O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 53: Negociação

Arthur praguejou em voz baixa quando viu os homens que deveriam obedecê-lo atacar. Tércio também teve um mau pressentimento sobre isso, porém estava mais preocupado em dar o fora dali. Por isso, foi logo dizendo ao cocheiro para se preparar para correr. Quando eles abrissem caminho, não hesitaria em passar por cima de quem quer que estivesse na frente.

― Separem-se! Não ataquem de frente. Cerque-os pelo flanco ― comandou Steven, apontando sua espada para frente e bradando com a imponência de um comandante.

E assim os soldados fizeram.

Os cavaleiros se separaram, três para um lado e dois para o outro. Darwin e mais um combatente ficaram encarregados de bloquear o caminho do Canibal e ganhar tempo enquanto Steven e o restante eliminavam a Dama de Rosa.

Mas como eles logo descobriram, os boatos sobre Katrina não eram apenas histórias criadas para assustar criancinhas. Foi tudo tão rápido que sequer pareceu real.

De um lado, Steven e dois homens cercaram e atacaram Katrina. Do outro, Darwin jogou seu cavalo contra o Canibal, pensando que aquilo poderia forçá-lo a recuar. Naquele momento, nenhum deles imaginou que seriam massacrados em segundos.

Katrina agilmente sacou sua lança, mas não se moveu nenhum centímetro. Apesar de ter três homens grandes almejando sua vida, ela pareceu calma, agiu como se não estivesse correndo nenhum perigo. Parecia até que era apenas uma linda mulher segurando uma arma perigosa, sem saber a maneira certa de manejá-la. E então, aconteceu...

No instante em que Steven e os demais se aproximaram, a bela de cabelo castanho e olhos verdes girou sua lança e estocou para frente. Foi um movimento tão suave e gracioso que poderia ser apresentado em uma peça de teatro. Mas foi tão rápido que seria difícil seguir com os olhos ― tanto é que, Steven não teve tempo de reagir.

Tudo o que ele sentiu foi uma picada e, em seguida, uma queimação surgindo do meio de seu peito.

Temeroso, o Cavaleiro Baixo lentamente abaixou sua cabeça e viu que sua armadura, antes prateada e reluzente, estava agora manchada com um líquido vermelho que não parava de fluir. Ele deslizou seus olhos e reparou também que no meio de seu peito havia um pequeno buraco, não mais grosso do que um polegar.

Com a visão ficando embaçada, Steven ergueu sua cabeça novamente só para ver que a Dama de Rosa já estava golpeando o terceiro de seus colegas.

Katrina foi tão precisa em seus ataques, que em poucos segundos perfurou o coração de três homens. Sua impiedosa lança foi tão ágil quanto o ferrão de uma abelha zangada, protegendo sua colmeia.

Quando viu os cavaleiros que enfrentavam Katrina começaram a cair um por um, Darwin ficou assustado e pensou, de maneira prudente, em parar seu ataque. Mas já era tarde demais.

Demonstrando sua força assustadora, com a mão esquerda, o Canibal agarrou a cabeça do cavalo que Darwin montava e a torceu com a mesma facilidade que um adulto tem ao partir uma cenoura ao meio. O gesto apavorante de poder despertou os instintos mais primitivos de sobrevivência no animal que, para evitar de ter o pescoço quebrado, jogou a cabeça de lado e se jogou contra o chão. Mas isso, embora tenha salvado sua vida, acabou resultando na queda daquele o montava.

Darwin bateu a cabeça contra o solo e no mesmo segundo sua visão balançou. Ele tentou se levantar, mas parecia que seu corpo se recusava a obedecer. Porém, por sorte, não demorou muito para os seus sentidos começarem a voltar e sua visão ficar mais clara.

No entanto, tudo o que ele conseguiu ver antes da escuridão, foi um machado, que tinha um cheiro forte de ferro, descendo em sua direção.

Quando Darwin foi morto, quase no mesmo momento em que Steven e os outros dois, o único cavaleiro que restava entrou em pânico. Ele puxou a rédea de seu cavalo para o lado e bateu tão forte com seus calcanhares na cintura do bicho que o animal relinchou alto e ergueu as duas patas da frente.

O cavaleiro agarrou a crina do companheiro e segurou, desesperado para não cair. Foi então que ele sentiu uma pancada nas costas e, no segundo seguinte, desabou.

Katrina, a Dama de Rosa, sem demonstrar piedade, lançou sua lança, que atravessou as costas do pobre cavaleiro que tentava fugir.

Ao mesmo tempo, antes que o último morresse, Arthur saltou da carruagem e se preparou para ajudar. Mas quando percebeu, já era tarde demais.

Alguns segundos! Foi isso que a Dama de Rosa e o Canibal levaram para matar cinco homens razoavelmente treinados. Para a maioria, não houve tempo para lamentações ou arrependimentos, apenas morte.

Tércio, que tinha a intenção de se aproveitar do caos para fugir, sequer teve a chance de dizer ao cocheiro para correr. Foi tudo tão rápido que mesmo ele, que passou anos lutando contra criminosos hediondos, não pôde evitar de franzir suas sobrancelhas. A Dama de Rosa de fato fazia jus a sua terrível fama. Sem falar que aquele Canibal também demonstrava um grande poder.

Enquanto Tércio e Arthur ainda estavam atordoados, Katrina foi até o último cavaleiro que matou e, sem nenhuma delicadeza, arrancou a lança de suas costas. Em seguida, limpou o sangue da ponta usando a bainha de sua camisa e, por fim, olhou para os dois garotos.

Naquele instante, Tércio, percebendo que não seria possível fugir, saltou da carruagem e foi para o lado de Arthur.

― Acho que nós somos os próximos ― disse o ex-prisioneiro, cujo tom de voz era calmo, confiante e até um pouco desdenhoso.

― Sim. É o que parece ― concordou Arthur com uma expressão séria. Suas mãos seguraram firmes as duas adagas que estavam presas em sua cintura e se preparou para sacá-las. Diferente do amigo, sua tensão era palpável.

Ali em frente, a Dama de Rosa levantou sua lança avermelhada e, em uma resposta sincronizada, os garotos deram um passo para trás. No entanto, contrariando as expectativas dos dois, ela não atacou, apenas tornou a guardar a arma em suas costas, como se fosse uma espada.

― Não se preocupem, eu não vou machucá-los! ― disse Katrina, que a despeito da frieza exibida um instante atrás, mostrou um sorriso assustadoramente simpático.

― E por que acreditaríamos em você? ― questionou Tércio, franzindo as sobrancelhas.

― Eu não machuco crianças! ― afirmou Katrina, com firmeza. E, com uma voz doce e agradável, continuou: ― É por isso que eu gostaria que se afastassem. Não quero ter que lutar contra vocês. ― Ao dizer isso, ela levantou as mãos, mostrando que não tinha a intenção de lutar.

― Você diz que não machuca crianças, mas as pessoas que estão dentro desta carruagem têm a mesma idade que a nossa ― retrucou Arthur, bastante perspicaz.

― Eu sei que as pessoas que estão dentro da carruagem são apenas crianças, mas eu prometo que não vou machucá-los. Tudo o que eu quero é...

― Um resgate? ― completou Tércio, interrompendo a bela ameaçadora em sua frente. ― Vocês querem sequestrá-los e pedir algo em troca. Estou certo?

Ouvindo que o objetivo dos bandidos era de fato sequestrá-los, os jovens nobres que estavam na carruagem estremeceram. Em especial as gêmeas, que soltavam ganidos angustiados.

― Você entendeu direitinho, espertalhão. Então, anda logo e saia da frente. – Nesse momento, a voz rouca e grossa do Canibal saiu. Com um sorriso amarelo, ele encarou os garotos e continuou: – Se não... ― Lambeu os lábios enquanto soltava uma risada esquisita, semelhante a um sapo roncando.

Mas antes que ele fizesse algo, Katrina lançou um olhar severo e de repúdio em sua direção, e sibilou com uma voz cheia de desprezo:

― Seu porco imundo! Quem foi que disse que você poderia abrir essa boca? ― Sem demonstrar medo algum, ela encarou o homem repulsivo cujo rosto experimentou uma transformação severa.

― O que foi que você falou, vadia!? ― O Canibal soltou um rosnado quando se virou para o lado e encarou a mulher que o acompanhava em sua emboscada. Ele deu um passo à frente e seus olhos exalaram uma extraordinária sede de sangue. Seu rosto se contorceu de uma maneira repulsiva, deixando claro que pensamentos nefastos haviam se apoderado de sua mente. Mas como um aviso, seus olhos foram atraídos para a ponta da lança e sua postura mudou. ― Tsc! ― De repente, o canibal estalou a língua e, deixando suas fantasias desumanas de lado, recuou um passo. 

A cena daquele homem imponente recuando intrigou os garotos. Mas eles não tiveram muito tempo para prestar atenção no assunto, pois quando seu asqueroso “companheiro” recuou, Katrina voltou a dedicar sua atenção aos jovens inimigos.

― É como disse. Eu tenho a intenção de sequestrá-los. ― Ela admitiu. ― Mas dou a minha palavra de que não machucarei nenhum deles.

Oh! O quão valiosa é a palavra de uma ladra infeliz?  Ainda mais uma vestida de boneca ― zombou Tércio, que ao acrescentar a última parte, olhou de cima a baixo de uma forma provocativa para a mulher a alguns passos de distância. No entanto, a despeito de sua atitude, por algum motivo, ele não sentia que ela estava mentindo. E isso o deixou um tanto confuso.

Mas ela ainda era uma criminosa, por isso era necessário extrema cautela. E a parte da provocação... talvez isso ajudasse a mostrar um lado que ela estava tentando esconder.

No entanto, diferente do que ele esperava, Katrina soltou um sorriso amargo e balançou a cabeça de uma maneira impotente:

― Para ser sincera, eu não gostaria de fazer isso. Mas não tenho escolha.

E tais palavras fizeram os garotos se entreolharem com expressões estranhas.

Tanto Tércio quanto Arthur não puderam negar que a atitude de Katrina era anormal. Para uma criminosa perigosa, que havia acabado de matar quatro pessoas, sua maneira de agir era... como devo dizer... pacífica!

Parecia que ela desejava evitar a qualquer custo lutar contra os dois. Mas era uma hesitação nascida no medo ou coisa do tipo.

Contudo, mesmo se ela tivesse este lado mole, ainda assim não mudava o fato de que pretendia sequestrar Serena e os outros. E isso era algo que Arthur não podia permitir.

Nesse momento, O canibal deu um passo à frente enquanto balançava seu machado e bufou:

― Chega dessa conversa chata! Eu vou apenas tirá-los do caminho. ― Ignorando as caretas da Dama de Rosa, ele mostrou um sorriso amarelo e andou em direção aos garotos.

Não se deixando intimidar, Arthur deu um passo à frente e, com um semblante decidido, proferiu:

― Se pretendem machucá-los ou não, isso pouco me importa. Independente disso, eu não vou deixar vocês levá-los! ― bradou com determinação. E conforme as palavras saiam de sua boca, ele puxou as duas facas que estavam presas em sua cintura e assumiu uma postura firme.

Aquela foi a primeira vez em que Tércio viu as adagas do líder de esquadrão a qual fazia parte desembainhada, e a visão o deixou bastante impressionado.

As armas eram exageradamente grandes, passavam dos trinta centímetros de comprimento. As lâminas possuíam uma curvatura estranha, em forma de arco, e o fio de corte ficava na parte externa da curva. E o fio de corte, assim como a antiga espada de Enri, tinha um fio dourado que atravessava do cabo até a ponta.

Arthur apontou a faca que estava em sua mão esquerda para Katrina e o Canibal, e disse em um tom ameaçador:

― É melhor irem embora, pois não vou deixar vocês levá-los

Com suas armas empunhadas, o rapaz de bermudas largas e cujo rosto havia assumido uma peculiar seriedade estava pronto para lutar. Mas Tércio, por outro lado, tinha uma expressão desinteressada e um tanto distraída. Ele se manteve um pouco afastado, marcado por um olhar absorto, admirando as facas encurvadas e imaginando o quanto elas deveriam custar.

Outra que não parecia querer lutar era Katrina. Ela estava determinada a não machucar aquelas crianças.

― Espere! ― ordenou a dama, fazendo um gesto com a mão e parando o Canibal. Ele não gostou disso, mas mesmo assim não ousou desobedecê-la. ― Esses uniformes que estão vestindo são da Equipe de Subjugação, da Academia Elefthería, certo? É por isso que vocês não podem apenas ir embora, não é? Mas está tudo bem se fugirem. Afinal, vocês são crianças. Além do mais, não há nenhuma chance de nos derrotarem. ― Existia grande confiança em sua voz. Tinha certeza de que, caso houvesse uma luta, seria a única vencedora.

Entretanto, a despeito de sua breve demonstração anterior e da imponência que existia em sua fala, contrastando com a doçura, os rapazes não se permitiram ser intimidados.

― Isso não há como saber. Nós nem lutamos ainda ― retrucou Arthur, firme em sua resolução.

― Errado! Eu tenho certeza de como isso acabará. Já ouvi boatos sobre a Equipe de Subjugação. Dizem que os integrantes possuem força equivalente a um Cavaleiro Real. Mas isso só se aplica a nobres que podem usar Encantamentos Mágicos. E você não é um nobre. – Como era de se esperar, Katrina não se saiu bem no mundo do crime por causa apenas de sua força. Era também uma pessoa muito bem informada, a ponto de conhecer uma das principais, e mais recente, forças da isolada Elefthería.

Arthur ficou sem saber o que falar, pois sua inimiga estava certa. Ele era forte, mas não tanto quanto aqueles que podiam usar Encantamentos Mágicos.

― Eu conheço todos os nobres deste reino e sei que você não é um deles. ― Ela continuou. ― E esse sendo o caso, acredito que use Artes Marciais para lutar. Mas são necessários anos para se tornar um especialista nessa área. E você é só um garoto sem experiência.

Ouvir ela falar tudo aquilo, fez Arthur se sentir cada vez mais frustrado, pois a dama estava certa em tudo. Ao contrário dos Encantamentos Mágicos, Artes Marciais levava-se tempo e energia para se dominar. E ele era jovem demais para ser considerado um especialista, embora fosse superior a diversos cavaleiros. Porém, mesmo que essa fosse a verdade, ele não poderia deixar as coisas assim, precisava dizer algo.

Mas, antes que conseguisse falar qualquer coisa, Tércio o interrompeu:

― Sabe, para ser sincero, eu não me importo que vocês levem aquele bando de mimados ― falou, apontando o polegar para a carruagem. E nesse momento, Serena, que estava com os ouvidos apurados, escutando tudo atentamente, sentiu um calafrio percorrer a espinha. ― Quero dizer, você parece ser forte e o feioso aí me dá arrepios. – Apontou para o medonho Canibal. – Sem falar que esses riquinhos são muitos chatos. Sequestrá-los me livraria de uma boa dor de cabeça.

Ei, Tércio! Do que você está falando? Não podemos entregá-los a ela. – Arthur de repente sentiu o estômago revirar. Se o companheiro decidisse ajudar os inimigos, então as coisas não seriam boas para ele.

Hm... Como assim? Eu falei que gostaria disso, não que vou ajudá-los. ― justificou-se Tércio, fazendo o amigo se sentir aliviado. ― Além do mais, eu dei minha palavra ao velhote do Duque e minha palavra não é tão barata assim ― exibiu um sorriso malicioso.

― Então, vocês não pretendem recuar? ― questionou Katrina, parecendo decepcionado.

― Com certeza não!

― Infelizmente não.

Após ouvir a resposta dos dois, a Dama de Rosa, apesar de hesitante, tirou a lança de suas costas. Entendeu que precisava retirá-los do caminho sem machucá-los... muito.

E o Canibal, ansioso pela violência, balançou seu machado cujo aço uivou ao partir o vento, trazendo o som sinistro do prelúdio da morte.

Do outro lado, Arthur girou suas facas, mostrando sua maestria, e assumiu uma posição de batalha. Tércio também se preparou. Contudo, ele não estava tão animado quanto o colega.

A tensão cresceu e tudo indicava que a batalha estava prestes a começar. Os dois grupos pareciam prontos para lutar. Katrina era a única enfrentando certo dilema, mas devido a sua experiência, ela tinha certeza de que poderia derrotar aqueles garotos sem feri-los.

 Mas então, de repente, antes que o confronto iniciasse, algo aconteceu.

Como Tércio e Arthur estavam distraídos com a Dama de Rosa e o Canibal, eles acabaram não reparando em uma figura estranha que saiu das sombras de uma das casas abandonadas próxima à carruagem.

A figura aparentava ter mais de dois metros de altura e seus braços eram compridos e finos. Ela vestia um manto preto e pesado que cobria todo o seu corpo, além de uma máscara da mesma cor. Suas mãos estavam protegidas por luvas de couro. E na mão direita, uma peculiar espada chamava a atenção.

A arma tinha mais de um metro de comprimento e era tão fina que o peso do metal a fazia curvar e balançar, feito um graveto verde. A ponta afinada parecia uma agulha e no punho havia uma cobertura, uma espécie de escudo oval, protegendo a mão do usuário.

A figura misteriosa, no momento em que saiu da casa abandonada, com paços largos, que chegava até ser um pouco esquisito e desengonçado, correu em direção a carruagem dourada na qual Serena e os outros jovens nobres ocupam.

E sem que Arthur ou Tércio percebessem, a figura estranha ergueu sua espada fina e deferiu um golpe com a ponta, semelhante a estocada de uma lança.

Um estrondo foi ouvido, seguido de muita agitação!

E apesar de parecer frágil, a espada fina fez a carruagem tremer. O impacto foi tão forte que as rodas do lado em que o veículo foi atingido saíram do chão por um instante e aqueles do lado de dentro foram arremessados de seus lugares enquanto gritavam histericamente.

No entanto, mesmo depois desse ataque assustador e poderoso, o veículo blindado continuava sem um único arranhão.

No entanto, os dois cavalos que executavam o trabalho de força se assustaram com o impacto. Eles relincharam alto e se prepararam para correr, arrastando o transporte e seus passageiros.

Mas antes que isso acontecesse, a figura misteriosa cortou as cordas que os prendiam e os dois animais fugiram a galope em direção à floresta.

Seguindo o exemplo dos cavalos, o cocheiro desceu do assento de guia e, enquanto soltava um gritinho fino, correu para a casa mais próxima.

Os cavalos e o condutor não foram os únicos que se assustaram quando ouviram o barulho alto e sentiram a estrutura blindada tremer. Tércio e Arthur também foram pegos de surpresa. Eles se viraram e viram uma enorme entidade encapuzada parada ao lado do veículo.

Hm... Entendo! Há uma proteção muito poderosa reforçando o casco. – De repente uma voz masculina surgiu debaixo do capuz. A figura nem sequer se deu ao trabalho de olhar para os garotos. Era como se a presença deles fosse insignificante.

Ao contrário de Tércio e Arthur, que foram pegos de surpresa pela aparição repentina do homem de capuz, a Dama de Rosa e o Canibal não esboçaram reação... Não, isso não é bem verdade. Katrina semicerrou os olhos, que brilharam com intenção assassina.

Contudo, ela não fez e nem disse nada.

Dentro da carruagem, as gêmeas se encontravam encolhidas no chão e não paravam de esganiçar, pedindo por ajuda. Isaac estava do lado oposto ao homem de capuz, com as costas apoiadas na parede e uma expressão de terror no rosto. E Serena apontava o cristal vermelho para o estranho à medida que murmurava para si mesma: “para ativar, é só se concentrar”.

Enquanto todos continuavam distraídos com o ataque repentino, o homem de capuz mais uma vez balançou sua espada fina e estocou tentando perfurar o veículo.

Um barulho estrondoso ecoou por dezenas de metros e a carruagem balançou com extrema violência, dando a impressão de que poderia tombar a qualquer instante. Mas ela conseguiu resistir, a despeito das pequenas rachaduras que começaram a aparecer ao seu redor. Contudo, aquilo foi incomum. Pois não se tratavam de falhas na estrutura do casco blindado. Era outra coisa.

O ataque do homem de capuz foi tão poderoso que não seria estranho se a carruagem se quebrasse toda. Porém, ela foi envolvida por diversas rachaduras brilhantes que se espalharam por toda parte.

Envolta do veículo havia algo semelhante a uma fina camada de vidro protegendo-o. E foi a partir dessa camada que as fissuras surgiram. Era como se o próprio ar tivesse sido fragmentado.

Mas o ar não era o único se despedaçando. O desenho de Grifo, localizado do lado externo da porta da cabine, também exibiu sinais de estar perdendo seu brilho, quando trincas se espalharam por seu corpo.

Tércio olhou para aquilo com estranheza. Nunca tinha visto nada parecido. Era estranho, mas ao mesmo tempo, encantador aos olhos.

Porém, agora não era hora de ficar admirando, pois o homem de capuz estava se preparando para um novo ataque.

Tércio, em um ato de improviso, pegou uma pedra no chão e a atirou contra o sujeito esguio que, de alguma forma, mesmo com todo aquele pano cobrindo o seu rosto, percebeu a pedra indo em sua direção e saltou para trás.

Mas isso era o que o garoto de cabelo mastigado queria. Sem perder tempo, ele logo se pôs entre o homem e a carruagem.

Arthur também se preparou para correr em direção ao veículo, mas antes que o fizesse, uma lança avermelhada voou em sua direção e fincou no chão, ao seu lado. O líder de esquadrão se virou e olhou para Katrina com uma expressão irritada.

― Se vocês quiserem, eu ainda posso deixá-los fugirem ― disse a Dama de Rosa com um sorriso agradável.

Tsc! ― Arthur estalou a língua e praguejou a mulher em seus pensamentos. Ver o sorriso vitorioso em seu rosto era um pouco irritante.

Sem muita escolha, o rapaz de cabelo acobreado desistiu de ajudar o companheiro e se preparou para atacá-la. Agora que ela estava sem sua lança. Era o momento perfeito.

E ao mesmo tempo em que Arthur se preparava para fazer seu movimento, Tércio encarava o homem de capuz.

― Eu não sei quem é você, mas não me atrapalhe! ― sibilou o estranho com uma voz fria.

 


 

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