Volume 1

Capítulo 4: Família ②

Art sentou-se em uma cadeira em frente ao seu pai, escutando-o atentamente.

— Semanas antes de conhecê-la, entrei para a Aurora Force. Tomei essa decisão não porque queria alcançar algo, mas porque sabia que eu era forte. 

     Foi lá que conheci Raymond. Ele era diferente: um lanceiro pouco habilidoso, mas que sonhava em mudar Aurora com suas invenções. Entende? Ele tinha um sonho e, mesmo sem possuir um talento extraordinário como guerreiro, seguia em frente, esperando o momento de mostrar suas verdadeiras habilidades. Durante meu tempo naquele lugar, também conheci Edgar Ravenswood.

— O capitão?

— Isso mesmo! Ele ainda não era capitão naquela época. Era apenas um guerreiro comum que se esforçava mais que qualquer outro. O mais interessante é que Edgar havia acabado de perder seu pai, o único familiar que ainda tinha, e mesmo assim era o que mais se dedicava, uma determinação que até hoje não vi igual. 

     Lá, conheci muitas pessoas que carregavam diversos sonhos, e sempre me questionava se eu deveria ter algum. Curiosamente, a vida reservava uma surpresa para aquele garoto apatético.

     Ao anoitecer daquele dia, que ainda estava um pouco nublado, saí da base e caminhei pelo centro do reino. Quando me aproximei da biblioteca central, uma mulher passou correndo desesperada ao meu lado e esbarrou no meu braço.

     Ela carregava alguns livros, que foram parar longe com a queda. A moça os recolheu rapidamente, olhando ao redor como se estivesse com medo de alguém. Aproximei-me e perguntei se estava bem, mas não obtive nem sequer uma expressão.

     Logo, dois soldados apareceram virando a esquina, gritando para que eu a segurasse. Ainda sem entender o que estava acontecendo, não interferi. Ela se levantou e continuou correndo. Os soldados passaram por mim e seguiram-na. 

     Quando retomei meu caminho para casa, uma senhora de uma modesta loja de verduras gritou.

     — Ei você!

    Eu a encarei, e ela, com um olhar de desaprovação, continuou.

     — Pela sua roupa vejo que é da Aurora Force. Achei que tinham honra.

     Depois dessa bronca, a senhora simplesmente se virou, como se ignorasse minha presença. Eu sabia que ela estava se referindo à mulher que fugia com os livros, mas não me importava.

     No entanto, pela primeira vez em muito tempo, meu coração acelerou, e eu não compreendia o motivo. Apenas senti que deveria ter ajudado aquela moça.

     “Droga”  Foi o que pensei.

     Na última vez que senti isso, não havia acontecido algo bom. Apesar de tudo, decidi ir atrás dos soldados e os alcancei perto da copa de uma grande árvore. 

     Eles já a haviam capturado, e os livros estavam novamente espalhados pelo chão.

     — Esperem! Soltem ela! — gritei.

     — Essa ladra tentou fugir com livros da biblioteca central — um dos soldados respondeu.

     — Não… não é isso! — ela retrucou.

     — Não me interessa, apenas soltem ela!

     — E quem você pensa que é, garoto? — o outro soldado disse, com raiva.

     — Sou Gideon Hammer, mago da Aurora Force.

     — Hahahaha! Você acha que isso é importante? Somos soldados da Guarda Real, nós não somos inúteis como vocês, nós protegemos esse reino e mantemos a ordem. A Aurora Force não passa de um bando de idiotas protegendo um campo de força mágico que protege a si mesmo. Saia daqui antes que seja preso também. 

     Aquilo me irritou profundamente. Criei gigantescos livros de água e os lancei. Haha… Confesso que foi engraçado.

     Eles se levantaram e saíram correndo, gritando que eu iria me arrepender. Agachei-me, levantei a moça que havia caído e quebrei sua algema. Fui até a copa da árvore e peguei os livros.

     — Gostei da magia que usou. — ela disse, abrindo um sorriso.

     — Você realmente roubou estes livros?

     — Não. Eu...?

     — Você o quê?

     — Eu iria devolvê-los, mas sempre quis ler um livro embaixo desta árvore, sob o céu estrelado.

     — Ah... então é isso. Só não entendo a razão de um sonho tão simples.

     — Minha mãe me trazia aqui e me contava antigas histórias sobre o mundo exterior. Nós conversávamos sobre o que poderia existir lá fora, os mistérios que cercam nossas vidas, esse domo mágico estranho… — ela se empolgava cada vez mais, me lembro até hoje. — Você não acha isso empolgante? Nunca pensou em conhecer o mundo?

     — Eu... Não tenho sonhos.

     — É mentira! É impossível alguém viver sem sonhar. Tenho certeza de que há um sonho dentro do seu coração. E se você ainda não o encontrou, certamente o achará.

     Essa fala perfurou minha alma. Foi como se uma chama se acendesse dentro de mim.

    — Venha! Sente-se aqui! — ela disse, sentando-se na grama, encostando-se na árvore e batendo a mão no chão para me chamar.

    Eu não sei por quê, mas aceitei o convite sem questionar. Quando me sentei e encostei na árvore, ela falou enquanto olhava para o céu:

     — Você parece cansado… mesmo não sendo velho. Não sei qual peso você carrega, mas a vida coloca desafios à sua frente todos os dias. Coisas boas e ruins acontecem. Muitas vezes, essas coisas pesam tanto que você acha que não conseguirá se levantar. Mas é aí que está: não se trata do peso que está carregando, pois, de alguma forma, algo surgirá e lhe dará forças para seguir em frente.

     Eu apenas olhava para seus lindos olhos azuis, que refletiam o brilho das estrelas. Naquele momento encontrei uma luz que havia perdido.

     — Qual o seu nome?

     — Marian.

     — É um prazer te conhecer, Marian!

     Depois disso, fiquei ao seu lado enquanto ela lia. Em seguida, fomos à biblioteca, pedimos desculpas e devolvemos os livros. A deixei em casa em segurança e então fui embora. 

     No dia seguinte, o rei me chamou pessoalmente e disse que queria me nomear mago real. Os soldados haviam contado aos seus superiores sobre o ocorrido, e a história chegou aos seus ouvidos. Estava surpreso com a minha coragem e habilidade, e queria que após meu treinamento na Aurora Force, me juntasse a eles. Eu aceitei, mas, para ser sincero, aquilo não tinha relevância para mim. 

     Todos os dias, ao anoitecer, Marian e eu íamos juntos até aquela árvore, onde teorizávamos sobre o mundo exterior e sobre a vida aqui dentro. Eu descobri o meu sonho: era apenas estar todos os dias ao lado dela. E não importava qual peso carregava, pois com ela, poderia seguir em frente. 

    Agora ela se foi... e isso, com toda certeza, me fere mais do que qualquer magia ou espada. Me dói saber que poderia tê-la abraçado mais e dito que a amava a cada segundo. Infelizmente, não posso voltar atrás. No entanto, ainda tenho você, Art, e você carrega os sonhos dela. Me desculpe por não ter sido o melhor pai; acho que me deixei levar demais pelas responsabilidades…

— Não, pai. Você fez o melhor que podia. Obrigado por tudo! — Art interrompeu, com os olhos cheios de lágrimas, lembrando-se do quanto aqueles pequenos momentos passados sob a copa daquela árvore significavam não só para ele, mas também para seus pais.

Alguns minutos se passaram, e Art foi dormir. 

Gideon caminhou até o quarto de Marian. Diana havia adormecido ao lado de Lisa, que pediu que ela ficasse ali até conseguir dormir. Ele, com calma, aproximou-se da garotinha — que estava completamente descoberta — e a cobriu.

Ao voltar para a sala, sentou-se e levantou a cabeça com os olhos fechados, suspirando.

— Marian... talvez nosso filho esteja prestes a realizar os seus lindos sonhos.

Em meio aos seus pensamentos, ouviu passos leves se aproximando. Olhou para a porta da sala e viu Lisa — com os olhos sonolentos — curiosa.

— Você não consegue dormir, não é mesmo? — Gideon perguntou.

Lisa balançou a cabeça negativamente.

— Eu também não... Quer conversar um pouco?

Ela se aproximou e sentou-se por perto. Ele a olhou, tentando entender a complexidade daquela pequena elfa e o motivo de sua presença ali.

— Lisa, você sente falta da sua família? — perguntou suavemente.

Ela assentiu.

— Eu também sinto falta da minha esposa. — disse, com a voz embargada. — Ela era uma mulher incrível! Forte, corajosa, sempre sabia o que fazer...

Lisa o olhou com empatia, sentindo a dor que ele carregava. Era um sentimento que compreendia bem, pois compartilhava da mesma dor.

— Eu não sei o que o futuro nos reserva, Lisa, mas prometo que vamos superá-lo. E enquanto estivermos juntos, você será parte da nossa família, ok?

Ela sorriu timidamente e assentiu, sentindo-se acolhida e protegida. Apesar de todas as incertezas, sabia que, ao lado de Gideon, Art e Diana, havia encontrado um novo lar e, possivelmente, respostas para suas perguntas.

Ei, Shosckk aqui!

Meu sincero agradecimento por apoiar O Domo de Aurora: Os Sete Artefatos, torço para que goste e acompanhe a história!

*Eu mesmo faço os esboços das imagens, depois finalizo com IA. Te convido a dar uma olhada no canal do youtube, onde até mesmo já postei uma incrível trilha sonora para a obra Youtube Shosckk (E vem mais coisas por ai!). 

*Caso queira fazer alguma doação para ajudar a obra: PIX - [email protected]

Te vejo nos próximos capítulos!



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