O Demônio Barista Brasileira

Autor(a): Helena Shirayuki


Volume 2

Capítulo 18: Dia livre

— Liel, vamos?!

Era três horas da tarde de quinta-feira. Pensar que me atrasei um pouco por conta de outras coisas é de foder, ainda mais num dia livre. Felizmente, o garoto levou isso na boa.

— Opa! Vamos! — Ele abriu a porta, passando pro lado de fora.

Hoje foi o dia que eu e o demônio marcamos de sair. Depois de toda aquela bagunça da Trizz, nunca que teria energia pra isso ontem.

Em primeiro momento, essa ideia de ir em alguns lugares da cidade para procurar inspiração pra música me soou idiota, mas conforme o tempo foi passando, percebi que não era tão ruim assim. Às vezes vinha a memória do cenário de algum clipe musical que tinha uma vibe próxima ao do meu som. Facilitava na hora de tentar elaborar algo, mas até então, nada havia colocado minha cachola pra funcionar. A única coisa que fiz foi os arranjos de guitarra.

E foi pensando nisso que o Liel teve a ideia de decidir os lugares de uma forma mais específica. Ele odeia enrolação, assim como eu, então preferia que já tivéssemos em mente algo que facilitasse minha escrita. Talvez um lugar que eu tenha alguma memória de afeto ou que represente algo pra mim.

Tomamos a faculdade como ponto de referência. Como ela fica ao lado da avenida principal da cidade, utilizando os quatro pontos cardeais fica fácil de saber que lugar iríamos sem ter que dar uma volta fodida em toda a área do centro. Afinal, somos estudantes pobres, andamos a pé para todo lado.

Depois de caminhar um pouco e parar na entrada da universidade, olhamos todas as possibilidades que o demônio tinha anotado em seu celular — e que falei previamente — e fomos escolhendo uma a uma.

— Distrito Chicane, ao oeste? — questionou.

— Nem fodendo. Lá é onde fica minha antiga escola.

— Shopping da Zona Leste, ao… leste?

— Não. Não quero me lembrar da vadia da Daisy.

E quase todas as opções que o garoto sugeriu eu neguei. Depois de dois minutos, apareceram algumas que foram mais do meu agrado.

A primeira delas foi uma cafeteria ao norte, chamada de Ice Cubbes Cafe, nome nada criativo. Foi um café que frequentei constantemente quando era mais nova e tive contato com outras pessoas conhecidas. Não eram amizades no nível que tenho com Alex, Aspen e a galera da banda, mas é aquele tipo de gente que se eu encontrasse na rua, falaria numa boa.

A segunda opção, por influência do Liel, foi uma sorveteria ao leste, perto da que encontramos a Trizz. Até foi sugerido a mesma de antes, só que eu neguei na hora. Nem fodendo que iria na mesma da última vez. Não queria ter um flashback com aquela loira do capeta.

E como não queria nada perto daquele lugar, escolhi um que fosse mais longe, ainda ao leste: a loja de artigos musicais. Lá foi onde comprei meus primeiros acessórios para a minha antiga guitarra. No passado eu tinha o costume de vez ou outra ir lá, mas faz muito tempo. Espero que ainda seja o mesmo vendedor.

E, por último, mas não menos importante, a praça, também ao leste. Das quatro opções que marcamos pro nosso passeio, essa é a que seria menos proveitosa para a minha letra. Esse local foi escolhido justamente para depois de todo o caminho, irmos pra lá e descansar um pouco ao ar livre antes de voltar para casa. Eu gosto de áreas arborizadas, não me leve a mal, mas meu receio era que tivesse muita gente. Seria um inferno pra escrever.

De qualquer forma, decidido os locais, o que restou foi caminhar. Passamos quinze minutos na travessia da avenida para chegarmos no nosso primeiro destino. Antes mesmo de chegar no café que eu frequentava, só a quadra que ficava no local já me trouxe uma nostalgia. Minhas expectativas ficaram mais altas e, por um segundo, me senti jovem de novo. A fachada parecia a de uma pequena loja de conveniência. Uma entrada bem simples com algumas janelas bem discretas.

Nada muito chamativo, de fato. A mágica desse lugar era o lado de dentro, que depois de passar pela porta de madeira, tinha um ambiente que parecia uma cafeteria clássica de antigamente: acabamento do piso e dos móveis em madeira, balcão com banquinhos para quem era mais chegado com algum dos baristas, e assim vai.

Ao entrarmos, eu e o Liel já fomos para as mesas, perto da janela. Aproveitei que o local estava vazio e que ainda demorariam pra me atender e comecei a fazer algumas observações desse local num bloco de notas. Muita coisa que anotei foi sobre a descrição do local, mas logo me peguei descrevendo os momentos bons que passei por aqui e também como eu era nessa época.

Eu era bem diferente. Queria um pouco daquela espontaneidade juvenil de volta, exceto pela imaturidade.

— Que lugar… estranho. — Liel ficou olhando para todo o cômodo que nos rodeava. — Essas lâmpadas, o chão de madeira. Parece até que voltamos pro passado.

— É mais ou menos isso. — Parei minhas anotações. — Esse lugar é mais velho até do que eu. Quem sabe os funcionários que trabalhavam na minha época ainda estão aqui.

E foi só falar neles que um apareceu para nos atender. De longe, mesmo que mais velho que antes, reconheci seu óculos retangular e o seu cabelo liso e preto. Era loucura que mesmo após 6 anos, ele ainda continuava aqui.

— Marcy? Você aqui? — Ele também me reconheceu e logo veio até a minha mesa.

— Erick, cê ainda tá nesse trabalho? Tá esperando o dono morrer pra assumir?

— Não, palhaça. Não sou igual você pra ter esse tipo de pensamento.

A patada que ele me doeu até os confins da minha alma. Até virei a minha cara de vergonha.

— Enfim, posso anotar o pedido de vocês?

Eu fiquei com metade do rosto escondido pela minha mão, ignorando completamente a pergunta. Como demorei pra responder, o garoto se deu a liberdade de pedir.

— Sim, pode! — Ele estava animado. — Poderia trazer dois sanduíches e dois cafés doces?

Erick anotou tudo em seu celular e, sem enrolar, foi para a cozinha preparar o que foi pedido.

— Liel, como tu pediu para nós dois sem nem saber o que eu gostava? — Franzi as sobrancelhas numa dúvida genuína, o encarando.

— A-Ah, então… — De repente, ele virou um pouco o rosto como se tivesse se escondendo, mas logo seu lado raivoso apareceu. — Olha, não reclama, tá bom. Cê ia ficar com fome se não fosse por mim.

Foi uma reação bem peculiar. Não acho que ele escolheu café doce às cegas. Seria mais provável ele pegar um amargo por saber que odeio doce. Tá, tanto faz, ele pelo menos acertou o tipo que eu gosto.

O café e os sanduíches não demoraram tanto. Quando eles chegaram, Liel ficou lendo alguns dos meus rascunhos enquanto comia. A maioria das coisas que estavam lá ele não entendeu, então ficava perguntando a cada um minuto. Achei melhor tirar o caderno da mão dele, ou ia passar uma vida inteira aqui.

Depois que terminamos de comer, não ficamos por muito tempo. Fizemos as últimas anotações que fossem pertinentes, saímos dali e fomos em direção ao leste, à sorveteria que o moleque tanto queria ir. Ao chegar em frente à faixada, o garoto ficou com os olhos brilhando.

— É sério que você vai comer sorvete depois de tomar meio litro de café doce?

— E o que tem?

Suspirei. Fiquei pensando em como isso daria uma dor de barriga dos infernos, então preferi não comer mais nada. Pensei que Liel teria o mesmo pensamento, mas ele nem se importou. Foi só chegar em frente à recepção que ele me vem com a ideia de pedir uma casquinha com três sabores diferentes. Meu senhor.

Preferi não me importar. Afinal de contas, o estômago é dele, ele que se vire. Enquanto ele apreciava seu napolitano, continuei focando na escrita de novas ideias, meio que sem sucesso. Apesar de todas as coisas que já presenciei durante minha vida nesse local, não teve nada que me marcou o suficiente para ser colocado em uma música. A única coisa que veio em mente foram alguns clipes de rock adolescente de vocalista feminina revoltada.

Tá, eu sou uma vocalista feminina. Mas meu som não é pra ser o de uma adolescente revoltada. Se bem que o Aspen disso que eu sou uma pessoa bem amargurada e combino com essa vibe… Será se é verdade?

Não, credo! Nunca. Eu tenho mais de vinte anos. Se ele falasse da minha época adolescente, era uma coisa. A última coisa que devo procurar é ser algo que eu não sou mais.

— Você parece estressada, Marcy — Liel comentou enquanto terminava o seu sorvete.

— Não é nada. Termine logo de comer, ainda temos outros lugares pra ir.

Ele não estava errado em pensar isso. Apesar de ter algumas ideias anotadas, a única pergunta que ainda pairava sobre minha cabeça era como conectar tudo isso numa música.

Tive essa esperança depois que saímos da sorveteria. Nossa última parada antes da praça era a loja de instrumentos, que ficava a poucos metros. No passado, quando frequentei muito aquele lugar, sempre vinha muitas ideias de música, por mais que não colocasse nenhuma em prática.

Não sei se era a atmosfera do estabelecimento que me passava tanta criatividade ou se era meu espirito de adolescente. Só saberia a resposta quando chegasse lá.

E para a minha surpresa, parecia ser a primeira opção. Ao passar pela porta com o Liel, senti um frio na pele só de rever aquele lugar. Por mais diferente que algumas coisas estivessem, ainda carregava o mesmo sentimento de um estúdio musical. Paredes pretas, chão de carpete e inúmeras guitarras penduradas na parede.

A primeira memória que tive vendo esse novo visual da loja foi de um romance que li uma vez. Também tinha como temática principal a questão musical e teve um momento do livro que eles entraram numa loja parecida com essa. A música que o protagonista toca no final é bem trágica e deprimente.

Pensando bem, não seria uma má ideia escrever sobre algo triste. O foda é que dependendo de como eu fizesse, Alex não iria aprovar e me daria um cascudo.

— Boa tarde, gostariam de comprar alguma coisa? — Fiquei tão concentrada fazendo anotação que esqueci que estava numa loja. O atendente veio nos recepcionar.

Sinceramente, não tinha planos de levar nada, mas aproveitando que já estava aqui, decidi fazer uma bondade.

— Tem cordas para guitarra? Estou precisando.

Amanhã vai ter outro ensaio. Cassidy vai precisar disso pra fazer os arranjos que planejei.

— Obrigado. Volte sempre! — disse o atendente.

E agora, só nos restava mais um lugar para ir e terminar o passeio de hoje: a praça. Toda essa caminhada por esses lugares levou mais de uma hora, mas para mim, pareceu durar menos que isso. O tempo passou voando.

Quando chegamos na área do gramado, eu e o Liel já procuramos qualquer lugar que fosse mais aconchegante. Pensei que ia me sentar num banquinho, mas o parquinho das crianças estava mais cheio do que nunca, então estavam quase todos ocupados.

— Marcy, olha ali!

Por sorte, Liel achou uma árvore um pouco mais distante, com uma sombra perfeita. Infelizmente, a gente teria que se sentar na grama, mas isso nem era tanto um problema. Então, para não perdermos o espaço que encontramos, fomos pra lá.

— Ufa. Finalmente um descanso. — O moleque se jogou na grama e ficou deitado. — Minhas pernas já estavam doendo.

Me encostei no tronco da árvore, ficando sentada ao lado dele. — Se a gente demorasse mais um pouco, não ia ter essa sombra.

— Se não fosse por mim, você nem teria pensado em ficar aqui!

— Aham — concordei de forma irônica. — É verdade.

Ele ficou com carinha de bravo depois disso e virou as costas. Sim, ele tinha razão, mas encher o saco dele também era legal de vez em quando.

Aproveitando o som ambiente de pássaros e, bem mais baixo ao fundo, crianças brincando, peguei de novo a minha caderneta na mochila e comecei a planejar. Antes de realmente escrever, fui folheando as páginas anteriores, onde tinha feito os rascunhos de outras ideias antes de hoje.

“Sensação de tristeza e solidão” era uma delas. No caso, esse era o título que descrevia o sentimento que tive naquele dia no Centro Acadêmico: as memórias da música que elaborei depois de ter acabado a escola, o sentimento de luto pelos acontecimentos recentes da época…

Olhando de perto essas anotações, talvez pudesse servir como temática do som para o baixo. O grande mistério é se isso combinaria com os arranjos que fiz para a guitarra.

Por mais que a página anterior fosse meio desconexa, a anotação seguinte “Memórias do alguém” parecia o tema ideal para a música, mas não o único que eu queria abordar. Eu me sentiria mal em escrever sobre alguém em específico, igual aquelas músicas sofridas que muita gente escuta. Então procurar outra temática que conectasse com isso parecia a melhor opção.

Fiquei pensando por um tempo, e o que saiu foi:

Sua voz ecoa no meu peito, noite a noite em vão…

Talvez eu tenha desaprendido a escrever músicas, pois achei esse verso meio cafona. Só que, por outro lado, não me parecia tão ruim. Tentei continuar

Não preciso mais sorrir, não preciso mais mentir…

Não me senti bem a respeito dessas duas linhas. Era melhor eu pedir um feedback antes de perder meu tempo escrevendo algo que fosse uma merda.

— Liel, dá uma olhada nisso.

Antes que eu percebesse, o moleque já tinha tirado o caderno da minha mão. Nem parecia que tinha ficado de birra a alguns minutos atrás.

— Não está ruim. Só tá… estranho? — ficou confuso.

— Caralho, tá bom ou não tá?

— Não! Espera. Acho que eu sei o que pode melhorar isso.

Liel pegou a minha caneta e começou a rabiscar por cima do papel sem que eu visse. Quando ele virou para me mostrar, o que encontrei foi uma traço separando aqueles versos que escrevi.

— São dois versos diferentes. — Ele apontou para o caderno. — Separei eles pra ficar mais fácil de você visualizar o que pode estar faltando.

Foi uma coisa muito simples, mas o suficiente pra notar o que tinha de errado nos rascunhos que fiz: precisava de uma conexão; algo que interligasse o significado de tudo.

No caso daqueles dois versos, não é que eles eram ruins, somente faltava uma linha de raciocínio lógico entre eles. E terminou que deu certo. Demorei um pouco para pensar na parte da letra que pudesse tornar tudo o mais suave possível de cantar, mas o resultado foi do meu agrado. Quando terminei, deixei que o Liel desse uma olhada.

— “Sua voz ecoa no meu peito, noite a noite em vão. E cada medo que guardei comigo, queima o coração. Não preciso mais sorrir, não preciso mais mentir”Ele leu toda a parte da letra em voz alta. — Ok, isso parece bom. — Ele entregou o caderno de volta, sem mais nem menos.

— Nenhum “parabéns” pelo trabalho que tive?

— Acho que você quis dizer nosso trabalho. Me desconsidere de novo e eu soco a sua cara.

Pra mim, esses três versos já foram uma grande vitória. Demorei uns bons minutos para colocar eles no papel, não vou negar, mas era melhor do que não ter feito nada até agora.

Então decidi continuar. Ainda era meio de tarde, ainda teria algumas horas antes de ter que voltar para casa. O ambiente estava agradável e o barulho não me incomodava tanto. E, pra melhorar, Liel também estava distraído olhando as nuvens no céu, o que o faria ficar de bico fechado por um bom tempo…

Meow…

Eu pensei que ele ia, né? Quem dera eu estivesse certa.

Para a minha surpresa, nós dois escutamos um miado por perto. Eu perdi a concentração na hora, e o moleque que estava quieto, ficou agitado, querendo saber de onde vinha o barulho. Tentei voltar ao que estava fazendo, mas o demônio simplesmente começou a subir a porcaria da árvore e não tive mais como ignorar.

— Que porra tu tá fazendo, Liel?

O desgraçado já tinha subido no topo da árvore e estava pendurado em um dos galhos, onde estava o animal.

— O gatinho está aqui, esper…

Foi só ele chegar perto do gato que eu escutei um creck. No momento que ele subiu no tronco e alcançou o gato em cima de um dos galhos da árvore, o galho torou no meio e os dois caíram. O moleque teve a proeza de ainda conseguir segurar o animal a tempo e não deixar que ele se machucasse, mas acabou sobrando pra mim pra amortecer a queda do idiota.

— Ai, minhas costas! — Caí no chão igual da última vez, e ele por cima das minhas costas. — Ôh moleque, eu já te falei pra não sair fazendo o que der na telha!

— Mas ele tava preso!

Toda vez é essa mesma putaria. Vou ter que aturar isso até quando?

Olhando mais de perto o gato, ele não parecia de rua. Era um siamês cor de caramelo e com algumas partes do corpo mais escurinhas. Ele não tinha nenhuma coleira que o identificasse como um do tipo doméstico, mas levando em conta o seu estado, é provável que tenha fugido de casa e se escondeu na árvore durante a noite.

Falei sobre isso pro Liel e, mesmo que um pouco contra a minha vontade, decidimos perguntar nas redondezas se alguém era dono daquele gato. Batemos na porta de algumas casas, mas todas as pessoas que chegamos a conversar negaram, dizendo não serem donas do felino. Chegamos até a ligar para o serviço da cidade que recebe pedidos de procura de gatos perdidos, mas não tinha nenhum com as exatas características do qual encontramos.

Por conta disso, sobrou pra gente ter que lidar com isso. Ou a gente ficava com o gato ou deixava ele com outra pessoa ou num abrigo, que diga-se de passagem, seria a pior opção.

— Que merda. — Desliguei o telefone.

— O que eles disseram?

— Nenhum com essa descrição.

Liel olhou para o bichinho em seus braços, um pouco triste. Acho que assim como eu, a sua esperança era encontrar a casa dele.

— Marcy, sei que é um pouco de repente isso… Mas podemos ficar com ele?

Eu estava com a atenção em outro lugar, mas quando ouvi sua pergunta e olhei pra ele, a cara dele e a do gato pareciam a daquela cena do Gato de Botas quando ele fica com os olhos esbugalhados e fofos. Já imaginei que o garoto ia pedir pra ficar com ele, mas não achei que fosse pedir da maneira mais idiota possível.

Parecia até que esse gato tinha uma ligação com o moleque. Sei lá, o Liel, pelo menos pra mim, é um gato com dois chifres na cabeça. Não me impressionaria nem um pouco se ele conseguisse se comunicar com o felino. Mas parando pra pensar, agora vão ser dois pra cuidar. Que vidinha filha da…

Sigh… Tá, só preciso conversar com o Conrad pra não ter problema com ele chegando do nada. Até o prédio tem regras para animais.

O demônio entendeu o que quis dizer e estampou um sorriso no rosto, dessa vez um de genuína felicidade.

Depois que liguei para o porteiro do prédio e expliquei toda a situação, tive que escutar vinte minutos de puro bla, bla, bla sobre as políticas do prédio com pets e seja lá a baitolagem que eles tenham contra animais de estimação. Após isso, o velho da portaria disse que estava tudo bem em trazer o gato, mas que apenas um de nós poderia ser registrado como dono na ficha do apartamento para caso ocorresse alguma mudança no futuro.

Sim, até os animais tem registro no prédio. Antes não tinha isso, mas devido a uma pessoa que se mudou a muito tempo atrás e adotou uns vinte gatos que ela encontrou na rua, decidiram criar normais para que não virasse bagunça dentro do prédio.

Se essa história é verdade ou não, eu não sei. Se for, pelo menos os gatinhos arranjaram um novo lar.

Quando tudo isso terminou, eu e Liel pegamos nossas coisas e decidimos voltar para casa. No meio do caminho, fomos pensando em que nome daríamos para o bichano e chegamos num consenso: Cappuccino. Ok, talvez seja um nome meio estranho, mas não é tão genérico e é até engraçado de se chamar. “Cappuccino, vem aqui!”. É, até que gostei. O garoto também curtiu e disse que o lembrava do seu café favorito.

Bem, foi um dia longo. Anotei novas ideias, caminhei bastante e, no final, adotei mais um gato na minha vida. Hoje não vai dar, mas assim que possível, vou comprar algumas coisas no petshop mais próximo. Diferente do demônio, esse aqui precisa de um cuidado a mais. Vou ter que me acostumar com isso, é o jeito.



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