O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Na Academia de Batalha Ziz

— Céus! Espero estar no lugar certo.

De frente para um grande portão de bronze, que possuía as laterais com traços ondulados semelhantes a nuvens e uma grande águia com as asas abertas no topo, uma jovem de cabelos prateados e olhos azul-celeste olhava incessantemente para o relógio em seu pulso.

Os ponteiros insistentes indicavam que não havia tempo para se desperdiçar. As pessoas à volta, por sua vez, passavam tranquilamente por aquele portão, o qual as recepcionava em silêncio.

Todos eram bem-vindos.

Valentina, sua amiga, disse que a esperaria na entrada, mas aquele lugar era tão grande que a jovem poderia se perder em um piscar de olhos.

— Ei! Petra! — Uma moça de cabelos rosa-claro gritava e acenava ao longe.

Valentina Strough vestia o clássico uniforme feminino da Academia de Batalha Ziz: um conjunto onde o branco predominava acompanhado por detalhes azuis e uma letra A estampada no peito esquerdo.

Ao lado da garota, estava um rapaz que trajava o uniforme masculino: algo semelhante ao dela, porém com foco principal no preto, com detalhes vermelhos e a mesma letra A.

Todavia, o que mais marcou o rapaz naquele instante foi o fato de ter sido deixado para trás pela sua parceira.

Ao ver a amiga, Valentina simplesmente esqueceu que seu parceiro existia e saiu correndo na direção da Petra.

— O que você ainda tá fazendo aqui fora?

— Bem, eu... acabei de chegar.

— Você não faz ideia de como eu tava com o coração na mão enquanto te esperava — disse Valentina, ao passo que pegava nas mãos da recém-chegada.

Sempre tão avoada e energética, mas — verdade fosse dita — uma amiga e tanto.

— Obrigada. Foi graças à sua ajuda. Mas, tudo bem mesmo? — questionou Petra, desviando o olhar para baixo. — Você pode acabar tendo problemas se descobrirem que me ajudou.

O aperto de mãos de Petra estava frouxo, sem a menor força. Se a sua companheira soltasse suas mãos, elas vagarosamente cairiam em direção ao corpo.

Valentina sabia que deveria confortar sua amiga e que, dali para a frente, ela precisaria muito da sua ajuda.

Era necessário expressar confiança, sim, ela tinha que ser bem forte e confiante naquela hora. Era pelo bem da Petra.

— Amigas são pra essas coisas mesmo — disse, esboçando um sorriso aberto. — Por sinal, aqui o seu Requerimento de Inscrição.

O anel de Valentina emitiu um tenaz feixe de luz, e dele saiu um documento para suas mãos.

— Nós só precisamos preencher e entregar junto ao seu selo na Coordenação de Inscrição, e tá feito.

— Te agradecer por tudo até aqui é bem difícil. — Petra pegou o requerimento com um semblante um tanto quanto caído. — Mas, por enquanto, tá tudo bem abandonar o Andrew lá atrás assim?

— Relaxa, o meu duo é um cara bem, bem compreensível.

Mais atrás, o rapaz comprava algumas bebidas para ele e as garotas. Aparentemente, já estava habituado com o estilo avoado da sua companheira.

Petra segurou o documento com um pouco mais de força, com cuidado para não amassá-lo. Ergueu os olhos para o céu e pensou: "Que dê tudo certo".

No alto daquele mesmo céu azulado, Raizel estava com os braços reunidos atrás das costas enquanto suspirava de forma desesperançosa.

— Mais uma Cerimônia de Admissão, heim? 

Tanta gente reunida em um único lugar sempre era um pé no saco. Fosse na Academia ou em qualquer outro lugar, o tratamento em relação a ele nunca mudava.

De repente, e por instinto, virou-se para trás e materializou uma katana em sua mão para defender-se do ataque de alguém que, repentinamente, surgiu em suas costas.

O som das espadas colidindo ressoou piamente desde o alto. Para as pessoas que estavam abaixo, o tilintar assemelhava-se ao canto agudo de algum pássaro.

Por sorte, os dois adversários estavam alto o suficiente para que ninguém os percebesse.

— Por que ser tão pessimista? — disse o indivíduo que atacou Raizel, enquanto as espadas dos dois exerciam pressão uma sobre a outra.

— Atacando por trás? — indagou o nefilim, com um certo tom de deboche. — Quando te ensinei algo assim, Trevor?

— Toda… hora! — O rapaz energizou sua arma com uma aura azul-escura. Seguindo o exemplo, Raizel fez o mesmo, e os dois foram lançados para longe um do outro.

A alguns metros de distância, olhos vermelhos e azul-escuro encararam-se.

— Seria estranho pensar em você ensinando alguém a lutar de forma justa — argumentou Trevor.

Nesse instante, um pequeno cubo preto surgiu próximo ao rosto do recém-chegado. Trevor tentou se afastar, imaginando que o objeto iria explodir — como normalmente acontecia.

Todavia, o cubo virou poeira e foi em direção aos olhos dele. Nesse momento de distração, Raizel apareceu na sua frente. A espada dele almejava a sua garganta.

Sem pensar uma segunda vez, Trevor criou um pequeno Portal Dimensional que devorou a espada negra do nefilim.

Logo outro portal surgiu atrás de Raizel e, agora, era a nuca dele que estava marcada para o abate.

A ponta da arma se desfez no percurso, jamais feriria seu criador. O nefilim tirou sua espada do portal, restaurou a parte que faltava e se preparou para mais uma investida.

Em um piscar de olhos, o outro garoto desapareceu da sua frente e reapareceu nas suas costas.

"Teletransporte, heim?"

Contudo, o ataque de Trevor foi bloqueado por uma lança, a qual surgiu do nada no meio do caminho.

Raizel virou um pouco o rosto e encarou o seu amigo pelas costas. Os dois sorriram.

— Movimentos, defesa e reação. — O nefilim fingiu uma certeza reflexão acerca do ataque surpresa do amigo. — Nada mal.

— Você diz isso, mas se saiu melhor que eu em tudo — contestou Trevor.

— Errado. No fim, a sua defesa é melhor do que a minha. — Raizel desmaterializou todas as armas que havia criado. Estava satisfeito. — Só um tolo negaria isso.

O amigo apenas esboçou um pequeno sorriso de satisfação, então também desfez sua espada e começou a observar o ambiente abaixo, junto do nefilim.

Dentre os membros de Top Ranking responsáveis por ajudar na realização das Batalhas de Admissão estava aquele garoto, o encarregado pela Seção de Batalha 7 — Trevor Foster.

O único problema na Cerimônia de Admissão daquele ano era o fato de que o membro mais forte da Academia de Batalha Ziz iria participar. Todavia Raizel se via obrigado a pagar uma certa dívida para o amigo.

Embora estivesse descontente com a situação, cumpriria sua palavra. Contudo, nunca imaginou que um pedido daqueles viria logo da parte de Trevor.

Por alguma razão, o seu amigo acreditava que o modelo de roleta russa idealizado para as batalhas daquele ano seria perfeito para o Raizel.

— Se você pensa que isso é perfeito para mim, então não deve ser algo tão bom.

— Você é o único aqui sem um duo. — Trevor levou uma mão ao queixo. — Seria interessante caso você encontrasse alguém compatível para o Pacto de Ressonância.

— Humph! — Se fosse outra pessoa dizendo isso, Raizel gargalharia até a morte. — Como se alguém assim existisse neste mundo.

Trevor, melhor do que ninguém, deveria saber as razões pelas quais algo assim seria praticamente impossível.

— Sabe — disse Raizel, enquanto encarava a imensidão do nada — o método que você escolheu para o pagamento dessa dívida não faz o menor sentido.

 

As garotas, Petra e Valentina, saíam da Coordenação de Inscrição, tendo acabado de concluir o processo de inscrição. As duas eram praticamente imperceptíveis em meio à multidão que estava presente na Academia naquele dia.

Petra observava todas aquelas pessoas com certa nostalgia em seus olhos. Mesmo Hervron sendo o continente dos humanos, havia uma quantidade considerável de semi-humanos por ali, até alguns tenjins e majins.

— É sempre assim nos dias das Batalhas de Admissão — ressaltou Valentina.

Os veteranos da Academia queriam ver o potencial dos novos alunos, e, até mesmo pessoas comuns iam observar as lutas. Era quase como um show para elas.

— Você ficou em qual Seção de Batalha, mesmo?

— Eu fiquei na Seção 7. — Petra observou o material com as instruções sobre o processo de admissão em suas mãos.

Elas só tinham cerca de uma hora até o início das Batalhas de Admissão. Os obstáculos no caminho atrasaram a garota mais do que ela esperava.

— Oh! A gente ainda tem um tempinho, então podemos ver mais algumas coisas e a Seção 7 é perto daqui. — dizia Valentina, girando com os braços abertos. — lojas, cafeterias, sorveterias…

— Eu acho que é melhor a gente ir direto pra Seção. — Petra quebrou o barato da amiga, mesmo que não fosse a sua intenção fazê-lo.

— Aaah! Só um pouquinho, vai. — Valentina juntou as mãos próximo ao rosto e fez biquinho com uma expressão de choro. Ainda que soubesse que, no fundo, a sua companheira estava certa.

— Você me mostra o lugar depois, pode ser? — Petra confortou acariciando seus cabelos. — Tudo bem?

A Academia era tão grande quanto uma cidade. Havia muita coisa para ser mostrada, muitos lugares para se visitar. Além disso, se corresse tudo bem, as duas teriam tempo de sobra para conhecer o lugar de cima a baixo nos próximos dias.

— Mas isso é uma promessa, tá? — Foi quando Valentina observou a garota com um pouco mais de atenção. Mesmo que se esforçasse, as mãos de Petra ainda tremiam um pouco. — Você tá nervosa, né?

O clima até então descontraído se tornou mais pesado, e um silêncio sepulcral instaurou-se entre as garotas. Apenas o barulho da multidão se fez audível.

— Eu sei que você vai se sair bem.

— Eu… Eu quero dar o meu melhor. — Petra olhou para baixo e mordeu os lábios de leve. — Eu… tenho que ser aprovada.

Enquanto não firmassse um Pacto de Ressonância e montasse um duo, ela estaria proibida de participar de missões. Era preciso mostrar serviço para ficar ali, ou melhor, para nunca mais voltar para casa.

— Mas vai com calma, ok?

Petra sabia disso, mas a sensação de que tudo até ali poderia ter sido em vão, fazia o peito dele doer.

Não havia espaço para falhas.

 

Após algum tempo, as duas amigas chegaram em frente à Seção de Batalha 7, onde Andrew estava esperando por elas.

— Vocês demoraram mais que o esperado — enfatizou o parceiro da Valentina, observando as duas com um olhar profundo e com os braços cruzados.

Andrew transparecia uma boa postura e seriedade, muito diferente da sua parceira. Quem olhasse para os dois até duvidaria que eles firmaram um Pacto de Ressonância.

— Eh! Sinto muito. — Petra se viu na posição de se justificar, já que a amiga permaneceu em silêncio total. — A Valentina ficou parando pra me mostrar quase tudo no caminho.

— Tinha que ser coisa dela. — Andrew levou uma mão até o rosto. — Nenhuma surpresa.

— Eu tô bem aqui, sabiam? — salientou Valentina.

Aqueles dois poderiam ser um pouco mais discretos. A garota em questão já estava ficando meio sem jeito. Aquilo fazia parecer que a culpa era dela.

— Imagino se você vai se tornar mais responsável algum dia — questionou-se o rapaz.

— Eu sou muuuito responsável... quando eu quero.

Por mais que tentasse buscar alguma justificativa em sua mente, Valentina sabia que faltava um bom argumento para que ela se livrasse daquela situação.

— Certo. As lutas devem começar em breve. — Andrew inclinou um pouco o seu tronco em direção a Petra, como forma de desculpa. — Sinto muito pela falta de bom senso da minha parceira.

— Ah… Tá tudo bem. Nós conseguimos chegar a tempo. — Petra balançou as mãos em frente ao corpo na tentativa de aliviar a barra para o lado da sua amiga. — Sem problemas.

— Eu sei, ainda assim…

— Poxa, Andrew! — Lá estava seu duo jogando a culpa toda nela de novo. — Você tá sendo bem cruel, sabia?

Valentina tomou os outros dois pelos braços, e os três seguiram juntos o mesmo caminho que as outras pessoas e adentraram a Seção de Batalha 7, rumo ao seu objetivo.

— Huh? — Petra levou uma mão ao peito esquerdo, onde seu coração batia forte.

Uma estranha sensação de frieza tomou conta da jovem, ao mesmo tempo em que, em uma sala isolada e escura, os olhos de Raizel brilharam em um vermelho ardente.


Siga-nos nas redes sociais Instagram e Discord.



Comentários