O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Floresta de Sort

Para começar, precisava saber se estava realmente seguro onde quer que eu esteja. Pela análise do sistema, esse era um lugar seguro, mas nunca poderia se ter certeza disso.

Algo poderia mudar de uma hora para outra. Se esse for um mundo baseado em Vangloria, ele acabaria passando por um período no tempo em que guerras eram comuns.

Caso dois reinos aleatórios comecem a lutar, posso acabar no meio de uma linha de fogo. Não sou louco o bastante para me arriscar a isso.

Os fracos eram assombrados pelos costumes mórbidos dos seus governantes. Em um momento tudo estava bem e, de repente, tudo muda completamente.

Uma tempestade acaba caindo em algum lugar, ou um novo governo toma controle e pronto! Aqueles que estão abaixo na sociedade são os únicos prejudicados, tendo tudo tirado deles.

Me recuso a fazer parte disso!

Essa mentalidade, que poderiam chamar de um pouco louca, foi o que me fez o maior jogador do mundo, então nunca reprovei ela de jeito maneira.

Estar submetido aos caprichos de um tirano, era basicamente tornar-se um escravo. E eu me recuso a virar um!

Bem, para começar, precisava reunir alguns recursos e manter uma forma autossuficiente de conseguir adquiri-los continuamente.

O único recurso que eu precisava era de Pontos. Sendo um Mestre da Masmorra, precisava apenas disso para me manter vivo.

Pontos poderiam ser usados para comprar equipamentos, monstros, itens, comida e múltiplas outras coisas. Com eles, o meu poder era praticamente infinito.

Os Pontos Adquiridos naturalmente provinham da minha capacidade mágica inata, ou seja baseavam-se na minha quantia máxima de mana.

Possuindo um total de 30 pontos de mana, eu era capaz de juntar cerca de 1000 Pontos por semana. O que era uma quantia considerável para um iniciante, mas não era capaz de suprir minhas capacidades emergências.

Antes de qualquer coisa, olhei para a minha tela de estatísticas da masmorra.

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[Informações]

Masmorra

Nome: Nenhum | Tipo: Torre

Raridade: Única | Grau: 1

Servos: 2

Andares: 2 | Andares Subsidiários: 0

Pontos: 950

Requisito para próximo Grau: 1000 Pontos | Monstro Incomum

[Bônus]

Monstros Dominados e Domados tem um chance de receber a habilidade Mente Calma

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Com essas informações, algumas dúvidas foram tiradas. Havia também algumas informações que não ficavam explícitas.

Havia um limite de servos, andares normais e andares subsidiários que eu poderia ter dependendo do grau da masmorra, mas não era um valor muito importante.

Algumas das minhas capacidades eram limitadas por esse grau. Estavam praticamente trancafiadas.

Suspirei alto com aquilo. Voltar ao início era complicado, mas não me preocupei muito. Havia muitas formas de se adquirir pontos.

Quanto mais monstros tivessem na masmorra, mais pontos poderiam ser obtidos ao longo do tempo. Por meio de invasões, concluindo conquistas escondidas e outros inúmeros meios.

A informação que mais me aliviou foi aquela sobre a Mente Calma. Bônus eram uma das maiores forças de um mestre e só normalmente só poderiam ser adquiridos por meio de conquistas.

Eles receberem essa habilidade não era particularmente algo ruim. Na verdade, talvez fosse muito bom.

Com meus pontos atuais, comecei a planejar o que faria a seguir.

Em Vangloria, o melhor método para obter pontos era atrair jogadores, monstros e NPC’s para a masmorra. Eles viriam para conseguir recompensas e, em troca, eu receberia pontos. Contudo, neste lugar, eu nem sabia onde estava. Procurar por pessoas estava fora de cogitação.

A outra opção era caçar e adquirir Pedras de Mana. Com Pedras de Mana, adquirir pontos seria uma tarefa fácil, mas para isso ainda precisava sair para caçar.

Olhei para o goblin que ainda coçava o nariz e para o lobo branco sentado abanando o rabo.

— Venham. Vamos para o primeiro andar. — Levantei-me do trono e andei em direção ao andar debaixo.

Chegando lá, acompanhado da dupla, modifiquei um pouco as redondezas. O andar em si era bem grande e o aspecto de floresta não me desagradava, portanto decidi mantê-lo.

No meio da mata, abri um Clareira de tamanho agradável, gastando cerca de 10 Pontos no processo. Essa era uma das funções que recebi com minha habilidade de Criação de Masmorra no máximo.

Então, olhei para a lista de monstros que poderia invocar. Atualmente, era capaz de invocar esses monstros:

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[Goblin | Raridade: Comum | Pontos: 50 ]

[Esqueleto | Raridade Comum | Pontos: 50]

[Lobo | Raridade: Comum  | Pontos: 150]

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Com a criação do Lobo Branco, desbloqueei uma versão mais fraca da raça, sendo apenas lobos comuns. Eles custavam quase três vezes mais o preço dos goblins, mas a sua força a curto e longo prazo era bem melhor.

Como forma de teste, decidi invocar um Esqueleto.

— Invocar Esqueleto — proclamei erguendo a mão.

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[Invocação Bem Sucedida]

[-50 Pontos por Invocar Esqueleto]

[Pontos Restantes: 890]

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Uma pilha de ossos começou a brotar do chão, assumindo o aspecto de um corpo humano. O esqueleto carregava um osso de Fêmur em uma das mãos e possuía um brilho verde no lugar dos olhos.

Assim que surgiu, ele levantou uma das mãos e veio correndo em minha direção, preparado para me atacar. Desviei com precisão e observei os seus movimentos.

O esqueleto era muito mecânico. Não parecia possuir nenhuma forma de inteligência e só atacava enlouquecido.

Quando tentou me ferir outra vez, desviei com um passo para o lado e coloquei uma das mãos em sua cabeça.

— Dominação!

A energia penetrou no crânio da criatura que parou por um instante. Por um momento, o verde dos seus olhos tornou-se um vermelho forte e voltou ao normal.

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[Dominação bem sucedida]

[Esqueleto Dominado]

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De repente, ele parou de atacar e ficou parado como uma estátua na minha frente. Sem pulmões, ele não respirava, então poderia se passar como mobília com facilidade.

Se bem que seria estranho ter um esqueleto como mobília...

Achei a cena até um pouco engraçada naquele momento.

Agora, possuía um total de três servos. Nada comparado ao meu exército anterior, mas era o que eu tinha para hoje. Usando os meus pontos restantes, comecei a invocar vários Goblins.

Desta vez não tive problemas, pois o esqueleto colocou medo no coração das criaturas verdes. Depois de um total de 500 pontos gastos, criei dez Goblins comuns.

Ainda tinha cerca de 300 Pontos para gastar, então procurei por alguns itens na loja. Como a Masmorra ainda estava no Grau 1, eu não tinha muitas opções.

Busquei por um tempo tentando achar algo bom e finalmente algo me bateu aos olhos.

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[Item]

Nome: Arco de Madeira

Tipo: Arco Leve

Raridade: Comum

Durabilidade: 100/100

Habilidade: Nenhuma

Descrição: Arco comum feito da madeira de uma boa árvore

Custo: 100 pontos

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A Raridade era o que determinava a força e qualidade de um item. Sendo sincero, uma arma de longo alcance comum poderia ser até mais fraca que um golpe meu dependendo da força que eu utilizasse, mas naquele instante era a melhor coisa que eu poderia comprar.

Comprei também algumas flechas, deixando-me com apenas 50 pontos. Guardá-los-ia para caso ocorresse uma emergência.

Terminado a compra, mandei todos se reunirem. O grupo com pouco mais de uma dúzia ficou parado na minha frente, observando-me com atenção.

Eu não tinha mais muita energia para poder ficar utilizando Dominação, ainda mais por estar perto de entrar em combate, então era um alívio que nenhum deles tentasse ir contra mim.

— Todos vocês. Ajoelhem-se perante o seu mestre — ordenei em voz alta.

Era a única opção para ter certeza de controle, mesmo que por um curto tempo, sobre meus servos além da habilidade Dominação.

Com meu olhar frio sobre eles, não ousaram não seguir minhas ordens. Talvez o esqueleto e o lobo rosnando tivessem ajudado bastante.

Com isso em mente, eles se ajoelharam imediatamente e uma ressoou ressoou.

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[Conquista]

Nome: Aqueles que sabem o seu lugar

Raridade: Comum

Prêmio: 500 Pontos | Colar de Escravidão

Descrição:

Você demonstrou para os seus novos monstros quem é que manda. Por cumprir essa conquista, a obediência de novos monstros aumenta um pouco. Cuidado! Monstros que são constantemente ordenados a coisas que não querem fazer, podem se rebelar contra um mestre fraco.

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Fiquei feliz com o resultado.  Obter essa conquista era fácil. Precisava apenas que alguns monstros obedecessem minhas ordens diretamente.

Dominação impunha meus desejos sobre os deles. Uma luta entre forças de vontade absolutas.

— Bem, eu sei que nenhum de vocês consegue falar, mas vou explicar o plano...

Comecei a explicar como funcionária nossa viagem. Sairíamos da masmorra e faríamos uma rápida sondagem dos arredores, buscando por possíveis inimigos e outras coisinhas.

O objetivo dessa viagem era caçar alguma coisa. O ambiente dentro da masmorra era autossustentável, ou seja, poderíamos viver livremente aqui dentro sem se preocupar com fome ou sede, pois a própria provinha tudo para nós.

Contudo o desejo de comer e beber ainda existia, principalmente em criaturas como os Goblins e Lobos. Então escutar sobre “caça” deixou-os bem animados.

Todavia o perigo também era grande do lado de fora, mas Lobos já estavam acostumados com isso e Goblins eram simplesmente burros demais para entender.

Passei então a liderar o grupo em direção à saída, pois estava na hora de descobrir se os meus arredores eram realmente seguros.

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1 mês após a invocação de Kayn.

Dentro de um bar rústico, com chão de madeira e canecas enormes, dois homens altos conversavam enquanto viravam uma quantia absurda de cerveja.

— Aaarg! — grunhiu um deles após descer uma caneca gelada goela abaixo. — Você soube o que aconteceu?

— Ah. Você está falando da incursão fracassada da Dama de Ferro até a Floresta de Sort. Só sei do que alguns vagabundos me contaram. Me conte o que sabe.

— Depois que aquela garota descobriu ser uma Heroína, começou a querer fazer mais do que podia. Ela era só uma serva da Baronesa, mas tomou o título de Dama de Ferro. Depois daquela confusão que ocorreu ao sul, somado com o ataque dos Bárbaros do Norte, ela decidiu tentar cruzar a fronteira pela floresta.

Ha! Ha! Ha! Aquela garota tem que aprender o seu lugar. Só por que ela recebeu a sorte de ter a Classe de Heroína, não significa que é melhor que qualquer um de nós. E então, o que aconteceu depois?

— É isso mesmo que você imagina. Ocorreu um completo massacre dentro da floresta. Dizem que metade do batalhão morreu e eles não chegaram nem perto de passar pela floresta.

Os dois homens, já bêbados, não tinham controle das próprias vozes, portanto era possível escutá-los de todo o bar. Perto do balcão, havia duas pessoas em vestes negras, que cobriam todo o corpo.

Uma das pessoas deu um soco no balcão de madeira com fúria e abaixou a cabeça. A outra tentou lhe confortar.

— Senhorita, vamos embora. Você não precisa ficar escutando essas besteiras — Uma voz feminina soou. Ela era forte e um pouco grave, demonstrando uma idade um pouco mais avançada. — Se quiser, eu mesma irei lá e os calarei.

— Eles estão falando a verdade. Eu fracassei na incursão. O meu medo causou o desandar do batalhão e tudo ruiu como um castelo de cartas. — A outra voz, também feminina, era mais aguda e meiga.

— Mas a culpa não é sua. Aquele mago desgraçado obrigou a baronesa a te enviar para lá.

— Ele disse que algo surgiu na Floresta há cerca de um mês. Uma coisa que pode mudar todo o rumo da batalha. Como eu negaria ir em frente? Se realmente tiver algo lá, talvez o nome da baronesa seja limpo e então... — Ela bateu outra vez contra a mesa. — Deixe para lá, vamos embora, Meredith.

Com um rápido movimento, a pessoa da voz meiga jogou algumas moedas no balcão e foi em direção à saída. Rapidamente, a outra pessoa seguiu atrás.

Todavia, antes de sair, acabou esbarrando em um dos bêbados que encarou-a com um olhar raivoso.

— Ei! Seu desgraçado, o que está fazendo! Me peça desculpa, ou corto o seu braço fora.

Meredith abaixou a cabeça não mostrando o seu rosto, mas ele estava impregnado de um ódio profundo. A jovem puxou um par de adagas e um desejo de matar brotou por todo o seu corpo.

Contudo uma mão agarrou o seu ombro.

— Vamos embora, Meredith. Não quero mais nenhum problema envolvendo o meu nome.

O bêbado ainda estava raivoso, mas a pessoa de voz meiga jogou-lhe algumas moedas e, como um porco em busca de comida, ele pulou em cima delas.

Isto deu tempo para que a dupla saísse do bar sem mais interrupções.

— Senhorita, perdoe-me. É que não... — Ela abaixou a cabeça cheia de arrependimento.

Já do lado de fora, elas retiraram as capas que cobriam seus corpos, revelando seus rostos. O sol raiava no horizonte.

Meredith se apresentou como uma mulher de vinte e tantos anos.

Era loira, com os cabelos dourados que voavam ao vento. Uma mulher muito alta, com um corpo bem definido, musculoso, sedutor... Seus olhos azuis brilhavam como um oceano e suas longas orelhas mostravam sua descendência élfica.

A dama vestia uma armadura negra completa, com alguns detalhes em dourado. Mesmo assim, ela não poderia esconder seus grandes seios.

Ao lado da cintura, carregava um par de adagas.

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A outra era uma jovem.

Provavelmente não passava dos dezoito anos. Ela era um pouco baixa. Sua beleza era estonteante. As características que mais chamavam atenção era o cabelo prateado como a lâmina de aço mais afiada e os olhos que queimavam como um fogo escarlate.

Usava vestes pretas sobre uma armadura bem mais leve e possuía apenas uma espada de esgrima como arma.

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— Senhorita...

— Por favor, pare de me chamar de senhorita. Me chame pelo meu nome.

— Sim, senhorita Reese!

A jovem suspirou pois era impossível fazer Meredith não lhe chamar de “Senhorita”.

— Vamos seguir para a Guilda dos Aventureiros. Eu ainda não desisti. Preciso saber o que tem naquela Floresta de Sort.

As duas voltaram a cobrir suas cabeças e partiram para o seu objetivo.



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