Volume 1
Capítulo 4: Família ①
— Pai? — disse Art, com os lábios pálidos e os olhos arregalados, surpreso com a cena que presenciava.
Gideon se levantou, olhou fixamente para Lisa e depois para seu filho, sua expressão demonstrava o quão confuso e desapontado estava.
— O que uma elfa faz aqui em Aurora?
— Eu… — Art esboçou uma explicação.
— Calado! — seu pai gritou, com as palavras carregadas de ira.
Um momento de silêncio tomou conta da sala. Diana pensava em como explicar a situação — levando em conta a pior possibilidade — que poderia significar até mesmo a morte de Lisa.
— O que está acontecendo? Uma criança elfa, se é que realmente é uma criança. Aqui em casa. Como? Dentro do Domo. — Gideon questionou, levando sua mão aos olhos — Art... Diana... Darei uma chance para que me expliquem este absurdo… Espero que consigam. Caso contrário, perguntarei a ela... E é bom que ela consiga me responder... Sua vida depende disso. — completou, enquanto suspirava, na tentativa de se acalmar e controlar a situação.
Após sua fala, pegou Lisa pelo braço e a colocou no chão.
— Sente-se e não se mexa. Vocês dois... sentem-se no sofá.
Eles se entreolharam, caminharam até o sofá e sentaram-se, com os olhares direcionados para Lisa — repleta de lágrimas — que os observava fixamente, expressando sua confiança e esperança de que pudessem salvá-la.
— Olha... Nós nã...
— Não Diana. Não precisa dizer nada. Vou explicar isso para o meu pai.
Art respirou fundo, e continuou:
— Tudo começou ontem de manhã. Eu estava me apresentando na linha de defesa e algo inexplicavelmente me chamou a atenção. Não sei explicar, era como uma voz na minha cabeça. Essa... sensação... me levou até um túnel abandonado. Nunca tinha visto um lugar como aquele antes, nem mesmo imaginava que teriam túneis assim aqui em Aurora.
— Espere, onde fica esse túnel?
— Não muito longe do centro da cidade. Próximo a algumas árvores… a entrada fica muito escondida.
— Certo. Continue. — respondeu pensativo, com uma das mãos em seu rosto.
— Então, quando entrei no túnel, percebi que levava até uma área subterrânea de Aurora, que ninguém nunca comentou a respeito. Caminhei um pouco, a voz se intensificou, até que desapareceu, foi nesse momento que percebi uma luz um pouco à frente, que me levou até uma pequena sala. E Lisa estava lá...
— Lisa? É o nome dessa elfa?
— Isso.
— E como você sabe? Ela fala nossa língua?
— Sim. Ela aprendeu muito rápido.
— Ahhh... É muita informação… Continue.
— É... Lisa estava inconsciente no chão. Me assustei quando percebi suas orelhas. Pensei em como elfos poderiam ter atravessado o domo e estarem dentro de Aurora… Seus olhos, mesmo fechados, estavam com um brilho estranho. E tinha...
— Tinha o quê?
— Arte… — Art hesitou, pois se lembrou melhor do ocorrido, e com os pensamentos em ordem começou a entender o que era o tal artefato.
— Diga logo!
— Ah! Desculpe! Tinha um rato bem grande.
— Você só pode estar de brincadeira, Art.
Diana percebeu a intenção do amigo, e esboçou um leve sorriso.
— Vocês acham isso engraçado?
— Não, pai. Me desculpe! Vou continuar... Antes que eu tomasse alguma decisão, Diana chegou e também se assustou com a situação...
— E o que ela estava fazendo lá?
— Eu segui Art até o túnel, pois achei estranha a forma que ele estava agindo.
— Isso. E então, quando ela chegou, Lisa acordou assustada, falando em uma linguagem estranha, provavelmente a linguagem dos elfos. Nós tentamos nos comunicar e ela parecia compreender, até que falou nossa língua. Pensamos que não poderíamos deixar ela ali, e que deveríamos ir até um lugar seguro.
— Sim, até porque levar uma criatura para dentro de casa, sem nunca ter chegado tão perto dela, é totalmente seguro.
— Nós não... pensamos tanto nisso no momento, mas pareceu a coisa certa a se fazer. Diana comprou um capuz para esconder as orelhas dela e a trouxemos para casa sem que ninguém desconfiasse.
— Mais alguém sabe?
— Não.
— Ótimo! Então... foi só isso? Ela está aqui desde ontem? Sua mãe se foi... e vocês não planejavam me contar isso nunca? Tudo o que aconteceu ontem e hoje... Vocês sabem o quanto está sendo difícil? Eu esperava que pudessem confiar em mim acima de tudo. Art, achei que você me contaria qualquer coisa, confiaria primeiramente em mim. Eu sou seu pai, eu o amo...
— Pai... Eu não sabia como prosseguir, tudo aconteceu de uma vez, eu iria te contar...
— Mas não contou. Agora vou levá-la até o rei, explicar o que aconteceu e torcer para que você e Diana não sofram quaisquer punições — disse ele, levantando-se da cadeira e indo em direção a Lisa.
— Espera! Não faz isso! É perigoso! Não sabemos o que pode acontecer com ela.
— Acontecer com ela? Você está preocupado com essa criatura? Olha só para isso...
— Me desculpem! — Lisa disse, em tom baixo e triste, fazendo com que até mesmo Gideon recuasse. — Art, Diana, eu não deveria estar aqui mesmo, não sei nem como cheguei aqui. Obrigada por tudo! Mas quero o melhor para vocês.
— Lisa... não precisa… mesmo assim não quero te perder… — o jovem disse, em tom de desespero, tentando achar uma forma de salvá-la.
Ele viu seu ímpeto parar quando uma pesada lágrima caiu no chão, causando um silêncio no local.
Art pensou que a lágrima pudesse ter sido de Lisa, Diana, ou até mesmo sua, porém se surpreendeu ao olhar o rosto de seu pai, que a cada segundo era envolto por mais lágrimas.
— Pai... O que...
— Me desculpem... Eu… — Gideon hesitou, soltando o braço da garota e limpando as lágrimas de seu rosto.
Ele sentou-se novamente, enquanto todos em sua volta estavam em choque.
— Você fala igual a ela... e essa roupa… — disse, se referindo ao fato de que a jovem elfa vestia uma das roupas de sua amada.
— Obrigada por tudo! Não me arrependo nem por um segundo dessa jornada ao seu lado! Eu... desejo o melhor para vocês! Essas foram as últimas palavras de Marian para mim.
— Minha mãe... disse... isso?
— Sim... ela segurou minhas mãos, disse essas palavras, disse que nos amava, era como se soubesse que seria nossa última vez juntos. Como eu não pude perceber? Eu teria aproveitado melhor aquele pequeno momento. Mas..."
Seguiu-se um momento de quietude. Todos estavam cabisbaixos.
— Garota... é... Lisa. Olhe nos meus olhos.
A pequena elfa levantou sua cabeça devagar, incerta do que aconteceria.
— Creio que não seja a melhor ideia... levá-la para o rei. Precisamos entender o que está acontecendo.
As algemas de água que a prendiam desapareceram.
Lisa abriu um sorriso de alegria e Diana correu para abraçá-la.
— Art, vamos pensar em como prosseguir. Creio que ela apareceu aqui por algo que está muito além do nosso entendimento, e não sabemos quem ou o que pode estar envolvido nisso — disse Gideon, olhando para seu filho.
— Pai… — Art respondeu, decidido a contar tudo o que havia escondido. — Preciso te contar mais uma coisa. Antes de chegarmos em casa, Diana e eu fomos atacados por três homens de capuz.
— O quê? Vocês foram atacados?
— Sim, e acho que isso tem relação com a chegada de Lisa.
—Tem mais algo que está escondendo de mim? — o experiente mago questionou, em tom sério, esperando que seu filho fosse totalmente transparente.
— Na verdade... tem sim. — respondeu, olhando para a pedra verde no colar de Lisa.
Após alguns minutos, Art havia explicado mais sobre suas suspeitas em relação ao item no colar da pequena elfa.
— Certo. Então essa pedra verde é um... Artefato? — Gideon perguntou.
— Sim. — Lisa respondeu.
— E existem sete desses Artefatos?
— Isso.
— E o que esses Artefatos fazem?
— Eu não sei. Só escutei meu pai falar sobre isso um dia. — a garota respondeu, se lembrando do dia em que sorrateiramente escutou a uma reunião de seu pai.
— Tudo bem! Vocês devem estar cansados e com fome. Vamos deixar essa conversa para depois.
Eles se surpreenderam com a mudança de humor de Gideon. Organizaram as compras e prepararam um delicioso jantar.
Diana organizou a mesa de jantar e Art colocou a comida. Gideon percebeu que Lisa estava distraída com um livro em mãos no sofá.
— Ei, Lisa! Não está com fome? Venha para à mesa.
Ela abriu um meigo sorriso, fechou o livro e juntou-se a eles.
— Seu pai está estranho. — Diana sussurrou.
— É verdade. Não me lembro da última vez que o vi assim. — respondeu em tom semelhante, aliviado por ver seu pai de bom humor, apesar da dor que estavam enfrentando.
— Lisa, conte-me mais sobre o lugar de onde veio.
— Bom, senhor Gideon, eu venho do Bosque dos Elfos do Norte. — ela respondeu, enquanto mordia um suculento pedaço de carne.
— Interessante... Pode comer à vontade. Me desculpe! Depois falamos sobre isso.
Gideon tentava se conter, mas sua curiosidade transparecia facilmente.
Momentos depois, terminaram de comer e se espalharam pela casa.
Lisa se vestiu após sair do banho, caminhou até o quarto de Marian e se maravilhou ao ver Diana — que havia acabado de se vestir — penteando seus longos cabelos próxima à janela, que refletia a linda noite estrelada.
— Oi!
— Ah! Oi princesa! Está tudo bem?
— Sim. É que... seus cabelos são lindos! Quando eu crescer quero ser linda como você.
— Hahaha... Você já é linda! — Diana disse, se aproximando com um meigo sorriso.
— Obrigada! — Lisa respondeu, com seu rosto corando.
Na sala, Art se aproximava de seu pai, que estava sentado à mesa — próximo a uma estante de livros — lendo em profunda concentração.
— Já fazem 2 minutos que está parado me olhando. — Gideon disse, sem tirar os olhos dos livros, com um sorriso sarcástico.
— É... Que... É...
— O que está te incomodando?
— Eu... Tem tanta coisa acontecendo: a aparição da Lisa, o ataque que sofremos e… como se não fosse o suficiente, minha mãe...
— Veja, filho. A vida coloca desafios à sua frente todos os dias. Coisas boas e ruins acontecem. Muitas vezes, essas coisas pesam tanto que você acha que não conseguirá se levantar. Mas é aí que está: não se trata do peso que está carregando, pois, de alguma forma, algo surgirá e lhe dará forças para seguir em frente. Sabe quem me ensinou isso?
— Quem?
— Marian.
Art arregalou seus olhos, fixos no que seu pai dizia.
— Eu ainda não te contei essa história, não é? Sua mãe me disse isso no dia em que eu a conheci. Era um dia nublado aqui em Aurora. Eu não passava de um jovem mago, como você. Mas diferente de você, meu filho, eu não tinha sonhos. Tudo o que fazia era sobreviver, dia após dia. Não me importava com o que havia lá fora, não tinha a mínima curiosidade sobre nada, eu apenas existia.
— É a primeira vez que escuto isso.
— Sente-se! Vou lhe contar sobre o dia em que minha vida mudou.
Ei, Shosckk aqui!
Meu sincero agradecimento por apoiar O Domo de Aurora: Os Sete Artefatos, torço para que goste e acompanhe a história!
*Eu mesmo faço os esboços das imagens, depois finalizo com IA. Te convido a dar uma olhada no canal do youtube, onde até mesmo já postei uma incrível trilha sonora para a obra Youtube Shosckk (E vem mais coisas por ai!).
*Caso queira fazer alguma doação para ajudar a obra: PIX - [email protected]
Te vejo nos próximos capítulos!