Volume 2
Capítulo 28
Balfallne: Zirel
Corro ofegante, meu coração batendo como um tambor selvagem no peito, enquanto meus pés afundam na neve fofa da floresta. A cada passo, minha respiração se transforma em pequenas nuvens de vapor, dissolvendo-se rapidamente no ar gélido. O ambiente ao meu redor é uma visão branca e congelante, com os pinheiros pesadamente cobertos de neve, parecendo sentinelas petrificadas em meio a uma tempestade de inverno.
A floresta está silenciosa, exceto pelo som abafado dos meus passos e minha própria respiração ofegante. Meus olhos, lacrimejando com o frio cortante, esquadrinham a paisagem nevada em busca de qualquer sinal das pegadas deles.
O que faço? O que eu faço? Preciso chegar a tempo antes que aconteça algo. O clã Menax vem nos provocando a anos, então porque agora decidiu agir em um momento tão delicado para Balfallne? Se aquele rei de merda souber que pode estar acontecendo uma guerra entre clãs na sua fronteira, aquele desgraçado pode querer tomar isso como uma vantagem para conseguir estas terras… Preciso chegar a tempo custe o que custar!
Finalmente, de longe meus olhos se fixam nas tochas que estão cravadas no chão, lançando uma luz sombria sobre o gigantesco muro de pedra à minha frente. À sua sombra, vislumbro alguns homens com espadas penduradas em seus ombros, prontos para a batalha. E ali, à minha frente, estão os homens de Glakaroth, aguardando do lado de fora. Um deles olha para trás com o barulho dos meus passos pesados sobre a neve.
— Jovem lider? O que está fazendo aqui? — Alde, o braço direito de meu pai. Ele é forte como sua própria aparência condiz em dizer, com o cabelo raspado e uma barba parruda que cobre seu rosto.
— Onde está meu pai? — digo ofegante, com as mãos apoiadas nos meus joelhos.
— Está lá dentro. — Sua expressão séria me diz que eles ainda não chegaram a um acordo. — Aparentemente não estão conseguindo chegar a um consenso.
Isso é péssimo, o temperamento de meu pai não é um dos mais ideias para se negociar.
— Finalmente te alcancei — diz uma voz cansada vinda de trás. — Como vão as coisas? Haah, haah… Perdi o fôlego.
— Quem é você? — pergunta Alde.
— Esse é D.
— É um prazer — D. se apresenta formalmente, enquanto recupera o fôlego. — Será que posso entrar?
— Óbvio que não! — responde um dos homens guardando a entrada. Ele se aproxima de nós. — O que um forasteiro faz aqui? Trouxe reforços caso haja algum confronto entre os dois clãs? — Ele fica sério, com os punhos cerrados.
— Eu? Reforço? Não, não. Acho que houve um mal entendido. — Pela primeira vez, vejo o olhar sério de D. — Vocês não teriam chance se eu fosse o reforço deles. — Ele ri.
— Como é seu desgraçado?
— D., não piore as coisas. Não pode haver um confronto entre nós, ainda mais quando o rei de Belker está querendo invadir essas terras querendo nos dominar.
— Rei de Belker? Aquele gordo que só sabe comer o dia inteiro?
— Esse… mesmo. — Nunca pensei em ver alguém que parece ser tão cordial dizer algo assim sobre um rei.
— Rhun, nesse caso é só eu acabar com ele para vocês, não? — pergunta calmamente, em um tom debochado.
— Por favor, não faça isso.
— Esse cara já está me irritando — diz o homem retirando a espada presa nos ombros. — Eu vou te fatiar por inteiro seu desgraçado.
— Eu não faria isso. — D. pega o grimório do bolso preso na perna direita. — Nunca te disseram que quando saca uma espada… deve estar preparado para as consequências?
— O que está havendo aqui fora? — Uma voz aguda surge em meio à algazarra. É meu pai.
Ele surge à nossa frente, sem camisa, vestindo apenas uma calça de couro justo e uma bota robusta. Seu corpo é uma figura musculosa e repleta de cicatrizes. Seu cabelo longo e branco, como uma cascata de fios prateados, desce pelas costas e termina em uma enorme trança que repousa sobre seu peito. Seus olhos azuis são como pedras de gelo, cristalizados e penetrantes, capazes de transparecer uma hostilidade que corta como uma lâmina. Abaixo do queixo, uma barba branca e longa se estende com um aspecto áspero. Ele é a personificação da força e da ferocidade em nosso clã.
— Quem é você?
— Eu sou… o líder da ZERO. Me chamo D.
— ZERO? — Os homens em volta aparentam conhecer este nome.
— O que um mercenário quer por aqui?
— Um mercenário? Nós não somos nada disso.
— Nós? — Fico confuso. Se ele é um líder, porque está aqui sozinho?
— Eu vim visitar meu antigo lar. — Ele guarda o grimório e vira o olhar para o topo de uma montanha. — Vim visitar o antigo lar dos Dikhars.
— Você… está me dizendo que é um sobrevivente da família Dikhar? — Meu pai parece surpreso.
— Acredito que eu seja o único, líder dos Glakaroth.
— Pai, mais importante…
— Decidimos formar uma aliança entre clãs.
Todos ficam surpresos. Não é de se espantar. Os Glakaroth e os Menax não se dão bem a gerações, e desde que me entendo por gente as pessoas à minha volta sempre me coagiram a ter ódio deles sem eu entender os motivos. Guerras passadas que chegaram a um acordo de território, onde nenhum chega perto demais na parte um do outro, mas os Menax estavam quebrando esse acordo feito pelo meu avô, quando meu pai tinha apenas dez anos. Será que perceberam finalmente que o verdadeiro inimigo não somos nós e sim quem está além da fronteira? Rezo que seja por isso.
— Vamos entrar, explicarei com mais detalhes.
Atentamente, avançamos pela entrada do clã Menax, onde algumas fogueiras dispersas lançam suas sombras dançantes. Os olhares que nos saúdam são carregados de desprezo e hostilidade, mas tenho certeza de que ninguém aqui conhece o verdadeiro motivo por trás desse rancor. Meu pai nos conduz com firmeza em direção a uma construção isolada das demais, erguida sobre pilares e uma sólida base de pedra. O pano que cobre a entrada se agita ao sopro do vento frio da noite, revelando a silhueta de alguém sentado no interior, vislumbrada através do tecido translúcido.
— Finalmente você trouxe eles… Hum, quem é você? Te conheço?
Ali, no interior da estrutura, encontra-se ele, o líder do clã Menax, Roubes Menax. Seus cabelos castanhos, espetados em uma elegante desordem, parecem desafiar a gravidade ao se erguerem em direção ao céu. Sua barba, longa e meticulosamente desenhada, acrescenta uma aura de sofisticação à sua imagem. Os olhos castanhos, perspicazes e ardilosos, observam a gente com uma intensidade que deixa claro seu domínio sobre cada detalhe.
Seu corpo é uma visão de robustez, com músculos imensos que parecem esculpidos em pedra e braços marcados por cicatrizes que contam histórias de confrontos passados. Um charuto repousa arrogante em seus lábios, emitindo uma trilha de fumaça perfumada no ar noturno, enquanto ele ostenta um sorriso que, embora hostil, carrega consigo uma dose de confiança impenetrável. É a personificação da extravagância e da arrogância, uma presença que não passa despercebida.
Ao adentrar, me deparo com uma cena simples. No centro do aposento, um chão de terra dura e seca, moldada ao longo do tempo, adiciona um toque de rusticidade à atmosfera. Uma pequena mesa redonda de madeira se destaca, suas rachaduras são testemunhas do tempo que a esculpiu. Uma cama ampla ocupa o canto. Velas dispersas criam pontos de luz suave, iluminando a habitação acolhedora. Bancos pequenos, despretensiosos, estão jogados de lado.
— Eu sou…
— Quero nem saber. — Ele assopra a fumaça na cara de D. — Minha conversa não tem nada haver com você, cai fora
D. fica em silêncio por alguns segundos, e então, como um estalo de ira contida, vejo um cristal voar em direção ao rosto de Roubes, cortando sua bochecha com uma ferocidade inesperada. O sangue brota instantaneamente, tingindo sua pele morena de vermelho. O olhar sério de Roubes, agora dominado pela ira, permeia o ambiente e a tensão se torna quase palpável. Meu pai, surpreso e atônito com a audácia de D. em realizar tal ato temerário, arregala os olhos diante da reviravolta inesperada. O silêncio que se segue é carregado de hostilidade e incerteza, como uma tempestade prestes a desabar sobre nós a qualquer momento.
— Vejo que se esqueceu de mim, velho — fala D. com um tom sério.
— Claro, como pude esquecer… pirralho. — Rubeus tira o charuto da boca e se inclina para frente, seus olhos percorrendo D. de cima a baixo com uma admiração disfarçada. — Você cresceu, hein.
D.
Roubes Menax, um rosto conhecido de alguns anos atrás. A sete anos, ele me encontrou desmaiado no meio da floresta. Ele me acolheu em seu clã, onde permaneci por alguns dias. Foi nesse refúgio que recebi uma visão profética, vinda de uma mulher de cabelos prateados e olhos dourados. Inicialmente, considerei apenas um devaneio passageiro, mas o sonho insistia, repetindo-se dia após dia. Logo compreendi que era algo a ser levado a sério e decidi retornar ao monte Dikhar, a fim de investigar.
A figura misteriosa revelou que uma relíquia sagrada repousava sob o templo, surpreendentemente guardada sobre um pedestal ornamental. O objeto estava envolto por cristais azuis cintilantes, dispostos em torno de um desenho intrincado entalhado no chão. Foi então que uma voz ecoou em minha mente: "Pegue!"
Ao tocar na relíquia e abri-lo, centenas de milhares de cristais começaram a dançar pelo ar, como se possuíssem vida própria. Ao mesmo tempo, um nome se inscreveu profundamente em minha mente: "Kraykro."
Foi nesse momento que me despedi de Rubeus, determinado a seguir até Kraykro e desvendar o propósito do nome do continente de Kraykro surgir em minha mente. Luke Drakhar... aquele garoto que encarou a morte de frente sem qualquer medo. Acredito que ele tenha sido o motivo de tudo isso, a razão pela qual fui conduzido até aquele local. Sua reação ao ouvir minhas palavras apenas confirmou minhas suspeitas: ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu o encontraria. Ele estava ciente do nosso encontro iminente.
— Conseguiu encontrar o que te designou até Kraykro? Encontrou o que estava procurando? — Rubeus questiona, curioso.
— Acredito que sim. — Guardo o grimório que estava semi-aberto.
— E o que era?
— Um garoto de cinco anos.
— Um garoto? — Ele ri. — Interessante. E onde está… esse garoto?
— Huum… — Desvio meu olhar dos dele, ponderando. — Tenho certeza de que está ficando cada vez mais forte. — Um sorriso de satisfação se desenha em meu rosto. — Mas agora, o que iriam discutir?
— Bom. — O charuto retorna à boca de Rubeus, e ele solta a fumaça no ar. — Possuo homens infiltrados no reino de Barker, e recentemente me informaram que aquele rei está preparando centenas de soldados para marcharem até essa fronteira.
— E você aproveitou o momento no qual o líder do clã Glakaroth veio propor um acordo para fazer uma aliança… Pelo visto, ficou mais esperto — rio.
— Não aceito...
— Está tudo bem. Ele tem permissão para falar assim comigo.
O rei de Barker... Minha família tinha inimigos devido ao seu conhecimento, e a possibilidade dele ter sido um dos mandantes para exterminar os Dikhar é alta.
— Nosso plano é simples. — Pronuncia o líder dos Glakaroth. — Deixar alguns homens em guarda na fronteira e enviar batedores para averiguar três vezes ao dia. — Ele desenha algumas rotas no chão úmido. — Caso notem qualquer avanço, iniciaremos o ataque antes que percebam.
— Gostei do plano, Cryston — Rubeus expressa sua aprovação com tapas empolgados nas costas dele. — Estou pronto para moer geral na porrada. — Ele solta uma gargalhada entusiasmada. — Mas temos um problema. — Seus risos cessam abruptamente. — Me informaram que aquele miserável possui dois heróis ao seu lado.
— O quê? — Fico surpreso. Não faz sentido. Ofereço um banco para Zirel se acomodar, enquanto ele ouve atentamente, assim como os outros. — Você tem certeza disso?
— Meus homens jamais ousariam mentir para mim. — Ele responde com confiança.
— Não pode ser. — Abaixo o rosto, surpreso e preocupado. — Faz cinco anos que fui a Kraykro, e Dream havia invocado quatro heróis.
— Fiquei sabendo, e? Dois deles podem ter vindo para Balfallne e se encontrado com o desgraçado.
— O problema, Rubeus... — Encaro-o firmemente. — ...é que esses quatro eram crianças e agora, neste exato momento, devem ter completado dez anos!
— Está me dizendo que aquele infeliz...
— Se isso for verdade... — Meus olhos varrem as expressões preocupadas ao redor. — O rei de Barker invocou mais dois heróis para Alduin.
Hello, aqui quem fala é o Bário. Depois de muito tempo quero lançar esse capítulo, e não se preocupem, postarei mais. Atualmente tenho até o capítulo cinco escritos que eu reformulei. Tenho rascunhos de outros capítulos, mas não estão prontos.
Falando nisso, uma nova edição física do primeiro volume está para ficar pronta, com nova capa e diagramação. No meu insta possui uma arte de Arkus Drakhar, corre lá pra dar uma conferida, e tenho uma do D. saindo do forno, e uma do Luke.
Insta: Bárion Mey