Escolhido Brasileira

Autor(a): Bárion Mey


Volume 1

Capítulo 14

Com essa arma, talvez eu possa superar Freya. Ela era uma grande guerreira, mas nem sempre foi assim. Quando fui jogado nas brigadas de Flenor, local em que ficavam os refugiados do ataque do exército sombrio, ela estava batendo em três crianças dois anos mais velhas, foi assim que a conheci.

Seu jeito marrento a fazia parecer um garoto, ainda mais com os cabelos curtos dela. Os meninos tentavam ofendê-la por seu estilo, mas sempre acabavam sem alguns dentes.

Como eu, ela também era uma refugiada. Sempre a observei de longe, enquanto empunhava um pedaço de madeira e ficava balançando imaginando cada rosto que vi naquela noite. Eu tinha onze anos quando os soldados de Yuhai vieram buscar pessoas capacitadas para lutarem na guerra, eu e Freya fomos um dos escolhidos.

Foi aí que começamos a nos aproximar. Minha habilidade com a espada era incomparável com a dela, eu era superior em todos os requisitos. Força, agilidade, inteligência em batalha e destreza. Ela me seguia pelos campos de treinamento todos os dias, acompanhando minha rotina de treino, dizendo que ficaria bem mais forte que eu.

Saímos em missões de reconhecimento, e sempre voltamos quase banhados em sangue do inimigo. Tudo isso mudou quando completamos quatorze anos. Estávamos em uma rota para fazer reconhecimento dentro de uma caverna desconhecida. No interior dela, encontramos um pingente de lótus pendurado em uma vigota de prata, rodeada por uma fonte de águas cristalizadas, com o sol iluminando o ouro do pingente.

Eu o peguei, analisei suas estruturas mágicas, mas não encontrei nada. Poderia ser apenas um colar perdido de alguém. Como era bonito, chamou a atenção de Freya, então dei a ela. Contudo, quando o objeto tocou sua mão, ele brilhou, comprimindo-se até ficar do tamanho dela. Assim que o brilho cessou, o pingente havia se tornado uma espada brilhante e repleta de mana.

Freya segurou seu cabo e, no mesmo instante, pedaços de ouro começaram a se fundir em seu corpo, dando uma armadura reluzente com lindas asas brancas. Nós não entendemos o que tinha acontecido, porém posso dizer que a mana que vinha dela havia triplicado de tamanho.

Após retornarmos, descobrimos que aquele pingente era nada mais, nada menos, que um dos três tesouros sagrados da igreja santa, perdidos há séculos. Desde então, meu crescimento se tornou piada perante o dela. Não demorou muito para que Freya encontrasse os outros dois, e os entregou para dois de seus companheiros: Damari e Rahjin. Com essas forças avassaladoras, o rei assim criou os três escudos de Yuhai.

Tento pensar que o fato de Freya não ter me entregado um dos tesouros foi simplesmente por eu não estar ao lado dela, e sim treinando com Ekóz para aprimorar minhas habilidades. É o que sinceramente penso, espero que seja verdade.

— Vai mesmo tentar? — respalda Agnes.

— Sim. Será uma pena se eu não conseguir tirá-la.

Começo a me mover para perto da espada. Meu coração pulsa rapidamente, estou animado e ansioso. É quase impossível esconder o sorriso. Um barulho estranho passa por minha mente, é como um zunido intrigante, mas fraco.

— Criança!

Hum?! Quem disse isso?

— Você já foi digno de me empunhar!

Olho pros lados, mas aparentemente não há ninguém que esteja falando comigo. Parece um timbre masculino. Fico hesitante por um breve momento, a voz dá a impressão de vir de dentro da minha cabeça. Já fui digno? O que isso quer dizer?

Balanço o rosto, tentando me concentrar. Começo a levar a mão até o cabo e, por enquanto, nada de raios surgirem, isso é bom…, eu acho. E… algo surpreendente ocorre. Consigo ver o rosto de espanto dos outros só com minha intuição. Estou segurando o cabo da espada e nenhuma onda de choque foi desferida em mim. Olho para trás e todos estão surpresos.

Agnes permanece imóvel, observando quieta o que pode acontecer a seguir. Sinceramente, minha ansiedade acaba de aumentar drasticamente. Volto a atenção para a espada e faço força tentando retirá-la do solo. Coloco as duas mãos para fazer mais força, porém ela nem mesmo se mexe. Que porra está acontecendo aqui? Por que ela não… simplesmente não sai…? Haah… Haah…

— O que está acontecendo? Ele pode tocá-la, mas ela não quer sair? — Escuto uma das pessoas dizer.

Realmente, isso não faz o menor sentido! Fico cansado de tanto fazer esforço nos braços, é impossível, não consigo tirá-la. Tem algo a ver com o que escutei sobre eu já ter sido digno ou algo do tipo? Aaah, cara, queria tanto essa arma! Que droga!

Volto para o lado de Agnes e percebo seu olhar triste, claramente está pensando em palavras bonitas para tentar me animar.

— Isso não é necessário.

— O quê?

— Não se sinta mal por mim, não preciso de pena. — A olho com um sorriso. — É uma pena não ter conseguido, mesmo após ser o único a tocá-la, mas darei outro jeito de arrumar uma espada melhor.

— É por isso que você queria tirá-la?

— Claro, por que mais seria?

— Você é engraçado, Luke.

— Aaargh! — Escuto.

O barulho da onda de choque volta novamente. Tenho certeza de que pensaram que, como consegui tocá-la, o feitiço poderia ter enfraquecido ao menos um pouco. É uma pena, bando de imbecis.

Seguro a mão de Agnes e começo a andar, até que o soldado de antes me chama novamente. Tenho certeza do que deve se tratar.

— Tenho perguntas. — Ele olha intrigado. — Não podemos descartar o fato de que conseguiu segurar a espada.

Eu sabia. Só tem um jeito de conseguir sair dessa.

— Isso aconteceu porque sou um mago que controla raios.

— O-o quê? — Agnes se espanta.

Eu mesmo disse que não queria revelar que despertei, mas isso não vem ao caso agora. O mais importante é fazer esse idiota pensar que estou falando a verdade. Minha altura faz eu aparentar ter por volta dos sete anos, onde alguns gênios despertam seu núcleo de mana, vou fazer esse ser o meu caso.

— Como eu disse, sou um mago recém-despertado. — Estendo uma das mãos, criando um pouco de eletricidade para que mais ninguém preste atenção em nossa conversa. — Fiz sete anos mês passado, e acabei despertando. Eu estava junto com ela quando isso aconteceu.

Erm… Sim, claro. Foi muito repentino.

Vejo que ela não é boa com mentiras.

— Se a senhorita Agnes disse, não possuo mais perguntas.

— Se está curioso quanto ao outro fato — viro-me de costas e olho por cima do ombro com o sol enaltecendo meus olhos vermelhos. —, já viu fogo machucando quem é um mago que usa o próprio elemento como fonte de poder? — Ele fica sem palavras. — É a mesma coisa com o raio.

— Claro, desculpe minha grosseria.

Após isso, saímos como se nada tivesse acontecido. Andamos alguns minutos e fiquei pensando naquela voz. Subitamente, a imagem do dragão veio à mente. Duas coisas estranhas aconteceram em menos de vinte e quatro horas comigo. Aquilo foi uma desculpa esfarrapada, não queria que me interrogasse com perguntas que nem mesmo eu saberia responder.

Entretanto, aquele dragão que eu vi… Preciso de respostas sobre ele.

— Agnes.

— Sim?

— Eu… vi um dragão na sua casa.

Ela para de andar e começa a me encarar alargando os olhos violeta.

— Você… viu o quê?

Claus

Aquela criança… Haaah… deve ter passado por muita coisa, mas algo nela me intriga. Sua presença em si é estranha. Aqueles olhos vermelhos… Pode ser que ele…

Uma nuvem negra começa a se formar à minha frente, cobrindo grande parte do meu escritório.

— Senhor Claus.

Ela desaparece, e um homem com capa preta e capuz tapando o rosto aparece.

— Shadow, lembro-me de ter pedido para que ficasse de olho neles.

— É sobre isso que venho relatar.

Será que aconteceu alguma coisa com os dois?

— O que foi?

— É sobre a espada…

— O que tem?

— O novo amigo da sua filha foi capaz de tocá-la!

O quê? Tocar a espada? Levanto-me da cadeira e observo a paisagem do meu jardim pela janela.

— Ele conseguiu tirá-la?

— Não. Ela não se mexeu nem mesmo um centímetro do chão.

O fato dele ter conseguido segurá-la sem ativar o selo já é, em si, um ato que irá atrair os olhares de algumas pessoas. Luke… Isso se tornará problemático.

— Pode ir agora.

— Sim!

Shadow desaparece sem fazer um barulho sequer. Sento-me novamente e começo a cuidar de alguns papéis sobre a mesa. Mais de quatrocentos anos sem que uma única raça viva conseguisse segurar o cabo da espada sem que ativasse o selo, e uma criança desconhecida surge, fazendo algo que ninguém vê há centenas de anos. O conselho governamental não ficará parado quando souber disso.

Escuto barulhos de passos no corredor. A porta se abre e Agnes aparece carregando Luke nos braços com os olhos girando.

— Haah… Pa-pai… Haaah… Só um minuto — fala, apoiando-se na estante e soltando o garoto no chão. — Precisamos conversar… Haaah, eu morrendo… Como você pode ser tão pesado, garoto?

— Quem mandou sair me arrastando por Mighur inteira… Aargh, acho que vou vomitar…

— Não faça isso aqui, pelos deuses! — digo, pegando o cesto de lixo. — Toma.

zoando, né?

— Glark acabou de limpar o escritório, acha que vai sujar assim?

voltando ao normal, calma aí, senhor Claus.

Céus, essas crianças vão me dar dor de cabeça daqui pra frente. Observo Luke de perto, e ele olha desajeitado. Vejo seus braços, tamanho, rosto e olhar. Esse garoto tem realmente cinco anos? O que ele fez para ter um corpo bem desenvolvido para sua idade?

— Pai. — Agnes olha para o amigo, hesitante. — Luke… Ele… Ele viu um dragão na sala primordial.

Como? Um dragão? Não, não, não. Deve ter sido um engano, um sonho translúcido talvez.

— Minha filha, sabe que isso não é possível…

— Estou falando a verdade, senhor Claus. Ele possuía escamas vermelhas e olhos amarelados. Nunca vi algo assim em toda minha vida.

Toda sua vida? Eu rio. Engraçado ouvir uma criança de cinco anos dizer isso.

— Escamas vermelhas, hein?!

Escamas vermelhas e olhos amarelados… Não pode ser verdade, deve ter sido realmente um sonho.

— Senhor Claus, não tenho motivos para mentir para o senhor.

— Eu sei disso, Luke. Deixe-me te contar uma história. — Sento-me na cadeira novamente, coloco um pouco de chá nas xícaras e os sirvo. — Centenas de anos atrás, antes mesmo da grande guerra mítica, surgiu uma lenda. O humano que comesse o coração de um dragão, receberia um poder esmagador capaz de destruir o continente de Kraykro. Todas as raças se mobilizaram com o objetivo de caçar os dragões, matá-los e comer seus corações.

"Claro, não seria tarefa fácil matá-lo. Muitos morreram os enfrentando, mas aqueles que conseguiram, arrancaram os corações deles. O primeiro homem que realizou este feito foi Lolarath Tryger, a pessoa que fez o sobrenome Tryger se elevar às alturas. Contudo, ele não queria consumir o coração do dragão, apenas desejava desafiar seus limites e ver o quão forte era, isso o deu o título de matador de dragões. Lutou sozinho contra um e saiu vitorioso com várias feridas o cobrindo."

"Após esse ato, ele disse que, se tivesse alguém que o vencesse em um duelo, entregaria o coração de dragão. Vários tentaram: elfos, anões, humanos, gnostianos, mas apenas um conseguiu vencê-lo, Sakev Brastho. Sakev sentiu uma grande quantidade de mana exalar do coração e pensou que provavelmente o mito fosse verdade."

"Naquele dia, Sakev levou o coração até o rei dos elfos e o deu de presente. Elre Oredhel aceitou de bom grado e, ao anoitecer, reuniu toda Oredhel para que o vissem comendo o coração. Entretanto, na primeira mordida, quando engoliu o primeiro pedaço, seus olhos, nariz e orelhas começaram a sangrar. Sua pele do rosto passou a se dissolver, como se estivesse derretendo de dentro para fora."

"Diziam que os gritos do rei eram tão atormentadores que os elfos reunidos lá ficaram sem fechar os olhos por quase um mês. As pessoas que ainda caçavam, julgavam que Elre não era forte o suficiente para receber tal grandeza, por isso morreu. A caçada continuou durante alguns anos, fazendo os dragões fugirem para terras desoladas além do mar azul, para viverem em paz."

"Os dragões juraram que não buscariam vingança contra o povo de Kraykro, por terem seus irmãos mortos por ganância e fome de poder. Os corações que sobraram na mão do povo começaram a ser consumidos, porém sempre levava para um mesmo destino: a morte."

"Alguns anos depois, a grande guerra mítica começou. Um desastre sem igual caiu sobre Alduin e toda Kraykro. Sem os dragões, a luta contra os demônios de Hades era praticamente impossível. Foi aí que o descendente de Lolarath Tryger, Lacsara Tryger decidiu reunir todos os grandes magos do continente para recitar uma antiga magia."

"A de trazer um ser poderoso de outro mundo para que assim ele pudesse salvar a todos. Este homem se chamava Arthur Pendragon, o grande herói que selou Hades eternamente na escuridão, dando sua vida em troca da nossa salvação."

"Isso só foi capaz porque Arthur foi o único ser vivo que reuniu todas as raças em prol da sobrevivência e liderou cada uma delas. Os dragões lutaram ao seu lado, e quando Arthur foi atrás deles buscando ajuda, ofereceram-lhe um trato de vida."

"Cada dragão vivo em Alduin estava reunido nas colinas rochosas de Nafras, o novo lar que criaram. E ali, no meio da guerra que rolava, eles deram a Arthur Pendragon o direito sobre todos os dragões. Apenas descendentes dos Pendragon veriam um dragão em forma astral, apenas eles poderiam formar um contrato."

— Nunca tinha ouvido esse lado da história — fala Luke, admirado e com olhos convictos.

— Claro que não ouviu, criança. Esse tipo de coisa eles não contam para crianças dormirem.

— Mas… se os dragões fizeram um pacto desses, por que um apareceu pra mim? E qual a relação deles com vocês?

— Ainda não acredito que tenha visto um dragão na sala primordial, porém a relação que eu, Agnes e Vrismich possuímos com Arthur é que…

— Espera um pouco… me dizendo que vocês são…

— Isso mesmo, criança. — Eu me levanto, olhando bem no fundo dos olhos de Luke. — Essa família que vos falei, a Pendragon, herdeira direta de Arthur Pendragon…, é a nossa!

Os olhos do menino se alargam, e alterna o olhar entre nós dois durante alguns segundos, boquiaberto.

— Vocês estão de brincadeira comigo que vocês são descendentes do herói que salvou Alduin…?! Isso não passou nem por um segundo na minha cabeça!

— Como era amigo da minha filha, acreditei que ela tinha contado para você.

— Não. — Luke a encara de canto. — Não contou nadinha.

Erm… não contei? Acho que esqueci. — Agnes dá uma risada envergonhada e se faz de tonta, dando em si mesma um leve cascudo.

Eles ficam por mais alguns minutos discutindo se era ou não uma alucinação. Vejo Luke puxar de leve o vestido de Agnes, e ela diz que precisam sair. Andam apressadamente e até esquecem de fechar a porta do escritório. Ele quer ir à sala primordial novamente. Vamos ver no que isso me leva.

Luke

— Ei...

Logo após sairmos às pressas do escritório de Claus, escuto uma voz absurdamente grossa e cheia de timbre vindo por trás de nós. Ouvi-la do nada nos faz arrepiar por inteiro, como se duas crianças estivessem sendo pegas fazendo algo errado.

— AAAH! — gritamos em uníssono.

Olhamos para trás e vemos Arlo parado com um olhar esquisito e um sorriso aberto entredentes parecendo uma grande aberração.

— Poderia não fazer isso..., senhor Arlo? — reclama Agnes, choramingando e passando a mão nos olhos.

— Pare de chorar, discípula idiota. — Olha para mim e sorri ainda mais. — Garoto..., quero lhe conduzir uma proposta. — O que esse esquisito está querendo agora? Sinceramente, espero qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. — Torne-se meu discípulo, assim você será...

— Não, valeu — respondo de imediato e começo a andar.

— Sim, sim, sabia que aceitaria... — Arlo para por um momento, tentando raciocinar minhas palavras. — COMO ASSIM "NÃO, VALEU"?

Vai ser um incômodo se ele descobrir que despertei, o que provavelmente é o que quer. O ignoro e sigo adiante, esperando Agnes tentar fugir do seu mestre choramingando aos seus pés.

É uma boa proposta ter um general como mestre. Só que, para ficar mais forte que Balduin — o primeiro General —, não posso me prender aos meios convencionais. Sim, devo juntar o que aprendi do meu outro mundo com o que aprenderei nesse. Para isso, preciso me fortalecer da forma mais eficaz que conheço. E Arlo, no meu ponto de vista, deve ser mais fraco que Balduin. Do que adiantaria? Acredito que nada, né?!

Agnes se aproxima, após fugir das lamentações do seu mestre um pouco surpresa.

— Ei, me diga uma coisa. Qual é o nível de núcleo mais forte? — Parece confusa, me olhando intrigada como se o que falei fosse um completo enigma. — Simplificando a pergunta, qual estado do núcleo é considerado o mais poderoso?

— AH! — Bate a mão uma na outra parecendo saber a resposta. — Eu não sei... tehe.

— Te... Tehe?! — Paro em sua frente. — COMO ASSIM VOCÊ NÃO SABE? TEU MESTRE NÃO É A PORRA DE UM GENERAL? — Agarro a gola do vestido dela e começo a balançá-la para frente e para trás.

— Aih, Aih, Aih — berra. — Eu brincando, vou te falar. — Seus olhos parecem girar. — É pelos estágios — diz, enquanto andamos para o salão. — Cada estágio possui três fases: primeiro, segundo e terceiro círculo. Balduin possui um núcleo de sétimo estágio, aparentemente, não será tão fácil superá-lo como pensa.

— É só isso que sabe?

— Sim.

Obrigado por nada. Vontade de te bater agora, garota. Devo perguntar pro Claus quando o ver novamente.

Claus

Que cena inesperada, nunca pensei em ver Arlo pedindo pessoalmente para ser mestre de alguém, que hilário. Eu os sigo, escondido nas sombras do corredor. E, como suspeitei, ele queria ir mesmo para lá.

Agnes e Luke cochicham alguma coisa, não consigo ouvi-los. Tentam abrir a porta, mas não conseguem. Ela é grande e pesada, óbvio que não conseguiriam sem uso de fortificação mágica. Escuto um barulho de leve, vem da porta…, porém as crianças não estão a tocando. É como se ela estivesse sendo empurrada à força por algo que não consigo ver.

O vão criado pela porta é iluminado pela luz do sol que vem da janela. Eles entram, e vou logo em seguida. Vejo Luke seguindo até o final da sala, na última parede onde o sol não toca.

Ele coloca a mão nela e procura por algo. Não sei exatamente o que é, a última vez que vi meu dragão de contrato foi quando eu tinha nove anos, desde então todos sumiram.

Esse é um dos maiores motivos de Agnes ainda não possuir um contrato com um. Tive que dizer a ela a dura realidade da nossa família quando ela completou sete anos. Para alguém que amou os dragões sem nunca os ter visto, deve ter sido um choque e tanto quando falei que provavelmente não veríamos outro dragão enquanto vivêssemos.

Agnes se vira e me vê. Peço que fique em silêncio com um sinal na boca.

— Quero apenas observar — falo, ficando ao seu lado.

— Sinto que tem algo além dessas paredes. — Escuto seus murmúrios silenciosos.

Luke coloca sua mão direita na parede, fecha os olhos e respira fundo. Algo em sua mão começa a brilhar em um tom azul.

— Agnes, quantos anos aquele garoto tem? — O suor frio desce por meu rosto.

— Cin-cinco anos…, pai.

Cinco anos… Que monstro é esse pirralho? Um brilho intenso toma posse da sala. Eu e Agnes tapamos nossos rostos por causa da luz ofuscante. Assim que meus olhos se abrem e decido olhar novamente para frente, caio de joelhos no mesmo instante.

Agnes observa incrédula, com os olhos alargados e boquiaberta. Luke está logo à minha frente e, na frente dele, vejo um enorme dragão de escamas vermelhas. Anos se passaram desde a última vez que vi um com meus próprios olhos, mas isso… Essa sensação esmagadora de poder mágico nunca muda pelo visto.

 


 

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