Volume 1
Capítulo 3: Dor ①
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7 anos antes.
O céu noturno era um espetáculo sem fim, as estrelas cintilavam como diamantes sobre o domo de Aurora. Sentados sob a sombra reconfortante de uma majestosa árvore, Art e sua mãe compartilhavam um momento raro.
Marian estava envolta em uma veste suave e bonita, tecida com os mais delicados fios do reino. A luz da lua acariciava as dobras do tecido, criando uma aura de graça em torno dela. Sua expressão maternal irradiava serenidade e amor, envolvendo seu filho em um abraço invisível de segurança.
— O que há em seu coração, meu querido? — disse, percebendo o claro desconforto em seu filho.
Art suspirou, seus olhos fixos nas estrelas distantes.
— É o papai... Ele trabalha tanto, quase não passa o tempo ao nosso lado.
Ela colocou uma mão gentil no ombro do garoto.
— Seu pai tem uma função vital aqui, Art. Ele nos ama profundamente, mesmo que seu tempo seja escasso.
Uma estrela cadente cortou o céu, capturando a atenção de Art. Seus olhos brilharam com fascínio.
— Você sabia que, antigamente, as pessoas pediam desejos às estrelas cadentes? Dizem que eles se realizavam. — Marian comentou.
Ele fechou os olhos, desejando fervorosamente.
— Eu queria que pudéssemos ficar assim para sempre, olhando as estrelas juntos... e descobrir o que está além do domo.
— Então a partir de agora... esse também é meu sonho, meu filho. — respondeu, com um sorriso suave. Seus cabelos negros dançavam ao vento, refletindo a luz da lua em seus olhos azuis, tão semelhantes aos de Art.
Sua expressão ficou séria por um momento.
— Não importa o que aconteça, saiba que eu e seu pai sempre te amaremos!
O garoto corou, sentindo-se aquecido pela ternura de sua mãe.
— Eu também amo vocês!
Um momento de silêncio seguiu, quebrado por uma inocente curiosidade.
— Mãe... Você acha que a Diana gostaria de explorar lá fora também?
Marian riu calorosamente, sua voz suave ecoava na brisa noturna.
— Acho que você deve perguntar diretamente a ela, meu querido!
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Uma figura misteriosa bateu à porta da casa. O som ecoava pela sala, preenchendo o ambiente com uma tensão palpável. Art olhou para Lisa e Diana, seus olhos transmitindo preocupação.
— Lisa, se esconda. — sussurrou rapidamente, enquanto Diana assentiu, pronta para ajudar a menina a encontrar um local seguro.
Ele respirou fundo e foi até a porta. Seu coração batia rápido enquanto girava a maçaneta, preparado para qualquer coisa que encontrasse do outro lado.
Para sua surpresa e alívio, era seu pai, Gideon Hammer.
Era um homem alto e imponente, com cabelos escuros e olhos penetrantes que refletiam uma profunda tristeza naquele momento. Sua túnica azul-escuro e barba bem cuidada destacavam sua expressão grave e austera.
Ele olhou para seu filho com pesar e resignação.
— Pa... Pai? — Art murmurou, incerto do que esperar.
Por conta de ser um mago real, Gideon morava no castelo do rei, porém aparecia em casa quase todos os dias, hábito que se tornou raro depois que sua esposa ficou hospitalizada com uma doença rara e aparentemente incurável. Nem mesmo os melhores magos e cientistas conseguiram curá-la.
Art e seu pai tinham o costume de jantarem juntos alguns dias da semana, para não se manterem tão distantes, além de sempre se encontrarem no hospital para visitar sua mãe.
O jovem imaginou que a repentina visita se dava por conta do ocorrido durante o dia, e que o capitão poderia tê-lo entregado.
— Me desculpa... Não vai se repetir. — ele parou ao ver que seu pai não expressava reação a sua fala, apenas se entristecia cada vez mais. — Mas... O que foi? — disse, tentando receber alguma reação.
Gideon assentiu sombriamente, sua postura estava rígida e seus ombros pesados com o fardo da notícia que trazia consigo.
— Art. — começou, com a voz vacilante. — Precisamos conversar.
Art sentiu um aperto no peito.
— O que aconteceu?
— É sobre sua mãe. Marian… — gaguejou, lutando para encontrar as palavras certas. — Se... Foi. — completou, com discretas e pesadas lágrimas percorrendo seu rosto.
“Minha mãe não resistiu?” Foi difícil processar a gravidade das palavras de seu pai. Era como se o chão debaixo de seus pés fosse arrancado.
Diana — que estava atrás dele — pôde ouvir a conversa, e sua expressão se tornou sombria. Ela a amava muito, pois sua mãe não resistiu ao parto, e Marian basicamente a criou desde seu nascimento.
Lisa — escondida em um canto da sala — escutava tudo com olhos arregalados e trêmulos, isso fez os últimos acontecimentos repassarem como um turbilhão por sua cabeça, seu pai, sua mãe, a vontade de estar com eles novamente, e a incerteza do que seria a partir de agora. Isso provocou um visível contraste entre a controlada e equilibrada princesa que foi ensinada a ser, e os medos e inseguranças da pequena garotinha que ainda era.
Gideon entrou, e todos passaram a noite em silêncio, tentando se conformarem com a dor.
Art até mesmo se esqueceu de Lisa. No entanto, Diana, apesar do sofrimento, manteve-se racional, encobrindo a garota e dando um pouco de espaço para a família.
No dia seguinte, um pequeno enterro se iniciava.
O sol brilhava fraco no céu nublado, o domo refletia uma luz pálida sobre o grupo reunido ao redor do túmulo. Art, Diana, Gideon e Raymond se juntaram a alguns conhecidos para prestar suas últimas homenagens a Marian.
O ambiente estava silencioso, exceto pelo som distante do vento. O ar estava carregado de tristeza e pesar.
Os dois amigos permaneceram lado a lado, compartilhando um conforto silencioso em sua dor mútua.
Alguns minutos depois, Edgar apareceu para desejar seus sentimentos, e se aproximou calmamente.
— Eu sei que talvez minhas palavras não vão te fazer sentir melhor, mas... Eu sinto muito... Sei o quanto é difícil o momento que está passando. — disse, com a respiração pesada.
Após uma pausa, com um olhar carregado de compaixão, completou:
— Acho melhor que descansem, tirem um tempo para vocês, não precisam se preocupar com o trabalho.
Art ficou um pouco em silêncio, sua mente cheia das memórias que carregava de sua mãe, seus momentos juntos, sentados sob a sombra reconfortante da majestosa árvore, a paixão que ela frequentemente expressava em entender os mistérios e conhecer o mundo além do domo, os livros que lia ao seu lado.
Essas memórias o fortaleceram, dando-lhe a determinação de seguir em frente, mesmo diante da dor avassaladora.
— Não... Obrigado pelas palavras... Mas, não... Não vou descansar. — respondeu, com a voz firme.
O momento foi interrompido por Raymond, um homem de estatura média, com cabelos grisalhos e olhos castanhos expressivos — por trás dos discretos óculos que usava.
Sua postura era firme e sua expressão séria, refletindo a seriedade de suas responsabilidades como pai e líder do departamento de ciência do reino. Vestia roupas simples, contudo bem cuidadas, adequadas para o trabalho diário e para ocasiões formais.
Ele colocou gentilmente o braço direito no ombro de sua filha.
— Meus sentimentos, Art! É um momento difícil para todos nós. — externou, acenando com a cabeça, e saiu em direção a Gideon — um pouco afastado — que deixava flores no túmulo de sua amada.
— Gideon… Marian foi um anjo na vida da minha família. Ela criou Diana como se fosse sua própria filha.
— Raymond, meu amigo, ela havia prometido a Sarah que cuidaria de sua filha caso algo acontecesse. Minha Marian sempre foi um anjo, e tenho certeza que continuará cuidando de todos nós. — ele respondeu, com um leve sorriso no rosto, repleto de saudade.
Um tempo depois, Art voltou para casa, na companhia de seu pai e Diana, suas mentes ainda giravam com a perda repentina.
Ao chegarem próximos à porta, Gideon colocou a mão em seu ombro, e disse:
— Filho, tem certeza que quer trabalhar hoje? Descanse um pou… — Art o interrompeu.
— Já me decidi, eu vou trabalhar, todos nós deveríamos, é o que minha mãe iria querer… que continuássemos em frente.
Seu pai consentiu, se despediu e saiu.
Antes de abrirem a porta, Diana e Art se entreolharam, como se entendessem seus sentimentos e angústias apenas com um simples olhar.
Ao entrarem, foram surpreendidos por Lisa, que os recebeu com um abraço forte e reconfortante.
Art ficou em choque, imóvel, mas ao processar a repentina situação, seus olhos lacrimejaram, e em meio a luta para não desabar, correspondeu ao abraço e chorou como uma criança.
Diana também não se conteve — lágrimas escorriam sem que controlasse — e gentilmente se juntou ao caloroso abraço.
Em um momento de dor e despedida, encontraram conforto uns nos outros, unidos pelo luto e pela determinação de seguir em frente.
Ei, Shosckk aqui!
Meu sincero agradecimento por apoiar O Domo de Aurora: Os Sete Artefatos, torço para que goste e acompanhe a história!
*Eu mesmo faço os esboços das imagens, depois finalizo com IA. Te convido a dar uma olhada no canal do youtube, onde até mesmo já postei uma incrível trilha sonora para a obra Youtube Shosckk (E vem mais coisas por ai!).
*Caso queira fazer alguma doação para ajudar a obra: PIX - [email protected]
Te vejo nos próximos capítulos!