O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 13: Que Não Fique Pedra Sobre Pedra

Sophie levantou seus braços para parar o tempo mais uma vez e evitar o avanço das criaturas, ao menos foi o que tentou fazer.

Os seus braços pararam no meio do caminho e, embora não estivesse sentindo dor, ela sentiu os seus membros pesarem.

A simples presença do Imperador dos Mares estava afetando a eficácia da Paralisia Temporal.

Em instantes, várias linhas azuis surgiram pelo ambiente formando uma sequência de cubos.

Logo as figuras geométricas começaram a se movimentar, arrastando o espaço e os monstros que estavam dentro deles para longe dos quatro.

Todo o ambiente entrou em constante movimentação e remodelação. Junto a isso, a água do cubo em que eles estavam foi esvaziada, dando espaço para que pudessem falar tranquilamente sem ter que utilizar a comunicação telepática do MIC.

— Eu cuido disso — disse Trevor para sua parceira.

— Mas…

— E nós cuidamos do show! — Klaus e Eirin dispararam como torpedos em direção aos monstros.

Com o auxílio de Trevor, conseguiram se aproximar das criaturas rapidamente, atacá-las e recuar.

Quando algum monstro tentava ferir os seus amigos por trás, Trevor ligeiramente movimentava o Cubo Espacial — em que a criatura estava — para outro lugar.

Aquele território agora era todo seu.

— É quase como montar um cubo mágico. — Para um amante de jogos como Trevor, principalmente os estratégicos, aquilo era um paraíso.

— Isso tá meio exagerado pra um cubo mágico. — Sua parceira observava o espaço ser desmontado e remontado, desencaixado e re-encaixado.

Coisa de louco, simplesmente.

Todo o lugar havia se tornado um verdadeiro caos. Para se perder ali bastava piscar, mesmo Klaus e Eirin ficaram desorientados.

Estavam em cima ou embaixo? De pé ou de ponta-cabeça? A única coisa que sabiam era que podiam confiar as suas costas ao seu amigo.

De volta, e ainda mais furioso, o Leviatã surgiu através de uma fenda dimensional, bem na frente de Klaus.

Trevor enviou o comando para que os cubos ao redor do monstro descessem, mas foi em vão. O seu resistente corpo manteve o espaço no lugar.

O confronto direto entre os dois usuários de fogo mais poderosos daquele ambiente teve início.

O Rugido Infernal contra a Chama Divina fez a água ao redor ferver e entrar em estado de ebulição. Bolhas de vapor ardente se espalharam por todos os lados.

Mesmo se os outros monstros pudessem sobreviver àquele valor e chegar até perto dos dois, nenhum deles não ousaria.

Até mesmo Eirin estava criando uma zona de frio ao seu redor para não se desfazer em suor.

O confronto de fogo acarretou uma explosão que abalou os Cubos Espaciais de Trevor e lançou Klaus e Eirin para longe.

No meio da devastação, o Imperador avançou com tudo. As suas escamas estavam praticamente intactas depois da colisão, diferente de Klaus que estava com sinais de desgaste na sua Veste Divina.

O monstro se lançou para abocanhar o duo, mas um disco de gelo surgiu bem na sua boca.

O Escudo de Gelo de Eirin, feito a partir de um dos privilégios da sua Veste Divina —  o zero absoluto — era tão resistente que causaria inveja ao mais puro dos diamantes.

Contudo, contra o hálito de enxofre que foi capaz de derreter o próprio espaço, o Escudo de Gelo durou apenas alguns segundos. Ainda assim…

"Chama da Glória!" Foi tempo suficiente para Klaus preparar mais um ataque.

Uma vez que as escamas do Leviatã eram intransponíveis, era fútil atacar o seu corpo. Portanto, focou no olho da criatura.

Dano crítico infringido com sucesso.

O monstro rugiu de dor, enquanto seu rosto queimava e uma cratera se destacava onde deveria estar o seu globo ocular.

Em auxílio ao seu líder, os demais monstros emitiram uma forte aura negra.

O Impulso do Imperador: a capacidade do Leviatã de aumentar os atributos das criaturas marinhas dentro do seu território.

A classificação de cada criatura subiu quase um grau completo. Os Classe Destruição subiram para próximo à Classe Catástrofe, e os de Classe Catástrofe se aproximaram da Classe Apocalypsis.

— Tire eles de lá! — Pelo pedido da sua parceira, Trevor teletransportou os dois para perto deles.

Com o aumento de poder dos monstros, a pressão dentro dos Cubos Espaciais aumentou drasticamente.

As mãos de Trevor começaram a tremer.

— O que é isso? A Catástrofe de Erebus? — Klaus estava ofegante, encharcado e cheio de feridas.  A situação de Eirin era tão ruim quanto.

Durante o tempo em que os dois se curavam com suas auras, estava nas mãos trêmulas de Trevor o dever de conter a situação.

Todas as criaturas carregaram energia em suas bocas e estavam se preparando para descarregar tudo de uma vez contra os quatro.

Se o Leviatã decidisse participar da brincadeira, até mesmo com a Distorção Espacial e o controle daquele espaço, seria problemático para o Designer Polivalente lidar com aquilo.

Droga!

Do nada, vários pilares negros, envoltos por uma aura vermelha-clara, surgiram e atingiram cada um dos monstros, impedindo-os de concluírem o seu objetivo.

Em questão de instantes, os inúmeros pilares explodiram, causando um verdadeiro festival de detonações.

Humph! — Trevor olhou para cima. — Quem é vivo sempre aparece. 

No alto, Raizel observava o panorama geral. As suas mãos estavam para trás das costas, e o seu corpo emanava uma aura vermelha-clara, bem diferente da habitual vermelha-escura.

Como se formassem uma espécie de manto, algumas espadas flutuavam ao redor da sua cintura.

Sem perder tempo, Trevor logo o teletransportou para junto de si.

— Você percebeu até que bem rápido — disse Sophie, observando a aura divina de Raizel. Até mesmo as runas que ornamentavam seu corpo estavam com um vermelho mais claro.

Bastava olhar para eles e já era possível perceber a gravidade da situação: queimaduras, feridas, cortes... Parecia que seus amigos tinham passado décadas lá dentro.

— Quem diria que vocês ficariam assim em tão pouco tempo?

"Ele já esqueceu que isso é uma Rank S Irregular?", pensou Eirin.

— De qualquer forma, relatório.

— A água enfraquece a energia espiritual, vários monstros próximo à Classe Apocalypsis e um Leviatã, mas ele, provavelmente, é fal…

— A Serpente Tortuosa? — Direcionou sua atenção para a criatura que terminava de se curar do dano causado pela Chama da Glória. — Aquela lagartixa?

— Quê?

— Muito pequeno e … — Um Círculo de Propulsão surgiu na sola dos seus pés. Quase que instantaneamente, Raizel já estava dentro da água, segurando a Espada do Princípio na frente da criatura. — Pouco aterrador!

Junto ao brilho nos entalhes da espada, a energia envolveu a katana em uma espiral semelhante a uma broca.

O Leviatã respondeu à altura, e o choque entre o Segundo Ato da Espada do Princípio — o Legato — e o Rugido Infernal foi inevitável.

Fogo e energia se espalharam por todos os lados, agitando as águas e criando turbilhões ao redor.

O confronto estava equilibrado. Nesse ritmo, ninguém conseguiria impor pressão contra o outro.

"Primeiro ato: Prelúdio!" A broca espiral se expandiu em um vórtice vermelho, que avançou dizimando o ataque do Imperador dos Mares.

Como o Prelúdio era uma técnica de dispersão de energia, ele era ideal para abrir caminho, mas o seu potencial ofensivo se mostrava inferior ao Legato — uma técnica de perfuração.

Portanto, quando o ataque de Raizel se aproximou o bastante para alcançar o rosto da criatura:

"Legato!"

O monstro foi subitamente empurrado para trás. Era difícil se livrar da investida do seu adversário.

O rapaz logo reparou que, embora as escamas do Imperador estivessem com aspecto de brasa — como se fossem derreter — o seu ataque foi incapaz de perfurar aquela defesa.

"É, eu tenho que elogiar a sua resistência."

Ergueu o seu braço livre e, com um apontamento de dedo, lançou suas espadas contra os olhos e boca da Serpente Tortuosa.

O boss aprendeu a lição após o ataque de Klaus e passou a fechar os olhos antes das espadas ferirem sua retina.

Dentro dos outros Cubos Espaciais, Klaus, Eirin e Sophie estavam lidando contra o restante dos monstros.

O duo Top 3 Rank S invocou seu exército de fantoches de fogo e gelo para auxiliar na luta, mas eles estavam tendo mais dificuldade do que antes.

Dado o aumento nos níveis dos seus oponentes e a desvantagem numérica, seria questão de tempo até que fossem encurralados.

"Então… como vocês causaram dano a esse desgraçado?", perguntou Raizel através do canal telepático do MIC.

"Eu precisei da Chama da Glória", respondeu Klaus. "Mas ele se regenerou rápido demais".

"Entendo." Uou um Círculo de Propulsão para pegar distância rápido do seu adversário.

Então mesmo a Chama da Glória, que deveria ser tão quente quanto o núcleo de uma estrela, foi incapaz de destruir, completamente, a cabeça daquele farsante.

"Trevor, esqueça os Cubos Espaciais. Foque tudo na Distorção Espacial e proteja os outros".

"O que você…?"

Uma esfera de plasma vermelho começou a se formar no meio das águas. Tão quente, a água começou a ferver e a evaporar em instantes.

De imediato, o Designer Polivalente entendeu a intenção do seu companheiro. Quem diria que ele iria apelar para aquilo?

Os Cubos Espaciais sumiram, retornando o oceano ao seu estado original.

Quando as criaturas pensaram que estavam enfim livres para ajudar o seu imperador, a esfera de plasma se expandiu revelando a sua verdadeira natureza: uma estrela.

A réplica em menor escala de uma supergigante vermelha havia se formado a partir da Conversão de Energia.

Essa era a habilidade que permitia a Raizel moldar a sua própria energia para simular vários tipos de matéria.

Embora a estrela fosse apenas do tamanho de uma cidade, ainda possuía um poder destrutivo equivalente ao da sua versão original.

O Leviatã se viu obrigado a destruir aquela ameaça o quanto antes. A fusão nuclear já estava evaporando toda a água do oceano junto das criaturas mais próximas.

Pobres monstros, nem os seus ossos foram poupados.

— Que não fique pedra sobre pedra! — A supergigante vermelha começou a se romper, liberando energia e radiação por todos os lados. — Betelgeuse… Supernova!

Um clarão de cegar, seguido por um barulho ensurdecedor, tremores que abalariam os pilares mais resistentes e um calor inimaginável tomaram conta de tudo à volta.

Ainda que estivesse com os olhos fechados, Trevor podia sentir a Distorção Espacial sendo, aos poucos, dilacerada.

Em instantes, tudo ao redor foi varrido da face da existência, deixando para trás apenas gás e poeira estelar, ao menos, até que Raizel fizesse com que tudo retornasse ao seu estado original.

Erguendo uma mão, absorveu toda a energia de volta. No entanto, as veias da sua testa, pescoço e braços começaram a inchar. Uma ardência percorreu o seu corpo.

Argh!

A energia dos monstros mortos, os espólios de guerra, tudo foi coletado e forçado contra a sua alma de uma só vez.

Tanto poder vindo dessa forma, era como se a energia transbordasse da sua alma e o queimasse por dentro.

O preço por matar tantos monstros daquele nível ao mesmo tempo era pesado demais.

A condição especial que o seguia desde o seu nascimento poderia ser considerada uma benção e uma maldição ao mesmo tempo.

Essa era a amarra que insistia em lembrá-lo da sua origem desprezível: a Absorção Espiritual.

— Avisa direito antes de sair explodindo uma estrela nas nossas cabeças, idiota! — Eirin estava mais atrás bufando de raiva.

Humph! Até que vocês resistiram bem.

— No momento, eu tô mais interessado em saber de onde aquele monstro saiu. — ressaltou Sophie. — Digo, a aparência dele batia muito com a descrição do Leviatã.

— Além de que aquele nível de poder e resistência era incomum — complementou Trevor.

— Vai saber. Mas comparar aquele bicho com o Leviatã, que eu encontrei no passado, é o mesmo que comparar um gatinho a um leão.

— Nesse caso, a gente poderia chamar ele de Pseudoleviatã? — O ambiente começou a tremer junto das palavras de Sophie.

Só então os cinco se deram conta de que algo importante estava faltando: o núcleo do boss e o portal para a sair dali.

Mais abaixo, logo uma pequena massa negra apareceu e começou a adquirir uma forma humanoide.

O que surgiu daquilo era alto, possuía chifres e um corpo parrudo revestido por certas partes de armadura.

Dos braços saíam protuberâncias afiadas como garras, as quais poderiam ser facilmente confundidas com lâminas da mais alta qualidade.

Os seus olhos vermelhos logo se voltaram para os jovens que estavam flutuando acima. Apenas ódio existia em suas órbitas de sangue.

Ainda que fosse uma cópia barata, como esse desgraçado poderia usar o Retorno a Partir do Zero?

— Habilidades de seres primordiais são sempre um pé no saco — observou Raizel.

Logo a criatura ergueu a sua voz grave para o alto. Todos se viram obrigados a tapar seus ouvidos frente àquele grito desafinado capaz de estourar os tímpanos de qualquer um.

Do lado de fora, o vórtice do portal começou a girar descontroladamente.

Uma chuva de raios carmesins caiu sobre a cidade de Oprantis, pegando quase todos os duos de surpresa.

Todas as casas próximas foram completamente devastadas. Até mesmo boa parte do acampamento foi reduzido a um amontoado de tralhas.

Por sorte, alguns membros que pressentiram o perigo e o caos ergueram escudos ao redor para reduzir o estrago.

No entanto, os ferimentos foram inevitáveis.

Os raios continuavam a cair, como se nunca fossem parar.

O que diabos estava rolando lá dentro?


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