mão. — Que tal eu te mostrar algo mais interessante?

— Me-Mentira.

Impulsionando o próprio corpo com o auxílio de um Círculo de Propulsão, Raizel ficou cara a cara com o monstro, pronto para acertar um soco bem no nariz dele.

A criatura deu um pequeno salto para trás, para aproveitar melhor a vantagem do seu tridente e, em menos de um segundo, a sua arma já estava buscando o inimigo.

Outro Círculo de Propulsão direcionou o nefilim para o lado e, com mais um círculo, retornou para perto do seu adversário.

"Rápido… demais!", pensou a criatura, antes de receber o estouro de um potente soco de direita no seu queixo, em cheio.

Jogado para longe, e com o seu corpo varrendo o chão, o Pseudoleviatã tentou se levantar rápido, já pronto para o próximo movimento.

Foi então que a criatura percebeu que o revestimento da sua armadura, a parte que cobria o seu queixo, havia trincado.

À sua frente, o rapaz seguia caminhando em sua direção sobre Círculos de Propulsão, fazendo-os ficar na mesma altura.

No entanto, o que mais chamou a atenção do boss foi a bela e majestosa asa vermelha que surgia do lado direito das costas de Raizel.

As palavras que foram ditas há pouco ressoaram na mente da criai: "Que tal eu te mostrar algo mais interessante?"

— Se as minhas armas forem incapazes de te cortar. Se falharem em te perfurar. — Mais correntes envolveram o outro braço, panturrilhas e pés do nefilim. — Tudo bem. Eu te quebro na porrada, falsificação.


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