O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 45: O Emissário do Abismo

— Hm. Mestre, o que são esses ovos? — perguntou a vampira, chegando perto da mesa e colocando a mão no ovo mais rosado.

— Bilhetes de loteria premiados — respondi, enquanto pensava como iria levá-los comigo. Eu não poderia sair carregando metade de meia dúzia de ovos pelo salão.

— Isso eu já entendi isso, mestre. Mas do que eles são? — Natália pegou o ovo rosado e colocou acima da cabeça, investigando o que era.

— Ovos de dragão.

— Ah. Ovos de... — Ela tomou um susto e quase deixou o ovo despencar no chão, segurando-o firme e o colocando no lugar. — Mestre, ovos de dragão?!

Sorri com a reação dela e acariciei o ovo escuro. As chances de ver um ovo de dragão em vida eram baixas. Eles eram praticamente tratados como relíquias, até os inférteis.

Porém eu ainda achava uma coisa muito estranha. Leifr também era um dragão. Apesar de ser jovem, ele já deveria ter visto os ovos alguma vez nas vida.

— Por que ele não fez um lance? Será que os dragões não se importam de alguém vender sua raça como se fossem escravos? 

Passou de repente pela minha cabeça o rosto de Gregórios e a forma com qual ele tratava a elfa negra. E se os ovos caíssem em mãos erradas?  Se bem que as minhas mãos também não são das melhores. 

Eu comecei a rir, enquanto a vampira me encarava de maneira estranha.

Quando voltei a pensar como levaria os ovos, senti um presença e logo em seguida uma mão tocou meu ombro. Imediatamente me virei. 

Cristal e a vampira notaram logo depois e entraram em guarda para me proteger.

— Se acalmem — disse ele. Era o emissário do abismo. — Eu só gostaria de ver quem era a pessoa que comprou os ovos “misteriosos” e acabei escutando uma conversa engraçada. Então, diga-me, mestre renascido, como sabe que são ovos de dragão?

Aquela não era uma simples conversa banal. Sua aura já estava espalhada por todo o quarto. Apesar de estar rosnando forte, Cristal não poderia se mexer; muito menos a vampira. 

A mão dele sobre o meu ombro era tão pesada que me sentia preso por uma montanha. Não importava o movimento, ele segurou meu ombro e não moveu nem uma. 

Suor frio escorreu pela minha garganta, como uma lâmina gelada. Era diferente. Diferente de Leifr, Cecília ou Azarias. Ele não era mais forte que aqueles, porém o terror expelido por ele... este era muito maior. 

Se a morte tivesse uma aparência, talvez fosse aquela.  

Foi neste momento que a calmaria passou, e a voz na minha cabeça que gritava: deixe-me assumir! Assumiu. No bater seguinte do meu coração, eu virei um fantasma.

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[Habilidade Mente Serena] Ativada

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Kayn tomou controle. Senti-me como se estivesse ali, mas não mais como antes. Senti como se pudesse agir, mas não mais como antes. Senti que era eu, mas não mais como antes. Senti como se sentisse, mas não mais como antes. 

Eu senti e ele sentiu; e, assim, trocamos de lugar.

— Meu criador me disse o que eram. — Ele mentiu com a minha voz.

— Seu criador? — O emissário reagiu, como se estivesse surpreso pela resposta dele. 

— Falo do homem que me criou e não do Criador. Ele me mostrou figuras e desenhos de pergaminhos de tempos perdidos. Neles eu vi a aparência dos ovos. O senhor não deve saber, mas eu sou uma quimera criada em laboratório.

Eu vi pelos olhos dele — meus olhos, mas por dentro — que o emissário não parecia convencido, mas eu... não. Ele reagiu.

— Pode não acreditar em mim, mas veja por si mesmo. Sou fraco como um inseto insignificante. Na verdade, eu sou como um inseto para outro inseto em comparação ao gigante que é um dragão. Como eu poderia saber realmente se não por meio dos pergaminhos antigos? — Ele era convincente; não que eu já não fosse um bom mentiroso, mas ele pegava todos esses meus aspectos e parecia acrescentar mais impacto. Ele era eu.

— E esse seu criador, Kayn. Como está ele?

— Morto. — O meu eu ainda fez o favor de atuar uma expressão triste após falar. — Tentava descobrir o segredo da vida eterna e, como aqueles que o perseguem, morreu pelo caminho. Era um humano. Invejava até a mim, sua criação — gesticulou e deu de ombros. — Acho que esses eram os únicos aspectos que lembro dele. Depois da sua morte, tomei para mim o núcleo da masmorra que ele escondia e me tornei um mestre. Se me perguntar onde estou sitiado, temo que não saberei te responder. 

Colocando mentiras entre verdades, ele parecia cada vez mais convincente.

O emissário do abismo então tirou a mão do meu ombro e sua aura se aquietou, liberando minhas duas já cansadas companheiras.

— Então devo dizer, mestre Kayn. Parabéns por essa aquisição. Mas devo lembrá-lo do verdadeiro valor que esses ovos tem, então é melhor que você mantenha-os em segredo até que um dia possa defendê-los com suas próprias mãos. Chocar um ovo desses não é uma das tarefas mais fáceis do mundo.

— Ficarei em silêncio. Não tinha a pretensão de sair espalhando esse fato aos sete ventos. Aproveitando, gostaria de tirar uma dúvida. Como eu levarei os ovos?

— Você não precisa se preocupar. Todos os seus itens são transportados de volta para a sua masmorra assim que o mestre deixar este local.

— Obrigado pelo ajuda...?

— Wilbur, este é o nome que meu mestre me deu.

— Obrigado, Wilbur.

Este meu eu havia resolvido outro dos meus problemas. O emissário da morte então levou os meus ovos com ele para um lugar seguro e disse que minha identidade estava segura. Os únicos que poderiam saber quem havia comprado os ovos era ele, Azarias, e os meus dois acompanhantes: Rio e Una, além é claro da Natália e Cristal.

Antes de levá-los ainda me disse para ter cuidado com Leifr. O meu outro eu ainda tentou descobrir algo, mas não resultou em nada.

E assim, pouco depois, voltei a sentir, voltei a ver e voltei a estar; trocamos de lugar.

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[Habilidade Mente Serena] Desativada

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Com a saída dele, as coisas se acalmaram.

— O mestre é verdadeiramente incrível. Eu não consegui nem respirar com ele aqui — comentou a vampira.

— Pois é. É melhor voltarmos ao leilão.

Outra vez ele assumiu por conta própria. Jurava que ainda poderia controlá-lo, mas aparentemente não era o caso. Ao menos ele havia resolvido o conflito sem mais perdas. O lado ruim era que o desgraçado ficaria contando vantagem  toda vez que viesse a aparecer. 

Deixamos a sala e logo fomos para a entrada do grande salão. Rio e Una já nos esperavam. Voltamos então a sentar, aguardando o retorno do leilão.

Aproveitei para checar meus pontos. 

[Moedas Restantes: 100.000]

Não era grande coisa, mas, com a ida dos prêmios valiosos, e restando somente para os mestres comuns comprarem coisas; talvez eu pudesse obter algo legal.

Além de que, meus próprios itens seriam vendidos hoje. Eu obteria pontos automaticamente após sua venda. O leilão então prosseguiu.

Wilbur continuou os anúncios. Desta vez, pude comprar uma dúzia de coisas que não eram necessariamente para mim, mas para a masmorra. Tudo que comprei ainda poderia se resumir a uma coisa: A Biblioteca do Mago Morto.

Era literalmente um andar de um mestre que morreu. Aparentemente a pessoa que vendeu era um bárbaro que atacou um outro companheiro mestre da masmorra erudito. Depois de matá-lo, ele decidiu vender o andar inteiro do sujeito.

Fora a biblioteca, comprei uma dúzia de livros dos mais variados assuntos. Economia, história, filosofia, sociologia, ensino de magia, ensino do uso de habilidades, táticas militares, entre outros.

Conhecimento ainda era poder e me ajudaria a saber mais do mundo, além de ajudar o emissário do abismo a acreditar na minha mentira.

[Moedas Restantes: 23.000]

Estão acabando. 

Quando pensei que ficaria sem moedas, o emissário trouxe um item que eu havia anunciado. Um par de adagas defeituosas.

[Item]

Nome: Dente D’água

Tipo: Adagas Gêmeas

Raridade: Incomum

Durabilidade: 81/100

Habilidade: [Jato D’água]

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