O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 29: O Bar da Medusa

❂❂❂

[Conversão bem-sucedida

[Moedas do Leilão: 400.000] Adquirido

❂❂❂

Moedas para ...!

Era o contrário do que eu pensava. A conversão era maior para os pontos, então os pontos eram mais valiosos que as moedas. Vinte e cinco vezes mais valiosos.

Com toda essa quantia, eu poderia comprar quatro minotauros, um monstro de nível heroico. A quantidade de moedas era simplesmente incrível demais.

Ainda fiquei mais alguns segundos surpreso, mas logo me adiantei para vender meus itens. Eu não sabia o valor, então apenas segui com a taxa de transação.

A poção de cura custava 100 pontos, então custaria cerca de 2.500 moedas do leilão. Trazia mais de vinte poções comigo — seus fracos pequenas permitiam que eu carregasse várias, uma tarefa fácil — então decidi colocar dez delas a venda. O valor total chegou aos 25.000 pontos.

Quando terminei de por os valores, uma tela apareceu de repente. Nela, apareceu uma opção onde eu poderia descrever os efeitos dos produtos.

Coloquei o dedo por cima e fiz um longo texto, porém notei que eu estava exagerando e tentando vender algo irreal, então desisti.

Cocei a cabeça um pouco com isso. 

— Ah! Que se dane.

Simplesmente dei uma descrição qualquer.

Poção de cura Maravilhosa!

Ela cura. Maravilha! Achou que ela fazia mais o quê?

Dei uma pequena risada com minha própria genialidade. Eles também pediam alguma forma de demonstrar os efeitos, então deixei mais uma poção para usarem como queriam.

Logo que terminei de por tudo na balança, as poções desapareceram como se nunca tivesse existido, ou passado por aquele lugar. 

Aproveitei para colocar o restante das coisas para vender.

Pedi 10.000 nas adagas defeituosas e vendi as outras coisas por preços praticamente irrelevantes. Acreditava que nada valia um valor substancial.

Terminei tudo e chamei por Cristal que estava sempre ao meu lado. Com tudo certo, saímos da sala.

Assim que coloquei o pé para fora, me vi perdido no meio de uma grande multidão de criaturas. Elas entravam e saíam constantemente da sala de trocas.

Passavam por mim, empurrando e ignorando totalmente minha presença, como se eu fosse invisível.

— Saia da frente, idiota — exclamou um cara com cara de lagarto.

Antes que pudesse reagir, ele já havia passado por mim e entrado na sala de trocas. Estava ficando irritado e uma coisa estava agarrada na garganta, sentia-me humilhado.

Contudo respirei fundo e apertei o punho com força.

Você já não é o melhor do mundo, Kayn. Precisava lembrar-me disso. Eu não poderia ousar fazer nada naquele lugar.

Algo então agarrou o meu ombro e eu fui puxado para fora da enorme confusão. Não tive nem tempo de pensar. Era uma mão que agarrou meu ombro e logo um rosto conhecido surgiu.

— Você está bem, mestre Kayn? — Era a mestra bestial.

— Obrigado por me tirar de lá — agradeci e também notei que Cristal já estava ao lado dela.

Você me abandonou, né? Lancei um olhar que ela desviou, fingindo não ver. Aquela loba estava ficando atrevida.

— Você poderia me dizer seu nome, mestra bestial?

— Celine, apenas Celine — respondeu com um largo sorriso. — Sou a mestra do labirinto das bestas, O Orfeu.

Ela era agradável. Celine era extremamente sincera com o que pensava e também era muitíssimo gentil. Como se fosse uma pessoa que não precisava de segredos para se sentir segura — muito diferente de mim que nadava em mentiras e segredos.

Todos que passavam perto dela cumprimentavam-na com respeito. Era comum ver mestres abaixando a cabeça logo que a viam. Ela, porém, não parecia se importar.

Não ligava para normas sociais, regras pessoais ou condutas morais. Ela era tão diferente dos demais que nem mesmo possuía um monstro que lhe acompanhasse.

Tudo isso mostrava  algo que poderia passar despercebido: ela tinha poder. Para agir dessa forma — tendo um perfil tão reconhecido e que não temia inveja ou retaliação — ela precisava ter culhões para sustentar-se.

Entretanto isso também me dizia outra coisa. Apesar de ter tanta força, ela ainda havia se curvado perante a presença do vampiro primordial. Existia uma estrutura de forças nesse lugar e eu precisava aprendê-la para poder sobreviver.

Falei para mim mesmo outra vez

Eu já não sou o mais forte do mundo.

— Celine, podemos conversar no particular?

Ela sorriu, como se já esperasse um pedido desses.

— Claro, deixe-me apenas terminar por aqui.

— Está bem.

❂❂❂

Os demais mestres do emblema bestial foram saindo da sala de trocas. Alguns com boas expressões e outros nem tanto, mas o ânimo era positivo no geral.

Celine esperou até o último sair e guiou-nos para o lado de fora, dizendo:

— Vocês são livres para curtirem o restante do evento. Sigam as regras e tenham cuidado. Fazendo tudo certo, não terão com o que se preocupar.

Ela então bateu com as palmas da mão bem forte, concluindo o tour. 

Os mestres foram andando para diferentes lugares para explorar e eu aguardei.

— Mestre Kayn, podemos ir agora.

— Seguirei logo atrás... — era difícil dizer aquelas palavras, mas eu cedi — mestre Celine.

Andamos um pouco até próxima de uma longa cortina. Celine colocou-se na frente e a cortina se abriu. Havia um ciclope do outro lado.

Ele era tão grande que apenas o seu olho aparecia pela cortina.

Após uma pequena troca de palavras com a criatura, ela chamou-me:

— Vamos, entre. 

O enorme ciclope saiu da frente e entramos na sala. Era uma espécie de bar. Alguns mestres com energias poderosas conversavam nas mesas, mas eu não conseguia saber do que falavam.

As mesas eram feitas de madeira num tom escuro, com cadeiras dispostas nos arredores. O ambiente tinha pouco iluminação nos cantos da sala. No balcão, havia um monstro com cara de touro usando roupas sofisticadas.

Tentei outra vez escutar uma das conversas do salão, no entanto foi um fracasso.

Literalmente eu era incapaz. Quando tentava ler seus lábios, analisar seus padrões de movimento ou até simplesmente escutar as conversas, uma vertigem assombrosa me impedia de continuar.

— O bar da medusa é um ótimo ponto de encontro — comentou ela.

— Bar da medusa, não é? 

O nome era condizente com as capacidades que demonstrava. Parecia até uma metáfora. Tentar espiar transformaria você em pedra.

Celine logo escolheu uma mesa e nos dois sentamos frente a frente. Ela então puxou um longo cachimbo, sentou-se com suas longas pernas cruzadas e soprou uma grande cortina de fumaça.

Inconsciente notei que a fumaça não se espalhava para muito longe. Conseguia ver uma espécie de cúpula ao meu redor. Ela indiretamente me contou que era seguro. 

— Sei que quer me fazer várias perguntas. Pode fazer. — Ela estava diferente de antes, muito diferente. — Você é diferente, mestre Kayn. Eu consigo sentir isso.

Mas eu também conseguia sentir algo dela. Aquilo não era gentileza pura; ela queria algo em troca também.

— Eu posso fazer em troca de? — Fui direto ao ponto.

Ela colocou o cachimbo sobre a mesa e soltou a fumaça contra o meu rosto. Acenei com a mão levemente.

— Eu não sou muito de fumar — comentou. — Você me faz perguntas e eu faço outras em troca.

— E se eu mentir?

— Não há o que fazer. Não é como se eu pudesse te forçar a falar a verdade. — Sorriu ela.

Ela poderia me forçar. Olhando para o rosto dela confiante, o tratamento que recebeu, e aquele conhecimento profundo de como esse lugar funcionava; se ela quisesse, ela poderia sim forçar.

— Então — comecei — quantos mestres existem?

 

❂❂❂

Acesse o servidor do discord do autor para ter acesso a capítulos adiantados, fanarts, contos e notícias sobre essa novel: https://discord.gg/WQ4n48fUqw



Comentários