Volume 1

Capítulo 4

Ao entardecer, o escritório do Grão-Duque do Norte tinha se transformado em uma verdadeira festa de parque de diversões do Cajuí… ou, mais sucintamente, um festim de hamsters.

E então, quem será o próximo a dar uma volta na Roda Gigante? Em um piscar de olhos, você será levado até o topo. Entre já e aproveite uma vista gratuita do escritório do Grão-Duque do Norte!

Oportunidades como essa não aparecem duas vezes. Também tocamos música de discoteca… Ah, espere aí, então não seria mais um Disco Pang Pang¹? Que seja, anda logo e entre. Seja bem-vindo à mágica terra de Cajulândia.

Em meio ao silêncio, sem pensar muito, balancei a cabeça e girei a roda com a mão.

*Clatter, clatter.*

No começo, a roda estava tão pesada que mal se movia, mas, assim que ganhou impulso, passou a girar em uma velocidade alucinante.

Girar com minha mão ainda conta como correr, né? Era para contar, não? Isso são pés também – pés dianteiros.

[ㄟ(˘ o ˘)ノ]

…Girar com a minha mão ainda conta… não conta?

Não, só olhe para estas mãos pequenas e frágeis. Sua desgraça de sistema sem coração. Se eu tentar correr nisso com minhas pernas, vou acabar tendo uma morte precoce!

Ei, com licença, senhor sistema?

Você aí, não está me ouvindo não?

[0003/1000]

Pera, é sério que você não está contando uma rotação sequer?

[Este é um sistema metódico ꉂꉂ(ᵔᗜᵔ*)]

Ah…

Comecei a girar a roda com mais força, quase a agredindo. Mesmo com os estouros que parecia que ia quebrar, minha frustração não diminuiu nem um pouco.

Essa maldita Roda Gigante — ou melhor, essa maldita roda. Quanto tempo será que leva para completar mil voltas? Será que esse sistema não pode fazer vista grossa e deixar passar um deslize, não?

Não. Isso era tudo culpa do Kyle. Quem é o gênio que compra uma roda de corrida sem pensar no tamanho do hamster de estimação? Olha só o tamanho dessa monstruosidade, é grande o suficiente para um porquinho da índia correr confortavelmente!

Esta vida de merda! Esta infeliz existência de roedor!

Eu estava descarregando minha frustração havia sabe-se lá quanto tempo, quando, de repente, um clique – a porta se abriu sem que ninguém batesse. Naturalmente, era o proprietário, Kyle, quem entrava.

Espere, o que é isso, um vilarejo do interior? Ele já terminou de patrulhar todo o território em tão pouco tempo? Isso não faz sentido. Nem passou metade do dia ainda…

Ah. É. Eu tirei um cochilo.

Kyle Jane Meinhardt aproximou-se da casa de hamster com uma presença imponente. Seu andar não era nada menos do que o esperado de um governante do Norte.

E suas vestimentas? Um manto grosso para bloquear os ventos gelados, uma armadura de ferro e couro, e botas até os joelhos – perfeitas para caminhar pelos terrenos nevados.

Tudo nele harmonizava de tal forma que chegava a tirar o fôlego, como se o próprio inverno o tivesse esculpido — uma beleza austera e melancólica.

— Cajuí?

Ele me chamou em um tom confuso.

Fazia sentido que estivesse confuso. Ao voltar, a primeira coisa que viu foi a roda girando vazia e o hamster sumido. Bem, não exatamente sumido — eu apenas tinha me recolhido ao meu pequeno esconderijo.

— Posso ver seu bumbum.

…Sério mesmo. Não é à toa que a casa parecia meio pequena.

Envergonhado, rastejei para fora do esconderijo timidamente.

— Tudo o que eu mais queria era passar um tempo com você agora... mas, infelizmente, tenho uma montanha de documentos para analisar hoje.

— Squeak. (Eu não queria não.)

— Sim, isso também parte o meu coração.

— Squeaaak. (Mas não o meu. Pare com esta projeção.)

Coração partido meu cu. Espero que você use seu tempo sozinho para se aperfeiçoar e se tornar um Grão-Duque ainda mais digno. Pare de destruir sua dignidade com beijos e demonstrações exageradas de afeto.

Kyle me lançou um olhar que praticamente gritava sua vontade de me puxar e me sufocar de beijinhos. No entanto, parecia que ele não estava mentindo sobre estar ocupado. Em vez de agir de acordo com seus desejos, ele simplesmente suspirou e sentou-se à mesa, embora seu olhar continuasse queimando.

Bem, é. Não é como se os títulos fossem distribuídos só porque alguém maneja bem uma espada.

Se fosse assim, o trono imperial não seria herdado, mas disputado em duelos. Goste ou não, administrar um domínio envolve lidar com muita papelada entediante. É, ganhar a vida nunca é simples, não importa onde você esteja.

…Ainda sim, é um pouco cativante. Essa ética de trabalho.

Acomodei-me na cama de aparas de madeira, observando Kyle.

Ele estava diligentemente organizando algo dentre os rolos de pergaminho. Não conseguia ver sua letra daquela distância, mas tinha a sensação de que seria impecável.

Ele trabalhava tão intensamente que era como se ele tivesse se esquecido completamente da minha existência.

Até um cara com apenas um mês de vida está trabalhando duro assim… 

Bem, não que ele tivesse a mínima ideia de que sua vida chegaria ao fim tão rápido.

Esfreguei os joelhos e me levantei. Por algum motivo, sentia como se tivesse que fazer alguma coisa.

…Não porque eu não tinha nada melhor para fazer depois de uma noite de sono completo e uma soneca, claro.

Beleza, se preciso correr mil voltas, é melhor acabar logo com isso! Afinal, que tipo de pessoas somos? Coreanos — agilidade é com a gente mesmo!

Resolvi executar minha “estratégia definitiva de conclusão relâmpago”.

E como seria possível terminar rapidamente? Bem, para um desenvolvedor, a resposta é simples... virando a noite.

Programadores são criaturas da noite. Bora se esforçar até o fim, como no Farol de Pangyo²!

[É uma ótima ideia! (*´╰╯`๓)]

Não sorria. Isso não vai ajudar na sua reputação.

[(ᗒᗣᗕ)՞]

Soltei um longo suspiro e subi na roda de corrida. Reunindo o pouco de força que me restava, comecei a correr naquela imensa roda-gigante, usando todos os quatro membros.

Tinha sido uma bagunça bêbada antes, mas nunca havia experimentado ser um hamster correndo em uma roda antes… Bem, pelo menos ambos envolviam a posse de quatro patas, então isso já era alguma coisa.

*Dududuk.*

Após algumas voltas, comecei a pegar o espírito da coisa.

Com base em minha tentativa anterior, percebi que, em vez de tentar começar acelerando, era mais fácil deixar meu corpo seguir o impulso natural da roda – atingindo um ritmo decente. A roda era mais pesada do que o esperado, e empurrá-la com meus pés não era uma tarefa fácil.

*Dududuk. Crunch, crunch. Dadadak. Crunch, crunch. Tudadadak. Crunch, crunch. Drrrrk.*

*Paf.*

…Ah. Eu caí.

Deitado largado no chão, olhei cautelosamente para o lado.

…Ele não viu isso, né?

Parecia que não. Kyle continuava folheando seus relatórios com uma expressão séria; ou sua concentração era impressionante, ou ele simplesmente não se importava.

— …Pronto.

Após algumas horas, Kyle finalmente se levantou, fazendo seu pescoço rígido estalar enquanto o alongava.

Naquele ponto, eu estava tão exausto que sentia um gosto amargo na boca. Se eu não quisesse me esforçar até a morte, precisava de uma pausa.

 

[0213/1000]

 

Tá. Só uma pequena pausa. Assim que esse cara for para o quarto dele, eu fico e faço uma força para terminar tudo até o amanhecer.

*Clack.*

Bem então, o telhado da casinha de hamster se abriu.

Que seja. Faça o que quiser. Ele só vai me dar uma chuva de carinho antes de ir dormir. Depois disso, vou continuar correndo, alcançar as mil voltas, recuperar minha forma humana, escapar desse destino de hamster de estimação e partir para a próxima missão.

Um plano infalível – assumindo que eu consiga sobreviver às outras setecentas e tantas voltas.

— Então, eu estarei tomando isso.

…Hã? Pera aí.

Ei! Minha roda de corrida!

Instintivamente, me agarrei à roda. Você faz ideia do tanto de esforço que essa coisa exigiu? Você ignorou por todo esse tempo, e agora, de repente, se importa?

Eu a agarrei com força usando minhas pequenas patas dianteiras, mas Kyle não se importou. Ele simplesmente puxou a roda para fora da casinha sem esforço, enquanto me segurava cuidadosamente com a outra mão, e me tirou da roda sem qualquer dificuldade.

— Squeak squeak squeak squeak! (Seu ladrão da desgraça!)

— Eu sei que você se apegou a ela, Cajuí, mas já deu. Me preocupa que você possa acabar danificando as articulações do joelho.

— Squeak! Squeak squeak! (Você nunca viu um hamster correr numa roda na vida?!)

— É, é. Eu sei que está frustrado. Mas é pela sua saúde, então tente não levar para o coração.

Kyle colocou a roda bem fora do meu alcance e, em seguida, depositou um beijo na minha barriga.

Respondi com uma sequência de chutes furiosos em sua bochecha antes de chamar pelo sistema freneticamente.

Ei! Fala sério, isso não vale! Como poderei concluir a missão sem a roda?!

[Torne-se um hamster proativo! (•̀ᴗ•́)و]

Cerrei meus pequenos punhos, sentindo o sangue ferver. Se o sistema tivesse uma forma física, eu teria metido um soco bem na fuça dele.

O quê? Um hamster proativo? Você quer falar sobre proatividade enquanto estou preso aqui, sendo beijado à força pelo Grão-Duque do Norte?!

Se é assim, por que não me deixou reencarnar como uma besta mágica de verdade, então? Porra, até possuir a Serena teria sido um destino melhor do que este. Ela tinha seus problemas, claro, mas ao menos não era um animal incapaz de se comunicar!

Direitos humanos.

Devolva meus direitos humanos, esse mundo de merda!

— Você deve estar com fome. Depois de toda essa correria, é natural se sentir faminto.

E agora ele achava que a minha frustração não era nada mais do que uma birra infantil causada pela fome.

Ainda soltando fogo pelas ventas, fui até a parede de vidro transparente e me encostei nela.

Kyle abriu uma gaveta ao lado da porta, pegou algo lá de dentro e me estendeu — era uma noz macadâmia.

— Para você.

Sua voz era tão gentil, qualquer um acharia que ele estava falando com seu par romântico.

Estendi minhas pequenas mãos e agarrei seus dedos com força — não para comer a macadâmia, mas para cravar meus dentes em sua mão.

Nesse instante, uma nova janela do sistema apareceu diante dos meus olhos.

 

[Além do mais, sou um humano, não um hamster. Não faço coisas bárbaras como sair mordendo tudo o que vejo pela frente.]

 

Isso foi algo que eu disse para o sistema uma vez.

Sim. Isso foi há muito tempo. Mas este Baek Soo-hyun morreu ontem.

Eu, o recém-renascido Baek Soo-hyun, agora mordo as pessoas.

Na minha idade, carne é preferível a nozes.

Além do mais, isso não era karma? Se não quer ser mordido, então não faça nada para merecer.

— Seus dentes devem estar coçando.

Ao contrário do que eu esperava, Kyle permaneceu completamente inabalado. Em vez de reagir à dor, ele simplesmente me levantou calmamente pelas nádegas e começou a me examinar com um olhar preocupado.

Ei, tá olhando o quê?

Para. Não levante a minha bunda desse jeito.

Só devolva a minha roda de corrida!

— Seja bonzinho e brinque tranquilamente.

Com isso, ele me deixou na casinha e voltou para o seu quarto.

*Click.*

As luzes do escritório se apagaram, mergulhando a sala em silêncio absoluto.

Desabei sobre as aparas de madeira e bati no chão.

Minha roda…!

Sério, que dia fantástico.

 


Notas:

1 – Uma atração de parque na Coreia. Um disco que toca música e fica rodando, inclinando de um lado para o outro e saltando. Não tem cinto de segurança e as pessoas que controlam geralmente tentam envergonhar as pessoas sentadas (tentando juntar pessoas, etc) 

2 – Um termo usado na Coreia que faz alusão a como as luzes dos prédios de escritórios nunca se desligam por causa das horas extras de trabalho.

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