O Nefilim Primordial Brasileira

Autor(a): Ghoustter


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 1: Top 1 Rank S

Um rapaz caminhava vagarosamente por uma pequena vila enquanto observava as ruínas do que pareciam construções carcomidas pelo fluxo inevitável do tempo.

No seu uniforme preto, os detalhes vermelhos da roupa se misturavam com o vermelho do sangue que a manchava.

Pilhas de corpos de minotauros estavam dilacerados por todos os lados. Profundos cortes se destacavam em suas gargantas. Ao menos, era o que se podia dizer dos que ainda tinham suas cabeças conectadas aos seus corpos.

Sem aviso prévio, um rugido fervoroso precedeu o ruído da destruição da parede ao lado do garoto. O rapaz se virou rápido e logo viu um enorme punho vindo com tudo em direção ao seu rosto.

Em um movimento abrupto, cruzou os braços para defender a face, e, pelo impacto explosivo, seu corpo foi brutalmente lançado para longe, destruindo mais algumas das ruínas ao fundo.

— Sabe, eu já tava ficando entediado — disse o rapaz, enquanto saía do meio dos escombros e abanava a poeira para, então, observar a criatura diante de sdele. Aquela era ainda maior do que as outras. Rugia e bufava pelas narinas. Um boss. — Do tipo barulhento, heim?

Os músculos densos e volumosos do Minotauro Rei gritavam através do corpo humanoide, tão definido que cada fibra era perceptível a olho nu.

Um equilíbrio perfeito de todos os grupos musculares e uma quase ausência de gordura, que causaria inveja aos maiores e mais dedicados fisiculturistas.

Os lados da sua cabeça bestial eram adornados por um par de chifres de metal, que se prolongavam rente aos ombros e se curvavam para cima.

Seria isso o seu maior destaque, se não fossem pelos olhos amarelos; transparenciam nada além de fúria e uma sede insaciável por sangue.

Os passos pesados e firmes faziam as ruínas ao redor tremerem e caírem. Tão rápido que, em um instante, já estava frente a frente com o jovem, pronto para desferir mais um soco em cheio.

O punho do Minotauro Rei desceu, carregando o ar consigo, um golpe devastador que mirava o rosto do garoto.

O rapaz desviou a face para o lado, e o braço da criatura passou raspando sua bochecha, apenas o estrondo de uma explosão foi ouvido logo atrás dele.

Ficou para o solo a infeliz tarefa de ser esmagado por aquele ataque.

Ao fixar a base dos seus pés, o garoto girou o corpo e encaixou o punho no abdômen da criatura. Era onde podia acertar, já que o seu adversário possuía cerca de duas vezes o seu tamanho.

O golpe foi forte o suficiente para fazer o Boss grunhir de dor e recuar alguns passos vacilantes para trás.

Nesse meio tempo, uma lança negra surgiu na mão do jovem que, em um piscar de olhos, avançou. Seu objetivo era apenas um: decapitação.

A ponta da arma cortou a lateral do pescoço do monstro que, por puro reflexo, escapou de ser empalado naquele pequeno instante de tempo.

Mas não ficaria apenas nisso. O rapaz girou seu corpo no ar e, na hora em que sua mão livre ficou fora da visão do bestial, um machado com a mesma aparência da lança surgiu em sua palma.

Tudo o que o Minotauro Rei viu foi o brilho do movimento que rasgou o seu peito em um corte limpo. Todavia, em vez de recuar, ele deu um passo para trás e inclinou seu corpo na mesma direção.

Aquilo ficou muito ruim. Foram dois movimentos e dois ferimentos, um pior do que o outro; mas um rei não deixaria uma afronta daquelas passar em branco.

O Boss inspirou uma grande quantidade de ar, tão rápido quanto pôde. O seu peito inflou e o sangue esguichou do ferimento.

"Duro na queda, heim?" O pensamento debochado do rapaz desapareceu quando a criatura abriu a boca e liberou todo o ar comprimido em seus pulmões.

A onda de choque varreu o corpo do jovem junto a tudo o que havia pela frente. Os restos das construções, árvores, rios e montanhas se misturaram enquanto eram reduzidas a nada.

O corpo do rapaz girou de forma desengonçada durante o percurso forçado. Colidia com o que havia pelo caminho e, inevitavelmente, perdeu as armas que segurava em algum momento.

Ao fim de tudo, ele estava caído no chão em meio a um vasto e escaldante deserto. Foi arremessado para tão longe que o adversário estava fora do alcance dos seus olhos.

Em vez de se levantar logo, levou as mãos às orelhas e praguejou: — Se ferrar... — Um zunido irritante atormentava seus tímpanos, os quais doíam mais do que qualquer outra coisa. — Corno de merda…

Tempo para desperdiçar em insultos era algo que inexistia ali. Impulsos de ar vieram em sua direção, desde longe. Contudo, dessa vez, o rapaz criou um escudo redondo para segurar os impactos.

"Esse não é o tipo de monstro que costuma lutar à longa distância, então…"

Uma pequena figura começou a aparecer no céu, descendo numa velocidade insana.

Lá estava ele, caindo como um meteoro, com um machado negro familiar em mãos.

A chegada do Boss criou uma cratera e estremeceu a terra. Diante do rapaz, o Minotauro Rei ergueu a arma para parti-lo em dois, assim como fez com o ar.

No entanto, em vez de desviar — o que qualquer um em sã consciência faria — o garoto optou por continuar parado.

Logo a arma simplesmente se desfez em um glorioso e tenaz brilho vermelho.

— Me matar com uma arma que eu criei? — disse em tom zombeteiro, ao passo que encarava o adversário com desdém. — Quanta ousadia.

Sem desperdiçar mais tempo, o jovem rapaz criou uma espada longa em sua mão direita; visava enfiá-la no joelho do bestial.

Após incapacitar os movimentos dele, matá-lo se tornaria uma tarefa mais do que fácil. No entanto, no meio do trajeto, ele recebeu uma cotovelada na cabeça, a qual frustrou os seus planos.

— Urgh! — Por um momento, sua visão ficou turva, e o rapaz se inclinou para o lado, ainda assim, insistiu em manter os pés firmes no chão. — Porcaria.

Recebeu uma encarada da pilha de músculos. Era como se ela estivesse surpresa. Afinal, qualquer um deveria ficar com um buraco na cabeça ou, no mínimo, apagar após aquele golpe.

Materializando mais uma lança, o rapaz realizou um corte em formato de meia-lua para partir a aberração em duas.

O Boss saltou e escapou da investida. Juntou os punhos acima da cabeça e desceu em disparada; esmagaria aquele pequeno ser arrogante.

Foi quando um grande escudo apareceu no ar para deter o seu avanço. Pífio. Os punhos do monstro esmagaram aquela defesa e a destroçaram contra o chão.

O alvo havia desaparecido dali.

Confuso, o Minotauro Rei olhou para todos os lados. Como alguém poderia desaparecer do nada? Foi quando um frio impertinente percorreu sua espinha, fazendo-o se virar abruptamente para trás.

Lá estava o desgraçado de volta — em pleno ar — com um novo machado e pronto para fincá-lo em suas costas.

Por um triz, conseguiu segurar a lâmina e evitar o pior. Na verdade, o pior veio para o rapaz.

O monstro soltou uma das mãos da arma e conseguiu prender o tórax do adversário. Puxou-o contra os seus chifres, perfurou seu peito.

— Argh! — Mesmo empalado, o garoto continuava com a intenção de quebrar a coluna daquele boi maldito.

Todavia, esse pensamento mudou quando teve uma ideia melhor. De repente, desfez sua arma e, abrindo os braços, bateu as mãos com força nos ouvidos do inimigo.

A criatura rugiu de dor, balançou a cabeça loucamente e jogou o adversário para longe. Cambaleava  e segurava os ouvidos, que zumbiam de forma tão irritante que sua cabeça poderia explodir a qualquer momento.

— Hahaha! — Nada melhor do que o doce e prazeroso sabor da vingança. — É bom, né?

Antes que o Boss o pudesse se recuperar, duas espadas surgiram acima dele e desceram em alta velocidade, perfurando aquele pescoço robusto.

O garoto aproveitou a oportunidade à sua frente para materializar outra lança e avançar com tudo. Porém, o seu oponente percebeu que ele se aproximava e começou a se debater loucamente com as espadas cravadas em seu corpo.

A milímetros de ter a ponta da lança fincada no seu olho, o Minotauro Rei a segurou e a quebrou com uma mão.

— Olha só. — Em uma velocidade muito maior do que a demonstrada até então, o rapaz recebeu um soco no estômago, lançando-o para cima. — Urgh!

No tempo de um piscar de olhos, o Boss segurou a cabeça do adversário, ainda em pleno ar, com sua mão grossa e áspera.

Com fúria e rancor, começou a apertar a cabeça minúscula com força para a esmagar, como um quebra-nozes faria.

— Ei, grandão. — Apesar da pressão, o rapaz apontou para cima; sua voz saiu abafada. — Tá esquecendo de nada, não?

Quando o Minotauro Rei olhou para o alto, viu vários pilares negros sendo criados; eram tantos que o céu começava a escurecer.

Entretanto, o verdadeiro ataque veio pelas costas. Três lanças atingiram a monstruosidade por trás, emanando um forte zunido antes de explodirem.

O Boss cambaleou. Seus músculos e os ossos das suas costelas ficaram expostos, junto à coluna vertebral.

Tomado pela raiva, bateu a cabeça do garoto contra o chão. Gritava e apertava com mais e mais força até que esmigalhasse cada osso, por menor que fosse.

— Ah, como eu odeio essa gritaria.

O rapaz segurou o antebraço da criatura e apertou-o com as pontas dos dedos, a ponto de perfurar a carne do Minotauro Rei, então a puxou sem dó, arrancando carne, sangue e pele no processo.

Por entre o espaço, uma corrente dourada surgiu e prendeu o pulso do monstro, apertando-o na carne exposta, forçando-o a abrir a sua mão.

Logo outras correntes apareceram para terminar de segurar o Boss pelo outro pulso e pelos tornozelos.

— Foi bom até aqui. — Livre, o jovem estendeu uma mão para a frente. — Manifeste-se.

Uma katana começou a se formar em sua palma; diferente das demais armas, que eram puramente negras, essa tinha entalhes vermelhos pela lâmina.

— Espada do Princípio: Gênesis.

Os dois, homem e criatura — ou melhor — os dois monstros, encararam-se e lançaram um olhar profundo um para o outro. 

— Segundo Ato: — Energia vermelha rodopiou ao redor da lâmina na forma de um redemoinho; afunilou-se como uma broca. O jovem apontou o ataque para o rosto do adversário, que começou a inspirar ar para usar o seu rugido. No entanto… — Legato!

Desprendida pela espada, a broca de energia dizimou completamente a cabeça do infeliz e levou consigo a sua vida. Só então as correntes soltaram seu corpo, que tombou inerte.

— Digno de um Minotauro Rei. — O rapaz passou os dedos pelos buracos em sua barriga, que já estavam completamente fechados, ao contrário da camisa.

Podia sentir a energia do Boss defunto fluir pelo seu próprio corpo, na verdade, pela sua alma.

Com isso, uma esfera marrom saiu do corpo do monstro, no mesmo momento em que um portal dourado se formou no céu.

— Quanto tempo se passou desde que entrei aqui? Uns três dias, talvez? — Pegou a esfera e abandonou o local. — Ainda deve dar pra chegar a tempo.

Cada construção foi abandonada aos pedaços, cada árvore queimada ou caída, e cada monstro morto. Uma chacina completa. Apenas um sobrevivente.

Ao sair do portal, algumas pessoas — que trajavam o mesmo uniforme que o vencedor do portal — esperavam ele. Algumas daquelas pessoas eram híbridas entre humanos e animais, tais como: lobos, gatos, lagartos, etc.

Contudo, ninguém ousava encarar o companheiro vencedor nos olhos, lhe dirigir uma palavra ou sequer dizer um simples “bom trabalho”.

O rapaz apenas passou entre os outros, igualmente sem encará-los nos olhos.

— Aonde pensa que está indo, Raizel?! — Um garoto, o qual possuía uma letra S estampada em seu peito esquerdo, assim como a do companheiro, lhe dirigiu a palavra por trás.

“Como se alguém desejasse a minha presença aqui”, pensou ainda de costas. — Portal fechado. Trabalho encerrado. — Jogou a esfera marrom por cima dos ombros para o seu interrogador.

— Pode entregar isso para o Setor de Espólios. É apenas o núcleo de um Classe Catástrofe, mas eles devem ficar animados em criar algum brinquedinho com isso daí.

Sem dizer mais nada, Raizel partiu dali o mais rápido que pôde. Havia coisas mais importantes para serem feitas no momento.

— É por esse e outros motivos que ninguém gosta dele — disse uma garota, que acompanhava o indivíduo que recebeu o núcleo do Boss.

Em concordância, os outros apenas fecharam as suas expressões ou voltaram os rostos para o lado.

— Humph! Se simpatia também contasse para a nossa classificação, esse nefilim nunca estaria ocupando a posição de Top 1 Rank S — continuou a moça.

Todavia, Raizel não a ouviria, tão pouco a responderia. Nesse momento, ele já estava longe demais e observava as árvores da floresta que sobrevoava.

— Acho que dá pra chegar com algum tempo de sobra para as Batalhas de Admissão. — Suspirou. — Um trabalho atrás do outro.


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