O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 21: Novidades

Continuei a pensar sobre aquela mensagem. Ela ainda piscava constantemente na frente dos meus olhos.

Provavelmente não era algo ruim. O sistema avisaria se fosse perigoso, ou ao menos eu achava isso.

Além disso, que mal faria aceitar?

— Sim. 

❂❂❂

Você aceitou participar do Leilão dos Mestres.

Tempo restante: 61:56:43...42...41...

❂❂❂

— Daqui 3 dias... Acho que tenho tempo o bastante.

Além do horário, também foi dito que eu podia levar comigo um único servo e que também poderia levar itens para a venda.

Não achava essa última informação muito relevante. Eu não tinha nada para trocar que não fosse itens da loja e...

— Será que aquelas moedas valem alguma coisa? E aquele par de adagas também pareciam bons.

Eu os havia guardado em um canto da sala do núcleo e os busquei. Havia uma quantidade relevante de moedas.

Pelo meus estudos, era o suficiente para pagar por dez casas de madeira em uma sociedade humana.

O par de adagas também era interessante. Tinham um punho de cor azul, a lâmina também tinha um espectro azulado e eu conseguia sentir um pouco de mana.

[Item]

Nome: Dente D’água

Tipo: Adagas Gêmeas

Raridade: Incomum

Durabilidade: 81/100

Habilidade: [Jato D’água]

Descrição: Forjada de ferro vulcânico mágico, é uma arma feita de ótimos materiais e criada por um ferreiro iniciante, mas competente. Porém adicionaram encantamentos de água na lâmina.

Esses encantamentos entraram em combate com o elemento natural das lâminas, diminuindo sua qualidade.

❂❂❂

Há? Um erro de fabricação?

Fiquei para baixo com aquela notícia, mas ainda parecia uma boa lâmina. Pensei em dar como recompensa para alguém, mas usar no leilão era, talvez, uma boa ideia.

Eu decidi me especializar em técnicas com lança, então era inútil ter o Dente D’água  comigo.

Guardei o item cuidadosamente e visitei a loja. Estava na hora de comprar coisas novas; armas, armaduras, itens especiais e, principalmente, livros estavam disponíveis para a compra.

Além de jogar Vangloria, a única outra coisa que eu fazia em meu antigo mundo era ler. Havia uma certa beleza em ler Ficção, um escapismo da realidade. Apenas duas coisas me davam esse sentimento; Vangloria e Livros.

Porém não estava buscando histórias divertidas e sim livros de magia.

Três me chamaram a atenção:

❂❂❂

[Magia de Fogo para Iniciantes]

[Controle do Fluxo de Mana]

[Magia não Elemental. Conceitos e Testes]

❂❂❂

Os dois primeiros foram escritos pelo mesmo autor: Frank Ornot. O último foi escrito por um homem chamado: Yan Conroy. Comprados os livros, guardei para aproveitar posteriormente e fui fazer o restante das minhas tarefas.

Metade dos meus pontos foram embora em uma única tarde, mas todos possuíam equipamentos melhores, incluindo eu.

❂❂❂

[Item]

Nome: Voz do Vento

Tipo: Lança Curta

Raridade: Raro

Durabilidade: 100/100

Habilidade: [Suspiro da Ventania] [Grito da Brisa]

Descrição: 

A Voz do Vento foi criada da Madeira do Deserto. Uma árvore milenar onde vivem as fadas do vento que se perderam no seco deserto.

Elas acabam se tornando as protetoras da árvore, controlando tempestades de vento. A madeira absorve o seu poder.

Toda a lança foi moldada para ser leve, poderosa e com um poder de corte acima do comum. Cada corte da lâmina cria um assovio suave que deu o nome à arma.

❂❂❂

Tive que trocar de arma depois de ter minhas outras três destruídas em combate. Por sorte, essa foi uma das recompensas.

Essa era mais resistente e mais leve, além das duas habilidades que davam dano mágico. O suspiro da ventania era um corte a longa distância praticamente invisível e grito da brisa era um turbilhão de ataques extremamente rápidos  — todos com o elemento vento.

Caso eu treinasse bastante, poderia até acertar dois ataques no tempo de um único pela velocidade proporcionada pela lança.

Gleen veio até a sala do núcleo pegar e organizar os itens. Aparentemente minha ordem sobre os brincos foram cumpridas e todos os estavam usando.

Ele se despediu depois de um rápido relatório.

— Urfa! — Finalmente acabaram os trabalhos administrativos.  — Vamos treinar, Cristal.

❂❂❂

Cidade Ferros, Capital do Baronato Ferros.

Dias Atuais.

Intrepidamente, a heroína adentrou à sala da Baronesa.

— Você ordenou outra incursão?! — exclamou Reese chutando a porta. Atrás dela vinha uma Meredith assustada.

— Desculpe-me, madame Ferros. Eu não pude evitar — desculpou-se tentando impedir Reese e abaixando a cabeça em respeito a mulher sentada no outro lado da sala.

E, lá estava ela, baronesa Rena Ferros — a Tecelã de Aço, a Cavaleira do Sul e a Dama de Ferro — em todo seu resplendor.

— Me desculpe, senhores, por essa situação. Aparentemente minha afilhada não tem modos. Poderiam nós dar licença.

A baronesa estava sentada e na frente da sua mesa estavam outras duas pessoas. 

Um homem de meia-idade, careca, com olhos pequenos de peixe morto, uma roupa de aristocrata e um sorriso que faria qualquer um querer vomitar.

Ao seu lado, estava o genérico príncipe de fantasia. Cabelo brilhante, um sorriso amarelo enorme e aquele jeitinho encantador; encantadoramente nojento.

Também tinha cabelo curto em um corte natural e usava as mesmas roupas de aristocrata.

Ambos trocaram algumas palavras curtas com a baronesa e saíram do ressinto, mas não antes de passarem por Meredith e Reese.

O velho passou em silêncio, ignorando a presença de ambas; o mais jovem encarou-a cara a cara e abriu um sorriso de canto, recebendo um olhar ameaçador de Meredith.

Ele partiu logo em seguida, fingindo estar assustado com a reação dela. Claramente um deboche.

A porta detrás delas se fechou. Com o baque suave, os gritos voltaram.

— Outra incursão?! Não tivemos capacidade na primeira, estamos com desfalque de homens e mesmo se tivéssemos todos, aquilo na floresta é de um outro nível! 

— Reese, sente-se — ordenou.

A baronesa continuou mexendo nos seus papéis. Olhar vazio, voz calma e uma certeza implacavelmente abatedora em cada uma das suas palavras.

Ela era alta, a mais alta das mulheres entre a nobreza do reino; ela era magra, a mais magra entre as mulheres da nobreza do reino.

Os cabelos eram prateados, a cintura era fina e cada movimento que fazia parecia ser planejado meticulosamente para gastar o mínimo de energia e tempo.

O olhar vazio era afiado como uma lâmina; destruidor e cortante. 

Reese vendo a seriedade dela não pôde resistir a sua ordem e sentou, mas ainda assim estava indignada com a situação.

— Baronesa, outra incursão nesse momento é suicídio. Não podemos enviar nossos homens para a morte outra vez.

O olhar da jovem brilhava e ela olhava para a mulher que lhe cuidou a vida inteira com uma incerteza incrível.  Nunca pensou que ela agiria daquela forma.

Rena, a antiga Dama de Ferro, levantou da sua cadeira e sentou-se na mesa de frente para Reese.

As longas pernas da mulher, que eram desproporcionais ao restante do corpo, foram cruzadas como um par de tesouras.

O seu olhar vazio se centralizou diretamente no de sua afilhada.

— Sabem quem eram aqueles homens que vieram aqui? — Trocou o assunto.

— Não, mas não gostei nenhum um pouco do tipinho — Quem acabou respondendo foi Meredith, que logo de desculpou.

Reese seguiu:

— Não, mas concordo com Meredith. Eles não parecem normais.

— Aquele era Elias, o mago do terceiro círculo da Igreja Delvos; o outro era seu aprendiz do quarto círculo, Keiran. Nossos novos patrocinadores na viagem até a Floresta de Sort.

— Igreja de Delvos? Patrocinadores? Desde quando precisamos recorrer a isso, baronesa?

— Desde que os condes destruíram todos os nossos negócios. Reese, querida, está é nossa última chance. O reino ignorou meu pedido e os coelhos estão invadindo os vilarejos próximos.

A baronesa levantou e pegou uma dúzia de papéis. Entregando-os para sua afilhada, voltou a sentar.

— O que são? — perguntou Meredith. Como estava de lado, não conseguia vê-los.

— Nossos fundos, nossos homens, nosso estoque, nosso poder e nossa vida. — A baronesa olhou para o teto com melancolia. — Tudo o que é nosso está por um fio de morrer.

Reese leu todos os papéis e sua expressão ficou branca. 

— Eles enlouqueceram...? E se acontecer uma invasão de outro reino? Eles não poderão se defender sozinhos.

— Não vai ocorrer. Nossa inteligência sabe que uma guerra nesse momento não será benéfico para nenhum dos dois lados. 

— Então quer dizer.

— Sim. Ou entramos naquela mata e descobrimos o que tem de tão precioso lá, ou sucumbiremos aos condes. Você vai ser obrigada a se casar com algum nobre nojento, Meredith será vendida como escrava e eu me tornarei uma relés cavaleira para algum jovem nojento; uma guarda costas.

— Isso não pode acontecer! — Reese pegou os papéis e os jogou para o ar. — Aceito qualquer coisa que aconteça comigo, mas não permito que toquem um dedo em Meredith.

— Senhorita... — a jovem meio-elfo tentou dizer algo, mas foi interrompida.

— Então temos que prosseguir com a ordem. A incursão vai ocorrer em breve e até o Zerir participará.

Reese mordeu os lábios, tentou e tentou descobrir alguma forma de contornar a situação, mas nada lhe veio à mente.

— Senhorita, estarei onde você estiver — disse Meredith com um sorriso.

Isto vez com que a heroína finalmente cedesse.

— Estarei na vanguarda para a segunda incursão à Floresta de Sort.

Rena acenou com a cabeça e um silêncio repercutiu por toda a sala.

— Ganharei o máximo de tempo. Por favor, retorne com ajuda.

O Baronato era pobre e era um terra pequena, porém era tudo o que aquelas três mulheres possuíam. Seu único bem de valor.

Perdê-lo era perder tudo, mas não sabiam elas que aquele lugar já estava condenado.



Comentários