Volume 2
Capítulo 27
Kraykro: Mikhan Rolfred
O vento sopra com intensidade, varrendo os arredores com sua força. O céu noturno, uma tapeçaria celeste repleta de estrelas cintilantes, se estende infinitamente, enquanto a majestosa lua cheia domina o horizonte, lançando sua luz prateada sobre a paisagem. O ritmo cadenciado dos cascos dos cavalos ecoa em meus ouvidos, acompanhado pelo assobio melancólico do cocheiro, criando uma sinfonia única que envolve meus sentidos.
Ainda me lembro da última vez que fui mandado embora de casa. A família não queria ninguém servindo diretamente a coroa, mas fui contra quando o convite chegou para mim. Eu tinha apenas dezenove anos na época, só que meu pai não quis nem mesmo me ouvir quando disse que me juntaria aos dez generais de Dream. Então... porque ele me chamou de volta depois de todos estes anos? É improvável que tenha se arrependido do que fez, não. Não o homem que conheço.
A carruagem para diante de um portão feito de grades, sustentado por duas colunas de mármore esculpidas com majestosos grifos no topo. O portão se abre e o cocheiro prossegue. A minha vista é atraída para uma fonte no centro de um extenso corredor de arbustos e, logo atrás, avisto a imensa mansão dos Rolfred. A única luz que brilha entre as várias janelas da casa, é a do segundo andar à direita, o escritório do meu pai.
O aroma das tulipas se mistura com a brisa que sopra. Essas flores estão espalhadas por todo o jardim, lembrando-nos de nossas características únicas: cabelos e olhos roxos, devido a um pacto feito por nosso antecessor com Afrodite, na era mítica.
Com as mãos trêmulas, desço da carruagem assim que o cocheiro abre a porta. Haaa… já faz tanto tempo desde a última vez que pisei neste jardim. Eu era um Rolfred, o primogênito do patriarca de uma das cinco famílias proeminentes. Renunciar às tradições familiares seria o mesmo que renunciar ao nosso sobrenome e à nossa linhagem. O que ele quer agora, depois de todo esse tempo?
A porta rústica de madeira se abre vagarosamente, revelando uma fresta por onde posso avistar olhos roxos brilhantes, espiando com curiosidade. Uma garota de cabelos roxos, que chegam aos ombros, e vestindo um pijama branco surge diante de mim.
— I-irmãozão? — fala uma voz sutil afeminada.
— Cecille.... a quanto tempo, querida irmã.
Um lampejo de emoção faz meus olhos lacrimejarem por um breve instante, mas mantenho a compostura ao ouvir passos se aproximando de trás dela. Cecille desvia o olhar e aperta os punhos, reprimindo o seu incontrolável desejo de me abraçar.
Uma mulher de quarenta anos, de uma beleza notável, com longos cabelos roxos que caem sobre o rosto, se aproxima por trás. Ela está vestindo um elegante vestido de seda azul.
— Você chegou, Mikhan — diz, colocando a mão sobre o ombro de Cecille.
— É bom vê-la novamente, minha mãe.
— Ele está esperando lá em cima. — Ela se vira, puxando Cecille. — Você sabe o caminho, não precisa que ninguém o acompanhe.
— Sim…
Concordando com um gesto, entro em silêncio. O único som que ecoa da casa é o dos passos arrastados de Cecille, sendo afastada de mim, com a cabeça baixa, lançando olhares furtivos e algumas lágrimas escapando. No salão de entrada, não há nada de particularmente marcante, apenas alguns quadros pintados por artistas desconhecidos para mim. Um tapete vermelho adorna o chão, iluminado por lustres simples que trazem luz ao ambiente.
Ao chegar no segundo andar, deparo-me com uma janela estreita de vidro que se estende do chão ao teto, permitindo-me contemplar o vasto mar estrelado no céu. A visão reflete minha aparência imponente, com um corpo robusto, pele morena e cabelos roxos amarrados. Meus olhos, há muito tempo, carregam a marca da tristeza. Instintivamente, coloco a mão sobre o símbolo rúnico gravado no peito, entrelaçado por fios dourados em meu sobretudo preto, uma peça que me acompanha desde que decidi me juntar aos generais.
Durante todos esses anos, fiquei mergulhado em pensamentos, refletindo sobre o preço que precisei pagar para proteger minha família: afastar-me dela para garantir sua segurança. Meu pai jamais compreenderia meus motivos, e sequer me daria a oportunidade de expressar meus verdadeiros sentimentos. Agora, diante da porta do escritório, antes mesmo que eu pense em bater, uma voz fria e cortante ressoa de trás dela.
— Entre!
Seguro a maçaneta com cautela, sentindo um desconforto na barriga, enquanto observo minha mão tremer por um breve instante. Respire fundo, Mikhan, recomponha-se. Ao abrir a porta, deparo-me com meu pai sentado na cadeira, segurando um copo de vinho em uma das mãos, enquanto a outra mexe em papéis espalhados sobre a mesa, com vários livros jogados ao redor.
Meu pai exibe cabelos roxos, jogados para trás, e uma barba que cobre totalmente o rosto, conferindo-lhe uma aparência viril. Seus olhos fixam-se intensamente nos vários papéis à sua frente. Ele veste um elegante terno preto com bordados brancos nas bordas, e uma gravata azul com uma joia vermelha no centro. Sobre seus ombros, um manto de veludo preto, adornado com pelos negros que envolvem seu pescoço.
Por um instante, ele desvia seu olhar atento dos papéis e me encara, observando-me minuciosamente dos pés à cabeça, como se estivesse me analisando por completo. Fico em silêncio, absorvendo o ambiente da sala em que não entrava há anos.
— Por quanto tempo vai ficar parado aí em pé? Não vai se sentar?
— Claro... — falo em tom baixo, me aproximando devagar.
— Tenho certeza de que já está ciente —, afirma, encarando-me com firmeza. — A filha do rei Drake celebrará seu décimo primeiro aniversário amanhã, e ele solicitou a presença de todos os membros do ramo principal das cinco famílias. — Percebo seu olhar indiferente voltado para mim. — Drake ordenou que todos compareçam, sem exceções, e isso vale para você.
— Entendo, por isso o senhor me chamou?
— Não queria, mas é o único modo de que vi que não afetaria o humor de Drake.
— Peço desculpas por ser um incômodo, pai.
— Pare com isso. Quando estiver a sós comigo ou em qualquer lugar que seja, não se dirija a mim como seu pai, deixei de ser quando decidiu ir embora. — Ele se levanta e passa por mim friamente.
— Perdão, patriarca.
— Não pense nem por um instante que cogito ter você de volta como membro dessa família. Será apenas por hoje, mas pode ir dormir em um dos quartos de hóspedes.
— Sim senhor. Irei após passar na cidadela.
— Cidadela? — Ele me olha desconfiado por cima dos ombros. — O que os cachorrinhos querem uma hora dessas?
— Para ser sincero, eu não sei.
— Não busco sua sinceridade, quero respostas. Depois de ter abandonado a sucessão da família Rolfred para se tornar um deles, esperava que tivesse ao menos um pingo de informação possível, pelo visto ainda continua um inútil como sempre.
— Peço perdão. — Eu me viro e abro a porta, sentindo um peso se soltar das minhas costas. — Estou de saída.
Mulrian Rolfred, um homem poderoso e temido, é admirado por muitos no reino. Sua força é respeitada até mesmo pelos reinos vizinhos, e a crença hereditária de que os Rolfred estão acima de tudo sempre foi sua ideologia inabalável. Quando criança, eu o via como um herói, mas hoje... questiono-me se meus irmãos seguirão seus passos. Eu não desejo vê-los se tornarem o que mais odeio.
Arkus Drakhar
Haaa… Não acredito que me chamaram para uma reunião repentina na cidadela dos generais no meio da noite. Se o imbecil do Drake não tivesse me importunado o bastante para ocupar o lugar do Rhopark, eu não teria que passar por isso. Provavelmente mais uma dessas discussões intermináveis sobre estratégias tolas ou algum plano mirabolante para encontrar onde os demônios estão que vai acabar em fracasso.
— Veja pelo lado positivo senhor…
— Pare de ler meus pensamentos, Betham.
— Isso é meio que impossível. — Maldito contrato. — Estamos chegando.
A carruagem diminui a velocidade à medida que nos aproximamos do castelo do Drake. A cidadela dos generais fica pairando acima de Mighur. Eles não poderiam ter construído essa coisa no chão como qualquer pessoa normal? Não, tinha que ser um negócio voador e extravagante. E, para piorar, eles decidiram esconder essa maldita cidadela criando uma nuvem artificial usando magia. Ainda estou inconformado com tudo isso.
— Assim, inimigos não atacam senhor.
Minhas sobrancelhas franzem. Porque quem diabos iria atacar a cidadela dos generais? Um lunático? Cruzo os braços, expressando minha indignação. De lado, vejo Betham com um sorriso irônico.
— JÁ DISSE PRA PARAR DE LER MINHA MENTE! — Solto um suspiro frustrado e olho para baixo, tentando manter meus pensamentos sob controle.
— Já disse que isso é impossível senhor.
— Maldito contrato…
— Ninguém manda ter uma mente tão agitada. — Betham solta uma risada divertida.
A entrada é conhecida apenas pelos patriarcas das cinco famílias e o próprio rei, isso porque ela fica localizada no pátio atrás do castelo. A carruagem para e descemos, logo na entrada Drake nos espera com um olhar confiante. Eu vou matar ele se for algo irrelevante.
— Bem vindos. — Nos comprimenta com um aperto de mão firme. — Alguns ainda não chegaram, mas já podemos subir.
Atravessamos todo o castelo por dentro, até chegarmos na parte de trás. Admiro as torres altas e as paredes de pedra cinza que cercam o pátio. Há um coreto, construído de madeira escura, com um telhado de ardósia e há vários bancos espalhados pela área. No centro, tem um círculo gravado no chão. Ele é feito de pedra clara e tem vários símbolos gravados nele e cada um é cuidadosamente esculpido. E quanto mais nos aproximamos começo a sentir uma energia estranha pulsando ao meu redor. Ela é sutil, mas definitivamente presente.
— Mikhan! Achei que já estivesse na cidadela — afirma Drake. — Onde estava?
— Fui atender o chamado repentino do patriarca da família Rolfred. — Mikhan aparenta estar emocionalmente abalado.
— Então, ele te disse?
— Sim, agradeço pelo que esteja fazendo, meu rei. — Seu olhar fica firme novamente. — Mas não vai adiantar.
— Seu pai é um cabeça dura, Mikhan. Tenha paciência com ele…
— Não peça isso, Drake — interrompo, fazendo os dois olharem fixamente para mim. — Você não deve nada ao Mulrian, mantenha a cabeça firme e olhe para frente. — Seguro seu ombro, dando um pouco de apoio emocional. — Você é melhor que ele em todos os sentidos, nem parece que foi gerado por ele… e Drake. — Dou um olhar meticuloso de canto. — Não tente algo assim de novo, isso é claro, se quiser ter uma séria conversa comigo depois.
— Cla… ro, meu sogro.
O olhar determinado de Mikhan volta aos poucos. Mulrian não sabe que o filho dele só abdicou da sucessão por causa daquela maldita maldição.
— E como está? — pergunto.
— Bom… — Ele abre a roupa e vira de costas, mostrando a marca. Está maior. — Ela cresceu após eu usar minha magia cinco anos atrás.
Não posso deixar de me surpreender pela imagem de uma rosa negra, gravada em suas costas como uma tatuagem, suas raízes crescem repletas de espinhos. “Aqueles que possuírem essa marca estão fadados a uma maldição." Foi o que Edward disse para mim no seu leito de morte.
Aqueles que carregam o sangue Rolfred em suas veias tem uma maldição que os persegue de tempos em tempos, e aqueles que possuem uma forte conexão com o hospedeiro da rosa negra serão igualmente amaldiçoados e inevitavelmente perecerão. Isso é o que a mana de Afrodite faz, para lembrar do acordo.
Como uma erva daninha, ela busca aprofundar suas raízes em outras fontes para se sustentar, mas apenas os membros da família Rolfred são afetados pela maldição devido ao contrato feito por aquele louco. Quanto mais forte for o vínculo do hospedeiro com a outra pessoa, maior será a probabilidade de a marca se transferir.
Isso seria o fim dos Rolfred, já que Mikhan era o preferido de muitos dentro daquela casa. O queridinho dos Rolfred, por assim dizer, e é claro que os primeiros que iriam pegar a marca seriam seus irmãos. E como ela não tem a quem mais vincular, a única tendência é crescer cada vez mais, sugando sua energia vital a cada vez que utilizar sua mana.
— Não acho que tinha necessidade de usar sua magia naquele dia — diz Drake, apoiando a mão em seu ombro.
— A força dos demônios era desconhecida para mim, estava me prevenindo.
— Para todos — completo. — Espero que essa reunião seja algo importante.
Andamos em direção ao centro do círculo e a presença daquela energia desconhecida se intensifica gradualmente, até se tornar tão palpável que se torna visível aos nossos olhos. Uma onda de luz branca irrompe brilhantemente, ofuscando nossas visões ao ponto de eu proteger meus olhos com o braço. Uma sensação avassaladora percorre meu corpo, como se cada célula estivesse sangrando e se revirando em agonia. A escuridão se instala rapidamente, engolindo tudo ao meu redor.
Passam alguns segundos até que abro os olhos e percebo minha visão embaçada, vendo de relance a iluminação de arandelas de prata penduradas por um corredor extenso e estreito, cabendo apenas três pessoas lado a lado.
— Céus, não consigo me acostumar com essa sensação esquisita — resmungo, apoiando a mão direita na parede.
— Como o nono general de Dream, precisará se acostumar com ela — diz Drake com um sorriso disfarçando o medo de mim. Quero dar um soco nele.
— Por culpa de quem me tornei essa merda?
— Desculpa…
— Você realmente é o único que vejo Vossa Majestade pedir desculpas o tempo todo — diz Mikhan, com um sorriso fechado.
Caminhando pelo corredor adornado, a luz suave das arandelas de prata penduradas nas paredes dança como estrelas distantes, lançando reflexos cintilantes em cada superfície. Cada passo ecoa com uma sensação de reverência, enquanto o corredor se desdobra como um conto antigo ganhando vida.
À medida que avançamos, a atmosfera se transforma, revelando um vislumbre de grandeza que transcende o simples espaço físico. Diante de nós, surgem três colunas majestosas de mármore, dispostas em uma harmoniosa sucessão. Essas colunas não são meros suportes arquitetônicos, mas sim guardiãs imponentes de uma linda visão celestial.
O teto desaparece entre as lacunas entre as colunas, expondo um panorama celestial de tirar o fôlego. O céu noturno se abre acima, um vasto domo estrelado que se estende até o infinito. Nuvens escuras flutuam como sombras etéreas, pintando um quadro em constante evolução de formas e tons contra o fundo celestial escuro.
Enquanto permanecemos sob as colunas de mármore, uma sensação de humildade me envolve. É como se eu estivesse no cruzamento entre o mundo criado pela humanidade e o universo vasto e misterioso. O espaço entre as colunas é como um portal, convidando-me a contemplar a grandeza do cosmos enquanto permanecem ancorados no refinamento da arquitetura humana.
Cada detalhe, desde as minúsculas veias do mármore até a exibição em constante mudança das nuvens acima, contribui para uma experiência sensorial completa. É um momento em que a arte da construção se funde com a arte da natureza, criando um cenário que ecoa com a eternidade. E ali, no coração desse corredor transcendental, me encontro maravilhado com a beleza que a mente humana e a vastidão do cosmos podem conjurar juntas.
A frente, o teto se abre em um amplo círculo, revelando a majestosa lua pendendo como uma joia celestial no centro do firmamento noturno. Um lustre deslumbrante, ornamentado com cristais que capturam a luz da lua, pende do teto. Suas velas exalam uma luz cintilante, como estrelas refletindo na superfície de um lago tranquilo. À medida que as chamas dançam, elas lançam sombras hipnotizantes nas paredes brancas que cercam a sala, criando uma atmosfera ao mesmo tempo sombria e bela.
Colunas de mármore, também brancas como a neve, sustentam o teto com uma elegância atemporal. Elas se erguem como guardiãs silenciosas, observando cada acontecimento sob seu domínio. As sombras projetadas pelas colunas criam uma ilusão de profundidade, transformando-as em pilares de mistério que acrescentam um toque intrigante ao ambiente.
O piso de porcelanato preto e branco, se estende como um tabuleiro de xadrez sob os pés, as peças opostas se entrelaçam em um padrão hipnótico, como se o jogo da vida estivesse eternamente em andamento neste lugar. Na parede em frente, no centro da sala, uma porta de madeira branca se destaca com sua maçaneta dourada reluzente. Duas arandelas elegantes, com luzes suaves, emolduram a porta, lançando um convite sutil.
Enquanto atravessamos a sala, o ar está eletricamente carregado de expectativa. Cada passo ecoa no tabuleiro de xadrez sob nossos pés. Chegamos finalmente à porta de madeira branca, ornamentada com uma maçaneta dourada que parece convidativa.
Ao estender a mão para tocar na maçaneta, um arrepio percorre minha espinha. Sinto a presença de algo poderoso, algo que transcende o ordinário. Um formigamento na pele, a sensação de olhos invisíveis observando, como se as próprias paredes brancas tivessem vida.
Sete presenças, ou talvez oito, parecem se manifestar do outro lado da porta. Cada uma emana uma aura única, sinto um calor sutil, um calor que parece sorrir perante o desafio iminente. O riso, uma reação inesperada, escapa dos meus lábios enquanto percebo a magnitude do encontro que está prestes a acontecer. Sete ou oito, não importa. A presença que buscamos, aquela que invoca esse sentimento inexplicável, está aqui.
A porta se abre com um rangido profundo, como se estivesse há séculos sem ser perturbada. À medida que ela se afasta, um estreito raio de luz dourada penetra a escuridão que se escondia do outro lado. Os rostos deles emergem da fresta, cada um iluminado por essa luz tênue, mas reveladora. Olhos cautelosos se fixam na nossa direção.
— Finalmente vocês chegaram — As palavras ecoam pelo espaço com uma ressonância que envolve a todos nós. A voz pertence a um homem que ocupa um lugar central na sala, sentado à cabeceira de uma imponente mesa de madeira negra. — É a primeira vez que o vejo na catedral, sr. Arkus.
O homem mais forte de todo o continente de Kraykro, o primeiro general de Dream… Balduin.
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