Volume 1

Capítulo 13: O Roubo

Estava escuro. Todos seus músculos doíam e latejavam, como se tivesse feito um dia inteiro de exercícios sem descanso algum. Ele estava deitado em uma cama pequena e estreita.

Clinton ergueu o tronco com dificuldade. Não sabia onde estava e suas memórias estavam um tanto nubladas. Era uma sala minúscula, sem decoração, onde havia apenas uma pia, um vaso e a cama onde estava. O chão era liso e cinza, assim como as paredes. Havia uma porta com uma pequena abertura, com celas atravessando de cima para baixo.

Levou a mão ao rosto e notou que estava sem seu óculos. Ele nunca estava sem eles, algo com certeza estava errado. Ao recuar sua mão, ele lembrou.

Lembrou. Ele entrou no escritório do detetive e foi imediatamente alvejado. Por quê? Ele não sabia. Mas, por incrível que pareça, isso era o de menos. Ele tinha que informar alguém sobre o que descobriu. Qualquer um.

Levantou-se da cama cambaleando, ele não sentia os pés descalços tocando o chão gelado, a dor estava sobrepondo tudo. Em passos difíceis, Clinton conseguiu chegar até a porta. Não pensou duas vezes ao juntar suas forças para gritar para o corredor vazio:

— O Medalhão de Alícia será roubado HOJE!

*

A noite estava fria e o céu limpo, permitindo que a lua brilhasse com tudo que tinha. O estacionamento do Governo — que ficava ao lado do condomínio Blozheiss — estava quase vazio, já que era tarde. Lá, encontrava-se apenas a Tropa de Proteção e Segurança e alguns carros. Todos vestiam um uniforme preto e calças imponentes com um cinto bege. Os integrantes estavam em formação, três fileiras de quatro pessoas, e o líder Herman à frente deles, discursando.

— Logo o furgão vai chegar. Lembrando: quatro em cada carro, vocês vão seguí-lo até o destino. Eu vou de passageiro no furgão. — Virou-se para os carros. — Temos que lançar os símbolos de proteção.

— Posso fazer as honras? — perguntou Loreley, que estava mais à esquerda na primeira fileira, o lugar do vice-líder.

— Não dessa vez, Loreley. Os meus são mais poderosos. — Herman começou a desenhar símbolos de cores amarelas. — Um mero deslize pode causar problemas.

Merda. Uma parte do plano foi por água abaixo. Loreley tinha que lançá-los para poder desfazê-los a qualquer momento. Agora, terá que usar a segunda estratégia.

— Tá — disse ela, claramente emburrada. Não era comportamento suspeito, Loreley sempre ficava chateada quando a privavam de suas vontades.

Assim que Herman terminou de lançar o último símbolo, o som do furgão se aproximando pôde ser ouvido por todos ali. Cada equipe foi para o seu respectivo carro, dois na frente e dois atrás. Loreley estava no volante.

— Harold, ajeita o espelho desse lado aí pra mim — disse ela, descontraída. Os outros três estampavam ansiedade em seus rostos.

— É Ronald — corrigiu o homem do assento ao lado ao mesmo tempo que cumpria o pedido de Loreley.

— Não lembro o nome de nenhum de vocês — comentou ela. Ao ver que o espelho estava utilizável, virou-se para frente, observando ao fundo o farol do furgão se aproximando.

Quando o veículo chegou e parou, Herman foi ao lado do motorista. Era um veículo largo e extremamente robusto. O contêiner atrás era completamente feito de aço.

Estava ali. O Necronomicon, o Medalhão e outras relíquias lendárias. Loreley nem acreditava que ia roubá-lo. Nunca imaginou que infringiria a lei a este ponto. Tudo dará certo, tudo dará certo.

Os quatro carros começaram a escoltar o furgão por trás.

*

— Até quando vamos ter que esperar?

Juliette estava com os olhos caídos — não era nem um pouco comum ficar acordada até tão tarde. Encontrava-se sentada na calçada do viaduto que estava vazio e silencioso. Ao lado dela, estavam Valentim e Mármore, também sentados.

O viaduto era largo e sofisticado. Estava passando por reformas, havia blocos de concreto e tijolos por todo lugar. Poeira da obra cobria inteiramente o local.

— Vá se esconder — disse Valentim à Juliette. — Você que quis assistir. Não reclame.

— Já são 04:00. Loreley deve estar próxima — comentou Mármore, levantando-se para espiar a rua de várias mãos abaixo do viaduto. Também estava vazia.

— Por que você não coloca a sua outra parte para dormir? — perguntou Valentim.

— Não consigo. É tanta emoção… Ela tá lá na cama, olhando pro teto. — Juliette bocejou.

— Tá, chega. Vá se esconder — repetiu Valentim. — Lembre-se, fique abaixada dentro do carro de Loreley. Mesmo invisível, ainda pode dar algo errado.

Juliette reclamou algo irreconhecível e foi cambaleando até seu esconderijo.

Valentim apoiou a cabeça no concreto. Hoje é o dia em que ele roubará o Medalhão, não pôde negar que se sentia um tanto ansioso, por mais que reprimiu fortemente esse sentimento. Olhou para Mármore. Estava calmo, como se fosse um dia qualquer. Sempre foi assim, desde a época de Tressmol.

— Vou começar a desenhar o símbolo. — Mármore se levantou, indo à calçada oposta. Iniciou o desenho de algo muito grande em uma coloração esverdeada.

*

Loreley espiava constantemente os retrovisores. Faltava menos de cinco minutos até chegarem no local da emboscada. Era hora de começar a pôr o plano B em prática. Uma mão estava no volante e a outra pairando um pouco acima da marcha. Com esta, começou a desenhar um símbolo.

— O que está fazendo? — perguntou a pessoa logo atrás dela, e Loreley percebeu que já tinha esquecido seu nome.

— Um símbolo.

— Sim, mas por quê?

Vathypno — respondeu ela bruscamente. — É um símbolo didático.

Didático? — O homem pareceu terrivelmente confuso. — Aquele que as pessoas precisam saber o que faz para funcionar?

— Isso aí — comentou ela, terminando de desenhar o símbolo azul-claro. — Esse faz até quatro pessoas próximas a mim caírem num sono profundo por um tempo.

Os outros três integrantes do carro se entreolharam, mas já era tarde. O símbolo circular que estava flutuando disparou três linhas como se fossem balas, atingindo abaixo do queixo de cada um. O trio instantaneamente adormeceu.

— Ufa. — Loreley soou extremamente aliviada enquanto enxugava o suor da testa. — Agora, os símbolos de proteção.

Loreley passou os próximos quatro minutos desenhando um símbolo complexo — dirigir e desenhar não era fácil, ainda mais quando se tratava de um símbolo proibido.

As linhas azuis que o formavam estavam trêmulas e de vez em quando piscavam em preto. Símbolos proibidos eram muito instáveis e, mesmo que fosse desenhado corretamente, havia uma pequena chance de que ele falhasse, mudasse o efeito ou, no pior dos casos, ferisse ou matasse Loreley.

Mas estava tudo bem. Confiava nas suas próprias habilidades. O viaduto estava ao fundo, quanto mais se aproximava, mais seu coração batia e sua respiração ficava irregular. Assim que o símbolo fizesse efeito, Herman saberia que todas suas barreiras protetivas foram desfeitas. Tinha que ser no momento certo.

A mão de Loreley tremia levemente sobre o símbolo e os postes de luz iluminavam ela periodicamente. Segundos antes de chegar, ela ativou o símbolo. Ele brilhou, ficou negro e se desfez em fumaça. Todos os símbolos protetivos foram desfeitos.

Valentim viu os cinco veículos saírem da invisibilidade como fumaça se desmanchando. Depois de um sorriso de empolgação, gritou à Mármore:

— Agora!

O moreno fez um movimento rápido com a mão direita, fazendo o símbolo entrar em ação. Uma grande onda verde, parecida com um mini tsunami, se formou metros à frente da rua abaixo. Todos os carros frearam com força um pouco depois do viaduto, mas era tarde demais. A onda atravessou-os como materiais intangíveis e todos os motores se desligaram.

— Não esqueça do símbolo de disfarce — disse Valentim, passando por Mármore. Ele vestia uma máscara macabra vermelha com círculos brancos. Mármore fez o mesmo.

Em baixo, os defensores do furgão saíam atordoados de seus veículos. Ao ver isso, Valentim virou-se indignado para Mármore.

— Desculpe… acho que o símbolo não deu totalmente certo. Só acabou com os motores, mas as portas…

O ruivo manteve-se calado. Já não bastava terem que usar o plano B, ainda tinham que lidar com uma incompetência dessas. Em uma fração de segundo, Valentim atingiu um homem que saía de um dos veículos com um símbolo. Ele caiu desmaiado de volta no banco.

Herman sabia o que estava acontecendo. Algo desfez seus símbolos de proteção e a onda fez a maioria dos dispositivos mecânicos pararem de funcionar. Não importava o quanto ele apertasse o botão do cinto, ele continuava lá. Olhando pela janela, viu o carro de Loreley ao lado. Os quatro estavam desacordados, mas por quê? 

Ficou aliviado ao ouvir símbolos serem lançados. Eram como faíscas de fogos de artifício. Isso queria dizer que apenas o furgão estava com problema no cinto, a onda deve ter se enfraquecido depois de passar por ele. Ainda assim, ele teria que sair dali de algum jeito. O motorista do furgão estava desesperado, também tentando soltar o cinto.

Os dois no viaduto estavam até se divertindo — essa parte do plano estava sendo melhor do que o esperado. A vantagem do terreno elevado era majestosa, o que tornava quase impossível de serem atingidos. Periodicamente a dupla lançava símbolos e estavam derrotando os adversários com certa facilidade.

Num estrondo, a porta do furgão decolou para muito alto e longe. O som repentino fez a batalha pausar por um certo instante. Loreley, que estava próxima, espiou. Uma fumaça negra flutuava pelo buraco aberto do furgão. Dali saiu Herman, avaliando a situação.

Valentim lançou símbolos repetidamente na direção do líder da tropa, o que se mostrou ineficaz. Herman os redirecionou como se fossem simples galhos de árvores.

— Quando se trata de uma escolta tão importante — disse Herman,  andando para a frente, estalando o pescoço enquanto desenhava um símbolo com a mão abaixada —, não devem se segurar.

Ele fez um movimento como se estivesse jogando uma bola de beisebol. Valentim e Mármore se abaixaram, se protegendo atrás da estrutura de concreto e esperaram pelo impacto.

De baixo, Herman, Loreley e os poucos integrantes ainda acordados da tropa viram o símbolo grudar no viaduto. A garota que fingia estar inconsciente sentiu um banho de água fria e, se pudesse gritar, faria-o sem hesitar.

Tique-toque. — Herman imitou o som que o símbolo fez.

Assim que Valentim ouviu o tiquetaquear, sentiu um aperto enorme no peito. A parte em que estavam no viaduto explodiu como dinamite.

Tudo ficou branco e um som estridente invadiu a cabeça de todos ali. Os escombros caíram na rua e muita poeira cinza levantou. Depois que o momento passou e o sons cessaram, nenhum movimento foi visto nos concretos.

— Feito — disse Herman. Virou-se quando notou a porta do carro de Loreley se abrindo.

O olhar da garota era desesperador. Algo que apenas uma pessoa que está prestes a experienciar a morte teria. Seus olhos estavam vazios, encarando fixamente a pilha de concreto. A respiração irregular e barulhenta de Loreley chamou a atenção de todos ali.

— Loreley. — Herman foi se aproximando dela lentamente. — Já cuidei de tudo. Não tem porque–  

A fala do líder foi interrompida por um bloco de concreto quebrando com força na cabeça dele, fazendo-o cair desacordado no chão.

Loreley olhou para Herman no chão e não sentiu nada. Nem alívio, nem satisfação, nada. Ela sabia que o bloco foi lançado por alguém e, ao virar o olhar lentamente para o acostamento, viu Juliette, com o símbolo que fez o concreto acertar Herman pairando sobre as pequenas mãos da menina. Era branco como seu vestido.

Um símbolo branco. É algo tão raro que a deixou pasma, esquecendo por um instante tudo que aconteceu ali. Pessoas verdadeiramente puras têm a cor de seus símbolos branca, assim como verdadeiramente cruéis têm símbolos negros.

No acostamento, Juliette dava pulinhos, sinalizando algo. Apontava várias e várias vezes para os três integrantes da tropa ainda de pé, que tentavam entender o que aconteceu ali.

Depois de ficar paralisada com tantos acontecimentos, Loreley voltou a si. Voltou a observar os últimos defensores restantes terrivelmente séria. Lançou um símbolo no peito de cada um numa velocidade que os olhos da Juliette não conseguiram acompanhar. O primeiro girou no ar e caiu no chão completamente contorcido. O segundo virou um sapo azul. Uma porta espectral azulada se abriu atrás do terceiro, criando um vácuo que o sugou para dentro e desapareceu em fumaça em seguida.

Com todos os obstáculos removidos, Loreley correu na direção dos escombros. Havia muitas pedras de concreto empilhadas, assim como uma enorme nuvem de poeira. Chegando lá, ficou imóvel. Não sabia o que fazer, e se soubesse, não saberia como começar. O sentimento de vazio começou a preenchê-la novamente, sentiu um enorme peso nos ombros ao mesmo tempo que a fraqueza tomou conta de seus braços.

Foi nesse momento que viu um braço esticado por baixo de uma das pedras. Juliette, que parecia já ter notado, tentou mover o escombro. Sua ajuda foi suficiente para Valentim dar um impulso final no pedregulho que estava tentando empurrar há tempos. 

— Valentim! — gritou Loreley, indo ajudá-lo. Ele estava sujo, repleto de poeira. Sangue escorria pela cabeça e braços, mas parecia que não era nada grave.

O ruivo se afastou dos escombros e respirou fundo. Sua cabeça latejava e sentia uma dor absurda no ombro direito. Deslocado, pensou antes de se levantar com dificuldade. Olhou em volta e viu o furgão lá, esperando para ser aberto. Foi caminhando em sua direção em passos lentos.

— Valentim! — clamou Loreley, abominando o andar do ruivo. — Por favor… Meu marido…

Ele parou. Ficou estático por alguns segundos, pensando. Sangue pingava do queixo. Olhou diretamente para Loreley, ela tinha uma expressão de desistência, mas com uma linha de esperança.

Valentim se aproximou da Loreley ajoelhada e a pegou pelo braço, obrigando-a seguí-lo até o furgão. Juliette não teve escolha senão ir atrás.

— Me solta! Ele está lá! — disse Loreley, se debatendo para se soltar. — Ele está lá!

— Mármore está morto, Loreley. Ninguém sobrevive ao ser esmagado por toneladas de concreto.

Você sobreviveu!

— Eu tive muita sorte! Mesmo se fôssemos procurá-lo, demoraria muito para prepararmos um símbolo para isso. Não temos tempo.

Os olhos dela inundaram-se de lágrimas e começou a soluçar em choro. Para surpresa de Valentim, notou que a pequena menina também chorava. Mesmo que tivesse as memórias da mãe, não passava de uma criança.

Loreley lançou pedidos de desculpas na direção da pilha várias e várias vezes enquanto o ruivo levava-a até o furgão, passando pelas várias pessoas inconscientes. Chegando na porta traseira do veículo, Valentim abriu-o com um símbolo que explodiu a maçaneta.

Lá estavam eles. Cada item estava dentro de um baú metálico que parecia pesado e provavelmente enfeitiçado. Situavam-se em prateleiras também de metal, não tinham fechadura e eram completamente lisos. Letras estavam cravadas neles, Valentim adentrou o furgão e passou o olhar, parando-o ao ver as iniciais:
M.D.A.

Loreley, ainda choramingando, fez o mesmo. Segurou em suas mãos a caixa com as iniciais do Necronomicon.

Juliette, curiosa, escalou com dificuldade para ficar lá com eles. Os dois tinham caixas em mãos.

Se não fosse essa maldita caixa Valentim teria o Medalhão e todo seu poder. Como abriria a caixa? Não poderia lançar um símbolo nela dentro do furgão, seria perigoso demais. Em passos fortes, ele foi em direção à saída do veículo para tentar abrir o baú com mais calma, contudo, bateu a cabeça numa parede invisível onde antes era a porta do furgão.

Ele pôs as mãos para ter certeza. Estavam presos. Parece que o símbolo que Loreley lançou para desfazer todos os encantamentos não era forte o suficiente para passar por esse.

— Incrível, não é? Acho que não existe símbolo no mundo que desfaça este.

Era Herman. Sangue escorria e de sua cabeça e tinha visível dificuldade para manter-se de pé. Ele desdenhava os três do lado de fora do furgão.

Juliette correu para trás de Loreley para se esconder enquanto Valentim encarava Herman.

— Maldito Schulze. Nunca fui com sua cara, nem com a do seu pai. 

Valentim levou a mão ao rosto. Estava sem a máscara. O efeito deve ter acabado com a queda que sofreu.

— Ninguém imaginava também que não era uma única pessoa, mas quatro — disse Herman, olhando para a pilha de escombros. — Uma delas sendo minha subordinada e a outra uma criança. Quem é você?

Loreley puxou Juliette para ainda mais atrás dela, protegendo-a de Herman. Ainda bem que não a identificou, pensou Loreley.

— De qualquer forma, acabou — impôs ele. — Já chamei as autoridades, estarão aqui em um piscar de olhos. É impossível vocês saírem deste lugar.

Valentim se distanciou e lançou símbolos contra a parede invisível e contra outras partes do furgão. Não fez efeito algum.

A Caixa de Pandora — disse o ruivo. — É um símbolo didático. Vocês apostaram que se tratava de alguém poderoso o suficiente para conhecê-la.

— Admiro que não nos subestimaram — comentou Loreley, e olhou para Juliette. — Você sabe o que faz, queridinha?

Juliette assentiu.

— Mamãe sabia.

— A caixa protege contra os males. Como nós somos ladrões, é especificamente forte contra nós — explicou Valentim. — Mas, tem uma falha.

Loreley e Herman viraram-se para Valentim, surpresos.

— Portal, Loreley. É a única saída.

Herman gargalhou.

— Você não está em estado de passar por um portal. Está ferido, carregando peso — olhou para o baú — e com uma criança. Ela não suportaria um portal. E, caso você tenha a sorte de sair vivo, iríamos te rastrear. Acabou. É a sua morte ou a sua prisão.

— Não acredito em sorte — disse Valentim. — Eu e Loreley somos os melhores desenhistas desse país.

O ruivo começou a desenhar um símbolo no ar.

— Valentim, eu…

— Eu sei que está pior do que eu — disse Valentim à Loreley — Um ferimento não é nada comparado ao está sentindo. Mesmo assim, você consegue. Deixe que eu levo a criança.

— Não podem estar falando sério. Vocês morrerão — disse Herman.

Loreley e Valentim ficaram lado a lado, protegendo a identidade de Juliette. Ambos desenharam o símbolo de portal e eles brilhavam graciosamente, iluminando o interior do furgão.

— Vou primeiro — disse Loreley,  aproximando seus lábios do ouvido de Valentim para sussurrar. — A floresta de Tressmol. — E beijou a bochecha do ruivo.

Ela respirou fundo, segurou a caixa do Necronomicon com força e fechou os olhos. Ela desapareceu em uma explosão de luz.

— Segure-se em mim. 

Juliette abraçou o ruivo por trás. Ele sentiu as pequenas e frágeis mãos dela tremerem.

— Eu menti — disse Valentim, segurando a caixa metálica embaixo de sua axila. — Sou muito melhor que Loreley.

O grande símbolo à frente girou como uma roda e brilhou, brilhou muito. Valentim sentiu seu cérebro virando do avesso no momento que ativou o portal.

Uma segunda explosão de luz aconteceu. Herman protegeu-se da claridade com a mão e, quando acabou, espiou dentro do furgão.

Lá, não havia ninguém. Contudo, no chão jaziam dois itens. O baú com as iniciais do Medalhão e o braço decepado de Valentim.



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