Volume 1
Capítulo 2: O Primeiro Amor de Alguém com Um Transtorno de Comunicação é Semelhante ao Sabor de Pão Mofado
E assim, de volta ao presente.
Depois de terminar o pagamento sem problemas, Zagan se sentia bem até voltar ao seu castelo. No entanto, após passar meia hora sem saber como falar com ela e se preocupando sem parar, a primeira coisa que a garota disse em voz alta foi—
“Como... você vai... me matar?”
Com uma voz que soava como um sino, ela disse algo assim — e ele não teve tempo de se deixar levar pela lembrança da melodia que aquilo deixara.
As algemas em suas mãos e pés haviam sido removidas, mas o colar que selava seu poder mágico ainda estava preso ao seu pescoço.
Ele queria tirá-lo também, mas mesmo para Zagan aquilo não era algo que pudesse ser facilmente destravado. Parecia que o anfitrião do leilão também não sabia como removê-lo, e tampouco havia algo como uma chave.
Provavelmente era um artefato do comprador original, o Arquidemônio Marchosias. A única opção era gastar tempo investigando o colar.
Não mostrava em sua expressão, mas a garota se dirigiu a Zagan com um tom deprimido.
“Se eu souber a maneira como vou morrer, acho que consigo reunir um pouco de coragem...” Seu rosto inexpressivo não parecia ser resultado de tensão, e sim de quem claramente já havia se conformado com seu destino.
Zagan então ergueu a voz, aflito.
“Espera, espera, espera! Eu não pretendo te matar. Na verdade, seria um problema se você não estivesse viva!”
Ele disse isso tentando tranquilizá-la, mas, por algum motivo, a expressão dela pareceu escurecer ainda mais.
“Em outras palavras, você não vai me permitir encontrar descanso nem na morte... é isso que quer dizer?”
A garota olhava para as correntes penduradas no teto, assim como para o esqueleto preso ali, enquanto dizia isso.
Um suor frio correu por sua bochecha.
Está errada. Era só que dava trabalho arrumar quando ele usava feitiçaria ali, então acabou deixando como estava! Aquele castelo era originalmente moradia de outro feiticeiro.
A fortuna usada para dar o lance vencedor na compra daquela garota também era algo que esse feiticeiro havia deixado para trás. Estritamente falando, não era algo que Zagan tivesse por conta própria.
Contudo, para o bem ou para o mal, o antigo dono era um feiticeiro típico — e pelo castelo havia instrumentos de tortura, aparatos mágicos e até esqueletos espalhados por toda parte. Os ossos pendurados no teto também não eram do gosto de Zagan, mas mesmo que dissesse isso em voz alta, provavelmente não conseguiria convencê-la.
Embora ela estivesse praticamente morrendo de medo, Zagan falou tentando acalmar a situação com serenidade.
“Fique tranquila. Não tenho intenção de usar essas coisas perturbadoras em você. Também não pretendo te atormentar. Não há absolutamente nada... do que você precise ter medo.”
Ele não conseguiu dizer isso com uma voz muito suave, mas, considerando que se tratava de Zagan, achou que havia conseguido transmitir o que queria dizer...
Se ela havia se convencido ou não, já era outra história.
E talvez como esperado, a garota inclinou levemente a cabeça, confusa.
“Hã...? Então, por que... você me comprou?”
“Bem, isso é...” Era uma dúvida óbvia.
No entanto, por causa da personalidade de Zagan, ele jamais conseguiria dizer que foi porque se apaixonou à primeira vista.
O que eu deveria fazer em momentos assim? Devia ter perguntado ao Barbatos...
Zagan o deixara para trás no local do leilão, mas, por algum motivo, ele não o seguiu.
Barbatos não parecia ter grande experiência com mulheres, mas mesmo assim, estava pelo menos no nível de quem dizia naturalmente “mulheres à sua escolha”. No mínimo, sabia mais sobre como lidar com mulheres do que Zagan — ou assim ele imaginava.
Zagan soltou um gemido, como se estivesse encurralado, e o que escapou de sua boca foram as seguintes palavras:
“Não há necessidade de você saber.”
Mas o que diabos eu tô dizendo!? Ele gritava dentro de si.
Porém, inesperadamente, a expressão da garota não mudou. Ela parecia um pouco abatida, mas apenas de forma sutil.
Essa calma... não é um pouco estranha? Talvez suas emoções simplesmente não se refletissem no rosto, mas antes disso Zagan sentira que ela parecia ter desistido de tudo.
Após ser capturada, ele ouvira que nada havia sido feito ao corpo dela, mas o que exatamente aconteceu com ela?
“Você...” Ele tentou falar com ela, mas então percebeu que nem sequer sabia o nome dela.
O que significava que ela provavelmente também não sabia nada sobre ele.
E finalmente, ele sentiu que havia encontrado um fio para iniciar uma conversa.
“Meu nome é Zagan. Como pode ver, sou um feiticeiro, mas não é exatamente meu passatempo torturar pessoas.”
“Sim.”
“E então, quanto a...” Mesmo querendo apenas perguntar o nome dela, Zagan não conseguiu continuar falando.
Idiota...! É só perguntar o nome dela! Por que fico tão nervoso só por estar ciente de que ela é uma garota!?
Zagan já possuía grande poder como feiticeiro.
E, apesar disso, buscava coragem como se estivesse enfrentando a morte certa, sem qualquer chance de vitória.
Coragem era uma palavra completamente alheia a ele.
No entanto, se não tomasse uma atitude, não conseguiria avançar nem um pouco naquela situação.
“Qual é o seu—” Assim que abriu a boca, a garota ergueu a voz com um “Ah”.
“Perdoe-me... por dizer isso tão tarde. Eu me chamo... Nephelia.”
Um calor suave soprou pelo peito de Zagan como uma brisa revigorante.
Parecia que ela havia adivinhado o que ele estava prestes a perguntar. Isso o fez pensar que era uma garota maravilhosa e atenciosa.
“Nephelia... hein?” Ele sentiu como se o eco daquele nome se repetisse inúmeras vezes.
Nas lendas, a palavra Nephilim significava “aquele que caiu do céu”.
Evocava esse tipo de imagem mental. Ele achou o nome místico e belo, e o som lembrava fortemente essa palavra.
Assim como sua aparência, é um nome adorável.
Apenas saber o nome dela fez Zagan se sentir como se estivesse flutuando. Amargamente, ele passou a compreender o significado das palavras “o amor leva o homem à ruína”.
Ele já estava em um estado que só podia ser descrito como eufórico. E, se alguém permanecesse em uma condição mental tão anormal, não importava o quão extraordinária fosse a pessoa — inevitavelmente cairia em desgraça.
Espera, Nephelia é o primeiro nome ou o sobrenome dela?
Forçando o rosto que havia relaxado demais, Zagan fez sua pergunta.
“Nephelia... o quê, exatamente?”
“Apenas Nephelia. Não tenho sobrenome. Se for difícil de dizer, pode me chamar só de Nephy.”
“Está tudo bem!?”
“Hã?”
O nome Nephelia tinha uma sonoridade bela, mas o apelido Nephy também era adorável.
Zagan elevou a voz sem querer, e a garota — Nephy — inclinou a cabeça de leve.
Na verdade, não ter sobrenome é igual a mim...
Quando se deu conta, Zagan estava cometendo assaltos nas estradas para juntar sucata.
Esqueça ter um sobrenome — ele nem sabia o rosto de seus pais. O nome Zagan era uma gíria das favelas, algo que lhe fora atribuído à medida que passou a ser visto como uma espécie de demônio.
Pensando bem, aquele foi o período mais divertido da minha vida.
Conversava de verdade com seus companheiros de estrada e com o povo da cidade. E, mesmo sendo espancado inúmeras vezes, de algum modo era algo satisfatório.
Ele cometia crimes terríveis, mas ainda vivia em um lugar onde o sol brilhava.
E, naturalmente, conseguia conversar com garotas também. Se existia um ponto luminoso nas memórias de Zagan, era aquele período.
Percebendo que Nephy o observava com um olhar intrigado, Zagan balançou a cabeça.
“Para um elfo, hum... isso é comum? Quero dizer, não ter sobrenome.”
“Não. É porque eu sou uma criança amaldiçoada.”
“Uma criança... amaldiçoada?” Ao ouvir um termo tão cruel, Zagan franziu o cenho.
Nephy então levou a mão à boca, como se tivesse deixado escapar algo que não devia.
“Hum... Por que está perguntando esse tipo de coisa?”
“Sem motivo, só fiquei um pouco curioso, só isso...”
Zagan hesitou em dizer que não queria apenas saber o nome dela e o significado de “criança amaldiçoada”, mas sim tudo sobre ela.
E, depois que Nephy assentiu como se tivesse entendido, por algum motivo ela ergueu a barra da saia na frente.
Suas coxas alvas ficaram à mostra, e Zagan pôde vislumbrar a renda delicada de sua roupa íntima.
“Fique tranquilo. Eu sou virgem.”
Zagan percebeu que seu rosto estava ficando vermelho.
“V-você tem ideia do que acabou de dizer!?”
“Hmm...? Ouvi dizer que uma virgem possui mais mana. Você não estava falando sobre se meu valor como material de experimento foi danificado?”
“Não entenda mal. Eu não tenho nenhuma intenção de te usar em experimentos ou te torturar.”
Nephy fez uma expressão ainda mais confusa que antes.
“Então, por que você me comprou?”
“...”
Zagan pressionou a testa e permaneceu em silêncio.
“Não há necessidade de você saber disso.” Repetiu mais uma vez as mesmas palavras de antes.
Ou melhor, ele simplesmente não conseguia responder.
Não importava quem fosse — se ouvisse que Zagan havia comprado uma escrava num leilão sombrio porque se apaixonara à primeira vista — certamente o chamaria de pervertido.
Se Nephy o olhasse com esse tipo de olhar, Zagan não seria capaz de se recuperar. Mesmo que os feiticeiros possuíssem juventude eterna, ele provavelmente morreria de choque.
Mas, dito isso, se eu não responder nada, Nephy também ficaria ansiosa, né?
Então, o que deveria fazer? Teria sido melhor apenas mandá-la de volta para casa por hoje...?
Não, antes de tudo... ela tem para onde voltar?
Mais cedo, ela mesma se chamara de “criança amaldiçoada”.
Ela dissera isso com uma expressão turbulenta, e ele não achava que seria capaz de perguntar diretamente sobre o assunto.
O próprio Zagan também não tinha um lar para retornar, e sentia a mesma solidão nela.
Claro, se ela quisesse voltar ao seu lugar de origem, ele queria ajudá-la — mas a atmosfera não parecia permitir que ele perguntasse algo assim de forma precipitada.
Nesse caso, já que Zagan a havia comprado, isso significava que, na prática, acabariam vivendo juntos ali, porém…
Espera, morar juntos? Ele, que até agora mal conseguia dizer qualquer coisa direito, iria viver sob o mesmo teto que essa garota adorável? Zagan foi tomado por uma leve tontura.
Em que situação absurda ele havia se metido?
Era verdade que ele estava feliz com isso, mas, por algum motivo, sentia como se tivesse feito algo que não deveria.
Calma. Sou um feiticeiro. Um feiticeiro poderoso não se abala.
Não era como se fossem dormir na mesma cama. Primeiro vinha pensar no que seria necessário para viver... juntos.
Zagan se levantou de seu trono e ficou diante de Nephy.
“Nephy.”
“Sim.” Ele tentou chamá-la pelo nome frente a frente, e um estranho sentimento de constrangimento preencheu seu coração.
Mas, mesmo assim, não recuou e falou com ela.
“Ouça, Nephy. Você é algo que eu comprei, e, portanto, pertence a mim.”
“Sim.”
“Então, por ora, concederei a você um quarto. Pode escolher o que quiser.”
“Em outras palavras, está me dizendo para escolher o lugar onde morrerei?”
“Eu não disse antes que não vou te matar?”
Tendo finalmente erguido a voz em angústia, Nephy então abaixou o olhar, como se estivesse perturbada.
“Eu não entendo... o significado disso. Como exatamente você vai me usar... de uma forma em que eu não morra?”
Certamente, desde que fora capturada pelos humanos, ela vinha sendo atormentada por pensamentos sobre seu destino inevitável. Por causa disso, provavelmente já nem acreditava mais em esperança.
Na verdade, Zagan também conhecia bem esses sentimentos.
Foi na época em que vivia de assaltos nas estradas, procurando restos de comida no lixo dos cortiços.
Naquela época, o que era mesmo que eu queria ouvir...?
Mesmo naquela época, ele certamente não sabia a resposta para isso. Ainda assim, Zagan estendeu lentamente a mão em direção ao cabelo de Nephy.
Ele sentiu os fios brancos como a neve na palma da mão. Percebeu o corpo de Nephy estremecer e tremer.
E então, certificando-se de não aplicar força alguma, Zagan murmurou:
“Comprei você... porque preciso de você. Então, pare de ficar dizendo morrer, morrer, morrer desse jeito.”
Nephy arregalou os olhos e levantou o rosto para encará-lo.
Ela estava surpresa.
Era a primeira vez que ele via algo parecido com uma expressão em seu rosto.
“Você... precisa... de mim?” Era de alguma forma constrangedor, mas ele sentia que precisava deixar isso bem claro.
“Sim, preciso de você. É por isso que, de agora em diante, você viverá por minha causa.”
“...Sim.” Como de costume, a expressão de Nephy não mudou em nada, mas ela também não demonstrou duvidar das palavras de Zagan.
Provavelmente não era o caso de ela acreditar em tudo o que ele dizia. Mas, mesmo assim, não voltou a lamentar sua morte.
Foi assim que começou uma longa convivência entre dois indivíduos desajeitados.
♱
“Agora então, sobre o quarto que você vai usar...” Ele se perguntou qual seria o melhor lugar.
Nephy fora capturada como escrava. Certamente passou por emoções dolorosas.
Em vez de um lugar subterrâneo ou escuro, seria melhor um quarto com uma bela vista.
Nesse caso, o torreão no topo do castelo era o mais apropriado.
Quanto à vista, era o melhor ponto possível. E, enquanto a guiava até lá, Zagan de repente percebeu algo.
“Nephy, você se dá bem com lugares altos?” Pela primeira vez, sentiu que havia feito uma pergunta de modo relativamente natural.
E sem demonstrar qualquer expressão, Nephy assentiu profundamente.
“Sim. Pode me pendurar pelas mãos ou pelo pescoço, como preferir.”
“Quem falou algo sobre tortura, hein?”
“Minhas... desculpas. Quando ouvi falar de lugares altos, nada mais me veio à mente.”
Enquanto Nephy o encarava com um olhar vazio, Zagan levou a palma à testa.
Tenha um pouco mais de esperança em viver aqui...
Se fosse assim, talvez um quarto em um andar alto fosse um problema. Ele não achava provável, mas a possibilidade de Nephy se atirar da sacada passou por sua mente.
Mesmo assim, eles continuaram subindo a escada em espiral, em direção ao andar superior.
Parecia que a luz do lado de fora já havia escurecido.
Zagan estalou os dedos, e as velas alinhadas ao longo da parede se acenderam de uma vez.
“Por aqui.”
“Sim... Ah.”
Quando Zagan começou a subir novamente, Nephy soltou um pequeno grito e se desequilibrou.
A luz tremeluzente das velas era um tanto incerta. Os degraus estavam escuros e, com os saltos finos dos sapatos de Nephy, parecia difícil caminhar.
Zagan então, de repente, segurou sua mão para ampará-la.
“Minhas... desculpas...” O rosto da garota que disse isso estava tão próximo que parecia que o nariz dele tocaria o dela.
Um leve e doce aroma fez cócegas no nariz de Zagan.
Ele olhou diretamente nos olhos cor de safira dela, emoldurados por cílios brancos.
Ficou completamente enfeitiçado, e ao mesmo tempo tomado por uma sensação extrema de constrangimento. E, como se tentasse disfarçar isso, Zagan soltou um resmungo com um “hmph”.
“P-preste atenção. Olhe por onde anda.”
“S-sim...” Ele acabou falando em um tom ríspido. Parecia-lhe que Nephy estava um pouco hesitante.
E, enquanto continuavam subindo a escada em espiral, Zagan notou a sensação suave em sua mão.
Hm? Poderia ser... que estou segurando a mão da Nephy?
Ele a segurou quando foi ampará-la. E depois disso, acabou simplesmente continuando a segurá-la naturalmente.
Zagan não achava que aquela fosse a primeira vez que segurava a mão de uma garota, mas, ao tentar se lembrar de alguma outra ocasião, não conseguiu pensar em nenhuma... No fim das contas, talvez fosse mesmo a primeira vez.
A mão branca dela era fina, macia e quente. Pela palma de sua mão, ele podia sentir uma pulsação — talvez fosse apenas a dele, porém.
Nephy, por sua vez, continuava olhando silenciosamente para as mãos entrelaçadas. Zagan estava tomado por uma timidez inexplicável, mas, ao mesmo tempo, não queria soltá-la.
Alternando entre passos rápidos e lentos, Zagan finalmente chegou ao topo do castelo.
Depois de subir três andares, a porta do último piso apareceu diante deles. Ele ficou um pouco preocupado com a dificuldade que ela teria em subir e descer, caso fizesse daquele o quarto de Nephy, mas, por ora, colocou a mão sobre a porta.
“Este é um cômodo que normalmente não é usado. Pode estar... um pouco sujo, mas...”
Ao dizer isso, uma dúvida fundamental lhe veio à mente: Eu já entrei neste quarto antes?
Fazia cerca de dez anos desde que começara a viver ali, mas normalmente passava o tempo recluso nos arquivos. No fim, era um proprietário que nem conhecia bem o interior do próprio castelo.
E então, ele se arrependeu de não ter verificado isso antes.
Dentro do quarto, por onde soprava um vento frio, a lâmina de uma guilhotina balançava no ar, produzindo um som metálico. Além disso, havia esqueletos abandonados há muitos anos e frascos espalhados contendo substâncias misteriosas. Com a luz sombria das velas iluminando o ambiente, era, sem dúvida, o lugar mais terrível e assustador possível.

“Melhor não usarmos este lugar.”
Ele imediatamente começou a fechar a porta, mas já era um pouco tarde demais.
Afinal, as pessoas sentem o maior desespero quando suas últimas esperanças são destruídas.
Logo depois de dizer que precisava dela, Nephy se deparou com instrumentos de tortura — e a luz em seus olhos desapareceu. A garota abriu os braços, como se estivesse desistindo de tudo.
“Por favor... faça o que quiser comigo, Mestre.”
“Você está enganada, ouviu? Isto é, bem... Ah, claro! É uma armadilha preparada para inimigos que invadam pelo céu.”
Mesmo dizendo isso, o próprio Zagan achou que aquela era uma desculpa lamentável.
“Mas, bem, como posso dizer... É um mecanismo inútil, e coisas assim só atrapalham. Então vou me livrar delas.”
Dizendo isso, Zagan lançou magia de relâmpago dentro do cômodo onde a lâmina da guilhotina balançava, e fechou a porta novamente.
Logo em seguida, o som de uma explosão ecoou. A onda de choque escapou pelas frestas da porta, fazendo o cabelo branco de Nephy ondular suavemente.
Enquanto Zagan se via encantado por aquela cena, a porta desabou com um estrondo para dentro do quarto.
Parecia que até as dobradiças haviam se despedaçado. E assim, todos os vestígios dos objetos repulsivos desapareceram completamente do cômodo...
Bem, o teto estava queimado e enegrecido, e era duvidoso se o local ainda poderia ser usado como aposento. Até as velas tinham sido sopradas para longe.
Então, um suor frio escorreu pela bochecha de Zagan.
E-eu só queria remover a fonte do medo dela...
Quando se virou para encarar Nephy, notou que ela estava ainda mais pálida de pavor. Eventualmente, seus lábios trêmulos se moveram.
“É a primeira vez... que vejo uma magia tão destrutiva...”
Bem, suponho que deve ser mesmo assustador ver um feitiço ofensivo lançado de repente, não é!?
Além disso, mesmo considerando por baixo, aquela magia tinha poder suficiente para reduzir um mago comum a cinzas três vezes seguidas.
Não havia pessoa normal que não ficaria abalada ao presenciar algo assim.
Isso está errado. Só porque Barbatos é o único com quem eu tenho conversas normais…
Ele resolveu o problema de acordo com o “senso comum” entre feiticeiros.
Sabendo que não havia muito o que fazer, Zagan virou as costas para o quarto.
“...Hmm. Este lugar não serve. É muito lúgubre.”
“É isto... o que chamam de lúgubre?”
A garota inclinou a cabeça como um pequeno pássaro curioso, e Zagan não conseguiu responder.
Nephy então deu um passo para dentro do quarto.
Enquanto andava, cinzas se levantavam do chão. A janela não tinha vidro, e mais do que um quarto, era apropriado chamá-lo de uma espécie de gaiola.
Não era um lugar em que uma garota deveria estar, de forma alguma.
Mesmo assim, Nephy parecia não se importar e continuou caminhando até o terraço.
Talvez... eu deva erguer uma barreira para impedir que ela caia dali, certo?
Zagan não acreditava de fato que ela se jogaria, mas lançou o feitiço de proteção mesmo assim. No pior dos casos, a estrutura podia simplesmente desabar.
Para se precaver, ele ficou ao lado dela.
O terraço tinha um parapeito de tijolos de pedra, e Zagan achou que não seria estranho se aquilo rachasse e ruísse.
Colocando as mãos sobre o parapeito, Nephy ergueu os olhos para o céu. Já era noite, e as nuvens haviam se dispersado um pouco. Um fio de luar descia como uma linha prateada.
Olhando para o alto, Nephy estendeu ambas as mãos para o céu. Mesmo sendo um gesto simples, Zagan sentiu que parecia um ritual sagrado.
“Você... gosta da lua?”
“...Eu não sei.”
Nephy balançou a cabeça com um ar confuso, respondendo à pergunta de Zagan.
“Então... qual é o significado desse gesto?”
“...Eu não sei.”
Ela apenas repetiu que não sabia.
No entanto, em seus olhos havia um toque de nostalgia melancólica enquanto fitava a lua. E, sem motivo especial, Zagan a imitou, estendendo as mãos também.
“Não consigo... alcançar nada, não é?”
“...Acredito que seja o caso.”
Zagan quase quis morrer de vergonha ao ouvir a resposta séria dela.
Por que será que, nesses momentos, ele nunca conseguia dizer algo inteligente?
Então Nephy murmurou:
“Está tudo bem... se eu... ficar com este quarto?”
Foi a primeira vez que Nephy falou algo por iniciativa própria.
No entanto, Zagan se virou para encarar o quarto devastado.
Os artefatos perigosos realmente haviam sumido, mas também não restava absolutamente nada — nem sequer uma janela. Não parecia, de forma alguma, um lugar adequado para alguém viver.
Se eu usar magia para restaurá-lo, até a guilhotina vai voltar…
A limpeza e a decoração teriam de ser feitas pelo método normal.
“Talvez um quarto mais decente fosse melhor...”
Mas, ao começar a dizer isso, lembrou-se de que todos os outros cômodos eram praticamente iguais.
Mesmo que não houvesse instrumentos de tortura, ainda havia dispositivos mágicos de aparência sinistra espalhados por todo canto. No fim das contas, nenhum daqueles quartos era apropriado para uma garota normal.
Enquanto se preocupava com isso, Zagan perguntou novamente: “Está bem com um lugar assim?”
“Sim. Afinal, é o quarto que o senhor preparou para mim, Mestre.”
Tudo o que ele tinha feito fora lançar magia ofensiva até reduzir tudo a cinzas — Zagan não achava que isso pudesse ser chamado de “preparar um quarto”.
Mesmo assim, como não tinha certeza se algum outro cômodo seria realmente melhor, acabou apenas acenando afirmativamente.
“Muito bem. Então use este lugar como quiser.”
Por impulso, ele acabou falando de um jeito exagerado de novo, mas Nephy abaixou a cabeça e respondeu: “Muito obrigada, Mestre.”
E, por algum motivo, aquela simples frase perfurou o peito de Zagan.
Nephy então inclinou levemente a cabeça.
“Aconteceu algo?”
“...Não, é só que... faz muito tempo... desde a última vez que alguém me disse isso.”
De vez em quando, ele deixava vivos alguns intrusos que se perdiam em seu castelo, mas Zagan não era uma boa pessoa por natureza. Na maioria das vezes, eles apenas fugiam em disparada, sem sequer agradecer.
No entanto, Nephy não pareceu achar estranho — apenas assentiu, como se compreendesse perfeitamente.
“Também sinto que... faz muito tempo desde que eu disse isso.”
“Entendo...”
Zagan se perguntou se algum dia ele também seria capaz de agradecer alguém. Abrir o coração para os outros ainda parecia algo muito distante, mas ele ficou genuinamente feliz por ela estar ouvindo o que ele dizia.
E assim, o primeiro dia deles juntos terminou pacificamente.
♱
Na manhã seguinte.
Como o quarto que Zagan havia concedido a Nephy, no último andar do castelo, ainda era inutilizável, os dois dormiram na sala do trono.
Na verdade, eu não consegui pregar o olho.
Zagan também não dormira na noite anterior. Achou que cairia no sono rapidamente, mas só de pensar que Nephy estava ali ao lado, seu corpo se recusava a descansar.
Não que ele tivesse coragem de fazer algo, mas apenas imaginar que ela o detestaria se o fizesse já bastava para impedi-lo.
Por outro lado, Nephy provavelmente estava exausta. Encolheu-se sobre o tapete e adormeceu quase instantaneamente.
Mas esse também foi um dos motivos pelos quais Zagan não conseguiu dormir. Ver aquela figura tão indefesa diante de si tornava impossível tirá-la da cabeça.
No meio da noite, Nephy pareceu sentir frio — então, no lugar de um cobertor, ele a cobriu com sua capa. No entanto, talvez aquilo tenha sido um erro: por alguma razão, a simples imagem da adorável garota vestindo sua capa fez o coração de Zagan disparar ainda mais.
Enquanto se atormentava com pensamentos confusos, quando percebeu, o sol da manhã já despontava no horizonte.
Seu estômago então emitiu um som alto e lamentável.
“...Acho que vou pegar algo para comer.”
Descendo até o depósito do porão, Zagan trouxe duas porções de carne seca e leite que guardava ali. Não sabia quando Nephy acordaria, mas queria estar pronto para que ela pudesse tomar café da manhã assim que despertasse.
Quando voltou à sala do trono, Nephy já estava acordada e o aguardava, sentada de joelhos.
A capa com que ele a cobrira estava cuidadosamente dobrada ao lado — e, por alguma razão, parecia um desperdício voltar a usá-la.
“Então, você já acordou.”
“Sim. Bom dia, Mestre.”
Zagan quase sorriu involuntariamente.
Então ela me cumprimenta direitinho...
Mas, ao tentar responder, um pensamento o confundiu completamente: Hmm? Quando alguém te deseja bom dia... o que mesmo você deve responder?
Seria adequado apenas devolver o “bom dia”? Ou deveria dizer “olá”?
“Tenha um bom dia” certamente estava errado, ou pelo menos era o que ele achava.
Pensando bem, faz quantos anos desde a última vez que alguém me cumprimentou de forma tão educada?
Enquanto Zagan se contorcia de constrangimento, Nephy o observava com um olhar confuso. Percebendo isso, ele pigarreou para disfarçar.
“Trouxe comida. Pode comer.”
Depois de dizer isso, Zagan sentiu repulsa de si mesmo.
Então eu nem sei responder a um simples bom dia...? Em que momento ele havia se tornado uma pessoa tão patética?
...Pensando bem, talvez ele já fosse assim desde o começo.
Mesmo olhando para ele com curiosidade diante de tanta angústia, Nephy aceitou obedientemente a carne seca e o copo de leite que ele ofereceu.
“Muito obrigada, Mestre.”
“...Hm.”
Enquanto Zagan se sentia desanimado por sua própria falta de jeito, Nephy o encarou timidamente.
“Mestre...”
“O que?”
“O que... eu deveria estar fazendo?”
“Hmm, vejamos...” Mesmo depois de uma noite inteira, Zagan ainda não tinha decidido o que pedir para Nephy fazer.
Deveria mandá-la limpar alguma coisa? Porém, só de espiar um único quarto ontem, já fora uma catástrofe.
Havia quase cinquenta cômodos igualmente imundos naquele castelo — e, mais importante, Zagan jamais havia limpado um sequer. Não era algo que uma pessoa conseguisse fazer sozinha, e ele tinha quase certeza de que, se ordenasse, aquela garota realmente levaria a tarefa até o fim.
No entanto, Zagan não se importava com estética e, apesar da falta de interesse, também não queria forçá-la a algo que pudesse matá-la de exaustão. Mas então, o que ela poderia fazer?
Se não der nada pra ela fazer, talvez ela fique ansiosa também, não? Afinal, Nephy crescera acreditando que seria usada como sacrifício ou cobaia.
Então, se o homem que a comprara simplesmente dissesse “fique parada”, era improvável que ela pensasse “Ah, que bom, não preciso fazer nada.”
Enquanto resmungava consigo mesmo, Zagan não conseguia chegar a nenhuma resposta. Acabou colocando o copo de leite no chão e começou a mastigar a carne seca.
Nephy o olhou, surpresa.
“Mestre, o senhor... também está comendo a mesma coisa?”
“Sim...? Há algo de errado nisso?”
“Não, é que...” Parecia que ela queria dizer algo, mas seu olhar vagava, como se tivesse dificuldade em encontrar as palavras certas.
“Pode falar. Não vai me irritar por isso.”
Zagan se amaldiçoou internamente por não ter conseguido soar um pouco mais gentil, mas ao menos conseguiu expressar o que queria.
Nephy manteve a expressão calma e, com certa hesitação, abriu a boca: “Eu me sinto... privilegiada só por receber uma refeição. Mas, Mestre, acho estranho o senhor estar comendo a mesma coisa que eu...”
Ela tinha feito um esforço sincero para expressar sua dúvida.
Zagan cruzou os braços e refletiu.
O que, exatamente, ela achava tão estranho?
Diante dele havia apenas um copo sujo de leite e um pedaço de carne seca de sabe-se-lá quando.
Hmm? Agora que penso nisso... ontem havia um grupo comendo algo parecido na cidade. Sim — os escravos de Kianoides.
Vê-los comendo na rua havia sido uma cena lamentável, mas, pensando bem, Zagan não estava muito acima disso.
Depois de concordar consigo mesmo, abriu a boca: “Seria... por ser uma refeição muito simples?”
“Ah, sim... acredito que seja uma comida apropriada para uma escrava como eu.”
Em outras palavras, aquilo estava mais para lavagem do que para comida. Mas, em vez de se ofender, Zagan apenas lamentou de verdade.
Será que ela... está preocupada comigo? Não, talvez isso fosse exagero. Não era como se ela fosse abrir o coração de um dia para o outro.
Mesmo assim, parecia que ela simplesmente não conseguia ignorar o sofrimento de outra pessoa — como se estivesse pensando “se eu não fizer algo, ele vai acabar morrendo.”
Zagan continuou mastigando por um tempo e olhou para o pedaço de carne ressecada. Ah, é mesmo... isso mal pode ser chamado de comida.
Desde seus tempos como salteador, ele só comia esse tipo de coisa e nunca se preocupara com o sabor — contanto que não morresse de fome, estava tudo bem.
Além da carne seca, às vezes comia pão duro, mas ele mofava rápido demais. Certa vez tentou forçar a comer mesmo assim e acabou apenas com dor de estômago e memórias desagradáveis.
Olha só, estou patinando tanto desde ontem que até lembro do gosto daquele pão...
Já ouvira dizer que o primeiro amor tinha gosto de limão — mas, na prática, o dele era mais como uma acidez que corroía o estômago.
Se tivesse que nomear algo que realmente achava saboroso, seria o álcool. O licor que Barbatos trouxera certa vez, enquanto tagarelava como um idiota, fora delicioso — embora o acompanhamento também fosse carne seca.
Como Zagan nunca soubera escolher que bebida comprar, acabou levando uma vida à base de carne seca e leite.
“O que será... que uma pessoa normal come...?” murmurou sem pensar.
Foi então que Nephy, tomando coragem, falou: “Hum, Mestre.”
“O que foi?”
Depois de inspirar profundamente, ela disse: “Perdoe minha ousadia, mas... posso preparar algo para o senhor comer?”
Zagan se levantou num sobressalto, a cadeira tilintando no chão. Ele agarrou a mão de Nephy, que recuou assustada.
“Você sabe cozinhar?”
“Eu só aprendi observando, então não posso garantir o sabor, mas...”
Quão habilidosa ela é…? Pensou Zagan, maravilhado.
Comida caseira... e feita pela garota por quem ele estava apaixonado. Algo assim jamais havia sido uma possibilidade para ele.
Pensando bem, entre os três grandes desejos humanos, um deles é o apetite…
Zagan só se dedicara ao estudo da feitiçaria, e nunca havia pensado em satisfazer esse tipo de desejo.
Os contornos dos olhos de Zagan ficaram quentes.
Aquela sensação que crescia em seus olhos... seriam lágrimas? Foi um choque para ele perceber que ainda era capaz de chorar.
Em seguida, ele virou o copo de leite e o esvaziou de uma só vez.
“Phew... ouça bem, Nephy. Decidi o que você deve fazer.”
“Sim. O que é, Mestre?”
“Iremos às compras!”
Dentro do castelo, não havia outro ingrediente além de carne seca e leite velho. Mesmo Zagan sabia que era impossível preparar algo saboroso apenas com isso.
“...Ah, entendo.” Nephy respondeu surpresa, olhando para Zagan com um ar confuso. Então, ela bateu palmas suavemente.
Talvez tivesse achado que precisava reagir de algum modo, mas a cena acabou sendo um tanto constrangedora.
♱
A maior cidade nas redondezas era, sem dúvida, Kianoides, mas também havia várias vilas e povoados próximos ao castelo abandonado. Zagan se dirigia a um deles, porém, ao deixar o castelo, percebeu um problema.
Pensando bem... gastei toda a minha fortuna comprando Nephy, não foi? Sem dúvida alguma, ele estava sem um tostão.
Na hora, guiado por um impulso, não havia pensado em nada além de adquiri-la — muito menos no que viria depois.
Kianoides era uma cidade comercial, com estradas bem conservadas que se estendiam em várias direções. Pequenas cidades se espalhavam ao longo desses caminhos, e era comum viajar entre elas em diligências.
Quem seguisse a estrada a pé provavelmente encontraria uma carroça de transporte em pouco tempo.
Mas Zagan logo percebeu que não tinha dinheiro para embarcar em uma.
“Não vai subir?” perguntou o cocheiro — um jovem therianthropo com rosto de gato.
Zagan balançou a cabeça.
“Ah, esqueci de uma coisa. Pode seguir sem mim.”
“Entendo.”
O som das rodas ecoou enquanto a carruagem partia.
Enquanto observava o veículo se afastando inutilmente, Nephy inclinou a cabeça atrás dele.
“Vamos voltar ao castelo?”
“Não, não há necessidade.”
“Entendo...”
Mesmo que voltasse, não havia uma única moeda de cobre no castelo.
Ele até poderia vender alguns daqueles dispositivos de tortura, mas chamaria a atenção de mercadores — e a avaliação deles custaria caro.
Além disso... Nephy também precisa de roupas.
Desde a noite anterior, ela usava o mesmo vestido branco. E, com o castelo todo empoeirado, a roupa já estava suja. Para resolver isso, ele precisaria de dinheiro.
E, tentando disfarçar a situação, Zagan murmurou com um ar solene: “Faz tempo que não saio a essa hora... não é ruim dar uma caminhada de vez em quando.”
“Sim.”
Usando essa desculpa esfarrapada, Zagan começou a andar na direção em que a carruagem havia seguido, e Nephy o acompanhou.
Ao olhar discretamente para trás, ele notou que Nephy segurava as pontas do vestido e trotava com dificuldade.
Além do passo mais curto, o principal problema era o vestido e os sapatos inadequados.
Percebendo isso, Zagan reduziu o ritmo e passou a caminhar mais devagar.
Enquanto andava, começou a se preocupar novamente. Seria errado atacar aquela carruagem e pegar o dinheiro e as mercadorias?
Fazia tempo que não fazia algo assim, mas, antigamente, era dessa forma que ele se sustentava. Porém, na noite anterior, havia assustado Nephy com sua magia ofensiva.
O que será que ela pensaria se visse um homem roubando inocentes...?
No fim das contas, sentia que roubar estava fora de questão. Mas, então, como ganharia dinheiro?
Enquanto pensava nisso — até cogitando vender o castelo e abrir uma taverna com Nephy cozinhando — um grito ecoou mais à frente na estrada.
Nephy engoliu em seco.
“Mestre.”
“Hmm? Ah, provavelmente é um assalto. Bandoleiros aparecem nessa região de vez em quando.”
Mais adiante, um grupo de homens armados com machados atacava uma carruagem. Eram cerca de uma dúzia — uma quadrilha de bandidos comuns.
Não eram feiticeiros, nem cavaleiros angelicais treinados, tampouco usavam armaduras complicadas como os Arcanjos. Eram apenas pessoas comuns, empunhando armas simples.
Esse era o tipo de gente que Zagan considerava insignificante.
Os passageiros estavam sendo puxados para fora, e os ladrões roubavam dinheiro e mercadorias. Parecia que pretendiam levar também uma jovem mulher, arrastando-a em direção a outra carroça — provavelmente para vendê-la como escrava ou usá-la como brinquedo.
De qualquer forma, o destino dela já estava selado.
Zagan até achou a situação lamentável, mas ele próprio já havia feito coisas parecidas no passado. A cena, para ele, não parecia particularmente trágica.
Enquanto observava tudo com indiferença, percebeu que Nephy tremia.
“O que foi?”
“N-nada...”
Ela tentou disfarçar, mas seu rosto estava pálido e os lábios tremiam. Não conseguia desviar o olhar da cena.
Zagan ficou surpreso. Será que Nephy também foi sequestrada assim...?
Não parecia que ela tivesse sido capturada pelos mercadores de escravos desde o início. Provavelmente vivera uma vida tranquila antes disso.
Aquilo devia estar trazendo lembranças dolorosas.
Zagan então apontou o dedo para os bandidos.
“Nephy, olhe bem. Aquilo não passa de lixo.”
“...Sim.”
Sua voz soou abatida. Zagan não sabia o motivo de seu desânimo, mas concentrou mana na ponta do dedo estendido.
Logo em seguida, um raio disparou como uma flecha.
“Kyaaa!” Nephy cobriu o rosto, soltando um gritinho adorável.
Os bandidos tocados pelo raio desapareceram no ar.
A boca de Nephy se abriu e fechou sem emitir som algum. Os outros criminosos ficaram paralisados, sem compreender o que havia acontecido.
Não pretendo dizer algo como “vou protegê-la” ou qualquer bobagem parecida.
Era verdade que magia ofensiva a assustava — mas, de qualquer forma, ter medo de meros ladrões era inaceitável. Aquelas criaturas eram como ervas daninhas ou pedrinhas — nada nelas merecia ser temido.
Por isso, ele quis mostrar que bandidos não passavam de insetos insignificantes.
De todo modo, parecia que os sobreviventes haviam finalmente entendido que um inimigo havia aparecido.
“N-Não entrem em pânico! Mesmo que ele seja um feiticeiro, não quer dizer que possa continuar lançando feitiços sem parar! Ataquem antes que ele invoque o próximo!” — ao ouvir a voz do que parecia ser o líder, os bandidos avançaram com as armas em punho.
“Mestre.”
“Fique atrás de mim.” — disse Zagan, após ouvir a voz trêmula de Nephy, dando um passo à frente.
O bandido mais próximo era um homem enorme, quase duas cabeças mais alto que Zagan. Seus braços eram tão musculosos que talvez fossem mais grossos que a cintura de Nephy.
O homem atacou com o machado em mãos. Mesmo uma grande árvore seria facilmente partida ao meio por aquele golpe brutal. A cabeça de Zagan seria esmagada como um ovo — e a lâmina vinha diretamente em direção ao seu crânio.
“R-Ridículo... Ugh?” — mas quem deixou escapar uma voz de espanto foi o próprio grandalhão.
Zagan havia parado o machado com as próprias mãos nuas. E mesmo quando o homem tentou empurrar, a lâmina não se moveu nem um milímetro.
“Desafiar um feiticeiro com mera força bruta é realmente ridículo, não é?”
Quando se pensava em feiticeiros, a maioria imaginava indivíduos franzinos, trancados em laboratórios sombrios, cercados por pilhas de livros.
No entanto, com o poder da magia, podiam invocar relâmpagos, manipular o fogo e criar escudos invisíveis. E, por serem humanos, a primeira aplicação de tamanho poder sempre era voltada para proteger a si mesmos.
Tinham pele tão resistente que uma lâmina comum não deixava sequer um arranhão, pernas rápidas o bastante para ultrapassar um cavalo veloz, braços capazes de rasgar ferro com as próprias mãos e corações que não se cansavam mesmo após um dia e uma noite de combate.
À medida que envelheciam, alcançavam habilidades tão sobre-humanas que pareciam saídas de lendas. Mesmo um Cavaleiro Angelical, após incontáveis horas de treinamento, jamais poderia igualar o corpo monstruoso de um desses feiticeiros.
Essa era a existência conhecida como feiticeiros.
Zagan colocou força na mão, pronto para contra-atacar. Um estalo percorreu o aço do machado, e os olhos do homem se arregalaram.
“I-Impossivel...” — com um som metálico, o machado se despedaçou como vidro, e o bandido deixou escapar uma voz confusa.
Ele caiu de joelhos, derrotado, e Zagan apenas tocou de leve sua testa com o dedo, como se estivesse espantando uma mosca.
“FUGYAAH!?” — soltando um grito semelhante ao de um porco, o homem foi arremessado para trás, colidindo com a carruagem. Um bandido azarado que estava lá acabou sendo esmagado sob o peso dele.
“Eeeek, o chefe!”
...Parece que o infeliz esmagado era o líder. Com o chefe achatado, os demais bandidos se esconderam atrás da carruagem, e alguns correram para o matagal ao redor.
“Gegh, so-socorro... Senhor Feiticeiro! Nos ajude!” — embora fosse um pedido de ajuda, aquelas palavras não eram dirigidas a Zagan.
De algum lugar, surgiu um homem que se colocou calmamente diante dele.
Um feiticeiro.
Parecia que aqueles bandidos haviam contratado um.
“Hmmm... Um feiticeiro que ajuda pessoas? Que ocorrência curiosa.” — disse o homem, coçando o queixo, enquanto erguia a outra mão. Mas um contrato é um contrato. Não sei quem você é, mas asseguro que irá se arrepender de ter cruzado meu caminho.”
No instante em que um pequeno círculo mágico se formou em sua palma, chamas explodiram.
O calor era sufocante. A grama ao redor começou a arder, e até os bandidos escondidos foram engolidos pelo fogo, soltando gritos agonizantes.
Observando cuidadosamente os movimentos do feiticeiro e das chamas, Zagan murmurou: “Entendo... Ele está usando o fogo como meio para desenhar outro círculo mágico, é isso?”
As chamas não se espalhavam de forma aleatória — moviam-se como se desenhassem um círculo com o feiticeiro no centro. Não era um ataque, mas um tipo de restrição usada enquanto o círculo era formado.
Engolindo a carruagem e Zagan, um enorme círculo mágico se expandiu. O homem parecia ter reconhecido Zagan como um inimigo formidável e pretendia usar magia em larga escala.
Bom, eu também não tenho razão alguma para ficar aqui esperando.
Uma língua de fogo avançou até diante de seus olhos. Nephy engoliu em seco atrás dele, mas era Zagan quem estava à sua frente.
Ele balançou o braço de lado, como se aquilo fosse apenas irritante.
As chamas se dissiparam como se tivessem sido apagadas, e até os arbustos e a carruagem queimando foram extintos. Restou apenas o brilho do círculo mágico sob seus pés.
Mesmo assim, o outro feiticeiro ergueu o braço e gritou com voz altiva: “Você é bom, mas é tarde! Transforme-se em cinzas!”
O círculo mágico brilhou—
E então, nada aconteceu.
“O-O que...?” O círculo ainda brilhava, mas já não pertencia mais àquele homem.
Zagan suspirou de forma teatral.
“Depois de criar um círculo mágico tão grande, e nem sequer usá-lo? Que patético.”
Quando Zagan se livrou das chamas, ele havia tomado o controle do círculo mágico do oponente.
Era o mesmo princípio que Barbatos usara para invadir a barreira de Zagan no outro dia.
“Lixo... é o nome dado a tolos como você.”
Erguendo o dedo indicador, Zagan o abaixou, traçando uma linha vertical no ar.
Então, uma intensa luz explodiu do círculo mágico.
“Gah?” — Lanças de luz começaram a chover incessantemente do céu.
Era um único golpe de relâmpago concentrado. Não era nada muito elaborado, mas, quando lançado por Zagan, tinha poder destrutivo o suficiente para pulverizar a muralha de um castelo.
Quanto ao feiticeiro que recebeu o ataque de frente, ele foi simplesmente apagado — sem deixar um único traço para trás.
O mais assustador, porém, era que a carruagem e os passageiros ao redor não sofreram sequer um arranhão.
O feiticeiro anterior havia criado uma única chama e arrastado seus próprios aliados para dentro dela, enquanto Zagan eliminou apenas o alvo que desejava. A diferença de habilidade entre os dois ficou evidente naquele instante.
Zagan então se aproximou da carruagem com um passo relaxado. Ainda restavam alguns bandidos por ali.
“O que foi? Venham me pegar. Se estão prontos para roubar, também devem estar prontos para serem roubados, não é?”
“E-Eeeek! O que você está dizendo que a gente fez!?”
“‘Não quero ouvir isso de você’ seria provavelmente a resposta mais adequada agora.”
O líder dos bandidos finalmente se soltou debaixo do grandalhão e recuou, segurando o próprio traseiro.
“Vamos ver... talvez seja só porque vocês são uma visão desagradável. No fim das contas, estão fazendo exatamente a mesma coisa, não estão?”
“HIGYAAAAAAAAAH!” — soltando um grito agudo, o bandido foi obliterado com os olhos arregalados de pavor... Zagan percebeu um cheiro desagradável no ar — o infeliz havia se borrado de medo.
Os outros bandidos, vendo o estado do líder, imediatamente se renderam e jogaram as armas no chão.
Depois de confirmar que não havia mais ninguém disposto a enfrentá-lo, Zagan se virou para Nephy.
Ele pretendia apenas abrir caminho seguro para ela, mas Nephy permanecia completamente imóvel, com os olhos arregalados.
Hm? Será que cometi algum erro de novo? — Zagan começou a suar frio, mas pigarreou e tentou explicar de forma calma o que acabara de acontecer.
“Está me ouvindo, Nephy? Como você viu, bandidos são simples lixos, inofensivos tanto para homens quanto para feras. Eles não têm chance de te ferir e, se forem um incômodo, basta afastá-los levemente que ficam mansos.”
“Mas... eles atacaram uma carruagem, então será que são mesmo inofensivos...?”
“Urk...” — ouvir aquilo de Nephy doía, especialmente quando ela ainda estava com aquela expressão vazia.
Essa garota... quando está atordoada, consegue ser surpreendentemente afiada nas respostas, hein...?
Zagan ficou pasmo, mas ao mesmo tempo, sentiu uma estranha satisfação por notar esse lado dela.
No entanto, antes que pudesse dizer mais, alguém não aguentou e explodiu em voz alta:
“Isso foi incrível, senhor feiticeiro!”
Com aquele grito, os passageiros começaram a se aproximar de Zagan.
“Ei, você é aquele passageiro que não subiu na carruagem antes, certo?”
“Obrigado, você nos salvou!”
“Então existem pessoas boas até entre os feiticeiros, hein?”
Rodeado por agradecimentos vindos de todos os lados, os olhos de Zagan se moveram inquietos.
Não era a primeira vez que ele acabava com bandidos — também já havia salvado pessoas por acaso antes —, mas era a primeira vez que ouvia palavras de gratidão.
E não era só ele o centro da atenção.
“Ei, você é a companheira do senhor feiticeiro?”
“Que menina linda.”
“Ele parece ser um bom mestre, não é?”
“Ah, eu...” — Nephy estava sendo cercada também.
E Zagan se convenceu: Deve ser por causa da Nephy, certo?
Certamente, se estivesse sozinho, todos teriam fugido apavorados como sempre.
Ele não sabia exatamente o que mudava com a presença dela, mas parecia que era ela quem trazia à tona algo além do medo nas pessoas.
Momentos atrás, Zagan estava seriamente considerando tomar todo o ouro e os bens deles, mas agora sentia uma sensação estranha — uma mistura incômoda e reconfortante.
Então, o cocheiro tirou uma pequena bolsa e falou:
“Ei, você aí. Se não se importar, poderia vir conosco como guarda? Naturalmente, eu te pagarei... embora não tenha muito dinheiro.”
“C-Certo, parece bom.” — disse Zagan, aceitando a bolsa que o homem empurrou para suas mãos. Pelo peso, percebeu que havia várias moedas de ouro dentro.
Antes, aquela quantia seria apenas troco para ele, mas agora era algo pelo qual se sentia verdadeiramente grato. Seria o suficiente para comprar ingredientes e roupas novas para Nephy.
O que é isso? O ouro aparece tão facilmente assim? — pensou. Em outras palavras, parecia que, se ele simplesmente andasse por aí eliminando vilões, o dinheiro viria naturalmente.
Mas então, uma súbita realização o atingiu:
Aos olhos das pessoas comuns, ele próprio era o maior dos vilões.
Esse pensamento quase fez suas pernas falharem, e enquanto Zagan se contorcia em angústia, ele e Nephy foram empurrados para dentro da carruagem.
Sentados lado a lado, os dois trocaram olhares.
“Mestre.”
“...O quê?”
“Por que... você salvou essas pessoas?”
“Eh? Ah... entendo. Acabei salvando elas, hein?” Tudo o que Zagan queria era mostrar a Nephy que não havia motivo para temer bandidos. Ele nem sequer tinha consciência de que estava salvando os passageiros da carruagem ou algo assim.
Mas... isso não é uma boa oportunidade para chamar a atenção dela? Motivos ocultos começaram a brotar dentro de Zagan.
Sim, ele só precisava dizer algo inspirador que fizesse Nephy abrir o coração para ele.
Enquanto rezava para que algum conselho divino lhe viesse de Barbatos naquele momento, Zagan respondeu como se fosse a coisa mais natural do mundo: “Tudo o que fiz foi ensinar àqueles pedaços de lixo convencidos o lugar deles.”
Por que eu sempre estrago tudo?! Seria o orgulho dele que o atrapalhava?
De jeito nenhum ele conseguiria dizer palavras doces como “foi para proteger Nephy” ou “não posso abandonar os fracos” ou qualquer coisa parecida.
E, mesmo assim, a única coisa que saiu da sua boca foi uma fanfarronice que não valia mais do que merda de cachorro. Depois de jogar fora, por vontade própria, a chance que tanto esperou, Zagan voltou a ser tomado pela angústia.
Por isso, ele não percebeu que, ao contrário do que esperava, Nephy o olhava com os olhos cheios de interesse.
♱
“Até mais, camarada. Pode andar comigo de novo quando quiser. Na verdade, se for você, pode subir de graça.” Tendo conseguido uma carona de carruagem, Zagan acabou indo para Kianoides. Quando a carruagem parou, o cocheiro de rosto felino disse isso antes de partir.
Como de costume, a cidade estava barulhenta. De um lado, uma dama nobre se divertia fazendo compras; do outro, um sujeito imundo vendia narcóticos. Embora fosse uma cidade caótica, tinha a vantagem de oferecer de tudo um pouco.
Agora então... para onde devemos ir? Por ora, seu objetivo era reunir ingredientes, mas o castelo não tinha nenhum dos itens de necessidade diária de Nephy.
Para começar... o que ela realmente precisa no dia a dia? Zagan era completamente ignorante nesse ponto.
Depois de pigarrear, ele voltou o olhar para Nephy.
“Ouça, Nephy. Quase tudo pode ser encontrado nesta cidade. Pode escolher o que desejar.”
“Mesmo que me dessem trapos, eu ficaria satisfeita.”
Ao ouvir essa resposta — sem o menor traço de sonho ou esperança —, Zagan sentiu vontade de chorar.
Vamos ver... Mesmo amanhã, não acho que essa garota vá desejar algo de repente.
Porém, nesse caso, o que ele deveria comprar para ela?
Enquanto se torturava com esses pensamentos, Zagan observou as pessoas que passavam pela rua. Não era como se não houvesse nobres usando vestidos deslumbrantes, mas a maioria vestia roupas relativamente práticas para se mover.
Quanto aos calçados, a maioria usava botas, sandálias ou algo fácil de correr.
O vestido longo, cujas barras pareciam precisar ser erguidas, e os sapatos de salto fino que Nephy usava realmente pareciam difíceis de caminhar — especialmente para um passeio de compras.
“...Hmm. Por agora, que tal comprarmos algumas roupas?”
“Roupas... é?”
“Sim. Essa roupa... é difícil de se mover, não é?”
Ontem ela quase tropeçou ao subir as escadas, e hoje, ao andar, precisava levantar as barras da saia. Nephy piscou, como se não acreditasse no que ouvia, mas, curiosamente, não demonstrou nenhum sinal de desgosto com a situação.
Enquanto andavam — e Zagan se arrependia de não ter perguntado ao cocheiro onde ficavam as lojas de roupas femininas —, depois de um tempo, encontraram uma que parecia adequada.
Parecia especializar-se em trajes voltados para viajantes, mas havia conjuntos completos de roupas femininas expostos em suportes de madeira. Pareciam ter, pelo menos, algumas peças casuais.
Quando Zagan abriu a porta da loja, o interior subitamente ficou em silêncio. Parecia que estavam em alerta ao ver as vestes de um feiticeiro.
Uma jovem atendente logo veio ao seu encontro. Ela era uma aviana, com asas verdes nas costas, e vestia com elegância as roupas que a loja exibia. Em seu peito bem torneado havia uma plaquinha com o nome “Manuela”.
A balconista, Manuela, dirigiu-se a Zagan com um sorriso tenso.
“B-Bem-vindo. Que tipo de roupa deseja?”
Era uma recepção claramente fria, mas Zagan ficou sinceramente grato por ela ter vindo atendê-lo.
Então, ele apontou para Nephy, que estava atrás dele.
“Gostaria que escolhesse roupas adequadas para esta garota.”
Manuela olhou para Nephy e ficou de boca aberta. “Uau, que menina linda...”
Parece que até pessoas do mesmo sexo pensavam o mesmo. Mesmo que não fosse sobre si, Zagan sentiu um inexplicável orgulho.
No entanto, a expressão de Manuela logo se turvou. E seu olhar foi direto para o colar.
Como imaginei... devo mesmo tirar esse colar dela, hein?
Se ela recebia olhares estranhos só por entrar em uma loja, então nem conseguiria andar pelas ruas.
Ele não se importava com o que diziam sobre ela poder fugir se tirasse o colar.
Zagan realmente queria salvar Nephy. Naturalmente, havia um motivo oculto — ele estava apaixonado por ela —, mas não havia sentido algum em mantê-la com um colar que a marcava como sua posse.
Com ele, certamente, ela sempre o veria apenas como um feiticeiro... e com aquele mesmo olhar assustado.
Nephy foi conduzida pela balconista para o fundo da loja e desapareceu. Zagan não sabia muito bem onde deveria ficar, então, por enquanto, saiu da entrada e encostou-se a uma parede.
E então, Manuela logo voltou.
“Que tal esse estilo?”
“Hm... Hã? O quê!?”
Ao olhar para Nephy, que surgiu do interior da loja, os olhos de Zagan se arregalaram.
Sobre o corpo nu dela, Nephy usava apenas tiras de couro entrelaçadas.
De certa forma, aquilo lembrava uma roupa — mais ou menos. Seus mamilos e a região íntima estavam habilmente cobertos. No entanto, todo o resto estava à mostra, e seus seios fartos não eram ocultados de forma alguma.
Ele até achou que o colar parecia se misturar ao conjunto de maneira quase “artística”, mas não era como se tivesse pedido algo assim. Se houvesse qualquer atendente ou cliente do sexo masculino por perto, Zagan certamente teria que sair arrancando olhos.
Nephy estava vermelha até as pontas das orelhas brancas, contorcendo-se enquanto tentava cobrir o corpo.
Era uma reação que ele não havia visto nem mesmo quando ela calmamente levantou a saia na noite anterior.
Mesmo alguém que quisesse morrer não suportaria tamanho constrangimento. Nesse sentido, ao menos, ela ainda demonstrava algum desejo de viver — e isso deixou Zagan um pouco feliz.
Mas agora definitivamente não era hora para pensar nisso.

O cabelo branco escondia o corpo trêmulo da garota.
“U-Um, por favor... não olhe...”
Quando Zagan foi trazido de volta à realidade pela voz vacilante de Nephy, por algum motivo, Manuela então estufou o peito com orgulho.
“E então? Acredito que seja a combinação perfeita, se posso dizer.”
“Como assim perfeita!? Tudo o que eu disse foi para escolher roupas apropriadas, então como isso acabou assim!?”
“Hã...? Eu quis dizer que combinaria com o seu gosto...”
O que exatamente ela estava pensando dele?
Bem, eu sou um feiticeiro vil indo por aí com uma garota fofa usando um colar, acho que…
O título de feiticeiro era basicamente sinônimo de maldade. Pensando bem, a reação da balconista parecia até razoável.
...Não, mesmo assim, esse tipo de roupa ainda era inaceitável.
Coçando a cabeça, Zagan falou:
“Estou procurando roupas casuais, do dia a dia.”
“Eeeh... mesmo tendo um material tão bom para trabalhar?”
Enquanto a balconista fazia uma expressão claramente insatisfeita, ela levou Nephy mais uma vez para o fundo da loja.
“Espere, deixe o que você está segurando aí.”
Teimosamente, Manuela estava segurando uma peça lasciva que parecia ser roupa íntima.
Ao notar isso, até Nephy começou a lacrimejar.
Depois de franzir a testa para Zagan, como era de se esperar, a balconista ergueu as mãos e desistiu.
“V-Vai, estou brincando, tá?”
Não parecia nada brincadeira, e Zagan a observou com desconfiança. Depois que a balconista largou a peça de roupa, Nephy colocou as mãos sobre o peito como se tivesse sido aliviada do fundo do coração.
Não demorou muito, depois de se trocar pela segunda vez, Nephy voltou.
“Então, como está?”
“Hoo...”
Dessa vez, Zagan deixou escapar um suspiro de admiração sincero.
Ela vestia um vestido azul claro com um avental por cima, decorado com rendas chamativas, e botas que pareciam confortáveis para caminhar protegiam seus pés. Eram roupas de empregada, mas ele realmente achou que ela estava adorável.
Manuela então começou a explicar de forma um tanto abatida.
“É um uniforme tradicional de criada, mas o vestido e o avental são de seda, então pode até ser usado como uniforme de dama de companhia. As botas também têm propriedades curativas, então reduzem a fadiga ao trabalhar em pé.”
Pareciam boas peças e também bastante funcionais. Olhando novamente, Zagan sentiu que eram artigos adequados.
“Então, Nephy, o que acha?”
“Se é algo que você está me dando, Mestre, então eu usarei.”
“...Olha, se continuar dizendo isso, vou fazer você vestir aquelas roupas de antes novamente.”
Os olhos da balconista alada ao lado dela brilharam com desconfiança, e ela arrastou novamente a roupa feita de tiras de couro.
Nephy rapidamente balançou a cabeça em pânico. Zagan sentiu que era a primeira vez que ela reagia de maneira tão divertida.
“E-Esse aqui tá bom, Mestre!”
“Entendo. Então esse serve.”
Manuela estalou a língua com um clique. Ela era uma balconista de modos nada refinados.
Depois de resolver a conta, a balconista sussurrou algo no ouvido de Nephy.
(“Ainda bem que seu mestre te valoriza.”)
Zagan não conseguiu ouvir nada, mas os olhos de Nephy se arregalaram. Depois disso, ela hesitou e assentiu seriamente.
“...Sim.” Sua expressão parecia de alguma forma feliz.
Saindo da loja, Zagan então perguntou: “O que a balconista te disse?”
“Oh... Que tenho um bom Mestre.”
“É mesmo?”
Provavelmente era apenas uma gentileza, mas ele não conseguia entender completamente o significado de alguém se dar ao trabalho de dizer isso.
Ao lado de Zagan, que agora inclinava a cabeça, Nephy acariciava delicadamente suas novas roupas como se estivesse satisfeita. (“Eu... estou sendo valorizada... será?”)
Aquela voz trêmula, que não sabia se podia realmente acreditar, não chegou a ninguém enquanto se perdia no vento.
♱
E agora, para onde ir? Tendo trocado de roupa, Nephy parecia conseguir andar muito mais facilmente. Com isso, provavelmente seria tranquilo caminhar por aqui e ali.
Enquanto pensava nisso, Zagan sentiu algo segurando-o levemente. Ao se virar, viu que Nephy segurava timidamente a bainha de sua túnica. A pessoa em questão parecia não perceber e inclinou a cabeça de lado, olhando sem expressão.
Entendo... Depois de ter sido provocada pela balconista, ela deve ter se assustado. Comparar sua figura abatida de ontem com sua presença encantadora de hoje deixou Zagan feliz.
Zagan continuou a andar cuidadosamente, certificando-se de não soltar sua mão, mas também tentando garantir que Nephy não percebesse o que estava fazendo.
Enquanto caminhavam, ouviram o barulho estrondoso de metal sendo golpeado.
Olhando para a fonte do som, parecia haver uma forja próxima. Ao lado de espadas e armaduras usadas por Cavaleiros Angélicos e soldados, havia uma montanha de bugigangas de metal empilhadas. E entre elas, também havia colares de escravos.
“Vamos entrar naquela loja.”
“Sim.”
O interior era típico de uma oficina: paredes cheias de prateleiras com mercadorias e, no fundo, homens martelando o metal incandescente.
Zagan chamou um deles — um anão sem barba, de idade difícil de definir. Jovem? Talvez. Ou de meia-idade.
Diziam que os anões eram habilidosos com as mãos, especialistas em ornamentos e mecanismos delicados.
“Tem algo que quero saber.”
O anão, claramente assustado por estar diante de um feiticeiro, respondeu com a voz trêmula: “E-Em que posso ajudar?”
Zagan colocou Nephy diante dele.
“Quero que dê uma olhada na coleira dessa garota... Sabe como removê-la?”
O corpo de Nephy tremeu. Ela olhou para Zagan, surpresa — como se não acreditasse.
Hm? Pensando bem, eu nunca disse a ela que iria tirar essa coleira, não é?
Mesmo que não fosse possível removê-la agora, só de saber que ele pretendia fazer isso, ela se sentiria mais tranquila. Zagan suspirou, frustrado com sua falta de tato.
“Mestre...” — começou Nephy, nervosa.
“Se continuar com essa coleira, será para sempre propriedade de Marchosias, certo? Você não precisa dela.”
Ele percebeu que soou como se a tratasse novamente como um objeto e levou a mão ao rosto, envergonhado. Mesmo assim, Nephy corou levemente e assentiu.
“...Sim.”
“...Ótimo.” Ele não sabia bem o que havia de bom nisso, mas foi o máximo que conseguiu dizer.
O ferreiro então respondeu, hesitante: “Remover, diz? Essa coleira aí?”
“Sim.”
“...Por favor, não brinque comigo. Isso é um artefato mágico, não posso fazer nada com ele.”
Nephy abaixou os ombros, decepcionada, mas Zagan já esperava por isso.
“Quero apenas entender sua estrutura. Dá pra remover quebrando o fecho?”
O anão observou atentamente a coleira e apontou para o encaixe do cadeado — um pedaço de metal com seis hastes saindo dele, unindo toda a peça.
“Veja, esse é o ponto de fixação. Normalmente, se o cadeado for retirado, a coleira se desfaz. Normalmente, claro.”
Ao ouvir isso, Zagan murmurou:
“Magia é um poder que distorce o natural. Faz sentido que imitem a aparência de um artefato comum. O fecho deve ser mais do que decoração.”
O anão fez uma careta, como se hesitasse em continuar. Ele chamou Zagan para o canto e cochichou: (“É provável que haja uma armadilha nesse artefato.”)
(“Armadilha?”)
(“Sim. Se não for removido da maneira certa, um mecanismo será ativado... No pior caso, algo terrível pode acontecer ao pescoço da moça.”)
Zagan nem quis imaginar o que poderia ser esse “terrível”. Era por isso que o anão falava com tanta cautela.
Como pensei, é perigoso tentar removê-la à força...
Ele certamente tinha poder suficiente para destruí-la, mas sendo um artefato deixado por um Arquidemonio, precisava ser prudente — e pareceu ter feito a escolha certa.
“O melhor seria usar a chave original.”
“Sim, provavelmente.”
Mas nem mesmo os organizadores do leilão a possuíam.
Não é que eu não tenha pistas... mas nada que eu possa usar agora.
Satisfeito com as informações, Zagan pegou algumas moedas de prata — o troco da compra das roupas — e as ofereceu.
“Meus agradecimentos. Fique com isso.”
“Não posso aceitar. Não fiz nada que mereça pagamento. Além disso, não posso cobrar de alguém como você.”
“Hã...? O que quer dizer?”
O anão sorriu, um pouco envergonhado.
“Você me salvou uma vez, lembra? Já faz cerca de um ano. Nossa carroça foi atacada, e você salvou a mim e minha filha. Fugimos apavorados, mas você nos deixou ir sem ficar bravo. Por favor, aceite minha gratidão — e meu pedido de desculpas.”
Parecia que, entre os marginais que Zagan havia expulsado por considerá-los irritantes, havia um feiticeiro ou algo assim que havia atacado. E, como resultado, aquele homem e sua filha acabaram sendo salvos por Zagan.
Ele não tinha nenhuma intenção de exigir gratidão deles, mas sentiu-se aliviado por não precisarem cobrar nada naquele momento. Zagan então guardou novamente as moedas de prata que havia tirado do bolso.
“Então, vou guardar isso. E vocês também deveriam esquecer esse assunto trivial. Eu também não me lembro de nada disso.”
Ao dizer isso, sentiu como se estivesse tentando disfarçar o fato de não ter realmente entregue as moedas, mas o ferreiro soltou uma risada estranha.
“Eu não vou esquecer, sabe? Se precisarem de qualquer coisa, apareçam a qualquer momento.”
Depois disso, Zagan e Nephy deixaram a loja.
O que estava acontecendo hoje? As pessoas ao redor estavam estranhamente amigáveis, ao ponto de parecer até suspeito. Será que trazer Nephy realmente mudou tudo de forma tão drástica?
Zagan, no entanto, não parecia perceber a verdade.
Ele não parecia saber que, ele, que sempre fazia cara de que tudo no mundo merecia sua ira, agora exibia uma expressão surpreendentemente terna.
♱
Depois disso, ao terminarem todas as compras necessárias, o sol já começava a se pôr. Não era tão tarde, mas também seria injusto voltar para o castelo e fazer Nephy preparar a refeição. Então, os dois foram a um pequeno restaurante.
Talvez por ser um horário estranho, não havia muitos clientes. Incluindo Zagan e Nephy, havia apenas cerca de dez pessoas.
As tábuas de madeira rangiam enquanto os funcionários andavam pelo salão, e as vigas alcançavam todo o teto. As lâmpadas penduradas iluminavam levemente as diversas mesas.
Zagan não entendia nada do que estava escrito no cardápio. Afinal, os nomes de qualquer prato eram completamente estrangeiros para ele. Mesmo assim, resolveu pedir algo que provavelmente era carne, uma espécie de salada e um pouco de pão.
Ele não tinha muito hábito de comer vegetais, mas sabia que se Nephy comesse apenas carne, poderia prejudicar sua saúde e figura.
Enquanto esperava a comida, percebeu que Nephy o olhava como se quisesse dizer algo.
“O que foi?”
“Não, hum...” Ela hesitou, mas mesmo assim tocou a coleira.
“Mestre, o senhor... pretende remover esta coleira?”
“Hm? Ah, agora que você menciona, nunca falei disso claramente, né? Pois é, quero sim.”
Como ele havia se expressado de forma tão indireta antes, Nephy ainda não tinha certeza disso.
Sentindo-se um pouco envergonhado por ela perguntar diretamente, Zagan respondeu de maneira ríspida. Palavras como “claro que quero” ou algo que a tranquilizasse não saíram.
Nephy abriu a boca várias vezes, parecendo confusa, mas não conseguia encontrar as palavras certas. No entanto, como se tivesse se decidido, a garota de aparência de empregada finalmente falou: “Não se preocupa... que, se a coleira for removida, eu irei fugir?”
Nephy era uma elfa. Além disso, possuía cabelos brancos como a neve e, dizem, enorme quantidade de mana. Sem a coleira, provavelmente poderia usar magia livremente.
A própria coleira era prova de que ela estava ligada a Zagan. No entanto, ele queria removê-la.
Bem, é claro que eu me preocuparia com isso.
Ele já havia considerado o risco: gastara uma quantia absurda, um milhão de moedas de ouro, para comprá-la. Não poderia simplesmente perdê-la. Para ele, homem e feiticeiro, seria uma enorme perda de prestígio.
Ele também pensava que, na realidade, poderia acabar assim. Afinal, diferente de Zagan, Nephy não tinha nenhum afeto por ele.
Mesmo assim, mesmo que ela escapasse — ainda assim, eu quero remover a coleira.
Zagan não tinha intenção de colocar esses sentimentos em palavras.
Por isso, no fim, só conseguiu dizer: “Hmph... De qualquer forma, não é algo que possa ser removido imediatamente. Não crie esperanças vãs.”
Ele estava completamente sem saber o que fazer.
Será que dizer “Mesmo assim, quero remover a coleira” seria realmente impossível para ele?
Provavelmente é porque quero ficar ao lado dela.
Era por isso que disse para não criar expectativas.
Mesmo assim, usar a palavra “vãs” foi realmente exagerado. Não havia algum grimório chamado Como Conversar com uma Garota por aí? Zagan desejou, secretamente, que alguém lhe desse dicas, mesmo que falsas.
E, ainda assim, Nephy assentiu, de maneira estranhamente satisfeita.
“Sim.”
Zagan sentiu que havia sido cruel com a garota, e mais uma vez ficou perplexo.
Ainda assim, o tempo de angústia passou rápido. Logo, a refeição foi servida.
Era um cardápio que ele nunca tinha visto antes, mas algo que sonhara há muito tempo. Ele nem lembrava a última vez que usara faca e garfo, mas pelo menos lembrava como usá-los.
Enquanto Zagan cortava a carne, Nephy permanecia olhando a comida distraída.
“O que foi? Você não sabe usar garfo e faca?”
Se lembrava bem, ouvira dizer que nos países do norte usavam “pauzinhos” para se alimentar. Talvez as elfas do norte remoto também não usassem garfo e faca.
Era o que Zagan pensava, mas Nephy apenas balançou a cabeça vigorosamente.
“Não, não é isso...”
“Então coma. Não me diga que não está com fome, certo?”
Mais uma vez ele falava de maneira ríspida, mas Nephy parecia já acostumada. Só fez uma expressão curiosa, sem medo — provavelmente algo que ele deveria ter percebido antes.
Como feiticeiro, Zagan podia usar magia para reduzir a fome, mas a mana de Nephy estava selada pela coleira. Além disso, ela não parecia ter muita força física. Desde a manhã, não comera nada além de carne seca e leite, o que mal poderia ser considerado uma refeição.
Como se confirmasse o que Zagan dissera, o estômago de Nephy fez um gracioso ronco.
Suas orelhas pontudas ficaram levemente avermelhadas.
“Hum, posso comer também?”
“O quê...? Existe algum motivo para não comer?”
Será que o cardápio escolhido era realmente frugal? Porém, sua reação parecia diferente da manhã.
Então Zagan se lembrou das circunstâncias dela.
“...Pode ser que esta seja a primeira vez que você come uma refeição assim?”
Nephy assentiu profundamente.
Ah, entendi... Nephy também era assim...
Zagan sentiu como se finalmente tivesse entendido por que se apaixonou por Nephy à primeira vista. Ela era igual a ele. Ela era igual a Zagan, no tempo em que não tinha poder, não tinha lugar a que pertencer, e se desesperava diante da dureza do mundo.
Por isso, Zagan conseguiu lhe dar a seguinte resposta como se fosse algo natural: “Então não se preocupe com isso. Eu também sou parecido nesse sentido. Pode comer o que parecer bom. Aqui não há ninguém para quem você precise se conter.”
“Ainda assim, eu...”
“Chega, apenas coma. É uma lojinha pequena, mas bem melhor do que a carne seca de hoje de manhã.”
Dizendo isso, Zagan levou uma fatia de carne à boca, mas, na verdade, mal conseguia sentir o gosto.
Ela não está chateada com a conversa sobre a coleira, está? E, cara, como é que eu a convido para uma refeição normalmente?
Enquanto essas perguntas e ansiedades rodopiavam em sua mente, Zagan mal conseguia saborear a comida.
Nephy levou a pequena mão unida até a boca. As extremidades de seus olhos também pareciam levemente caídas, e talvez fosse imaginação de Zagan, mas esses gestos pareciam indicar que ela estava rindo.
Depois disso, Nephy juntou as mãos e pegou o garfo.
“Obrigada pela refeição.”
A primeira coisa que tentou pegar foi um pequeno tomate. Tentou espetá-lo com o garfo, mas não deu muito certo e o tomate escapou.
A expressão de Nephy não parecia mudar, mas as pontas de suas orelhas pontiagudas estavam levemente avermelhadas. Parecia que ela se envergonhava de uma forma própria.
“...” Talvez percebendo o olhar de Zagan, o corpo de Nephy se contraiu, tremendo, e dessa vez pegou uma colher. Depois de pegar o tomate com cuidado, finalmente levou-o aos lábios rosados.
“Huh...?”
Rodando o tomate sobre a língua, Nephy fez uma expressão curiosa. Certamente porque não sentia nenhum sabor.
Não tem gosto se você só lamber... Morde! Morde!
Zagan não tinha confiança suficiente para dar esse tipo de conselho gentil. Além disso, Nephy provavelmente se envergonharia se ele tentasse.
Enquanto a observava atentamente, torcendo por ela em silêncio, Nephy finalmente mordeu o tomate.
Com o som do suco sendo esmagado, seus olhos se arregalaram.
“C-Como está...?”
Sem conseguir responder, depois de mover a boca em silêncio por um tempo, Nephy assentiu profundamente. Seus cabelos brancos como a neve caíram sobre o peito.
“Acho que... está delicioso.”
Depois disso, talvez achando suas palavras insuficientes, ela balançou a cabeça.
“É a primeira vez... que eu como... algo assim.”
Agora que pensava bem, quando disse que cozinharia para ele, havia dito também que “aprendeu observando”. Talvez ela nunca tivesse estado em um ambiente onde pudesse comer algo decente.
Tal circunstância era lamentável, mas, ao contrário, o rosto de Zagan se suavizou devido à afinidade que sentiu por ela.
“Você gostou?”
“Não sei... direito.”
Dizendo isso, ela pegou outro tomate com a colher.
“Pensei que seria doce. Mas... comer algo tão suculento assim... é a primeira vez para mim.”
Bem, o pequeno tomate realmente parecia uma bolinha de doce.
Zagan também já havia roubado um tomate de uma loja, pensando que era um doce, e ficou desapontado com o gosto azedo. Logo depois, ainda foi pego e levado a apanhar.
Entendo. Ela é uma garota afinal. Gosta de doces, pelo visto.
Zagan sentiu que pela primeira vez estava descobrindo o gosto de Nephy. Pensou em pedir algum tipo de sobremesa doce depois.
Enquanto pensava nisso, Zagan também tentou pegar um tomate com o garfo.
“Urgh...”
No entanto, assim como Nephy, ele não conseguiu espetá-lo direito. Tentou duas, três vezes, mas sem sucesso. Ele também não tinha o costume de usar garfo, então a dificuldade fazia sentido.
Quando estava prestes a desistir e usar a colher, Nephy pegou o tomate com a dela. Depois, ofereceu a colher a Zagan.
“...Por favor.”
“O-oi? O que é isso?”
Os olhos de Zagan se arregalaram.
Ela está... me dando para comer...?
Tentou pensar por que a cena parecia familiar. Tinha certeza de que já havia visto algo assim: um homem e uma mulher próximos, usando uma colher para alimentar um ao outro com algum doce — embora, no caso, fosse um tomate.
Naquele momento, uma sensação de estranha irritação surgiu nele, que não conseguia explicar direito, mas sabia que não tinha sentimentos particulares sobre o ato em si. Ainda assim, jamais imaginou que chegaria o dia em que ele próprio passaria por isso.
Ela mantinha uma expressão calma, mas as pontas das orelhas de Nephy estavam vermelhas.
Depois de observá-la por mais um instante, percebeu que suas bochechas também haviam começado a corar levemente.
Espera, essa é a colher que Nephy colocou na própria boca? Ela está dizendo que está tudo bem para eu colocar a minha também?
Zagan levou a boca até a colher, quase sendo dominado pela tensão. Eventualmente, o tomate caiu sobre sua língua.
Mordendo-o, o suco ácido se espalhou pela boca.
“...Está bom, né?”
“...Sim.”
Depois disso, Nephy falou baixinho, quase como um sussurro, para ele.
“Mestre, você não vai me dar nenhuma ordem?”
“C-Certo.”
Antes disso, ele nem sabia sobre o que falar. Mesmo que pensasse em querer lhe dar algum tipo de papel, não fazia ideia do que fazê-la fazer.
Mantendo a mesma expressão, Nephy assentiu como se estivesse verificando algo.
“Mestre, você poderia me perdoar... por pensar que quero ser útil para você?”
Aquele foi o primeiro momento em que Nephy colocou em palavras, por sua própria vontade, o que desejava.
E, mesmo assim, ter isso explicitamente dito não transmitia a impressão de que estava tentando agradá-lo. Certamente, ela estava em uma posição em que hesitava até em manter qualquer tipo de aspiração.
E, ainda assim, não se trata dela... Ela está perguntando sobre mim, realmente? Pela primeira vez, Zagan conseguiu responder honestamente.
“Eu permito. Nephy, você pode fazer como desejar.”
...No fim, ele só conseguiu falar em um tom arrogante, mesmo assim.
Mesmo assim, Nephy assentiu com uma expressão séria.
“Sim. Farei o meu máximo.”
Era uma resposta extremamente formal, mas Zagan ficou feliz por ela demonstrar sua própria vontade.
“M-Muito bem. Então deixarei isso com você.”
Enquanto estendia o garfo em direção a outro tomate, tentando esconder seu constrangimento, ele conseguiu espetá-lo. Zagan estava prestes a levá-lo à boca, mas interrompeu o movimento e o ofereceu à frente de Nephy.
“Huh...?”
Como se não compreendesse o significado de sua ação, Nephy inclinou a cabeça de lado.
Ela mesma não havia feito isso há pouco? Talvez, de alguma forma, tivesse feito sem perceber? Apesar disso, parecia bastante envergonhada.
Ainda assim, tudo aquilo era constrangedor para Zagan. Manter tal postura por muito tempo era difícil, mesmo usando o poder da feitiçaria.
“Você gostou, não é? Então pode ficar com ele.”
Após dizer isso, Nephy finalmente pareceu perceber que ele estava retribuindo o que ela havia feito.
Não apenas suas orelhas, mas até suas bochechas ficaram vermelhas enquanto abria timidamente a boca. Com os lábios rosados entreabertos, ele conseguiu vislumbrar seus dentes brancos reluzentes, e a língua que se projetava de lá parecia estranhamente sedutora.
Enquanto soltava um som como se estivesse ofegante, o tomate caiu em sua boca.
Ao retirar o garfo, algumas gotas escorreram, percorrendo sua mandíbula.
Como se não suportasse a vergonha, Nephy cobriu o rosto.
De algum modo, parecia que ele a estava provocando, mas, em vez de se sentir culpado, Zagan queria vê-la fazendo essa expressão ainda mais.
“Como está?”
Ao tentar perguntar isso, Nephy olhou através dos espaços entre os dedos, com uma expressão excessivamente séria, e assentiu.
“Está... delicioso.”
“...É mesmo, hein?”
Zagan não conseguia se livrar da sensação de que tinha de alguma forma errado com ela.
A pequena troca foi observada por todas as pessoas dentro da loja. Ao finalmente perceber isso, os dois acabaram saindo da loja às pressas.
Depois de tudo, o par desajeitado se acomodou com a percepção mútua de que, por enquanto, eram mestre e serva.
Traduzido por Moonlight Valley
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