Volume 1

Capítulo 13: Cisão

 

Moacir ouviu um estrondo ao se aproximar do ginásio. 

“Isso não é bom” conclui de imediato, apertando o passo. 

Sabendo que as portas estavam trancadas por causa do exame, ele seguiu pelo lado de fora, a entrada na parte de trás do ginásio vindo à mente.

Foi então que ele viu Vitor, que carregava uma câmera em mãos, e seu subordinado correndo em sua direção. Vendo que eles não iam parar, Moacir agarrou Vitor pelo braço com firmeza quando ele passou, o impedindo de fugir.

— Ei! O que aconteceu? Vocês foram pegos? — questionou Moacir num tom firme, puxando-o para perto.

— Aiaiai, tá doendo! Me solta, caralho! — protestou Vitor ao resistir. 

— Ah, desculpe.

Acalmando-se, Moacir soltou o veterano, que segurou o braço dolorido junto a si com uma expressão azeda ao lado do subordinado, que retornou ao notar o atraso do líder. Apesar disso, eles não pareciam mais querer fugir.

— O que aconteceu lá? 

— Alguém… algo talvez… nos atacou — falou o subordinado, apertando trêmulo a ferida na cabeça — Era… grande, abominável... Nós escapamos por muito pouco.

“Com certeza é aquele homem” deduziu Moacir, levando os olhos para o ginásio. Por menos que o conhecesse, o aperto em seu coração garantia que seus planos não eram bons.

— É, foi um desvio inesperado do plano, mas pelo menos saímos no lucro, hehe. — declarou Vitor com um sorriso dentado, checando a memória da câmera.

— Espera um pouco. Essa câmera é a única que restou? — questionou Moacir num tom curioso.

— Bem, sim, o resto provavelmente quebrou junto com os caras — falou Vitor, franzindo as sobrancelhas contra o novato — Mas por que você quer saber? Melhor ainda, porque você tá aqui? 

Ele mantinha a câmera perto como o próprio  filho recém-nascido e seu subordinado não também mostrava aberturas, apesar do ferimento. Após analisar a situação, Moacir juntou as mãos ao se encolher, ponto um olhar manso sobre o veterano.

— É que… sabe, Vitor… — começou ele num tom submisso  — Eu estava pensando naquilo que você falou e eu meio que percebi que, bem… Eu também não ligo muito, na real.

O par trocou um par de sobrancelhas semi erguidas antes de retornar à Moacir, abrindo a postura mas mantendo a câmera perto. Vitor então a balançou próximo à cabeça empinada.

— Então você veio entrar no último momento para conseguir umas migalhas? E por que eu deveria compartilhar com você? 

— Bem, eu sou seu cúmplice. Além disso, aquele calouro, o André, tem uns amigos bem barra pesada, alguns até conhecidos de gente do comando vermelho — falou ele com calma, notando os veteranos discretamente engolindo seco — Ele vai certamente tentar cobrar a traição. Quando isso acontecer, não teremos mais ajuda?

Mastigando o doce ácido que eram aquelas palavras das na cabeça, Vitor apertou firmemente a câmera ao olhar para o ginásio. Depois, um sorriso convencido espalhou por sua cara.

— HaHa, você é exatamente o tipo de gente que gosto! — disse ele, passando o braço ao redor dos ombros de Moacir — E eu achando que fosse um desses “cavaleiro de armadura branca” ou algo assim. Sinto que esse é o início de uma grande amizade.

Ele então soltou o novato e começou a mexer na câmera, o comparsa se apoiando com cuidado atrás em calma inquietude. Vendo os dois embriagados pela vitória, Moacir se aproximou pelo lado. 

— Vamos ver, pelo que começamos? Os peitinhos, os peitões ou o…

As fantasias e sonhos de Vitor acabaram como sua mandíbula: Fraturada e com dentes voando no que Moacir o acertou um furtivo heymaker. O subordinado tentou reagir, mas foi rapidamente suprimido por um cruzado no bucho, alimentado pela rotação do primeiro ataque.

O fôlego levado à zero, ele despencou de cara no chão, a cabeça leve como um balão:

— Bastardo… — xingou o subordinado com a voz fina, com saliva escorrendo da boca semi aberta.

Moacir pegou a câmera do chão com uma expressão séria, olhando para os dois jovens agonizando.

Moacir suspirou antes de limpar a língua com a mão. Com o cabeça fora do caminho, ele procedeu a retirar o cartão de memória da câmera e quebrá-lo entre os dedos.

Nisso, ele escutou um grito agônico vindo de dentro do ginásio, empinando seus pelos. Sem tempo a perder, ele voltou à rota.

Ao passar pela lateral do ginásio ele ouviu mais gritos e coisas quebrando, o estimulando a se apressar aor imaginar o que Rafael fazia com os garotos. Foi nesse momento que as garotas entraram em desespero.

Um agudo grito o perfurou, pregando-o no chão como se martelado ali. Suando frio, sua mente o coloca diante a possibilidades que não considerou antes, uma mais macabra que outra, mas todas perfeitamente possíveis com homem estando envolvido.

Chacoalhando aquilo da cabeça, Moacir se desprende do chão e continuou a correr até a aterradora incógnita.

….

A temperatura do ginásio caía quase um grau a cada esmagar, romper e destroçar vindo da sinfonia do outro lado da cortina de poeira.

Joelhos, escápulas, pescoços, braços , mãos, coxas e colunas: Muitos eram seus instrumentos, assim como as notas extraídas dele.

Após desfigurar o rosto de um jovem com um face-crusher, ele o descartou e pôs o foco na última corda não rompida: Thomas, com metade do corpo  preso em meio a vários biombos quebrados.

Ao mesmo tempo, Moacir chegou na entrada traseira e manobrou pelo interior do palco o mais rápido que podia.

Ao caminhar, Rafael encarou o jovem os olhos agitados do jovem até que algo o agarrou pelo tornozelo com uma força irrisória.

— Não… se atreva… seu… — protestou André ao arranhar a bota com as unhas.

De barriga para baixo, ele segurava o homem com a mão esquerda, estando o braço oposto fora do lugar e as duas pernas salpicadas por estilhaços de madeira.Da posição que estava, ele conseguiu ver a apenas cabeça do agressor.

Sem se dar ao trabalho de olhar, Rafael contraiu a panturrilha:

— O que voc- AAH! 

O membro superior de André implodiu, fraturando cada osso ali como se fossem gesso. O estrondo derrubou algumas garotas que tentavam resgatar as professoras, reforçando o pânico.

Moacir caminhou contra a crescente presença gélida de Rafael, mal capaz de puxar aquele denso ar para dentro dos pulmões. O gritos e grunhidos além da poeira em sua frente contra o silencioso estiramento dos músculos criavam constelações em sua visão.

Então, no que sentiu que ia parar, ele fechou os olhos e rompeu a avalanche corrupta num só impulso. Ao longe, em meia a toda serragem, suor e ferro suspenso no ar, Rafael erguia o pé, a sola alinhanhada com a cabeça de Thomas

Por instante, os olhos dos dois jovens se alinham. Uma expressão pálida distorcida, sangue escorrendo da boca torta e o braço livre em sua direção: “Eu não quero morrer” soou dentro da cabeça de Moacir.

Uma voz nostálgica, uma que trouxe o tato de fios crespos de volta aos dedos, e a imagem daquele olhar aos seus olhos.

Guinchos acovardados dos jovens, a batida seca dos joelhos de Anna no chão, as lágrimas quentes dessa e de várias outras jovens estourando ao chão. Surdo a tudo isso, os desejos de Moacir derramaram.

— PARE! — O grito com todo seu fôlego preencheu o ginásio.

...

O tempo voltou a correr, mas parou de forma diferente. A presença opressiva que sufocava a todos desapareceu como se desligada por um botão, deixando um vazio na forma de silêncio.

Os garotos e garotas, mais confusos do que aliviados, ainda sofriam as consequências do evento. Anna, mal capaz de erguer os ombros, olhava para a direção de Moacir, lágrimas ainda manchando o rosto fadigado.

Do outro lado, todos que ainda estavam despertos observaram Moacir recuperar o fôlego como se despertasse de um pesadelo.Inalterado, Rafael retornou a atenção ao Thomas.

“Ainda não acabou!” percebeu Moacir, disparando os olhos para cada canto em busca de uma solução.

No que lembrou da câmera em suas mãos, uma faísca acendeu em sua mente. Encarnando o personagem, ele apontou para Rafael.

— Ei, você! O que pensa que estava fazendo com meus companheiros? — declarou ele em alto e bom som — Isso mesmo, o líder desses caras sou eu!

A mentira sem hesitação reforçou a desorientação dos presentes, com murmúrios se espalhando como fogo pelo ginásio.

Sem mover a perna, Rafael levou os olhos escuros, agora um pouco mais apertados, por cima do ombro. Sob aquela pressão maliciosa, Moacir apertou a câmera, causando-lhe pequenas rachaduras. Não obstante, ele pisou em frente.

— Você pode ter nos vencido, mas não quer dizer que pode fazer o que quiser! Então… —  puxando o braço ele se concentrou no rosto do inimigo — cai dentro!

O objeto arremessado rasgou o ar e parou num baque ao ser agarrado por Rafael. Atônicos, todos viram o homem mover a perna para o lado e pisar com tudo no braço de Thomas. 

Registrando o último grito, Rafael andou na direção de Moacir enquanto esmagava a câmera com a mão, o plástico e metal saindo espremido por meio dos dedos como massinha. 

“Independente do que for acontecer, é melhor tirar ele daqui” , decidiu ele, dando meia volta ao chamar Rafael com a cabeça antes de voltar por onde veio, sendo seguido pouco atrás.

Assim que eles foram embora o muro de poeira se dispersou, de forma que os dois lados tomam vista da miséria que o outro passou.

Nisso os docentes do lado de fora finalmente conseguiram abrir a porta. A prioridade era tirar todos dali, especialmente a professora, em estado crítico, e os garotos, não muito melhores.

...

Moacir emergiu da entrada traseira do ginásio,  limpando o uniforme com as mãos ao olhar para trás para checar onde Rafael estava. 

Nisso, ele viu uma camisa branca quase colada nele. Antes que pudesse reagir ele é arremessado contra uma árvore próxima pela parte de trás da gola e prensado contra ela com um chute frontal no esterno. Desprovido do ar puro que o inspirou, seu olhar foi forçado para cima.

— Seu pequeno mentiroso… — falou Rafael pesadamente, a postura ereta cobrindo o sol.

— Quando percebeu? — espremeu Moacir ao se contorcer. 

Rafael botou mais força na perna. “Não foi minha melhor resposta” concluiu ele ao tolerar a dor. Nisso, o homem se inclinou de forma aproximar o rosto severo do de Moacir.

— Que droga você tem na cabeça? Mesmo se não quisesse se expor, bastava largar uma nota na frente de alguma autoridade. Simples e sem risco. — afirmou ele, desdém imbuído da primeira à última letra.

— De fato seria, porém… 

Moacir desviou os olhos. “Por que estou com vergonha de dizer isso para ele? De qualquer forma, não tem sentido esconder agora que tudo  foi aos ares” considerou ele, voltando o rosto.

— Eu… tenho uma dívida com um dos membros, por isso hesitei — confessou ele num tom calmo.

Escutando aquilo, Rafael afastou o rosto e reduziu a força da perna.

— Tem? E por que você veio?

— Eu julguei que, entre pagar minha dívida e proteger a dignidade das garotas, o segundo era mais importante. Com você adicionado à equação, mudou apenas que eu tinha que salvar eles também, porque… era a coisa certa a fazer.

Terminando de ouvir, Rafael fechou os olhos com força fazendo Moacir se contrair diante do silêncio. Após um breve momento ele soltou todo o ar em um longo e penoso suspiro. No que ele abriu os olhos, ele voltará à indiferença.

Ele tirou o pé do peito de Moacir, fazendo-o cair de joelhos. Enquanto ele alimentava as pernas com o ar sujo de poeira, Rafael estendeu a mão.

— O cartão  — falou Rafael, seco.

— Hum?

— O cartão de memória daquela câmera. — Ele balançou a cabeça na direção do ginásio — Está com você? 

— Ah, isso. — Esclarecido, Moacir se levantou — Eu quebrei quando peguei a câmera do líder deles. 

Ao ouvir, Rafael reparou na vermelhidão das juntas da mão direita do jovem, que batia a poeira das roupas.

— Isso me poupa trabalho — falou Rafael num tom sério, deletando os líderes da operação da memória. — Agora, em relação a você…

Como nuvens pré tempestade, a atmosfera ao redor do homem escureceu. Ele ergue o enorme braço direito, deixando-o molenga como uma corda. O deja-vu amargando a língua, Moacir reparou onde ele fitava logo antes de ele girar o quadril.

Moacir se tirou do caminho um instante antes de Rafael chicotear a árvore atrás dele com a mão. O estalo fez os ouvidos dele zunir, sendo ouvido pelas pessoas sendo evacuadas do outro lado do ginásio. Não apenas isso, mas a casca da árvore foi arrancada pelo impacto.

Confuso, Moacir viu Rafael preparar outro golpe, não incomodado por ter errado.

“Oh, eu tenho que apanhar para a mentira continuar convincente, não é?” ele afirmou em sua cabeça. “Ninguém espera que eu ganhe de qualquer modo. Basta eu segurar ele aqui tempo o bastante para eles fugirem.”

Decidindo aquilo, sua cabeça baixou ao abrir os braços, expondo o peito. Seus dentes se firmam antes do primeiro impacto.

O ataque rasgou a camisa do uniforme, revelando um tórax rubro intenso. Ardor permeia o corpo, piorando o zunido, mas ele permaneceu firme, mal soltando guincho. Mais golpes iguais vem, um depois do outro, num ritmo industrial. Sua pele era lesada mais e mais até ficar em carne viva, sujando sua roupa e o chão de sangue.

Os sons viscerais fazem aqueles evacuvam do ginásio se contraírem a cada estalo, como se a tortura acontecesse ao seu lado. Com uma amiga ao lado e a outra nas costas, Maria encarou os estalos por cima do ombro.

— Que droga está acontecendo? Anna, temos que ir! Para de ficar moscando!

A novata, por sua vez, rezava fervorosamente de olhos fechados naquela direção, o rosto escondido entre as mãos juntas e os ombros duros.

A veterana estalou a língua e puxou Anna dali pelo ombro antes que ela terminasse. Ao olhar para trás, ela tentou abrir a boca, mas num estalo mais alto a calou. Relutantemente, ela desviou o rosto úmido.

 



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