Volume 1

Capítulo 6: A Linda Flor ①

— Paaaai? — Diana gritou incrédula.

— Se acalme minha flo… — Raymond foi interrompido por Markos, que pulou em suas costas.

— Fique no chão seu bastardo. Agora vai conhecer minha fúria.

— Espera! — Diana disse, gesticulando com as mãos.

— Saia daí seu brutamontes. Não está vendo a situação? — Harold repreendeu, puxando-o para longe do homem.

— O que é isso? — Art perguntou.

— Bom, precisava falar com vocês em um local completamente privado. — Raymond disse, enquanto se levantava e batia em sua túnica a fim de limpar a poeira. — Precisamos ser rápidos. Vou direto ao ponto. Um grupo dentro do reino planeja tomar o poder. Tenho investigado por muito tempo e descobri uma área secreta na qual tem uma espécie de item mágico. 

— Item mágico? — Harold pensou alto.

— Essa associação secreta está fazendo experimentos com o item. E há alguns dias realizaram um movimento ousado, que foi o que trouxe aquela garotinha aqui para dentro, eu imagino...

— O que? Você sabe sobre a Lisa? — Diana perguntou, assustada com o fato de seu pai ter essa informação.

— Sim. Eu seguia um forte sinal mágico no dia em que ela apareceu, e vi vocês saindo deste túnel com o que parecia ser uma criança... Filha, foi por isso que não estava presente em casa nos últimos dias. Não poderia correr o risco de colocar todos vocês em perigo, pois estou sendo seguido há algum tempo. 

— Mas… pai…

— Creio que eles já tomaram conhecimento da minha investigação. Até mesmo no enterro de Marian tive que ser discreto. Estive seguindo vocês e utilizando essa ferramenta que criei... Ela usa algumas runas mágicas para emitir um fraco sinal... eu... sabia que você sentiria, Art. — Raymond disse, mostrando um pequeno item que tirou de seu bolso.

— Então era você escondido à distância naquele dia do ataque?

— Sim. Quando cheguei, seus amigos já estavam com vocês. Eu os observava de longe, queria que você me percebesse, para que entendesse o sinal, e depois pudesse te atrair para um lugar e conversarmos. Não foi como planejei, mas pelo menos estamos aqui agora.

— Por que só eu consigo perceber esse sinal?

— Tenho emitido esse sinal próximo a você já há um bom tempo, desde que desenvolvi essa belezinha aqui. Um fator essencial foi sua percepção de mana aguçada.

— Você me usou de cobaia?

— Bom... é... mais ou menos isso. Me desculpe, Art. Mas graças a isso estamos aqui. Deixe-me chegar ao ponto, não temos muito tempo. A garota parece ser a chave para algo, vocês devem protegê-la.

— Proteger a elfa? — Harold disse.

— O quê? Uma elfa? — Raymond disse surpreso, abrindo um leve sorriso de curiosidade. — Bem… depois vocês me contam todos os detalhes. Tenho algo importante para resolver agora, e se eu estiver correto, vamos descobrir algumas verdades. Estou perto de encontrar quem está por trás dessa organização. Provavelmente é alguém de grande influência, não descarto nem mesmo o rei... Minha filha, minha linda flor, vejo vocês depois. — ele completou, abraçando e beijando gentilmente a testa de sua filha.

— Mas... Senhor Raymond, o que faremos agora? — Art perguntou, ainda um pouco confuso.

— Apenas vão para casa e me aguardem. Darei um jeito de me comunicar com vocês. Ainda tenho muito o que contar, e tenho certeza de que voltarei com ainda mais informações. Não confiem em ninguém. Embora eu confie em seu pai, é melhor não contarem isso a ele até que eu volte.

Raymond saiu com pressa, e sumiu rapidamente na escuridão.

— É... Acho que ele não sabe que meu pai já está a par de tudo. — Art disse, com a mão atrás da cabeça e um sorriso discreto.

Já nas dependências do castelo, Raymond entrou em seu laboratório.

— Finalmente! O tempo necessário para a análise das amostras foi concluído.

Ele se referia às amostras do sangue de Marian, que coletou secretamente.

"E se eu comparar com os resultados desse maldito remédio...", ele pensava, segurando alguns frascos e os comparando atentamente, olhando com raiva para o remédio que Gideon levava todos os dias para Marian.

— Não é possível. Isso... é realmente uma espécie de veneno mágico. — Mas... me recuso acreditar que Gideon faria isso, deve ter algo errado... Não importa, tenho que avisar os garotos.

Raymond recolheu alguns papéis e colocou-os em sua maleta, correndo desesperadamente em direção à casa de Art. 

Já era bem tarde, e as ruas estavam muito escuras, porém ele continuava firme em seu caminho. 

Ao chegar próximo a um parque repleto de árvores, com o ar pesado balançando as folhas, recebeu um forte impulso nas pernas, fazendo-o cair. O experiente cientista imaginou que era o peso de seu cansaço o derrubando.

Ao olhar para trás, viu alguém se aproximar.

— Você! — exclamou. — Que alívio! Que bom que está aqui! Venha, me ajude a juntar minhas coisas, preciso chegar rápido até...

— Eu sei onde você está indo. Parabéns, Raymond! Você chegou longe demais. — a figura disse, se aproximando calmamente.

Tsighhh! 

O som de sua adaga reverberou, perfurando o peito de sua vítima.

— Então... era você... o tempo todo... me desculpe... minha linda flor… — Raymond sussurrou, fazendo força para sua voz sair, enquanto sua vida se esvaía lentamente.

Diana, Markos e Harold acompanharam Art até sua casa. 

A sala estava silenciosa enquanto todos se acomodavam.

Art sentou-se em uma poltrona, com Diana ao seu lado no sofá, enquanto Markos e Harold se sentaram em cadeiras opostas.

— Certo, Art! Nos conte sobre toda essa bagunça esquisita que essa noite se tornou. — Harold disse, já cansado e nervoso, ajustando sua túnica.

Art assentiu.

— Tudo bem! Lisa! Venha aqui.

De um dos quartos, a garota saiu andando calmamente pela sala. Seus curtos cabelos loiros balançavam suavemente enquanto seus olhos roxos brilhavam à luz do ambiente. Ela usava seu vestido verde com detalhes dourados, o que a deixava ainda mais pequena e delicada diante dos adultos.

— Mas que car... — Harold exclamou, pulando para trás e quase derrubando a cadeira. Seus olhos castanhos arregalados mostravam surpresa e choque.

Markos soltou uma gargalhada.

— Calma aí, Harold. Ela é só uma criança!

Lisa olhou curiosa para os visitantes, especialmente para Markos, que lhe deu um sorriso caloroso, como um grande urso tentando ser simpático.

— Seu nome é Lisa. — Art começou a explicar. — Ela é a elfa que encontramos naquele túnel.

Harold ainda parecia em choque, mas Markos inclinou-se para frente, observando-a.

— E você é uma garotinha fofa, não é? — disse ele, ainda com o mesmo sorriso.

— Não precisa tratar ela igual um bebê, seu gorila. — Harold disse, repreendendo o amigo.

Lisa sorriu timidamente, olhando para o chão. 

Diana riu e cutucou Art, sussurrando.

— Acho que Mark encontrou uma nova amiga.

Art sorriu de volta; contudo, logo ficou sério.

— Nós não sabemos exatamente como ela chegou aqui, mas é claro que isso significa que algo está muito errado. E pelo visto não somos os únicos que sabemos sobre ela. O domo deveria ser impenetrável. Sabendo disso, é onde esses supostos artefatos entram. — ele disse, apontando para a pedra no colar de Lisa.

— Exatamente. — Harold concordou, agora mais calmo, porém ainda confuso. — Isso significa que o domo pode estar enfraquecendo ou que alguém encontrou uma maneira de passar por ele, talvez usando esses... Artefatos.

Diana — com os olhos cheios de preocupação — olhou para Harold.

— Precisamos descobrir como isso aconteceu e o que isso significa para a nossa segurança.

— Não só para a nossa, mas de toda Aurora. — Art completou.

— Bem, pelo menos ganhamos uma aliada fofa. Mas sim, isso é sério; precisamos de respostas — disse Markos, com um sorriso estampado, segurando a pequena mão da garota.

Lisa olhou para Art, com sua expressão inocente e curiosa. Ele assentiu, transmitindo segurança.

— Vamos cuidar de você, Lisa. Prometemos.

A sala ficou em silêncio por um momento, cada um processando a situação. 

Diana quebrou o silêncio, com a voz firme.

— Vamos esperar por Gideon e por meu pai. Juntos decidiremos o que fazer.

— Falando nisso, está estranho. Meu pai está demorando mais do que deveria. — Art respondeu.

Todos tentaram se manter acordados o máximo que puderam; entretanto, logo perderam a luta contra o sono.

Ao acordarem, foram surpreendidos por batidas insistentes na porta. Art esfregou os olhos, ainda sonolento, e caminhou até a entrada da casa. Quando abriu a porta, viu Edgar, com uma expressão sombria no rosto.

— Capitão? O que aconteceu? — perguntou, sentindo uma pontada de preocupação.

Ele suspirou, sua voz grave e cuidadosa.

— Diana está aqui?

Art assentiu e a chamou — que apareceu ao seu lado — ainda tentando despertar totalmente.

— Diana, eu tenho algo importante para te contar. — Edgar começou, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Raymond... seu pai... faleceu.

A jovem guerreira ficou imóvel por um momento, seus olhos dourados arregalados.

— O quê? O que aconteceu? Como isso é possível?

Edgar hesitou, mas sabia que precisava ser honesto.

— Ele foi assassinado, Diana. Ainda não sabemos quem, mas faremos o possível para descobrir.

Diana levou a mão à boca, seus olhos lacrimejando.

— Não... isso não pode ser verdade...

Edgar colocou a mão em seu ombro, tentando confortá-la.

— Sinto muito, Diana. Vamos descobrir quem fez isso. Eu prometo.

Art abraçou sua amiga, tentando fazer o possível para confortá-la.

— O rei mandou organizar um enterro digno. Seu pai foi um grande homem, contribuiu muito para o avanço de Aurora. — O capitão finalizou, com a voz firme, expressando o respeito que Raymond merecia.

Um pouco mais tarde, chegando ao enterro, Diana estava ao lado de Art, se esforçando para se manter firme. 

Muitos soldados estavam presentes — erguendo suas espadas — em pose de respeito. Edgar, Markos e Harold também estavam lá, compartilhando a dor da perda. 

Logo, Asuka chegou, completamente deprimida.

— Fiquei sabendo, mestra. Sinto muito! — a jovem disse, abraçando-a. 

Ela retribuiu o abraço, com lágrimas escorrendo por seu rosto.

Art, por outro lado, começou a se incomodar. Ele olhou ao redor, procurando por seu pai. 

“Meu pai deveria estar aqui, mas não há sinal dele.” 

O rei, Aldric Everhart, que estava presente, se aproximou do grupo, chamando a atenção de todos. 

Era um homem de idade avançada, refletindo a sabedoria e a experiência acumuladas ao longo dos anos. Ele possuía uma figura imponente, com uma barba longa e espessa que descia até o peito, a qual já estava completamente grisalha. Seu cabelo — igualmente longo — enquadrava seu rosto com uma dignidade real, mesmo que a cor original tenha sido substituída pelos sinais do tempo. 

Era um pouco corpulento. Seu corpo robusto evidenciava uma vida de indulgências reais. Seu rosto, marcado por rugas profundas, carregava um semblante sério e autoritário, mas seus olhos cor rubi ainda brilhavam com uma intensidade e inteligência que impunham respeito e admiração. 

Ele usava uma coroa elaborada, adornada com gemas preciosas que refletiam sua riqueza e poder. Seu traje era majestoso, composto por um manto de veludo. Sob o manto, vestia uma túnica de seda branca, cintilante e impecável, ajustada ao seu corpo grande. Um cinto de ouro — decorado com pedras preciosas — circundava sua cintura, sustentando uma espada cerimonial com uma lâmina adornada e um punho incrustado de joias. 

Botas altas de couro preto completavam seu visual, polidas e decoradas com fios dourados, refletindo a luz com cada passo que dava. Ele ergueu a mão, pedindo silêncio, e começou a falar em um tom solene.

— Hoje nos reunimos para nos despedir de um grande homem, Raymond Prouse. Ele não era apenas um amigo pessoal, mas também um pilar de nossa sociedade. Essa perda não é apenas para sua família, mas para todos nós em Aurora.

Ele fez uma pausa, olhando para a multidão com tristeza.

— Raymond dedicou sua vida ao bem-estar de nosso reino, e nós devemos honrá-lo continuando seu trabalho. Prometo que faremos todo o possível para encontrar o culpado por este ato terrível e trazê-lo à justiça.

Diana segurou a mão de Art — apertando com força — enquanto o rei continuava.

— Que todos nós lembremos de Raymond com o respeito e a admiração que ele merece. Ele será sempre lembrado como um Herói de Aurora.

Ao fim de suas palavras, a multidão presente permaneceu em silêncio, refletindo sobre a perda e o compromisso de honrar suas memórias. 

Art observava tudo, ainda preocupado com a ausência de seu pai, mas decidido a apoiar Diana e buscar justiça para sua amiga.

No final da cerimônia, Edgar se aproximou com um olhar desconfiado.

— Onde está seu pai, Art? Não o vi por aqui. — perguntou, a desconfiança era evidente em sua voz.

Art balançou a cabeça, confuso e preocupado.

— Não o vejo desde ontem. Eu também gostaria de saber onde ele está. — respondeu, tentando esconder a inquietação em sua voz.

O capitão assentiu, ainda expressando estranheza, e então caminhou em direção à Diana.

— Encontrei algo no laboratório de Raymond. Uma carta... Para você. — disse ele, entregando um envelope cuidadosamente dobrado.

Diana pegou a carta com as mãos trêmulas e com o coração acelerado.

— Obrigada, Edgar! — ela sussurrou, sentindo uma nova onda de tristeza e curiosidade.

Ele olhou para ambos, com uma expressão séria.

— Muitas coisas têm acontecido ultimamente. Descansem nos próximos dias. Vocês precisam de tempo para processar tudo isso. Ahhhh! Parece que estou dizendo essa frase muitas vezes nos últimos dias. — disse, desabafando antes de se afastar para dar espaço aos jovens.

Art e Diana ficaram ali — em silêncio — refletindo sobre os eventos recentes e o que poderia ter na carta. 

Em um ápice de coragem, Diana abriu o envelope, e o que encontrou foi um simples poema:

 

Em tempos de trevas e dor,

A verdade oculta, sob véu de amor.

Nos corações valentes, a chama tarda,

Somente a luz pode revelar o que minha linda flor guarda.

Do Papai para sua LINDA FLOR.

 

— Talvez não seja nada demais. — Diana suspirou, desapontada, tentando esconder a frustração em sua voz.

Art assentiu.

— É possível. Talvez Raymond apenas gostasse de escrever. Vamos guardar isso e tentar descansar.

Ei, Shosckk aqui!

Meu sincero agradecimento por apoiar O Domo de Aurora: Os Sete Artefatos, torço para que goste e acompanhe a história!

*Eu mesmo faço os esboços das imagens, depois finalizo com IA. Te convido a dar uma olhada no canal do youtube, onde até mesmo já postei uma incrível trilha sonora para a obra Youtube Shosckk (E vem mais coisas por ai!). 

*Caso queira fazer alguma doação para ajudar a obra: PIX - [email protected]

Te vejo nos próximos capítulos!



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