Volume 1
Capítulo 3: É Aterrorizante Quando Uma Criança Normalmente Quieta Fica Com Raiva
Aconteceu há uma semana — na manhã do dia em que Zagan e Nephy se conheceram.
Ultimamente, vinham ocorrendo sequestros em série de jovens mulheres na cidade comercial de Kianoides. Os criminosos eram um punhado de feiticeiros, e parecia que as garotas estavam sendo usadas como sacrifícios em algum tipo de magia repulsiva.
O grupo de Chastille foi designado como a equipe de subjugação desses criminosos. Depois de derrotarem os principais feiticeiros envolvidos no escândalo, eles conseguiram resgatar as meninas capturadas. Foi, sem dúvida, o retorno triunfante dos heróis — mas algo estranho aconteceu logo em seguida.
As garotas resgatadas foram deixadas sob os cuidados dos reforços da Igreja e, na manhã seguinte, enquanto a equipe de subjugação retornava a Kianoides antes delas, Chastille não estava usando sua armadura, pois acabara de sair do banho.
Foi então que o homem que sempre havia protegido suas costas de repente sacou a espada e atacou seus aliados. Graças à ajuda de outros companheiros, ela conseguiu de alguma forma fugir daquele lugar, mas, sem portar nenhuma arma decente, acabou sendo rapidamente encurralada.
Porém, aquele homem não era ele mesmo — era outro, um feiticeiro que havia arrancado a própria pele para se disfarçar. Dias depois, o corpo vazio daquele homem seria encontrado, levado pela correnteza do rio.
Chastille estava prestes a experimentar a mesma dor… Não, ela sabia que enfrentaria um destino ainda pior do que o dele. Mas naquele momento, “alguém” acabou salvando-a.
Não podia ter sido… apenas um sonho.
Era um homem com olhos muito mais cruéis do que o homem que a atacou. Na verdade, ele matou o inimigo — que implorava por sua vida — sem a menor hesitação, mesmo sendo um desgraçado.
Mas ainda assim, ela pensou em algo estranho. De alguma forma, ele parecia… solitário também.
Após uma breve investigação, ela descobriu que ele era um feiticeiro chamado Zagan. E desde então, por algum motivo, Chastille não conseguia pensar em mais nada além dele.
Sim — naquela manhã, quando foi atacada na Floresta Perdida, Zagan havia salvado Chastille.
Jogando os cabelos vermelhos para trás, ela desabou sobre sua mesa de trabalho.
“Haaa…” E então, soltou um profundo suspiro.

“Preocupada com algo, Arcanja Chastille?”
Ao ouvir uma voz chamando-a por trás, Chastille deu um pulo.
“M-Meus perdões, Sua Eminência Clavwell!”
Diante dela estava um homem idoso vestindo as roupas cerimoniais de um sacerdote de mais alta patente — um Cardeal. Na verdade, um dos mais influentes da Igreja, e o superior direto de Chastille.
O velho então esboçou um leve sorriso e balançou a cabeça.
“Por favor, não seja tão formal. Se a heroína que subjugou os criminosos por trás dos sequestros em série se mostrasse tão humilde, a hostilidade do povo recairia sobre mim. Sem mencionar que você também é a Donzela da Espada Sagrada, não é mesmo?”
Donzela da Espada Sagrada — esse era o título concedido a Chastille.
Capaz de cortar círculos mágicos de feiticeiros, anular os efeitos da feitiçaria e, se todas as doze fossem reunidas, dizia-se que até mesmo um Arquidemônio poderia ser derrotado por elas. As Espadas Sagradas eram as armas supremas da Igreja.
Diferente do momento em que foi salva por Zagan, Chastille agora vestia sua Armadura Ungida, e ao seu lado estava uma enorme espada cujo comprimento praticamente igualava à sua altura. Ambas eram equipamentos anti-feiticeiros e também serviam como trajes formais em ocasiões de etiqueta.
Chastille então balançou a cabeça, negando.
“...Cheguei até a perder quatro dos Cavaleiros Angelicais que me foram confiados por Sua Eminência. Isso é um fracasso causado pela minha inexperiência. Por que, em nome de Deus, eu deveria ser recompensada por isso?”
Meyers, Emilio, Jamil e Doran eram todos Cavaleiros Angelicais orgulhosos e valentes.
Naquela manhã, se não fosse pelo ataque surpresa, provavelmente teriam alcançado a vitória com facilidade, mesmo contra aquele feiticeiro.
Suas mortes foram uma tragédia provocada pela negligência de Chastille.
O velho Cardeal então balançou a cabeça de maneira afetuosa.
“A culpa não é sua. Aqueles que devem ser odiados são esses malditos feiticeiros, que manipulam magias tão repugnantes. Você vingou esplendidamente seus companheiros caídos e retornou a nós. Pode se orgulhar disso.”
“...Entendido.”
Com uma expressão complicada, Chastille assentiu diante dele.
Não fora ela quem vingou seus companheiros caídos. Foi um feiticeiro que passava por ali. Se não fosse por ele, nem mesmo Chastille estaria viva.
E ainda assim, quem estava sendo reconhecida ali era ela.
Chastille era uma devota fiel da Igreja, mas também sabia que a instituição não era tão pura e sagrada quanto afirmava ser. Ela tinha responsabilidades como Arcanjo — um título que recebera por sua aptidão com a Espada Sagrada —, mas não tinha intenção de abandonar sua própria vontade.
Ao menos, sabia distinguir entre as palavras que devia e não devia dizer.
O Cardeal então fitou Chastille com atenção.
“Chastille, parece que você andou investigando o feiticeiro Zagan, certo?”
“Sim, andei.” — respondeu ela com um firme aceno de cabeça.
“O feiticeiro que nos atacou se apresentou como Zagan.”
Esse era, de fato, o nome que ele havia declarado. Mas Zagan é, na verdade, o nome do feiticeiro que me salvou.
Em outras palavras, alguém estava usando aquele nome para cometer crimes.
Um dos motivos pelos quais Chastille investigava Zagan era porque queria provar sua inocência. E, diante do Cardeal, ela espalhou sobre a mesa os documentos que havia reunido.
“Entretanto, pelo que consegui descobrir, o feiticeiro conhecido como Zagan parece ser uma pessoa completamente diferente.”
O Cardeal então assentiu, como se já soubesse disso.
“É provável que se tratasse do feiticeiro conhecido como o ‘Esfolador de Rostos’. Como o nome sugere, ele arranca a pele fresca das pessoas e a utiliza para alimentar sua feitiçaria repulsiva. Já havia sido emitida uma ordem para sua subjugação. Ao que parece, ele também estava envolvido no apoio aos sequestros em série.”
Com aquelas palavras, Chastille entendeu que o Cardeal também estava investigando o caso.
“Ouça-me, Chastille. Este caso... ainda não foi encerrado. Ao que parece, além dos feiticeiros que trouxemos à luz, ainda há um verdadeiro culpado por trás de tudo isso.”
“...Tch, surgiram mais vítimas?” O Cardeal então balançou a cabeça, como se quisesse confortá-la.
“Não seja precipitada, Chastille. Graças aos esforços de seu esquadrão, o plano daqueles malditos feiticeiros foi certamente impedido... No entanto, a partir da investigação do esconderijo deles, chegamos à conclusão de que ainda existe um verdadeiro culpado que passou despercebido.”
Ainda havia sobreviventes além do “Esfolador de Rostos” que atacara Chastille.
Eu ainda tenho a chance... de vingar meus companheiros? — pensou, engolindo em seco pela tensão. Então o Cardeal pronunciou um nome em tom solene: “O feiticeiro Zagan — um feiticeiro que vem acumulando poder em um ritmo aterrorizante nos últimos anos.”
“O quê—” Chastille ergueu a voz sem querer.
“Aquele homem não deveria ter relação com o culpado.”
“O nome de um feiticeiro supostamente sem relação apareceu duas vezes durante os mesmos incidentes. Não pode ser mera coincidência.”
Com essa declaração, o Cardeal prosseguiu em tom pesado: “Feiticeiros são o mal. Devem ser destruídos. Mesmo que ele não tenha ligação com o incidente, continua sendo um homem maligno que precisa ser levado à justiça. Assim, nossa filial de Kianoides realizará a subjugação do feiticeiro Zagan.”
“Tch...” Esse era um preceito de obediência absoluta proclamado pela Igreja.
Na verdade, talvez fosse mais apropriado chamá-lo de uma maldição.
Até que todos os feiticeiros sejam aniquilados, a Igreja continuaria caçando-os.
Mesmo que Zagan fosse falsamente acusado, uma vez que a Igreja decidisse caçá-lo, essa decisão jamais seria revogada. Mesmo que uma portadora da Espada Sagrada como Chastille fosse derrotada, mesmo que milhares, dezenas de milhares de cadáveres se acumulassem, a Igreja não cessaria até que o feiticeiro fosse morto.
Diante desse fato, não havia qualquer sentido em Chastille alegar sua inocência. Pelo contrário, era perfeitamente possível que fosse considerada uma traidora e julgada como herege.
Não tenho intenção de prezar por minha própria vida... mas nada mudará se eu agir sem cautela.
Se queria retribuir o favor àquele que lhe salvara a vida, ela não podia simplesmente se exaltar aqui e ser capturada. Precisava agir de forma a protegê-lo — e permitir que ele fugisse.
Após fechar os olhos por um breve instante, Chastille abriu a boca: “Então, Vossa Eminência, por favor, conceda a Arcanja Chastille o dever de subjugar esse tal Zagan. Peço-lhe a oportunidade de apagar a desonra do meu fracasso anterior.”
Em resposta a essas palavras, o Cardeal deixou escapar uma voz de admiração: “Oooh... Muito bem dito. Como era de se esperar de nossa Arcanja, a Donzela da Espada Sagrada.”
Chastille sabia que sua decisão poderia levá-la à ruína. Mas, mesmo assim, tinha suas próprias convicções. Mesmo que tivesse de se voltar contra a Igreja, havia coisas das quais ela não abriria mão.
Mesmo que ninguém lhe agradecesse, mesmo que as pessoas do mundo a desprezassem, se tivesse de abandonar suas convicções apenas para preservar a própria vida, ela preferiria a morte.
Foi exatamente por ser esse tipo de mulher que lhe foi concedida uma Espada Sagrada aos dezessete anos. E, além disso...
Aquele homem... tinha olhos muito solitários.
Era como se, mesmo desejando calor no fundo do coração, ele não conseguisse aceitá-lo e afastasse tudo ao seu redor. Eram os olhos de um cão perdido.
Naquele momento, quem realmente precisava ser salvo não era Chastille, mas aquele homem. Ela chegou a pensar nisso...
E foi por isso que Chastille fez dessa missão algo pessoal.
♱
“Você está acordado, Mestre?” Zagan era alguém que, por natureza, dormia sentado.
O trono do castelo ficava no centro da barreira, portanto, era também o ponto onde toda a sua funcionalidade se concentrava. Sentado ali, não importava que tipo de ataque recebesse, ele não perderia a vida com um único golpe. E, acima de tudo, se uma presença suspeita se aproximasse, ele seria capaz de percebê-la imediatamente.
Em outras palavras, dentro da firme proteção de seu castelo, havia um espaço ainda mais perfeitamente protegido — o trono.
Em vez de deitar sobre ele, Zagan podia reagir melhor se permanecesse sentado. Por isso, antes mesmo de perceber, dormir ali se tornara um hábito.
E agora já era manhã.
“Bom dia, Mestre.” Nephy, vestida com um traje de empregada, o cumprimentou assim.
Não era como se ela o tivesse acordado.
“S-Sim.” — respondeu Zagan, e Nephy inclinou a cabeça, curvando-se pela cintura.
“Os preparativos para o café da manhã foram concluídos. O senhor vai comer?”
“Eh, café da manhã? Foi você quem preparou, Nephy?”
“Sim.” Certamente, na manhã anterior, ela havia dito que faria uma refeição, mas pensar que já estaria pronta para isso logo no dia seguinte...
Então, uma dúvida súbita surgiu em sua mente.
“Será que... você ficou me esperando acordar esse tempo todo?”
“Sim.”
“...Pode me acordar em momentos assim, sabia?”
“Mas o senhor parecia dormir profundamente...” Ao ouvir isso, Zagan percebeu algo estranho.
Pensando bem, ter alguém bem na minha frente e eu não acordar... é realmente estranho, não é?
Ele sabia que simplesmente pular uma noite de sono não seria o suficiente para fazê-lo cair em um sono tão profundo.
Coçando a cabeça, notou que Nephy estava parada ali o tempo todo.
“Se você ficou em pé o tempo todo, não ficou cansada?”
“Estou bem. Acredito que seja graças à mana contida nas minhas botas.”
Agora que lembrava, a atendente da loja de roupas dissera que aquelas botas tinham o poder de reduzir a fadiga. E de fato pareciam funcionar.
“Enquanto esperava, você ficou apenas parada o tempo todo?”
“Não, eu estava olhando para o seu rosto, Mestre.”
“E–Entendo...” Diante de tais palavras, Zagan cobriu o rosto com a mão.
Embora, já que ela havia se dado ao trabalho de preparar uma refeição, ele não podia simplesmente deixá-la esperando.
“Café da manhã, certo?”
“Sim.” Quando Zagan se levantou, Nephy deu um passo para o lado e fez uma reverência.
Ela já tinha os modos de uma empregada profissional.
Enquanto se dirigia à sala de jantar do castelo, Zagan soltou um leve “Ah”.
“Huh...? Aconteceu algo?”
“Ah, hum, Nephy.”
“Sim?” Diante da garota que inclinava a cabeça e o encarava com um olhar vazio, Zagan coçou a nuca e, meio atrapalhado, chamou por ela:
“...Bom dia, Nephy.”
Eram as palavras que ele não conseguira lhe responder no dia anterior.
Nephy piscou duas vezes, como se não esperasse por aquilo, e então respondeu com uma voz que soava de algum modo alegre: “Sim. Bom dia, Mestre.”
De alguma forma, o interior do peito de Zagan ficou aquecido — e aquela sensação era estranhamente agradável.
♱
A porta à direita do saguão de entrada levava a uma sala de jantar. O amplo cômodo do outro lado tinha uma única mesa comprida, com espaço para cerca de vinte pessoas, e um lustre extravagante pendia do teto.
Aquilo também deveria ter sido um lugar como um cemitério, cheio de teias de aranha e esqueletos, mas agora estava incrivelmente limpo. Mesmo a toalha de mesa não tinha um único amassado, como se fosse nova em folha.
Parecia que Nephy era o tipo de garota que, quando recebia uma tarefa, se movia com afinco para cumpri-la minuciosamente.
Sobre a mesa agora impecável estavam dispostos uma salada regada a óleo e um pão de aparência macia. Justo quando Zagan pensou que uma das tigelas estava vazia, Nephy despejou nela uma sopa ainda quente. Parecia que ela havia levado em consideração o fato de que Zagan talvez não acordasse de imediato.
Era uma quantidade moderada de comida, mas até mesmo Zagan percebia que se tratava de um cardápio bem equilibrado em termos de nutrição. Então ele inclinou a cabeça, confuso.
“Hum? Nós compramos algum pão ontem?”
“Não. Eu acabei de assá-lo.”
“Você sabe fazer pão? Sozinha?”
Zagan fez uma expressão de quem não conseguia acreditar, e Nephy inclinou a cabeça para o lado como um pequeno pássaro.
“Isso é estranho?”
“Eu não sei. É a primeira vez que conheço alguém que cozinha tão bem. Pelo menos, nunca houve ninguém ao meu redor capaz de preparar uma refeição com uma aparência tão boa.”
“É mesmo?” — murmurou ela em um tom monótono, mas Zagan não deixou de notar que as longas orelhas dela tremiam.
Será que isso é um sinal... de que ela está feliz? Era certo que, quando ficava envergonhada, as pontas de suas orelhas ficavam vermelhas.
Diziam que os olhos revelavam mais sobre uma pessoa do que a própria boca, mas no caso de Nephy, talvez fosse mais fácil observá-la pelas orelhas.
Enquanto achava agradável essa descoberta, Zagan percebeu que Nephy ainda estava de pé.
Sobre a mesa, apenas a porção de Zagan estava servida.
“Nephy, você já comeu?”
“Não.”
“Então coma comigo aqui.” — na verdade, Zagan se sentia desconfortável só de pensar em comer sozinho.
Nephy se mexeu ligeiramente, como se estivesse em dúvida.
“O que foi?”
“É que... eu só preparei o suficiente... para a porção do Mestre.”
“Você não pretendia comer?”
“Não, eu simplesmente esqueci de preparar a minha.” — o que, de fato, soava como algo que essa garota faria.
E deixar uma garota tão esforçada sozinha enquanto comia tranquilamente era algo que Zagan não conseguiria suportar.
“Então, tudo bem dividir ao meio, certo?” — disse ele, partindo o pão em duas partes.
O pão recém-assado ainda estava um pouco quente e se partiu facilmente, abrindo-se de forma suave. Quando o aroma fragrante chegou ao nariz de Zagan, ele soltou um suspiro involuntário: “Hooo...”.
No entanto, Nephy ainda não havia se sentado.
“E quanto a se sentar?”
“... Hum, a única cadeira que consegui preparar... é a que o senhor está usando, Mestre.”
Para começar, o cômodo estava sujo a ponto de não ser um bom ambiente para uma refeição. Se Nephy havia limpado tudo e preparado a comida, então realmente não teria sobrado tempo para arrumar todas as cadeiras.
Zagan até poderia ter usado outra cadeira, sem se importar em se sujar, mas todas as demais já haviam sido guardadas.
Se eu ceder a cadeira da mesa para ela... Não, a Nephy jamais se sentaria na mesa que preparou especialmente para mim, não é?
No entanto, ele não conseguiu ver nada que pudesse servir de assento por perto. Então, por ora, pensou que seria aceitável compartilhar a própria cadeira. Mas a cadeira não parecia muito firme — se os dois se sentassem nela, com certeza tombaria.
Não... deve ser possível mantê-la estável, certo?
Mesmo que fosse inútil tentar dividir metade do assento para cada um, talvez funcionasse se ela se sentasse em seu colo. Considerando o peso leve de Nephy, não o incomodaria em nada tê-la ali enquanto comiam, e, como ambos ficariam voltados para a comida, parecia uma boa ideia.
Pensando bem, Zagan acabara de acordar, e talvez ainda estivesse meio sonolento. Foi por isso que nem duvidou, por um segundo sequer, de que essa fosse a melhor solução.
Depois de se certificar disso, Zagan assentiu.
“Então, pode simplesmente sentar aqui.”
“A-aqui...? Quer dizer...” — Nephy hesitou.
Ouvindo a voz perplexa dela, Zagan apontou sem piedade para o próprio colo.
Era fácil perceber que os olhos azuis de Nephy tremiam de incerteza ao ouvir aquilo. Parecia até que as pontas de seus fios de cabelo brancos estavam se eriçando.
A partir daquela reação, Zagan finalmente percebeu que havia dito algo estranho.
Hm? Espera aí... ela se sentar no meu colo… Isso não é praticamente o mesmo que se abraçar?
Ao recobrar o juízo, ele finalmente percebeu o quão absurda era a ideia — e quis se encolher até desaparecer de vergonha.
No entanto, Nephy abriu a boca com firmeza e falou: “Eu não poderia cometer um ato tão rude.”
Era algo perfeitamente razoável. Na verdade, era a melhor resposta possível para aquela situação. Se Zagan simplesmente tivesse assentido, tudo teria terminado ali.
Mas, ao ouvir a resposta tão educada e precisa de Nephy, Zagan acabou ficando perturbado — e, por pura teimosia, retrucou: “Não se preocupe. Estou dizendo que está tudo bem.”
Mas o que diabos eu estou dizendo!?
Talvez fosse apenas o orgulho dele se recusando a admitir o próprio erro. Sinceramente, se pudesse arrancar a própria boca naquele momento, ele teria feito isso.
“M-Mas...”
As pontas das orelhas de Nephy estavam tingidas de vermelho. E ao ver aquele rosto prestes a se encher de lágrimas...
O que é isso...? Sinto que, se insistir só mais um pouco, vou deixá-la totalmente sem saída.
Mesmo sabendo que era uma atitude rude, ao vê-la tão nervosa, ele quis provocá-la um pouco mais.
Limpando a garganta com uma tosse, Zagan bateu com a palma da mão sobre as próprias pernas.
“Se apresse. A comida vai esfriar.”
“Eek...”
Com um suspiro delicado e longo, as orelhas pontudas de Nephy se curvaram para baixo. Parecia que ela havia desistido.
“Mestre, tudo será... como desejar...”
Nephy sentou-se timidamente no colo de Zagan.
Ela realmente fez isso! A sensação macia de suas nádegas foi transmitida através da saia. Ele sentiu uma vontade quase incontrolável de abraçá-la por trás e afagá-la com delicadeza.
Sem querer, o som de Zagan engolindo em seco ecoou.
Mas, mesmo assim, como havia sido uma ordem sua, ele fingiu estar calmo e partiu um pedaço do pão.
“Aqui, pode comer.”
“...Mestre, isso é... muito embaraçoso.”
As orelhas de Nephy estavam vermelhas até as raízes.
“De fato. Posso ver isso claramente.”
“...Mestre, isso é maldade.” — murmurou ela com uma voz trêmula, quase como um choramingo, aproximando o rosto da palma da mão de Zagan. Então, com os lábios rosados, ela pegou o pedaço de pão e o comeu.
“Hum... eu posso comer o resto sozinha, então...”
“C-Certo.”
Zagan queria continuar observando Nephy envergonhada por mais um tempo, mas seu coração já estava prestes a explodir de culpa e vergonha.
Então ele notou que as orelhas pontudas dela tremiam levemente, como se saltitassem. Parecia que, embora estivesse envergonhada, ela não odiava aquilo.
De certa forma, aliviado, Zagan disse: “Da próxima vez, certifique-se de preparar a sua própria porção também.”
“...Sim.”
“Bem, eu não me importo em fazer isso de novo, também.”
“Farei os preparativos.” — respondeu ela com firmeza.
Zagan então estendeu a mão para pegar a sopa antes que esfriasse, mas Nephy rapidamente pegou a colher ao lado antes que ele pudesse fazê-lo.
“Nephy?” — disse ele, franzindo o cenho.
A garota vestida de empregada mergulhou a colher na sopa e a ergueu cuidadosamente.

Depois de soprar suavemente para esfriá-la, ela ergueu a colher diante de Zagan.
“Por favor, Mestre, aproveite.”
Sua expressão permanecia tão inexpressiva quanto sempre, mas, de algum modo, parecia que ela estava irritada.
Então isso é uma vingança pelo que aconteceu agora há pouco?
Mas, mesmo que fosse, a própria Nephy estava claramente constrangida. As pontas de suas orelhas estavam vermelhas como se ardessem em chamas, e a mão que segurava a colher tremia levemente.
Pensando em como ela havia soprado o caldo com tanto cuidado, Zagan achou que aquilo parecia mais uma recompensa do que uma retaliação.
Quero que ela faça isso toda vez…
Foi por isso que Zagan abriu a boca e deixou que ela fizesse o que quisesse.
Com movimentos desajeitados, Nephy levou a colher até os lábios dele.
Parecia ser uma mistura de carne de cordeiro e vegetais cozidos no leite. Assim que engoliu, Zagan sentiu uma sensação morna se espalhar pelo estômago.
“Está quente, não?”
“Hã?”
“Ah, não, o caldo! Eu quis dizer o caldo!”
É claro que também havia o calor de Nephy sentada em seu colo, mas Zagan negou aquilo, atrapalhado.
Nephy o olhou sem entender, mas logo assentiu lentamente.
“...Sim. Está... bem quente.” — disse ela, como se estivesse segurando um sorriso.
Seria bom... se isso pudesse continuar para sempre.
E, em seu coração, Nephy pensou exatamente isso.
[Sol: Quente….. kkkkkkk, muito fofo!]
♱
Naquele dia, o quarto de Nephy finalmente estava impecável.
Ela insistira em fazer a limpeza sozinha, mas era difícil carregar móveis pesados com seus braços finos. Por isso, Zagan acabou levando coisas como a cama e as cômodas para ela.
Ainda assim, suas roupas se resumiam apenas ao vestido que usava originalmente, ao uniforme de empregada e a algumas peças de roupa íntima. Zagan queria providenciar algo mais variado do que aquilo.
Preciso pensar em uma forma decente de ganhar dinheiro...
Vender seu conhecimento em feitiçaria era o meio mais lucrativo, mas tinha o problema de ser algo fácil de rastrear até ele. Quando estava sozinho, isso não importava, mas agora, se a Igreja interviesse e algo acontecesse com Nephy, não haveria como desfazer o dano — nem mesmo massacrando os culpados.
Nesse caso, assim como o trabalho de guarda-costas dos bandidos da outra vez, ele poderia se empregar a alguém, mas esse tipo de serviço exigia longas horas, e haveria dias em que não poderia voltar ao castelo.
As pessoas diziam que havia coisas que o ouro não podia comprar, mas a verdade era que, sem dinheiro, não se podia viver com dignidade.
Ele ainda tinha algum dinheiro do prêmio recebido por salvar a carruagem, então não passaria fome de imediato, mas precisava pensar em uma solução logo.
Assim, enquanto continuavam limpando o castelo juntos, alguns dias se passaram.
Enquanto Zagan estava nos arquivos do castelo, rodeado de textos sobre feitiçaria espalhados à sua frente, Nephy lhe fez uma pergunta:
“Mestre, no que o senhor tem pesquisado todo esse tempo?”
Mesmo vivendo dias tão pacíficos ao lado dela, Zagan não se esquecia de se dedicar ao estudo da magia.
Nephy cuidava da comida e da limpeza com perfeição e, mesmo quando ele a ajudava um pouco, isso o deixava com tempo suficiente para avançar em suas pesquisas.
Em resposta, Zagan inclinou a cabeça.
“Se está me perguntando o quê, não parece óbvio que é feitiçaria?”
“Eu... acredito que sim. Mas não entendo o propósito de desenhar esses círculos...”
Ao ouvir isso, Zagan ficou boquiaberto.
“A feitiçaria élfica é diferente?”
Nephy balançou a cabeça, e seus cabelos brancos como a neve balançaram no ar.
“É porque... eu não posso usar feitiçaria.”
Essa foi uma resposta inesperada.
Mesmo possuindo um mana de qualidade muito superior à maioria...
Que desperdício, pensou ele. Mas, diante disso, Zagan apontou para o círculo mágico que estava desenhando.
“Isto é chamado de círculo mágico. É o ‘projeto’ que os feiticeiros usam para manifestar os fenômenos que desejam.”
“Pro...jeto?” — parecia ser uma palavra nova para ela. Então, Zagan começou a explicar desde o início.
“Veja bem... por exemplo, existem dispositivos na cidade, como rodas d’água e carruagens, certo? Esses objetos são diferentes de simples ferramentas como facas e martelos — eles são formados por várias partes. Se essas partes não forem montadas corretamente, o dispositivo não funciona. O desenho que mostra todas as medidas e como juntar as partes é chamado de projeto.”
Uma carruagem tinha o tamanho das rodas, a porta, o assento feito de várias tábuas unidas por pregos e ferragens. Uma roda d’água era ainda mais complexa, exigindo o número exato e o tamanho correto das engrenagens. Não era algo que se pudesse montar apenas com prática — era preciso um desenho que qualquer pessoa pudesse entender à primeira vista.
Nephy então assentiu, compreendendo.
“A feitiçaria não é tão diferente disso. Tudo começa com o desenho do projeto — o círculo mágico, no nosso caso.”
Enquanto falava, Zagan desenhou um símbolo sobre o chão coberto de poeira.
“Há quem diga que esses símbolos possuem poder por si só. O emblema da cruz usado pela Igreja é parecido. Dizem que são letras deixadas pelos deuses ou provas de contratos com demônios, mas nem eu sei o que realmente são.”
Ou talvez... o simples fato de acreditar que há poder ou divindade neles seja o que dá origem ao poder em si.
Após tocar no assunto da feitiçaria, as leis do mundo tornaram-se ambíguas, e ficou claro que sua estrutura era descuidada. Em seguida, Zagan encerrou o emblema que havia desenhado com um círculo.
“Isso... é o círculo mágico na sua forma mais simples. Este provoca um estalo de relâmpago; ao derramar mana nele, acontece isso.”
“Uh, o quê...” — ela provavelmente não pensara que ele o ativaria ali, por isso uma voz apavorada escapou de Nephy.
Mesmo assim, quando Zagan tocou o círculo mágico, uma pequena faísca crepitante se espalhou. Pondo-se em alerta, Nephy piscou, como se aquilo fosse anticlimático.
“Isso é... um relâmpago?”
“É. Dito isso, ele se dispersa no ar na mesma hora, então, em termos de relâmpago, não parece muita coisa.”
“Haaa...” Ao ver a resposta insatisfeita de Nephy, um sorriso parecia surgir no rosto de Zagan.
“Só com isto, não difere muito de folhas flutuando na superfície da água. Você não faz nascer fogo só por esfregar duas pedras, certo? Por isso acrescentamos selos para amplificar o efeito: selos para dar direção à força, selos para definir o alcance e selos que determinam o momento da ativação.” Assim como quando desenhou o selo para o relâmpago, Zagan continuou traçando vários selos alinhados e então desenhou um círculo ao redor de todos eles.
“Agora sim, com isso podemos provocar um fenômeno adequado.” Ao verter mana, raios riscaram do teto.
“Hyaaa.” Ao ouvir o pequeno guincho de Nephy, Zagan riu leve.
“Desculpe, desculpe. Porém, graças a esse círculo, qualquer um pode usar feitiçaria ao injetar a quantidade correta de mana. Por isso, mesmo que você desenhe um círculo mágico, não adianta se seu inimigo roubá-lo antes que o use. É também por isso que o próximo passo é adicionar restrições para que só você possa utilizá-lo.” Em outras palavras, é feitiçaria para proteger feitiçaria.
Outro dia, quando Barbatos invadiu a barreira e quando Zagan anulou o efeito da magia do inimigo, isso foi feito sobrescrevendo essa porção do círculo mágico e apropriando-se dele.
“Isso precisa ser complicado, senão será capturado por outro feiticeiro imediatamente. Daqui em diante é questão de habilidade individual. Então, um círculo mágico com essa composição é chamado de ‘circuito’, entendeu?” A verdadeira força de um feiticeiro baseava-se na eficiência de circuitos de alto nível, bem como na capacidade de proteger os selos no seu núcleo.
Também se poderia dizer que substituir um círculo mágico por um feitiço era outra demonstração de poder.
Depois de ouvir tudo, Nephy pareceu encarar o círculo mágico com profundo interesse.
“Algo errado?”
“Não, Mestre, o senhor adicionou o ‘circuito’ no exterior. Seria possível adicioná-lo no interior?” Com um “Hooo”, Zagan deixou escapar um suspiro admirado.
“É um bom ponto a se focar. A resposta é que é impossível, e ao mesmo tempo possível.”
“...O quê?” Nephy inclinou a cabeça, como se aquilo não fizesse sentido algum.
Mas Zagan continuou num tom meio estranho.
“Por ora, seria como pegar um círculo mágico completo e desenhar outro dentro dele. Com isso, o fluxo de mana ficaria caótico e nenhum dos dois ativaria, ou descarregaria espontaneamente. Contudo, como a própria feitiçaria se baseia no fluxo do poder — no mana —, teoricamente deveria ser possível.” Nephy refletiu sobre aquilo por um instante.
Depois falou, como se não estivesse totalmente convencida.
“Isso ajudaria a controlar ainda mais a feitiçaria ativada?” Desta vez foi Zagan quem arregalou os olhos.
“Correto. E se isso puder ser feito, significaria que nenhuma magia jamais poderia ser roubada.” Todos os ataques nascidos da magia seriam simples alimento para quem estava sendo atacado. Seria algo muito além de sequestrar um círculo mágico — seria como conseguir sempre ganhar pedra-papel-tesoura do oponente.
Além disso, a feitiçaria poderia ser ativada sem problemas e não haveria meio de impedi-la.
“Em outras palavras — teoricamente, seria a forma suprema da feitiçaria.” Dito isso, Zagan deu de ombros.
“Mas isso é só teoria. Se fosse tão fácil de praticar, ninguém passaria por tanto esforço.”
“Ah...? Dizem que feiticeiros vivem muito e dedicam tudo à pesquisa. Mesmo assim, não é possível?”
“Hmm, eu diria que é mais porque ninguém leva essa teoria a sério o bastante para pesquisá-la.” Nephy inclinou a cabeça, achando aquilo ainda menos compreensível que as falas anteriores dele.
“Veja bem, feiticeiros não são cães de guerra como soldados ou os Cavaleiros Angelicais. Eles fazem experimentos movidos por desejos próprios — imortalidade, ver quão grande milagre podem criar com magia, ou se é possível ressuscitar os mortos.” Ou seja, feiticeiros pensam sobretudo em si mesmos. São uma raça egoísta.
Pessoas que não reconhecem nada fora do seu próprio mundo nem sequer percebem o sentido de competir com outros.
“Naturalmente, há os que são contratados, como o feiticeiro do outro dia, ou que cooperam em guerras. Mas isso é apenas um meio, não um fim. Fazem isso porque pesquisa séria custa dinheiro. O objetivo número um em suas mentes é como conseguir mais fundos para financiar sua pesquisa.”
Nephy abriu a boca, como se tivesse dificuldade em formular o pensamento.
“...Já ouvi dizer... que feiticeiros torturam pessoas.”
“Sim. Provavelmente há idiotas que fazem isso por distração ou para passar o tempo. Contudo, não existem caras que estudam feitiçaria somente para isso. Afinal, existem ferramentas muito mais eficientes para tortura.” A história dos instrumentos de tortura é longa. Obter segredos arrancando-os da boca alheia foi uma tradição perene.
Elas já haviam sido em grande parte limpas, mas mesmo assim, o castelo ainda estava cheio de instrumentos de tortura. Existiam feitiços que usavam a dor e o ódio das pessoas como catalisadores, então isso fazia sentido.
“Voltando ao assunto original, a magia suprema de que falei agora há pouco é algo que te ajudaria a lutar contra outros magos. Pode até servir para roubar a pesquisa de outros, mas não tem utilidade além disso. Por isso ninguém se dá ao trabalho de estudá-la.”
Bem, não é como se não houvesse idiotas por aí pesquisando isso a sério, mas… Zagan decidiu que não valia a pena entrar nesse tema e o deixou de lado.
Depois de ouvir tudo aquilo, Nephy assentiu, convencida. Ainda assim, murmurou algo, como se não estivesse completamente satisfeita.
“Acho que entendo a teoria por trás da magia, mas...”
“O quê? Pode falar.” — perguntou Zagan num tom curioso.
“Mas, se alguém conhece a estrutura, qualquer um não conseguiria usá-la?”
Nephy parece realmente ter talento para magia, hein...? Certamente, se não fosse por aquele colar, ela teria potencial para ser uma maga extraordinária — talvez até superior a Zagan.
Percebendo o acerto da observação, Zagan assentiu, como se elogiasse uma aluna aplicada.
“Sim, muito bem. Quando nós, magos, adquirimos conhecimento, há uma ligação direta com o poder que obtemos. A eficiência e a forma como o usamos dependem da habilidade individual, no entanto.”
Zagan não havia nascido como mago. O motivo de ter se tornado um renomado feiticeiro aos dezoito anos foi porque roubou o conhecimento de “um certo mago”.
Já faz... dez anos desde então, huh...?
Isso aconteceu quando Zagan tinha apenas oito anos.
Mesmo assim, aquilo não tinha relação com o que estavam discutindo. Após balançar a cabeça, ele continuou: “Por isso instalamos uma montanha de armadilhas e truques para impedir que roubem nosso conhecimento... Nephy, tome cuidado ao tocar em qualquer coisa nesta sala, certo?”
“...Eek.” — Nephy se sobressaltou, surpresa.
“Estou brincando. As armadilhas não vão ativar mesmo que você toque nelas.”
“...Mestre. Isso é maldade.” — respondeu num tom delicado, entre o alívio e a leve repreensão.
Em seguida, as pontas das orelhas pontudas de Nephy tremeram levemente, como se estivesse feliz.
“Oh...? Você parece contente. Aconteceu algo bom?”
“Hyuuu?” — Zagan inclinou a cabeça, e Nephy deu um pulo, completamente sem jeito. Tocou o próprio rosto, confusa.
“Como... você percebeu?”
“Dá pra ver só de olhar.”
Dessa vez, as orelhas de Nephy murcharam, depois se ergueram e voltaram a cair num ciclo contínuo. Parecia estar envergonhada e feliz ao mesmo tempo.
Cobriu o rosto com as mãos, mas olhou timidamente para Zagan através dos dedos.
Era impressionante como sua expressão de base permanecia quase inalterada durante todo o processo.
Após uma breve pausa, ela murmurou, envergonhada:
“Mestre, é que esta é a primeira vez... que o senhor fala tanto comigo...”
Zagan sentiu o rosto ficar vermelho. Ao mesmo tempo, uma pontada de arrependimento o atingiu.
É isso mesmo, né!? Eu sempre falo de forma indireta, não é!? Enquanto Zagan se incomodava por conseguir ler as expressões de Nephy, ela provavelmente se angustiava por nunca entender o que ele realmente queria dizer.
Depois de pigarrear para se recompor, Zagan retomou o tom calmo: “Bem, afinal de contas, tudo que tenho é magia. Já que é meu campo de especialidade, acabo me soltando um pouco mais quando falo sobre isso.”
“Entendo.” — Nephy assentiu, e mesmo sem olhar para suas orelhas, Zagan podia sentir que ela estava feliz.
Após um momento de hesitação, Nephy abriu a boca novamente:
“Mestre, o senhor me permitiria fazer uma pergunta?”
Quando ela falava de modo tão formal, significava que havia reunido coragem para perguntar algo importante. Zagan então endireitou a postura e assentiu.
“O que foi? Pode falar.”
“Mestre, aos meus olhos, o senhor já possui grande poder. E mesmo assim, agora está pesquisando para se tornar ainda mais forte.” — ela fez uma pausa, engolindo em seco antes de continuar: “Mestre... o que o senhor deseja? O que espera alcançar ao se tornar mais poderoso?”
Zagan não conseguiu responder de imediato.
O que eu desejo...? Para que ele usaria esse poder...?
Enquanto ele pensava, o semblante de Nephy se entristeceu.
“Perdoe-me. Essa não era uma pergunta que eu devia fazer.”
“Não, tudo bem, de verdade.” — Zagan respondeu, coçando a nuca, com dificuldade em colocar seus pensamentos em palavras.
“Honestamente, nunca pensei realmente nisso.”
“Nunca... pensou nisso?” — dita assim, soava realmente bastante tola.
Enquanto seu olhar vagueava pelo ar, Zagan assentiu.
“Se eu tivesse que dizer, então talvez seja... viver?”
Nephy engoliu em seco com suas palavras.
“Viver...?”
“Sim. Quando eu era moleque, não tinha dinheiro nem um lugar para morar, então sobrevivia roubando. Naquela época, bem, eu não podia enfrentar adultos ou pessoas com verdadeiro poder, mas ainda assim me sentia sortudo. Quero dizer, pelo menos eu estava vivo.”
Agora que ele lembrava, achava que todos haviam sido pessoas boas. Houve momentos em que foi preso, mas mesmo assim recebia comida e nunca foi ameaçado de morte.
“E então, um dia, fui capturado por um mago. Mesmo não sendo um elfo como você, crianças ainda são sacrifícios razoáveis.”
“Ah!” — Após dizer isso, ele percebeu o quão descuidadas foram suas palavras.
Nephy havia sido capturada assim há pouco tempo.
Ainda assim, seria estranho simplesmente parar de falar ali. Então, Zagan continuou, agora em um ritmo um pouco mais rápido.
“Bem, bem na hora em que eu estava prestes a ser morto, de alguma forma encontrei uma brecha e virei o jogo contra ele. E então percebi que, para sobreviver, a única escolha era adquirir poder. Por isso quis me tornar forte. Se estamos falando de desejos, então seria isso. Pode soar clichê, mas é aquela coisinha chamada imortalidade.”
Ela estava desapontada? Nephy apertou o peito e abaixou a cabeça.
“...Eu não consegui... me tornar... tão forte.”
Certamente, as circunstâncias de Zagan e Nephy podiam ser bastante semelhantes.
E porque ela nunca conseguiu ganhar poder por conta própria, até hoje Nephy se olhava com reprovação.
Zagan então tentou quebrar o gelo de forma ousada.
“Ei, Nephy.”
“Sim, Mestre.”
“Se você se interessa por magia, então — Hm?”
Quando começou a falar isso, a expressão de Zagan ficou séria.
“Aconteceu algo?”
“...Parece que temos convidados indesejados. Vou recebê-los, então deixo o jantar com você, Nephy.”
“Como desejar, Mestre. Quantas porções devo preparar?”
“Só o suficiente para mim e para você está ótimo. De qualquer forma, esse pessoal deve ir embora imediatamente.”
Deixando Nephy de lado enquanto ela inclinava a cabeça, Zagan saiu dos arquivos.
Sem poder, não consigo sobreviver.
Mordeu os dentes como se odiasse essa realidade, enquanto o pensamento lhe atravessava a mente.
♱
“Uma residência de mago em um lugar como este...” — Um homem falou, surpreso.
Havia quatro pessoas invadindo a floresta ao redor do castelo de Zagan: três homens e uma mulher. Os homens pareciam ter entre vinte e trinta anos, e Zagan podia perceber que cada um era um Cavaleiro Angelical habilidoso. Provavelmente eles escoltavam a mulher. No entanto, a pessoa que ele considerava problemática era a mulher que eles protegiam.
Apesar de parecer jovem, carregava uma espada gigante nas costas. Era evidente que seus braços finos não possuíam força suficiente para manejá-la, mas a garota vestia uma armadura da igreja chamada ‘Armadura Ungida’. Qualquer um que a vestisse adquiria habilidades físicas comparáveis às de um mago.
A Armadura Ungida era certamente complicada de lidar, mas o problema maior era a espada gigante. Os Cavaleiros Angelicais da igreja usavam espadas com alta resistência à magia, capazes de atravessar as defesas de um mago. Mas o que ela carregava emanava uma aura de poder claramente em outro nível.
Uma daquelas famosas Espadas Sagradas, seria...?
Ele teve a sensação de já ter visto o rosto da garota antes, mas, com sua atenção voltada para a espada sagrada, não conseguiu lembrar exatamente quem era.
Um dos cavaleiros resmungou: “O verdadeiro culpado pelos sequestros em série, hein? Quem diria que estaria escondido em um lugar como este.”
“...Isso ainda não está confirmado. Viemos para descobrir esse fato.”
Ouvindo a conversa dos Cavaleiros Angelicais, Zagan compreendeu.
Agora que me lembro, Barbatos me disse que eu era um dos suspeitos, não foi?
E parecia que eles viajaram até seu domínio em busca da glória de subjugar o culpado.
Podia ser bom e tal, mas a igreja não recuava. Eles declaravam a própria existência dos magos como maligna. Mesmo que ele provasse sua inocência, o resultado não mudaria. Zagan era um mago. Por isso, era um inimigo que precisavam eliminar.
Em resposta à garota, que levantou a voz para repreendê-los, outro Cavaleiro Angelical riu: “Como se espera de nossa Donzela da Espada Sagrada, Lady Chastille. Você demonstra tanta compaixão, mesmo por um mago.”
“Temos orgulho de receber a honra de lutar ao seu lado, Lady Chastille.”
Enquanto os cavaleiros a elogiavam de forma extravagante, a garota fez uma expressão complicada. Eventualmente, eles pararam de andar e congelaram.
“É esse matagal de novo. Não conseguimos avançar por aqui.”
Parecia que estavam com dificuldades devido a uma das barreiras instaladas para impedir intrusos. Perdendo a orientação, estavam andando em círculos.
Zagan observava aquela cena da floresta, claramente divertindo-se.
O caminho que levava ao castelo se estendia à sua frente. Alguns dias atrás, ele havia salvo uma garota que estava sendo atacada por um mago na mesma região. E os cavaleiros se moviam confusos diante das bifurcações naquele local.
Enquanto observava aqueles cavaleiros, uma dúvida surgiu em sua mente.
Como aquele mago da outra vez... conseguiu atravessar minha barreira? Era uma barreira capaz de impedir até mesmo os Cavaleiros Angelicais. Não era possível ter chegado tão fundo apenas por sorte ou acaso.
Além disso, ele não parecia um mago com poder suficiente para romper a barreira de Zagan. Afinal, era do tipo que começava a implorar pela própria vida só de ser confrontado por Zagan.
Bem, independentemente disso, o verdadeiro problema de Zagan eram os Cavaleiros Angelicais.
Seria bom se eles simplesmente desistissem e fossem embora... Contudo, embora fosse óbvio, eles não eram oponentes tão volúveis.
“Por favor, retire-se. Provavelmente é uma barreira feita por magia. Eu vou…” A garota avançou, empunhando a espada gigante nas costas.
Havia um desenho de brasão gravado na superfície da espada. Era bastante diferente dos usados em magia, mas a teoria provavelmente era a mesma. Se os brasões da magia fossem como letras, então o da espada dela pertencia a um alfabeto diferente. E aqueles brasões emanavam um brilho pálido.
“Aqui vou eu!” A espada da garota cortou o ar.
Pouco depois de seu ataque, Zagan percebeu que a barreira que cobria o castelo havia desmoronado. Metade dela... foi destruída, hein?
Várias das peças que fortaleciam sua proteção ainda permaneciam, mas todas as destinadas a afastar intrusos foram destruídas com aquele único golpe.
Como a barreira que enganava os olhos dos cavaleiros havia sido destruída, Zagan não teve escolha a não ser confrontá-los.
“...Meu Deus. Será que o povo da igreja não conhece boas maneiras? Venham visitar minha casa e escolhem fazer isso?”
Aparentemente, aquela fala finalmente alertou-os da presença de Zagan, e os cavaleiros levantaram a voz em confusão.
Os homens se posicionaram para impedir a garota, mas ela simplesmente os conteve com a mão.
Olhando diretamente para Zagan, ela murmurou em um tom levemente amargo: “Como eu suspeitava... é você.”
“Desculpe, já nos conhecemos?” Ele realmente tinha a sensação de já tê-la visto antes, mas...
Após observá-la por mais um momento, finalmente lembrou-se.
Entendi... é a garota que quase foi morta outro dia, não é?
Ela era bastante bela, mas na ocasião não carregava uma Espada Sagrada e definitivamente não vestia a Armadura Ungida. Atualmente, também tinha o cabelo preso, então o penteado era bastante diferente.
Mesmo assim, se lembrava corretamente, ela possuía um pingente com o brasão da igreja.
Se eu soubesse que ela era uma Cavaleira Angelical, não teria apenas mandado ela de volta assim... — percebeu que havia cometido um grande erro. Contudo, seria feio se preocupar com isso agora. Então, Zagan decidiu agir como se não a conhecesse.
“Não sei quem você é nem de onde vem, mas suma. Estou ocupado aqui.”
Zagan ergueu o dedo rapidamente, como se eles apenas o irritassem, e em seguida o abaixou sem qualquer aviso.
“O quê?” Imediatamente, relâmpagos caíram sobre o grupo. Era a mesma magia que reduziu o último mago que ele enfrentou a cinzas.
Se eles estão usando a Armadura Ungida, provavelmente não morrerão.
A armadura deles tinha uma defesa extremamente alta. Se fosse magia superficial, poderia até refletir. Embora parecesse bastante cruel, Zagan estava tentando se conter à sua maneira. Porém—
“Um ataque surpresa, hein? Como eu pensei, magos são todos covardes no fundo.” Um Cavaleiro Angelical empunhando um grande escudo protegia a garota. A garota que ele cobria era uma coisa, mas o ataque praticamente não afetava os outros cavaleiros.
Bem, isso é óbvio. No fim das contas, eles eram o grupo que conseguiu romper a barreira de Zagan. Se não fossem capazes de suportar tal ataque, jamais teriam penetrado tão fundo em seu domínio.
“...Que bando de tolos. Seria melhor se simplesmente cessassem essas blefes entediantes e voltassem para casa.”
Zagan estreitou os olhos e disse tudo aquilo de forma tão autoritária que parecia um ataque.
Se eu não resolver isso rápido, não vou conseguir voltar a tempo para o jantar que Nephy está preparando! Se ele não comesse enquanto ainda estivesse fresco, seria ruim tanto para Zagan quanto para Nephy.
“Ugh...” Sentindo aquela energia anormal, a garota deu um passo para trás.
Como se ocupasse aquele espaço, o Cavaleiro Angelical com o grande escudo avançou. Então, dois outros se juntaram a ele.
“Lady Chastille, recuem. Nós, Cavaleiros do Céu Azul, somos mais do que suficientes para ele.” Nomeando-se com um título exagerado, os cavaleiros enfrentaram Zagan.
Agora que mencionaram isso, Zagan percebeu que os três vestiam armaduras azuis.
O homem que falou era consideravelmente grande e segurava um machado na mão direita. Atrás dele havia um guerreiro alto e magro com uma lança, e mais atrás, alguém empunhando uma espada longa.
Parecia que a tática deles era usar o escudo para desgastar o oponente, parar seus movimentos com a lança e, então, usar a espada longa para dar o golpe final.
Era uma estratégia bastante convencional, tudo considerado, mas amplamente utilizada por sua eficácia. Podia-se dizer que era a formação perfeita para enfrentar um adversário sozinho.
No entanto, Zagan coçou a cabeça como se aquilo fosse simplesmente cansativo.
“Olhem, vocês vão voltar pra casa se eu espancar vocês?” Ao ouvir aquele comentário breve, que podia ser tomado como provocação, os rostos dos Cavaleiros Angelicais tingiram-se de raiva.
“Seu insolente!” O que trazia o grande escudo investiu enquanto bradava.
O escudo e a armadura juntos deviam pesar mais de cem quilos, mas ele ainda avançava na velocidade de um cavalo veloz. Isso não seria possível para um humano comum. Não — o feito só era viável graças ao poder da Armadura Ungida que todos os Cavaleiros Angelicais usavam.
Tanto a armadura quanto o escudo foram ungidos pela igreja e tinham brasões gravados. Magia meia-boca não perfuraria suas defesas, e também não era um momento em que Zagan tivesse tempo para invocar algo poderoso.
“Fuhahaaa! Vou te esmagar antes que consiga usar qualquer magia.” O grande homem avançou com o escudo à frente; era como encarar uma bala da canhão. Mesmo sendo um mago, Zagan sabia que seria transformado em carne moída por um impacto direto. Além disso, se ele resistisse ao escudo, a lança que vinha por trás aguardava. E se milagrosamente sobrevivesse ao ataque da lança, a espada longa no fim seria inevitável.
A vitória parecia certa para eles com essa tática, mas Zagan não demonstrou o menor pânico. Em vez disso, apenas cerrou a mão direita.
Brandiu a mão como se fosse lançar uma pedra e então a abateu sobre o escudo.
O punho e o grande escudo colidiram.
Sorrindo vitoriosamente, o cavaleiro gritou: “Seu tolo, vai morrer—” Porém, naquele exato momento, o grande escudo se estilhaçou como vidro.
O punho de Zagan continuou e pulverizou até a Armadura Ungida ao fincar-se no estômago do Cavaleiro Angélico.
“O que diabos...?” Com uma expressão de total incompreensão, o Cavaleiro do escudo foi lançado para trás numa velocidade bem além de sua investida inicial.
Atrás dele vinha o homem com a lança, que não teve chance de desviar ao ser atingido pelo corpo do homem vestindo uma armadura de duzentos quilos.
“Mer—” Sem sequer conseguir soltar um grito, o segundo cavaleiro também foi achatado.
O terceiro, que brandia a espada longa, mal conseguiu escapar, mas seu rosto ficou rígido como se não acreditasse no que via.
“R-Ridículo, essa era a formação suprema dos Cavaleiros do Céu Azul...”
“...Escuta, vocês ao menos deveriam ter checado quem é a pessoa cujo castelo estão invadindo. Se tivessem pesquisado o tipo de magia que uso, não viriam com uma estratégia tão patética.”
O punho de Zagan tinha um círculo mágico detalhado envolto nele. Ele condensou todo o poder do enorme círculo mágico ao redor de seu castelo naquele único ponto. Mana de alta densidade carrega massa. E podia chegar ao ponto de partir a Armadura Ungida da igreja.
Além disso, Zagan se especializava em magias de defesa. Mesmo uma ferida fatal podia ser regenerada de imediato, e se não houvesse chance de vitória, ele poderia fugir em velocidade sobre-humana. Focara suas pesquisas em reforçar suas capacidades físicas. Assim, avançar com um escudo que, para ele, não passava de uma folha de papel, era a máxima estupidez.
Zagan então balançou a mão como quem afasta um inseto.
“Viu? Agora que entendeu, suma daqui. Ou vai fazer essa mulher frágil carregar três pesos mortos?” O último Cavaleiro Angélico cerrou o rosto de ódio, a ponto de parecer querer matar com o olhar.
“Ainda não! Enquanto eu estiver de pé, a vitória será nossa!”
“Ei, pare! Saia do caminho!”
“Não recuarei, Lady Chastille. UOOOOOOOOOH!” Segurando a espada longa com as duas mãos, o cavaleiro lançou um golpe de cima para baixo vindo do centro.
Zagan olhou para ele com olhos frios e balançou a mão esquerda em direção ao ataque.
Sua mão, envolta pela luz de um círculo mágico, tomou a forma de uma lâmina entre seus dois dedos estendidos.
A espada longa e os dedos de Zagan colidiram. E, com um clang cortante, a espada se partiu ao meio.
Depois disso, o homem arregalou os olhos como se eles fossem saltar do rosto.
“Impossível... Urk.” Então Zagan esticou o braço.
“O-o qu… o que você...” Com um estalo, Zagan beliscou a testa perplexa do Cavaleiro Angelical. Era uma brincadeira que ele costumava fazer quando criança.
“Ugh!” Contudo, com aquele único golpe, a nuca do homem bateu no chão.
Zagan então pisoteou sem piedade o nariz do homem que se contorcia no chão.
“Hiigigigigi...”
“Entendeu agora? Se eu apertar só um pouco mais, sua cabeça vai ser esmagada como um tomate. O som dos ossos do seu crânio rangendo... é algo que você jamais esquecerá. Ainda hoje não saiu da minha mente.”
Era algo que acontecera quando ele fora capturado por um certo mago. Assim como alguém que caiu em desespero por ser oferecido como sacrifício, Zagan fora torturado.
Por isso ele sabia exatamente quanta terror esse som evocava. E enquanto dizia aquilo, voltou sua atenção para a garota.
“Ei, agora, não faça nada desnecessário. Antes mesmo de você sacar sua espada, o cérebro desse cara vai se espatifar no chão. Tenho certeza de que você não conseguiria lidar com isso se tivesse a chance de salvá-lo, certo?”
“M-me poupee… eee… AAAH!” Ao soltar um grito horrível, o Cavaleiro Angelical fez a garota retirar a mão da espada sagrada às suas costas.
Que garota sensata.
Na verdade, se ela tivesse atacado assim de repente, teria sido problemático para Zagan.
Os três Cavaleiros Angelicais podiam ser adversários inúteis, mas uma Espada Sagrada era outra história. O punho de Zagan provavelmente teria sido cortado sem piedade, junto com todo o mana dentro dele. Ele não tinha certeza se poderia vencer, mesmo dentro de seu próprio domínio.
Depois de pensar por um momento, a garota olhou para ele com desdém.
“Tch… Por que está agindo como se isso fosse algum tipo de jogo? Pretende ridicularizar os derrotados?” Os olhos da garota que falou tinham, por algum motivo, mais desapontamento do que raiva.
Zagan fez uma expressão exasperada, como se ela devesse saber a resposta.
“Você sabe qual é a melhor forma de usar o medo?”
“O quê…?” O rosto de Chastille se tornou cada vez mais vigilante.
Zagan tinha a necessidade de fazê-los sentir medo. Ele precisava que entendessem que não valia a pena desafiá-lo, e que aqueles que não se envolvessem estariam seguros. Ele precisava cravar esse medo não apenas na mente deles, mas também na dos superiores deles.
Por isso, ele estava se dando ao trabalho de atormentá-los.
Zagan pisoteou implacavelmente o Cavaleiro Angelical, plantando sementes de medo dentro dele.
“As pessoas temem o desconhecido. Contudo, quem espalha esse medo é a boca das pessoas. Mesmo que eu os massacre todos aqui, aqueles que os enviaram veriam apenas um problema de números. Para espalhar o medo, é necessário que vocês sobrevivam e transmitam suas experiências a eles. Experiências como esta.”
Enquanto colocava mais força em seu pé, o Cavaleiro Angelical sob ele soltou um grito. Provavelmente alguém de considerável status social, mas com lama, lágrimas, saliva e muco encharcando todo o rosto, só podia ser descrito com uma palavra: patético.
No entanto, a garota então disse o seguinte: “Isso é… mentira.”
“Oh…?” Zagan abriu um olho, como se achasse divertido o que ela disse.
“Verdade, a autopreservação é provavelmente uma das razões pelas quais você está fazendo isso. E falando da igreja, eles provavelmente tentariam novamente, com mais números, se vocês todos fossem mortos. No entanto, esse não é seu verdadeiro motivo.”
O corpo de Zagan se enrijeceu completamente. Se um cadáver aparecesse no meu terreno, Nephy ficaria assustada… Era por isso que ele queria afastá-los sem matá-los.
De repente, a garota, que parecia ter enxergado Zagan completamente, sorriu.
“…Como eu pensei,” disse ela, colocando a mão na espada sagrada às suas costas.
“E-Eu não q-quero morrer…” O Cavaleiro Angelical debaixo do pé de Zagan implorava por sua vida, mas a garota não tirou a mão da espada.
Isso é ruim. Ela percebeu que eu não estou interessado em matá-los.
Um refém só tinha significado se sua vida pudesse ser usada como escudo. Se ele não tivesse interesse em matar tal refém, eles seriam inúteis.
Eventualmente, a garota sacou a espada sagrada das costas.
“Chastille Lillqvist. Por ordem de meu Senhor, subjugarei o feiticeiro Zagan!”
Zagan sabia que não podia se conter diante de um oponente com uma Espada Sagrada.
Mesmo assim, ele estava relutante em matar uma jovem da mesma idade de Nephy. Além disso, ele sabia que matar alguém que já havia salvado deixaria um gosto amargo em sua boca.
De qualquer forma, apesar de ela ser uma oponente difícil de enfrentar, a garota — Chastille — não o deixaria fugir.
“Tch—” Zagan chutou o homem aos seus pés, que tombou no chão e bateu nos outros dois corpos caídos.
Enquanto ele fazia isso, Chastille avançou contra Zagan com a Espada Sagrada em mãos.
“HAAA!” Ela trouxe a Espada Sagrada diretamente sobre ele.
Zagan a desviou batendo seu punho contra a lâmina, mas— “…Droga.” Apenas com isso, uma fissura apareceu no círculo mágico que protegia o punho de Zagan.
Mesmo evitando a borda da lâmina, simplesmente tocá-la o deixou nesse estado. Pensar no que aconteceria se fosse cortado por ela o fazia tremer.
Chastille então agachou-se e balançou a espada para cima. Eram golpes consecutivos como um fluxo contínuo, e tudo o que Zagan podia fazer era recuar.
Mas não parece ter tanta força por trás deles…
A lâmina era afiada, mas o golpe em si era leve. Provavelmente significava que, mesmo com a proteção divina da Armadura Consagrada, havia um limite.
Enquanto balançava a espada, Chastille gritou para ele: “Por quê!? Por que você não contra-ataca!? Está tentando dizer que eu não sou uma oponente à altura!?”
Zagan, de fato, apenas estava desviando e não havia mirado um único ataque nela.
E, enquanto desviava de um golpe horizontal deitando-se de bruços no chão, Zagan respondeu.
“Não seja irracional. Bater em mulheres não é bem a minha especialidade, sabe.” Ou melhor, ele tinha desenvolvido aversão àquilo.
Bater numa garota da mesma idade que Nephy era meio…
Não que ele se preocupasse com Nephy o odiando depois. Não — sempre que cerrava o punho, o rosto daquela moça adorável aparecia diante dos seus olhos. Não havia como socar calmamente uma garota parecida só porque ela não era Nephy.
Por isso procurava outro jeito de se safar sem tomar a atitude de acertá‑la.
Com um ranger, Chastille cerrou os dentes.
“Por que alguém como você manchou as mãos com a feitiçaria?” Em vez de raiva, soava como um lamento pela sorte dele.
Isso fez Zagan inclinar a cabeça de lado.
“Não sei bem do que está falando, mas é tão errado assim usar feitiçaria?” Ele sabia que as pessoas o reputavam um vilão, mas achar que a feitiçaria era a culpada lhe parecia estranho.
Chastille gritou furiosa.
“É maldade! Porque esse poder existe, o povo é oprimido e sofre.”
“Então que poder é esse que você usa? Não seria o poder de matar unilateralmente um feiticeiro mais fraco que você?”
“Ugh...” Ao ouvir aquilo, até a face de Chastille mostrou sinais de perturbação, e a Espada Sagrada que ela brandia errou o alvo e fincou‑se no chão.
Sem hesitar, Zagan pisoteou a lâmina.
Se conseguisse prender a espada assim, mesmo alguém com Armadura Consagrada teria problemas para puxá‑la de volta.
“Urgh...” A garota gemeu, e Zagan a encarou com indiferença.
“Não pretendo me justificar, mas há montes de pessoas que não estariam vivas se não fosse pela feitiçaria. Aqueles que pisoteiam essas pessoas e as tratam como presas... não defendem qualquer justiça.”
“Ah...” Mesmo ela parecia forçar a si própria para denunciá‑lo, então provavelmente entendia suas verdadeiras intenções. Pálida, ela não conseguiu retrucar.
Ah, vá. Não reaja assim. Vai só tornar mais difícil acertar você... Droga…
Se ela gritasse algo feio sobre ser justa, Zagan poderia bater nela sem hesitar.
Ainda assim, Chastille cerrou os lábios e apertou a mão na espada com toda a força.
“Mesmo assim... Não, justamente por isso não posso permitir a derrota!”
“Ugh, espere aí.” A garota puxou a Espada Sagrada com força bruta. E, já que Zagan estava pisando nela, perdeu o equilíbrio.
“Aí!” Chastille lançou uma estocada com toda a sua força.
Infelizmente, sua técnica é demasiadamente rudimentar.
Sem se esquivar, Zagan bateu as palmas das mãos no local. E, fazendo isso, prendendo com maestria a ponta da lâmina.
A proteção do seu círculo mágico rachou. As palmas lhe ardiam como se estivessem queimando. Apesar disso, Zagan devolveu a ela um sorriso feroz.
“Você é boa em testes de força?”
“Aceito seu desafio!” — longe de recuar, Chastille colocou todo o peso no empurrão da arma.
O brasão gravado na Espada Sagrada brilhava, a ponto de ofuscar, e como convocada por isso, sua Armadura Consagrada também se envolveu em luz.
“O quê?” Era quase inacreditável, mas a garota levantou a Espada Sagrada junto com o corpo de Zagan.
Essa garota... escondia uma carta na manga o tempo todo? Justo quando ele se posicionava para observar, Chastille aparentemente revelou sua força real.
E então desceu a Espada Sagrada com tudo.
“Porra— Ugh?” Uma garota tão delicada manejou aquele pedaço de aço com um humano preso a ele. Era difícil de crer.
Sem aguentar mais, Zagan soltou o grip; ele foi arremessado contra uma árvore e bateu nela, engasgando.
Ela está usando mais força do que eu... dentro da minha própria barreira? De fato, uma barreira tinha pouco efeito contra um Cavaleiro Angélico, mas Zagan não deixara de fortalecer seu próprio poder.
Mesmo devido à força da Espada Sagrada e da Armadura Consagrada, a força física pura de Chastille dominou Zagan.
Ele checou as mãos que haviam tocado a lâmina ao se levantar. A pele estava estropiada pelas queimaduras. Ainda que começasse a regenerá‑las com feitiçaria, a cura foi lenta — provavelmente efeito do poder da Espada Sagrada.
Naquele momento... Eu realmente devia tê‑la matado, não devia?
Como se esperava, ele se sentia constrangido em matar uma mulher indefesa, mas sabia que devia ter sido mais cauteloso ao se envolver com alguém da igreja.
Enquanto se lamentava, Chastille veio com outra investida.
Zagan conseguiu imobilizar a espada que vinha de cima, mas a grande árvore atrás dele estilhaçou‑se com um estrondo. Se não fosse Zagan, ou se não estivesse dentro da própria barreira, teria sido esmagado como a árvore.
Um suspiro escapou dos lábios dele. Se chegara a esse ponto, não sobrava opção.
Não tenho escolha agora... Será que eu a mato?
Ele tinha a opção de fugir. No entanto, Nephy estava de volta ao castelo. Se Zagan fugisse, Nephy seria atacada. Afinal, a igreja executava todos que se aliavam a feiticeiros.
Parecia impossível quebrar uma Espada Sagrada, mesmo com o poder de Zagan. Porém, não era como se ele não tivesse outras alternativas.
E então, justo quando ele reuniu poder em ambas as mãos para liberar destruição total…
(“Fique parado e me ouça, seu desgraçado. Pode fingir morrer pelas minhas mãos?”)
Zagan abriu os olhos de surpresa sem querer ao ouvir aquilo.
Ao desviar o olhar para trás da garota, ele notou que os três Cavaleiros Angelicais que ele havia derrotado começavam a se levantar. Ela estátentando garantir que eles não a ouvissem?
(“O que você está planejando?”)
(“A igreja não desistirá de te matar. Se eu perder aqui, alguém mais forte que eu será enviado. Faça parecer que você morreu aqui. Então abandone essa maldita feitiçaria e viva como uma pessoa comum.”)
Zagan duvidou dos próprios ouvidos.
(“Nunca esperava ouvir tais palavras da boca de um Cavaleiro Angelical.”)
(“...Você não matou meus subordinados. E mesmo que diga que quer incutir medo neles, seus olhos têm algo parecido com afeto.”)
As palavras dela eram difíceis de aceitar para Zagan.
Eu parecia assim? Zagan não sabia que seus sentimentos por Nephy se manifestavam daquela maneira. Ele naturalmente não os direcionava aos oponentes, mas Chastille havia percebido que havia alguém que Zagan queria proteger.
E então, Chastille disse o seguinte: (“Acima de tudo, não esqueci... que você é meu salvador.”)
Dito isso, Chastille fez uma expressão verdadeiramente arrependida.
(“...Desculpe. Isso... é tudo que posso fazer.”) Parecia que a garota não havia esquecido o fato de Zagan tê-la salvado.
Não era a primeira vez que Zagan enfrentava Cavaleiros Angelicais. Porém, era a primeira vez que encontrava um que se importasse com a morte de um feiticeiro.
Essa garota... deve estar passando por dificuldades, né...?
Se um Cavaleiro Angelical protegesse um feiticeiro, não terminaria apenas com a perda de status.
Seria declarado traidor, teria todos os direitos humanos revogados e acabaria sendo torturado e executado de maneiras que fariam qualquer um hesitar até mesmo em descrevê-las. Para uma garota tão bonita quanto Chastille, estupro também seria inevitável.
[Almeranto: Tá maluco, até arrepiei. Soltei um “Nossa…” muito sincero agora. Tenebroso]
Ela não parecia estúpida a ponto de não saber disso. Por isso, aquelas palavras provavelmente não foram ditas por um sentimento fraco.
Isso tornou ainda mais difícil atacá-la.
Mas... não posso mesmo fazer isso, né?
Se Zagan seguisse exatamente como Chastille disse, provavelmente conseguiria escapar em segurança. Fazia sentido também, já que não havia mais nenhum recurso valioso no castelo.
No entanto, ele sabia que seria impossível salvar Nephy se tomasse esse caminho.
Se procurassem pelo castelo, a encontrariam. E Nephy definitivamente não fugiria. Aquela garota não tinha nenhuma real vontade de viver, afinal.
Justo quando ele estava preocupado sobre o que fazer…
“Mestre!” Nephy, que deveria ter ficado no castelo, chamou por ele.
Ao se virar, Zagan viu uma garota vestida como empregada correndo em sua direção. Talvez porque ele estivesse demorando para voltar, ou talvez porque ela sentisse algum problema, ela o seguiu.
“Fique longe, Nephy!”
“Eh, uma garota...?” Chastille falou com tom de espanto.
Esse também foi o momento em que ambos mostraram uma brecha ao mesmo tempo.
“Não fiquem se metendooo!” Entre os três Cavaleiros Angelicais caídos, o homem com a lança se levantou. Diferente dos outros dois, ele havia sofrido apenas ferimentos leves.
Após olhar ao redor, seus olhos pararam em Nephy, que corria em direção a eles.
“O companheiro do feiticeiro, hein!?” O que exatamente ele estava pensando? Brandiu a lança em direção a Nephy, que avançava.
“Pare, Torres!” Chastille gritou, tentando contê-lo, mas o Cavaleiro Angélico lançou a lança.
“Saia da frente!” Zagan afastou Chastille e correu para ficar à frente de Nephy.
No entanto, Zagan sabia que Nephy não sairia ilesa se ele a empurrasse com seu poder atual. Tentou envolvê-la suavemente em seus braços, mas acabou se expondo à lança.
“Tch—” Zagan estendeu a mão esquerda para usá-la como escudo.
A ponta da lança perfurou sua palma, acompanhada do som de carne e osso sendo esmagados.
“Mestre!” Nephy soltou um grito cheio de desespero. Ainda assim, Zagan conseguiu deter a lança apenas com a mão.
“Está tudo bem. Algo assim... é só um arranhão.” Enquanto falava, suor escorria levemente pela testa.
Ele estava ferido na mesma área onde suas habilidades de cura eram limitadas, então o braço esquerdo provavelmente estaria inutilizado por um tempo.
Com um gotejar, o sangue caía lentamente no chão. Fazia bastante tempo desde que ele havia visto seu próprio sangue.
Não se empolgue demais... seu pedaço de merda…
No entanto, Zagan não conseguiu soltar aquela maldição.
De dentro de seus braços, ele pôde sentir um arrepio gelado.
“Você feriu... meu mestre, não foi?” Zagan não percebeu imediatamente que quem falava era Nephy. Era uma voz fria que ele jamais esperaria ouvir vinda daquela garota doce e lânguida.
E logo em seguida…
“Iiiih, o que é isso?”
Dizem que a floresta está viva. Normalmente isso se refere ao momento em que todos os seres vivos do lugar se movem ao mesmo tempo e as árvores balançam por um vento forte.
Mas não havia animais correndo. E também não havia vento.
Mesmo assim, a floresta parecia viva.
Os animais se reuniram mais ao fundo: esquilos pequenos, lobos ferozes, javalis, entre outros. Sem emitir um único som, todos estavam fixos, observando os Cavaleiros Angelicais. Não era que as árvores estivessem balançando; os próprios ramos e folhas começaram a se esticar, e arbustos espinhosos surgiram das moitas.
A floresta vivia, agindo como se tivesse vontade própria. E algo — talvez a malícia da própria floresta — encarava os Cavaleiros Angelicais.
O que exatamente... é isto? Não parecia feitiçaria. Afinal, Nephy tinha uma coleira que selava a magia em seu pescoço, então ela não poderia estar usando feitiçaria. Dito isso, também claramente não era o poder da igreja.
Se fosse forçado a explicar…
Seria que ela... está manipulando a própria floresta? Era completamente diferente em escala e qualidade quando comparado à feitiçaria de Zagan. Um calafrio percorreu sua espinha.
Provavelmente era o mesmo para os Cavaleiros Angelicais.
Perante aquele poder misterioso, o homem que arremessara a lança começou a tremer.
“Não... P-Parem, AAAAAAAAAAAAAAAH!” O homem que Chastille chamara de Torres fugiu.
“Não vou deixar você escapar.” Nephy esticou o braço. Hera rastejou para fora de debaixo dos pés dele, enlaçando-os.
“Ugh!” Raízes grossas de árvore rastejaram em direção a Torres enquanto ele caía. Elas se contorceram como um ser vivo, engoliram seu corpo e começaram a arrastá‑lo para dentro do chão.

O poder era aterrorizante, e, ao observar de perto, Zagan percebeu que rachaduras começavam a surgir na Armadura Consagrada de Torres.
Zagan finalmente voltou a si ao ouvir o som de ossos se quebrando.
“Chega! Já é suficiente... Pare com isso, Nephy.” Nephy parou o movimento da mão enquanto ele a abraçava. Ela claramente estava surpresa.
Por sorte, parecia que Torres ainda respirava, por pouco.
Isso é... o poder de Nephy...? Seria algo característico dos elfos? Ou ela poderia usá-lo por causa de sua existência única, evidenciada por seu cabelo branco como a neve?
Seja qual for o caso, aquele poder superava até mesmo a feitiçaria, e era algo sobre o qual Zagan não tinha absolutamente nenhum conhecimento.
Traduzido por Moonlight Valley
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