O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 22: Treinamento e Poderes

Estava em uma situação complicada. O suor descia pelo meu peito nu, minhas mãos tremiam enquanto segurava a lança e quase não respirava direito.

Um arrepio desceu pelas costas. Pelo reflexo, joguei no chão, rolando, contudo ainda senti as garras rasgarem um corte superficial na minha pele.

Levantei em um pulo e voltei a prestar atenção nos arredores. O inimigo era invisível e a sede de sangue surgia de diferentes direções aleatoriamente.

Eu sentia a presença me devorar de um lado e cortava com lança, acertando apenas o ar vazio. A adversária nunca estava onde a presença aparecia.

Além disso, o ar ao redor ficava cada vez mais congelante. Vapor branco saiu pela minha boca a cara respiração.

Durante o confronto contra o nobre, eu despertei um poder que não conhecia. No entanto, não fui o único. Cristal também despertou algo.

Uma sequência de ataques afiados bateram contra minha lança, fazendo-me ter um esforço terrível para pará-los. Missão está mal sucedida.

Logo um par de garras surgiram do vazio e arremessaram minha lança para longe e um corpo pesado me jogou contra o chão.

Olhando para cima, vi os dentes afiados babando vorazmente a pouquíssimos centímetros de rasgar minha garganta.

— Eu perdi. — Os pelos do meu corpo estavam arrepiados e meus pés gelados. O frio se instalou no ambiente inteiro da sala do trono. — Você venceu! Agora pare, está muito frio.

Ela saiu de cima de mim e ficou saltitando alegremente de um lado para o outro.

Sentei, recostado no degrau que levava ao trono. O ambiente gélido começou a esquentar e finalmente pude respirar com mais tranquilidade.

Decidi então olhar as estatísticas dela.

[Informações]

Nome: Cristal

Raça: Lobo Branco | Nível 8/20

Raridade: Raro | Grau: 2

Emblema: Bestial | Gelo

[Estatísticas]

Força: 22/67 | Velocidade: 25/69 | Vigor: 21/52

Destreza: 23/68 | Inteligência: 23/67 | Mana: 22/67

 

Minha boca se abriu involuntariamente, meus olhos cresceram para o dobro do tamanho e até minha cauda, que normalmente só existia, balançou nervosamente de um lado para o outro.

— Que merda aconteceu aqui?

Lembrei-me das estatísticas antigas e fiz uma rápida comparação.

[Informações]

Nome: Cristal

Raça: Lobo Branco | Nível 4/10

Raridade: Raro | Grau: 1

Emblema: Bestial

[Estatísticas]

Força: 13/31 | Velocidade: 16/32 | Vigor: 12/26

Destreza: 14/32 | Inteligência: 14/31 | Mana: 13/31

Ela recebeu 4 pontos por subir de nível e mais 5 de alguma fonte misteriosa que logo descobri ser de uma habilidade.

Ela obteve três habilidades: Linhagem das Neves, Aura de Gelo e Magia de Neve.

Além disso, ela obteve três habilidades Linhagem das Neves, Aura de Gelo e Magia de Gelo.

[Habilidade]

Nome: Linhagem das Neves

Tipo: Especial

Raridade: Lendário | Nível 1

Limitada

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Fiquei boquiaberto. Aquela habilidade aumentou 5 pontos em cada estatísticas dela, aumentou o limite das suas estatísticas e absorveu todas as habilidades de aprimoramento de status

Força Aprimorada, Velocidade Aprimorada, Sentidos Aprimorados, Vigor Aprimorado,  Inteligência Aprimorada, Talento Mágico e Destreza Aprimorada: todas elas foram absorvidas por Linhagem das Neves.

A habilidade ainda por cima estava bloqueada por estar muito acima das capacidades de Cristal, então poderia vir a ser ainda mais poderosa.

O corpo dela passaria por mudanças para poder se adaptar ao poder e as estatísticas cresceriam mais rápido. 

Ela era basicamente um aviso dizendo: “Cristal é alguém com talento.”

As outras duas eram o que eu havia imaginado.

[Habilidade]

Nome: Magia de Gelo

Tipo: Especial

Raridade: Especial | Nível 1

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Com esse tipo de magia, ela era capaz de controlar, modificar e alterar o gelo ao seu bel-prazer. Ela era muito boa para defesa, tinha uma ofensiva ótima, porém pecava na velocidade.

Caso fosse usada ambientes gelados, tornaria-se uma arma extremamente letal.

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[Habilidade]

Nome: Aura de Gelo

Tipo: Especial

Raridade: Especial | Nível 1

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A última habilidade, aura de gelo, era a capacidade de criar uma aura gelada que vazava passivamente do corpo do usuário.

O ambiente então se alterava a favor dele. Eu já conhecia habilidades desse tipo em Vangloria, eram comuns em usuários fortes.

Contudo ainda estranhava uma coisa: aquela capacidade de esconder a presença completamente e até modificá-la de posição.

Aquilo estava acima da capacidade de uma habilidade como furtividade ou coisa do tipo. Cristal tinha talentos únicos.

Encarei a alegre loba com um rosto solene. Estava mais do que satisfeito com seu desempenho.

Talvez em combate real, eu fosse capaz de derrotá-la com as habilidades Vampirismo e Força Monstruosa. Sem elas, no entanto, minha derrota era certeira. 

— Bom trabalho, garota. — Acariciei seu pelo suave com um largo sorriso no rosto. Ainda bem que ela estava a salvo.

Desci para o primeiro andar acompanhado dela. Aproveitaria para testar as novas capacidades da lança em algumas árvores.

Logo que cheguei ao primeiro andar, escutei alguns gravetos quebrarem atrás de nós e senti olhos visando-me. Cristal também pareceu notá-los.

— Ignore-os. Vamos continuar.

Ela assentiu com a cabeça e voltamos a caminhar. Minutos depois, chegamos em um lugar bem afastado e com espaço para eu me soltar.

— Cristal, se afaste um pouco. Pode ser perigoso — ordenei e ela saltou rapidamente para um árvore distante.

Puxei minha nova lança a senti todo o seu poder. O mana quente crepitava dentro do cabo de madeira, ressoando com o meu próprio mana. Eles pacificamente se uniam com o meu fluxo de mana.

Com um bater do meu coração, senti que estávamos sincronizados. Ela era realmente uma lança diferente.

Minhas mãos agarraram firmemente o cabo e cortei horizontalmente, gritando:

— Suspiro da Ventania! — A lança soltou um assovio, como se quebrasse o ar e um vento poderoso fez meus cabelos voarem para trás. 

Se eu não tivesse bem posicionado, talvez também fosse jogado para trás pelo coice da magia. Parei de prestar atenção nisso quando o barulho alto ressoou.

— Incrível... — O corte do suspiro da ventania havia rasgado literalmente um pedaço da floresta. Cortou mais de seis árvores que formavam uma parede e deixou marcas profundas nas árvores da parte detrás.

— Por isso os jogadores eram tão obcecados por armas poderosas... — Aquele era um aumento de poder considerável.

Claro, o coice era algo que eu precisava ter cuidado, mas mais alguns pontos em força e vigor e aquilo não seria mais nada.

Em seguida, usei a outra habilidade. Desta vez não cortei. Coloquei a lança para frente, deixei meu corpo de lado e gritei:

— Grito da Brisa! — A lança e meu braço se moveram praticamente sozinhos em uma barragem de ataques que perfurou a primeira... segunda... terceira... quarta árvore! 

Terminado as dúzias de perfurações, deixei o cabo de madeira cair no chão enquanto meu braço tremia. Ele chegava a estar dormente e e pesado. O coice era menor, mas o efeito colateral chegava a ser pior.

Suspiro da ventania era perfeito para atacar a longa distância um grande número de inimigos. O grito da brisa era bom em distâncias curtas com inimigos enfileirados, ou com um alvo único — o seu poder de perfuração era insano.

Depois daquela demonstração de terror, senti os olhos que me observavam sumiram pouco a pouco. Cristal logo desceu da árvore e ficou ao meu lado sempre de guarda.

— Eu disse que não precisava se preocupar com os covardes. Se quiser assustá-los um pouco, fique a vontade.

Ela acenou com a cabeça e, num piscar de olhos, desapareceu da minha visão, ressurgindo atrás daqueles que nos observavam.

Era um grupo de goblins selvagens abaixados atrás de uma moita. Assim que a viram, tentaram sair correndo, mas um vento frio os pegou desprevenido.

O chão ao redor começou a congelar lentamente indo na direção deles, enquanto tentavam escapar. Um tropeço e um jovem goblin ficou para trás.

Viu o gelo quase alcançar seu corpo e fechou os olhos, esperando a morte, porém ela nunca veio.

— Vamos embora, Cristal. Deixe os pequenos em paz. — Eu apareci para salvá-lo. 

Cristal parou sua investida de gelo e levantou o rabo como se estivesse levantando o nariz, caminhando para o meu lado. O goblin ficou paralisado no chão.

Dei-lhe apenas um olhar vazio e caminhei para o segundo andar. Aquele pequeno espalharia o que aconteceu para os seus companheiros. O objetivo?

Queria que soubessem que eu não iria matá-los indiscriminadamente, mas que também não lhes tratava mais como meus servos. Além disso, lembrar quem mandava era sempre importante. Não queria que tivessem ideias erradas.

Primeiro me mostrei poderoso e depois misericordioso. Estava basicamente formando, modelando, suas mentes aos poucos. Criava uma sútil narrativa em suas cabeças.

Chegando no segundo andar, fui recebido por Kaio que correu na minha direção com algo importante a dizer.

— Mestre, encontrei alguns rastros na floresta.

— Rastros dos coelhos?

— Não, eram pegadas humanoides. Aparentemente duas pessoas, mas há um problema. Também encontrei pegadas de um monstro perseguindo as pegadas menores.

— Hm. Vou investigar. Orates tem experiência nesse tipo de coisa. Chame-o para mim.

— Sim, mestre! — O goblin caçador saiu correndo, retornando rapidamente com o ghoul.

— Orates, vamos partir agora. 

Ele acenou com a cabeça, concordando. Despedi-me do Kaio e partimos apenas nós três para a floresta.  

Do lado de fora, Orates seguiu como um guia. Chegamos ao lugar que Kaio disse ter visto os rastros e o ghoul se abaixou, analisando galhos e folhas quebradas.

Ele então se levantou e apontou para uma direção, indicando o caminho.

— Vamos, Cristal. 



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