Volume 1

Capítulo 14: Impacto

Imediatamente Moacir pisou a frente e Rafael respondeu erguendo o braço. Moacir, porém, parou no lugar e começou a pendular o tronco para a direita e esquerda, balançando os braços enquanto encarava o oponente, convidando-o.

Uma chicoteada vem alta e Moacir esquivou inclinando para trás. Seus ouvidos zuniram e a pele ardeu no que a onda de ar quente lhe acertou o rosto. Cerrando os dentes, ele inclinou de volta e avançou contra o peito aberto de Rafael.

O oponente, no entanto, deu um passo para trás ao trocar a base e ergueu o outro braço com intenção destrutiva. Sem receio, Moacir puxou o punho e escondeu a cabeça atrás do ombro e braço opostos.

O ataque explosivo rasgou sua manga revelando sua pele ardida, mas ainda sim ele desferiu um firme soco no plexo solar do oponente. Mesmo sem dano evidente, Moacir seguiu com múltiplos “1-2” ali. Em meio às batidas de osso contra músculo, a mão esquerda do homem se aproximou e dela o jovem se esquivou pisando para o lado, deixando um cruzado já carregado.

Rafael, porém, interceptou-o com um golpe de palma na testa com a outra mão, o empurrando para trás. Desorientado pelo impacto, ele reparou, com a visão embaçada, seus óculos na mão de Rafael, que logo os jogou fora com uma expressão indiferente.

Na segunda tentativa, Moacir investiu com a mão no bolso, atento aos braços do homem. Ele, porém, reagiu com chute contra as costelas do jovem, que evitou o nocaute, mas não a dor, pisando para o lado junto com o golpe. 

Cerrando os dentes, Moacir arremessou o lenço da professora no rosto do oponente, tapando-o a visão. O homem, porém, desviou do gancho que veio alongando casualmente o pescoço e, num só movimento, agarrou, girou e arremessou Moacir por cima do ombro contra o chão como um pano molhado.

Achatado de contas contra o chão, Moacir mal conseguiu desviar do pisão ao girar bruços e se empurrar bruscamente para trás. Vendo-o pisar em falso, Rafael avançou com um chute baixo.

O jovem pulou sem pensar. O chute, porém, virou um apoio para o homem mandar o joelho oposto como um aríete contra seu abdômen. Ele bloqueou com a canela, mas foi jogado metros para trás, batendo a cabeça várias vezes ao capotar.

Os ferimentos, ossos trincados e órgãos revirados o puxaram para baixo. Apesar disso, sua cabeça se levantou para encarar o oponente.

Rafael se aproximou, andando sem pressa ao contrair os dedos da mão em uma garra. Firmando corpo e mente ao enfiar os dedos na terra, Moacir botou as engrenagens da cabeça para girar.

“Ele é mais forte e hábil do que eu. Preciso de uma artimanha…” 

Com os circuitos mentais se fechando, ele tossiu o sangue que tinha acumulado na garganta. Então, quando Rafael ergue a garra, Moacir cavou o chão com as mãos e jogou terra contra o inimigo, desaparecendo atrás de uma cortina de poeira.

Rafael, que nem piscou ao receber o golpe sujo, abaixou o braço, ficando em prontidão. Um par de tênis atravessou a nuvem, mas ele os aparou com o antebraço, dando tempo para Moacir emergir pelo lado e arremessar uma bola de terra.

Rafael aparou o projétil, desmanchando-o em mais poeira. Um seguiu rodando e arremessando terra e o outro defendendo até que os dois não conseguiam mais ver um ao outro de tanto pó suspenso.

Cercado pela opaca cortina, o homem nem se importou em olhar em volta, concentrando-se em ouvir. Os rápidos passos de Moacir rodeiam até que do nada, eles somem. Erguendo uma sobrancelha, Rafael fechou os olhos e continuou a se concentrar. Nisso, o som de algo varando o ar chega aos seus ouvidos. Seu antebraço aparou o objeto antes dos olhos o ver: Uma pedra do tamanho de um punho.

Uma, duas, três, várias surgem do outro lado da poeira por vários ângulos, sem que o arremessador fizesse um som. Rafael se manteve a apará-las com os antebraços até que um monte de pedras veio contra suas costas como um tiro de espingarda, o forçando a girar para apará-las com um só movimento do antebraço. 

No entanto, ele foi atingido. Não por aquelas rochas, mas por uma outra do tamanho de uma bola de futebol americano vinda do alto, direto com parte pontuda.

A pedra despedaçou contra sua cabeça, fazendo-o os olhos dele desviarem para o alto. Nesse momento Moacir pulou através da cortina, lançando o punho direito contra a mandíbula de Rafael. O oponente, porém, aparou-o com o antebraço e contra-atacou com as costas do punho do mesmo membro.

Atingido no rosto, Moacir é lançado contra a parede do ginásio, vendo estrelas no céu claro mas se mantendo consciente. Em meio à constelação, Moacir viu Rafael rasgar a nuvem com o peito, aproximando-se com os braços abaixados.

Sentindo perigo, o jovem esperou uma eternidade para seus pés encostarem no chão para então, em um sincrônico instante explosivo, agachar ao mesmo tempo que o homem mandou a bota para frente.

O pé de Rafael afundou como uma bola de canhão na parede no ginásio, criando grossas rachaduras que se estenderam por metros em todas as direções, algumas até continuando pelo solo. 

Moacir sentiu tal poder raspando suas costas e mesmo com o esforço mal conseguiu conter o tremor de suas extremidades. Nisso,porém, ele reparou que Rafael estava apoiado em uma só perna. A inabalável postura ganhara um ponto fraco.

Sem hesitar, ele agarrou a grossa panturrilha do oponente com os dois braços e a apoiou no ombro como uma tora, arrancando o máximo da força das pernas.

— ROOOOOOOOAAAAAAAH!

Ele ergueu e empurrou a perna de Rafael ao avançar, fazendo-o pender para trás. Vendo o resultado, Moacir dobrou o esforço. O homem, no entanto, arrancou facilmente a perna dos braços de Moacir numa súbita flexão da coxa. Quase caindo, Moacir conseguiu apenas observar Rafael erguer a perna à 90°, fitando-o de cima em com uma expressão de indiferente superioridade, para então pisar em seu rosto, prensando-o contra o chão.

O chão ao redor da cabeça de Moacir afundou e seu corpo estava quase que dobrado no meio, espasmos reverberando até as pontas dos dedos. Com o jovem sob sua sola, Rafael limpou a sujeira do cabelo com a mão. No que, porém, a sente ficar grudenta e quente, ele a verificou: Ela estava coberta de sangue.Seu sangue.

Não era grave, mas era alguma coisa.Ele olhou para aquilo com olhar pesado por alguns segundos antes de limpar a mão nas roupas de Moacir e se erguer, notando uma pegada na parede no processo.

Nesse momento ele sentiu o calcanhar sendo agarrado com força, resistindo ao movimento.As feições azedando mais, o homem girou o pé para ver o rosto do oponente.

Atrás da grossa borracha da sola empoeirada, o olhar de Moacir não perderá a penetrante intensidade apesar dos roxos na cara. Formando uma garra com os dedos de uma das mãos, o homem aproximou o rosto do jovem Logo os líquens congelaram e caíram das árvores, as plantas e insetos definharam e os pássaros fugiram perdendo penas.

Mesmo assim o jovem não tremia, deixando as marcas dos dedos no couro das botas do inimigo. Sem resultados, Rafael recuou o rosto.

— Tsk! 

Ele então socou o fígado dele. As pupilas do jovem contraíram para então pararem abertas, as fibras ao redor ainda soltando pequenas contrações.

Sem olhar para o círculo marrom que criou ao redor, Rafael se soltou da agora mole pegada de Moacir e se pôs a chegar a hora no celular. Após resmungar para ela, ele deu meia volta e pulou sobre a cerca, desaparecendo como uma assombração.

 



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