Escolhido Brasileira

Autor(a): Bárion Mey


Volume 1

Capítulo 22

Ele caminha até elas com uma expressão despreocupada. Os quatro recuam para trás, afastando-se aos poucos do ser. Ele levanta a mão até elas e uma energia esférica negra se forma. 

— Se forem odiar alguém, odeie-os por chamarem vocês para corrigir o erro deles… — fala.

— EI! — grito com toda minha voz.

No mesmo instante, raios começam a cobrir meu corpo e sobem aos céus, descendo diretamente no ser. O impacto tira nossa visão novamente, mas sei onde estão os quatro. Pego na mão da garota loira e a puxo, fazendo os outros três nos seguirem, fugindo da estranha criatura. Eu os guio pelos destroços, tentando achar alguma saída.

E pensar que algo assim aconteceria no meio de tantas raças envolvidas. Seja quem for esta criatura, a presença dela é esmagadora. Tenho certeza de que o raio não serviu nem mesmo para fazer um arranhão, porém é o suficiente pra conseguir buscar uma saída.

— Quem é você? — pergunta a garota loira.

— Eu sou… Droga! — falo.

Um frio na barriga surge, sinto algo se aproximar em uma velocidade absurda. Estamos ferrados! Jogo a garota para frente e miro a mão nos outros três, criando um escudo de mana e os jogando para trás.

Ele surge do meu lado, seu olhar demonstra tanto desprezo quanto o de Delgron quando matava um inocente. Ele nos vê como formigas que não passam de uma obstrução.

O estranho ser me desfere um soco no estômago. Sou jogado para trás batendo na parede. Não vejo nada, está tudo escuro. Isso dói. Sinto o sangue escorrer pelo rosto e ouço as batidas do meu coração acelerarem. O barulho dos escombros caindo da parede toma meus ouvidos, vou ser enterrado vivo aqui.

— Um rato sempre será um rato! — diz. Depois dos quatro, eu serei o próximo. Preciso reagir. "Levante-se… Levante-se, Arial!", grito do fundo do meu ser para meu corpo se mexer, se erguer. Droga. Meu corpo todo dói.

— Vocês irão morrer aqui!

— E-Ei… Haah… Haaah… Essa doeu, seu desgraçado…

Eu me levanto apoiando entre os escombros. Meu corpo todo treme, uma criança de cinco anos não tinha que passar por essas coisas. Em que merda estou me metendo aqui?! Posso morrer de novo, sabia disso, Arial imbecil? Posso fugir, tentar sobreviver, mas…

As crianças e a criatura direcionam os olhos para mim. Estão assustados, mais do que eu. Estão com os olhos arregalados de surpresa por eu ainda estar vivo depois desse golpe, porém o medo está claramente os tomando pouco a pouco.

Uma faísca azul surge, transformando-se em gradiente de raios por todo meu corpo. Ainda cambaleando, dou um passo para frente, depois outro, e, no terceiro passo, antes que a sola do meu pé toque o chão, eu desapareço.

Todos ficam surpresos. O ser me procura pelos arredores, mas mal sabe ele que estou por trás, no ar, acima da sua cabeça, pronto para desferir um chute impulsionado por raios.

— AAAAAAAH! — O grito de raiva e pavor não pode ser contido dentro de mim.

Sei que provavelmente morrerei aqui. Pelo menos posso ir sabendo que tentei algo. Ele olha por cima dos ombros assustado e, no mesmo instante, posiciona os dois braços acima da cabeça defendendo meu ataque. Com meu corpo em pleno ar, aproveito meu tamanho e a agilidade que os raios me proporcionam e giro que nem um peão, formando uma lâmina de raios na mão direita e a arremessando na direção do rosto dele.

— Tsc…

Ele esquiva novamente, desviando o rosto para o lado, porém não desisto e formo outra na esquerda. Antes que eu caia no chão, arremesso-a de novo, só que dessa vez atinge diretamente o olho esquerdo dele.

— Agora!

Um fio de mana se forma entre a lâmina e minha mão. Fecho o punho com força e a eletricidade do meu corpo passa pelo fio e começa a eletrocutá-lo de dentro pra fora.

— AAAAAAAARGH!

Com um pulo para trás, afasta-se com a mão no olho. O sangue escorre entre os dedos, um sangue preto. Agora eu me lembro. Sangue preto… Ele é um demônio! Caído no chão, me apoio em minhas pernas para me levantar. Se eu desviar o olhar por qualquer instante, posso perder a consciência.

Os quatro me olham admirados. Surpresos, né? Uma criança igual a vocês é forte desse jeito… Quem estou tentando enganar aqui? Com certeza vamos todos morrer.

— Haah… Haah… é óbvio que não consigo vencer esse desgraçado. Droga! Onde estão os malditos generais quando acontece isso…?!

— Desde quando meu filho aprendeu a falar tais palavras? — Ouço.

— Hã?

Uma voz gentil soa por meus ouvidos. É familiar. Eu a ouvia todos os dias quando acordava. Lembrei-me daquele sorriso gentil, da pessoa que deu todo seu amor por mim.

— Seu desgraçado! — O ser começa a andar em minha direção. — Você morrerá primeiro! — Com um impulso, aproxima-se rapidamente.

Eu já não via o estranho ser avançando contra mim. Agora, vejo as costas de uma pessoa com longos cabelos negros e uma armadura prateada, com uma capa preta que o vento leva junto de seu cabelo. Ela me olha por cima dos ombros sorrindo.

— Desculpe a demora, meu bebê.

— Mã-mãe?

— Tsch!

Ele se afasta para trás e encara Lúcia com o olhar semicerrado. As quatro crianças me ajudam a me manter de pé, apoiando meus braços nos ombros delas. O sangue escorre para a camisa branca da garota loira que me olha preocupada.

— Pelo visto, você enfraqueceu, Vargas — diz Lúcia.

O que está acontecendo? Onde você esteve durante todo esse tempo? Eu fiquei… tão preocupado que algo pudesse ter acontecido…

— Então… ainda estava viva…

— Algumas coisas aconteceram. — Ela finca a ponta da espada no chão e apoia as duas mãos na ponta do seu cabo. — O que o quinto Rei-Demônio de Hades quer invadindo o império?

— Sabe, nada demais. — Direciona o olhar para as quatro crianças ao meu lado e aponta o dedo para elas. — Apenas matar aqueles empecilhos para que não atrapalhem o retorno do meu mestre.

— Hades não pode voltar, não importa o quanto tente…

— E você não podia ter filhos devido à maldição dele. Agora, aqui estamos... — interrompe Vargas, me encarando.

Uma mana avassaladora começa a emergir, e Lúcia dá um curto sorriso retirando a espada fincada no chão. Em um piscar de olhos, no espaço ao lado dela em que não tinha ninguém, Arkus surge. É como se ele estivesse sempre ali, parado naquele lugar. Suas vestes estão intactas, sem nem mesmo um único arranhão.

— Temos muito o que conversar, Lúcia…

— Sim, pai…

— Que coisa comovente. Dois rostos que não vejo há mais de quatrocentos anos. — Vargas leva sua mão ao olho perfurado. — A bondade da mãe e a leveza para batalhas do avô. — O quinto Rei-Demônio caminha para o lado. — As duas últimas pessoas sobreviventes do clã Drakhar se transformaram em três.

Observo Arkus por um momento. Ele emite um sorriso ansioso de olhos alargados.

— Esse desgraçado — fala rindo — finalmente decidiu aparecer!

Sinto uma mana desconhecida surgir. Ela é pesada, forte e gigantesca.

— Ainda bem! Cheguei a tempo de acontecer algo pior…

Um homem surge passando pelos destroços, vindo em nossas direções. Lúcia fica feliz, quem é ele? O cara vem até mim e coloca a mão na minha cabeça. Tento subir o olhar, mas meu corpo todo dói. Ele caminha até Lúcia.

Seu cabelo é vermelho penteado para trás e um pouco caído para a frente do olho direito. Seus olhos sérios não deixam de transmitir segurança, na cor de um azul-mar. Seu rosto possui algumas cicatrizes que vão do queixo à boca. Outra desce da testa passando pelo olho direito. O terno preto que usa marca bem o corpo robusto. O homem pôs a mão no ombro de Arkus.

— Velhote, garanta a segurança do rei. — O sujeito começa a tirar seu paletó, colocando-o no braço esquerdo. — Pode deixar isso comigo! Querida, garanta a segurança dessas crianças, e veja se não existe ninguém que precise de ajuda…

— Cuidado, Vargas não é fraco — fala Arkus.

— Não se preocupe!

— Você fala como se fosse capaz de me parar! — O demônio enfurece gradualmente.

— Não se preocupe quanto a isso. — O homem começa a exaurir sua mana, causando uma pressão gigantesca na atmosfera ao redor, ainda mantendo seu sorriso calmo. Vargas sente um calafrio o corroer, fazendo-o dar um passo para trás. — Afinal, sou o mais forte aqui!

O sorriso cínico se mantém firme e dá um passo para frente, desaparecendo em um relance de um milissegundo, surgindo na frente de Vargas.

Controle de gravidade!

Algo pesa nas costas do quinto Rei-Demônio. Uma pressão esmagadora tenta o jogar forçadamente para o solo. Vargas tenta a todo custo impedir seus joelhos de tocarem o chão, olha nos olhos do sujeito e tudo o que vê é um olhar de um homem que o vê como um inseto.

Seus dentes rangem e suas veias saltam para fora de tanta força que usa para se obrigar a se manter em pé.

O homem realiza um gesto com a mão para cima e depois a abaixa tranquilamente. A pressão aumenta sobre o Rei-Demônio, fazendo-o cair completamente ajoelhado com as mãos tocando o chão.

— O que estão esperando? — Ele olha por cima dos ombros. — Vão!

Lúcia vem até nós, minha visão embaça, estou perdendo a consciência… acho que eu vou…

— Luke!

Vargas

Essa pressão esmagadora de poder mágico… quem é ele? Esse olhar… estou recebendo olhar de desprezo de um mero humano? Como pode eu ser subjugado tão facilmente por ele? Eu não aceito isso! Eu… não…

— O que foi? O gato comeu sua língua?

Maldito! Como ousa me subestimar dessa forma? Eu vou matá-lo! Eu… vou… matá-lo!

— Estava se divertindo?

O quê?

— Divertiu-se com meu filho te entretendo?

Aquele merdinha… é filho desse cara? Eu vou matar os dois! E vou matar aqueles merdas dos Drakhar com minhas próprias mãos! A pressão que sinto desaparece e o homem recua para trás ao ver uma adaga voar na direção do seu rosto. Eu me levanto com dificuldade, com o olhar abaixado. Isso é medo? Eu? O quinto Rei-Demônio de Hades? Com medo? Isso não irei permitir!

— Quem… é você? — pergunto. Meus olhos semicerrados escondem meu pavor.

— Meu senhor! — Uma voz emerge do além. — Está feito. 

Um buraco negro de um metro e seiscentos surge ao meu lado, como uma distorção da realidade. De dentro sai um demônio de armadura cinza e um elmo de mesma cor. Seus olhos são desprovidos de uma pupila e sua pele é cinza.

— Um subalterno… — murmura o homem.

Os olhos dele se dirigem para o saco de pano do meu empregado, com sangue escorrendo de dentro.

— Você é forte… admito isso. — Pego o saco da mão do meu servo. — Contudo, seus companheiros são fracos. — Jogo o saco de couro no chão.

O sorriso do homem desaparece gradualmente, mas seu rosto se mantém com o mesmo olhar de serenidade. Ele encara as duas coisas que saíram de dentro do saco. Duas cabeças decapitadas, não por lâminas, mas sim com as próprias mãos. Um pedaço da coluna havia sido arrancado junto de suas cabeças.

Esse… Esse é o poder que nós, demônios, possuímos. Generais? Deuses? Não me faça rir, escória do mundo. Quem são vocês perante nossa força tremenda?

— Rhopark… Adelcar… — fala o homem. Ele desvia o olhar e se concentra em mim. — Rei-Demônio Vargas… — Começa a caminhar em minha direção, jogando o paletó no chão. Eu recuo um passo. Seu olhar é assustador. — Ao invadir Dream, ameaçar minha mulher, e matar dois generais do império… Vocês não sairão daqui com vida!

— Você é forte, mas o que pode fazer sozinho quanto a isso?

Dezenas de portais surgem e deles saem demônios idênticos ao meu subalterno. Estão ao meu lado, em cima, e aqueles com asas pairam no ar.

— Ele não está sozinho!

Ouço a voz de uma mulher vinda do alto. Olho para o topo da estrutura e lá há duas silhuetas.

Ela segura uma rapieira prateada que reluz seu brilho em contato com o sol. Os cabelos esverdeados e olhos marrons transmitem uma aura de bondade. Sua roupa é uma veste imperial preta com bordados dourados, vestindo um sobretudo grosso de gola alta preta e faixas brancas em suas bordas. No peito direito, bordado com fio de ouro em linguagem rúnica — a língua dos dragões — está escrito "segunda".

Isso não está tomando o rumo certo. Ao seu lado, surgindo do céu, cai um velho. Cabelos médios tão brancos quanto a neve penteado para o lado esquerdo, e o direito raspado. O olho direito mantém um tapa-olho preto, deixando à vista somente o esquerdo, tonalizado em uma cor azul-claro brilhante. Em sua cintura, a espada dentro da bainha é uma cimitarra. Usa a mesma vestimenta que a mulher, entretanto, bordado no peito, está escrito "sétimo".

Aparecendo pela entrada, com as mãos no bolso, surge um homem de cabelos brancos compridos amarrados e trançados. Sua barba vai da costeleta até o queixo. Os olhos são pretos e o sorriso que emite me assusta. Bordado no peito está escrito "quinto". A pressão que vem dessas pessoas que surgiram é aterrorizadora.

— Parece que você está com problemas, Vargas! — diz o homem com um sorriso sarcástico.

— Tsc!

Nunca imaginei que as coisas seguiriam esse rumo por causa da intromissão de um pirralho despertado. O plano era só matar as quatro crianças e fugir, mas, no meio de tudo isso, não há outra opção além de ir até o final e lançar uma invasão completa no império de Dream. Merda!

 


 

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