Volume 1

Capítulo 1: A Jornada de Lisa ①

O sol estava se pondo sobre o Bosque dos Elfos do Norte, tingindo as copas das árvores com tons de dourado e laranja. 

Era um lugar sereno, com árvores altas que formavam um denso dossel, filtrando a luz do sol em feixes delicados. A brisa suave balançava as folhas, criando um sussurro reconfortante. 

Entre as árvores, flores coloridas e raras cresciam em abundância, espalhando um aroma doce pelo ar. A beleza do lugar era indescritível, uma mistura de cores e sons que fazia qualquer um se sentir em casa.

Lisa — uma jovem elfa — corria pelo bosque, pulando por cima de raízes e troncos caídos enquanto ria e brincava. Seu vestido verde-água balançava tão suavemente quanto o vento que o tocava. 

Ela perseguia uma borboleta de asas azuis que voava levemente pelo ar. Sua risada ecoava entre as árvores, misturando-se com o canto distante dos pássaros e o farfalhar das folhas. Cada passo a levava para mais longe do jardim onde sua mãe, Araphyra, cuidava das flores. 

Quando finalmente percebeu que se afastou demais, a luz do dia já desaparecia. O céu havia se transformado em uma paleta de tons escuros, com algumas estrelas brilhando entre as árvores. 

O bosque ao seu redor — antes cheio de vida e cor — agora era mais sombrio, com as sombras se alargando entre os troncos. O ar tornou-se mais frio e denso, e o som de insetos e animais noturnos preenchia o silêncio que a ausência do canto dos pássaros havia deixado. 

Ela parou de correr, seu coração acelerava à medida que percebia que não reconhecia mais o caminho de volta. 

As trilhas familiares durante o dia agora estavam cobertas por uma penumbra incômoda. Cada direção que olhava a levava para mais longe de casa, e a escuridão entre as árvores crescia a cada minuto. 

A jovem elfa sentiu um arrepio subir pela espinha, seus instintos a alertavam do perigo iminente. 

Ela engoliu em seco, seus olhos buscavam desesperadamente por algum sinal que a guiasse de volta ao jardim de sua mãe. Porém, tudo o que encontrou foram árvores altas e a crescente escuridão. 

Estava perdida, e a noite havia chegado, cobrindo a floresta com um manto de incerteza e medo. 

Lisa tentava encontrar o caminho de volta quando ouviu um som distante, todavia inquietante. A princípio, era como um rugido baixo, um trovão abafado. No entanto, à medida que o som se aproximava, tornava-se mais intenso e assustador, reverberando pelas árvores do bosque. 

A jovem elfa levantou a cabeça, e sua curiosidade rapidamente se transformou em medo.

Logo, avistou um imenso dragão voando pelo céu. Suas asas gigantescas batiam com força, criando uma corrente de ar que fazia as folhas das árvores tremerem.

O corpo do dragão era escuro, mas suas escamas refletiam a luz das chamas que ele cuspia. Cada rajada de fogo iluminava o horizonte, deixando uma trilha de destruição que avançava em direção ao bosque dos elfos. 

Os olhos de Lisa se encheram de lágrimas, um frio repentino a envolveu, e seu coração acelerou.

— Mãe! — gritava, enquanto corria desesperada.

O som de sua voz era abafado pelo rugido do dragão e pelo crepitar do fogo que se espalhava pelo céu. Conforme se aproximava, o cheiro de fumaça e queimado ficava mais forte, quase sufocante.

Quando chegou, a cena que encontrou foi devastadora. 

As casas estavam em chamas, pilares de fumaça subiam ao céu, e corpos de elfos jaziam espalhados por toda parte. Alguns ainda tentavam fugir do fogo que os consumia, enquanto outros já estavam imóveis e sem vida.

As labaredas iluminavam tudo com uma tonalidade laranja, mas era uma luz cruel, revelando o caos e a destruição. 

Mesmo com medo, Lisa entrou no bosque, seus passos hesitavam enquanto chamava por sua mãe e seu pai.

— Mãe? Pai? — sua voz era suave, quase um sussurro, pois o medo a dominava cada vez mais.

A densa fumaça dificultava respirar e ver entre os escombros.

Repentinamente, um estrondo sacudiu o chão, e o dragão colossal pousou com uma força brutal, criando uma ventania que a arremessou agressivamente para trás. 

Ao levantar o olhar, viu os enormes olhos do dragão a encarando. Eles brilhavam com uma intensidade assustadora, como se pudessem perfurar sua alma. 

Ela fechou seus olhos e levantou as mãos, tentando se proteger do que parecia ser uma força avassaladora. 

Antes que o dragão a atacasse, uma voz poderosa ecoou:

— Leve-a para longe! — era seu pai, Belros Tort, que apareceu entre as chamas, com uma expressão feroz.

Ele olhou para Araphyra e gritou com urgência:

— Leve-a para o Bosque dos Elfos do Oeste... Agora! 

Ela não hesitou. Correu e a pegou nos braços. 

Antes de sair, Belros deu à filha uma pedra preciosa verde, envolta em um colar.

— Mantenha isso com você. — ele disse, entregando a pedra à filha com um olhar preocupado.

Araphyra, segurando Lisa, partiu com os poucos elfos sobreviventes que conseguiram escapar do caos, enquanto seu marido lutava contra o dragão.

Belros — conhecido como a Espada dos Céus — possuía uma magia de luz impressionante, capaz de invocar titânicas correntes que desciam do céu — por meio de majestosos círculos mágicos — para prender seus oponentes, seguidas de uma espada que perfurava qualquer inimigo.

— Espada dos Céus, Expiação! — gritou, enquanto as correntes envolviam o dragão.

A criatura lutava para se soltar, quebrando as correntes com sua força descomunal. 

Ele percebeu que enfrentava um dos cinco dragões lendários, e precisaria usar toda a sua força para mantê-lo sob controle, invocando cada vez mais correntes com sua magia.

Com um intenso brilho dourado, enquanto refletia as chamas que a criatura cuspia freneticamente, a espada irrompeu, transpassando as grossas camadas de escamas do dragão que se debatia, desintegrando-o. 

Tragicamente, o impacto da explosão também custou a vida de Belros. 

— Meus amores... Vivam! — exclamou, sorrindo com alívio, enquanto sua vida se esvaía.

De longe, Araphyra viu a explosão. Suas lágrimas turvavam a visão, mas sabia que não podia parar, continuando seu caminho para o Bosque dos Elfos do Oeste com os poucos sobreviventes. 


Após três dias de viagem, o grupo estava cansado, desnutrido e abatido. 

— Onde está o papai? — Lisa perguntou, ainda cheia de esperança.

Sua mãe abriu um leve sorriso reconfortante.

— Ele vai nos encontrar no Bosque do Oeste. — respondeu suavemente.

Todos ao redor ficaram ainda mais tristes ao ouvir a inocência de uma criança que acabara de perder seu pai.

O grupo de elfos parou próximo à Ponte dos Ares, uma ponte antiga que atravessava um penhasco profundo, com um rio turbulento por baixo. 

Atravessá-la seria uma tarefa delicada, porém, apenas um dia de caminhada os separavam do destino.

Conforme a noite caía, acenderam uma fogueira para se aquecer e colheram algumas frutas para aliviar a fome. 

Embora tentassem se animar, a tristeza e o abatimento eram palpáveis.

Lisa adormeceu no colo de sua mãe, com uma das mãos segurando uma mecha de seus longos cabelos dourados, ainda abraçada ao colar que seu pai lhe deu. 

Seu sono foi interrompido por gritos. 

Um grupo de bárbaros humanos invadiu o acampamento, atacando os elfos sem piedade. 

A garotinha acordou assustada, procurando desesperadamente por sua mãe em meio ao caos. 

Quando finalmente a encontrou, Araphyra lutava contra um bárbaro que tentava agressivamente rasgar suas vestes. 

Com um movimento ágil, pronunciou a sua magia:

— Cut! — cortou o homem ao meio.

Ela correu até a filha e a abraçou com força.

— Corra! Atravesse a ponte! — gritou, sua voz era firme, mas tingida de desespero.

Lisa hesitou, seus olhos procuravam a segurança do colo da mãe, vendo o sangue e a lama que envolviam suas vestes brancas.

Araphyra sabia que as chances de sobreviverem eram baixas, ainda assim, não desistiria de salvar sua filha. 

Ela a empurrou em direção à ponte.

— Agora… Rápido! — exclamou, enquanto segurava um dos homens que se aproximava brandindo seu rústico machado sujo de sangue.

Os bandidos riram, convencidos de já haviam vencido. 

Todos os outros elfos estavam mortos, partiram com a agonia de saber que, se não fossem as circunstâncias da tragédia que ocorreu e a desgastante caminhada até o Bosque do Oeste, teriam exterminado os bárbaros humanos com facilidade.

Araphyra percebeu que a única maneira de escaparem era cortar a ponte e entregar suas vidas ao destino.

Com a mana que lhe restava, preparou-se para um último ato de coragem.

— Eu te amo, minha princesa. Sempre estarei contigo… — sussurrou, com a voz carregada de amor e tristeza. — Cut! — pronunciou, e, gesticulando com a mão, cortou a estrutura em duas partes.

A ponte desmoronou, lançando todos no penhasco abaixo. 

Lisa viu sua mãe cair no rio, enquanto os bandidos morreram ao colidirem contra as rochas escarpadas.

A jovem elfa pensou que sofreria o mesmo destino e fechou os olhos, chorando e agarrando com força o presente que seu pai lhe dera.

Subitamente, a pedra emanou um brilho intenso, e sentiu um calor reconfortante ao seu redor antes de tudo escurecer.

Quando abriu os olhos novamente, estava em um local desconhecido. O ambiente era escuro e úmido, a deixando mais apreensiva. 

Logo, viu duas figuras humanas que tentavam acalmá-la. Seus olhares eram curiosos e assustados, porém gentis. 

Para Lisa, a presença de humanos era motivo para desconfiança, considerando ainda o evento que acabara de presenciar. 

Ela abraçou ainda mais a pedra, procurando conforto enquanto tentava entender o que havia acontecido.

Ei, Shosckk aqui!

Meu sincero agradecimento por apoiar O Domo de Aurora: Os Sete Artefatos, torço para que goste e acompanhe a história!

*Eu mesmo faço os esboços das imagens, depois finalizo com IA. Te convido a dar uma olhada no canal do youtube, onde até mesmo já postei uma incrível trilha sonora para a obra Youtube Shosckk (E vem mais coisas por ai!). 

*Caso queira fazer alguma doação para ajudar a obra: PIX - [email protected]

Te vejo nos próximos capítulos!



Comentários