O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 51: Blindagem

Seguindo aquela mesma formação de quando saíram da capital Selene, o grupo de escolta vagarosamente entrou na vila Minguante sob a liderança de Enri e os outros dois Cavaleiros Reais.

Não faltava muito para o anoitecer e a vila seria um bom lugar para passar a noite. Mas Enri queria voltar o quanto antes para a Academia Elefthería, por isso ficou decidido que eles andariam mais um pouco e acampariam na floresta ― cedo ou tarde eles teriam que fazer isso mesmo, então porque não economizar tempo?

O grupo teve que diminuir a velocidade com que andavam, pois as ruas eram estreitas e esburacadas. Virando aqui e contornando ali, eles continuaram seguindo em frente. O clima estava tranquilo e os únicos barulhos que se ouviam eram o das folhas balançando e dos pássaros cantando. Mesmo os sorrateiros Goblins não se faziam presentes.

Tércio e Arthur continuavam conversando despreocupadamente através da janela da carruagem. Nesse momento, o líder portando duas adagas era o único disposto a manter um diálogo amigável com o encrenqueiro.

Até aquele ponto, estava tudo calmo e a sensação que se tinha era que continuaria assim por um longo tempo. Mas então, algo inesperado aconteceu...

A saída da vila não ficava muito longe. Tudo o que o grupo precisava fazer era atravessar um cruzamento e assim eles estariam de volta à floresta.

Mas no instante em que Enri, que se achava a poucos metros de distância da carruagem dourada e liderando a ponta da formação, chegou ao cruzamento, sua expressão mudou. Ele olhou para as ruas do lado direito e esquerdo, e seu rosto ficou pálido. Em sincronia, Darlan e Bernardo sacaram suas espadas.

E em um ato de desespero, Enri se virou e gritou:

― PAREM!

Mas foi tarde demais.

Assim que o berro do homem de cabelo amarelo soou, a carruagem dourada entrou no cruzamento. Foi então que Tércio viu...

Nas ruas à esquerda e à direita do cruzamento, encontrava-se um grupo com um pouco mais de dez homens de cada lado. E todos possuíam arcos e flechas, e pareciam prontos para atirar.

Quando viram as setas apontadas para elas, as gêmeas cobriram a cabeça com as mãos e começaram a berrar. Isaac logo se encolheu no banco da carruagem e fechou os olhos o mais forte que pôde. Serena, em contrapartida, tentou desesperadamente pegar a bolsinha de pano que estava pendurada em seu pescoço. Mas o nervosismo era tanto que se atrapalhou toda e acabou derrubando as pedras que recebeu de presente no chão.

Tércio foi o único que não entrou em pânico. Ele se levantou e em suas mãos brotaram dois pontos azulados, que dançaram vividamente.

E então, um assobio uivante soou. No momento em que a carruagem dourada entrou no cruzamento, as flechas foram disparadas e voaram em sincronia para o mesmo alvo.

Arthur, que estava montado em seu cavalo, do lado de fora, saltou sobre o teto do veículo, desviando assim das flechas que voavam em sua direção. Mas antes de fugir, ele acertou os calcanhares no animal que relinchou alto e disparou sem nenhum controle para fora da confusão.

O som aterrorizante das flechas se chocando contra a carruagem ecoou pela vila, emitindo um tilintar agudo e perturbador. Serena e os outros taparam os ouvidos e fecharam os olhos, como se estivessem tentando espantar um sonho ruim. Porém o caos não durou por muito tempo e após o barulho assustador, seguiu-se um silêncio agonizante.

― Arthur, você está bem? ― gritou Tércio, que não se atreveu a colocar a cabeça para fora do veículo.

― Estou! E você? ― respondeu o rapaz de cabelo curto, cacheado e tom acobreado, que usava bermudas largas.

Aham! ― disse o Atroz de qualquer maneira.

A voz de Tércio estava alarmada, mas não carregava traços de medo ou coisa do tipo. E foi isso que permitiu Serena abrir os olhos, apesar do coração batendo forte e o temor de encontrar um desastre. Ela sentiu que não havia nada de errado com o seu corpo, porém temeu pela segurança dos amigos. E para o seu profundo alívio, ninguém havia se machucado. As gêmeas estavam se abraçando e soluçando, Arthur continuava encolhido no banco e Tércio se encontrava de pé ao seu lado.

― O que aconteceu? Nós... estamos mortos? ― balbuciou Iris, recusando-se a abrir os olhos.

― Não... Estamos bem ― disse Serena. Seu rosto estava pálido e sua respiração ofegante.

Recuperando um pouco de coragem, apesar das pernas bambas, Isaac se levantou e olhou em volta.

― Eu pensei que fossemos morrer ― murmurou ele, com a voz tremendo.

― Essa carruagem é mais forte do que parece! ― comentou Tércio andou para o lado e colocou a mão sobre o casco do veículo e, em seguida, bateu algumas vezes na madeira usando os nós do dedo indicador.

― Deve ser por causa das runas ― lembrou Serena, após se acalmar.

― Como assim? ― perguntou o ex-condenado, curioso. Ele se lembrou que Eliza havia lhe dito que os uniformes da Equipe de Subjugação estavam equipados com runas de ajustamento, mas não fazia ideia de que existia runas capazes de parar flechas.

― Algumas carruagens do meu avô são protegidas por runas ― informou Serena, resumindo qualquer explicação que pudesse pensar. Lembrar de fato a deixou um pouco mais tranquila.

Não apenas ela, mas Isaac e as gêmeas também se sentiram mais seguros quando descobriram sobre isso. Porém, essa segurança não durou por muito tempo, pois quando olharam pela janela, notaram que os homens desconhecidos estavam se preparando para voltar a atacar. E isso não era tudo, já que mais dez homens apareceram na retaguarda, impedindo que o grupo pudesse recuar.

A situação era desesperadora e piorava a cada instante. Eles haviam caído como patos em uma armadilha e agora estavam quase que completamente cercados, sem falar que o número de inimigos supera o de cavaleiros. E mesmo a única rota de fuga, que era seguir em frente, parecia ser uma armadilha.

No entanto, eles não seriam derrotados com tanta facilidade. Afinal aquele grupo era composto por Cavaleiros Reais do reino de Aurora, e membros da Equipe de Subjugação, que diziam ser tão fortes quanto.

― Protejam a carruagem dos jovens nobres e eliminem os inimigos! ― bradou Enri, exibindo grande bravura enquanto brandia sua espada com o braço que não estava ferido.

E sob esse grito de guerra, os cavaleiros atacaram sem qualquer hesitação. Darlan e Bernardo se separaram e avançaram em direção aos arqueiros ― cada um indo por uma via. E o restante disparou contra aqueles que estavam bloqueando a retaguarda.

No momento em que os combatentes avançaram, os arqueiros dispararam mais uma onda de flechas. Só que, desta vez, as setas também vieram da parte de trás. Contudo, eles eram homens treinados e agora que estavam com a guarda alta, não tiveram problemas para desviarem do ataque inimigo. Em especial os Cavaleiros Reais, que rebateram tudo usando suas espadas.

Com a aproximação dos cavaleiros, os inimigos logo largaram seus arcos e flechas, puxaram as espadas que se achavam em suas cinturas e avançaram ferozmente em meio a berros selvagens. E neste tempo, uma batalha sangrenta estourou, acompanhada pelo barulho estridente das armas cortantes se chocando.

― Vocês estão bem? Alguém se feriu? ― Enri apareceu ao lado da carruagem dourada, montado em seu cavalo. Seu tom de voz era urgente e pelo desespero estampado em seu rosto, via-se sua preocupação, preocupação essa que não era dirigida a Tércio, e sim Serena e os outros nobres.

― Estão todos bem! ― garantiu Arthur, que continuava em cima do veículo.

― Ei! Quem são esses caras? ― questionou Tércio, colocando a cabeça para fora da janela.

― Eu não sei! Talvez sejam apenas bandidos ― respondeu Enri. ― De qualquer forma, você e Arthur peguem cinco cavaleiros e sigam em frente, nós vamos atrasá-los.

― Seguir em frente? Mas isso deve ser uma armadilha. ― Alertou Arthur. ― Não deveríamos acabar com esses caras primeiro?

― Eu sei disso, mas ficar parado aqui é muito perigoso! Vocês seriam alvos fáceis. Sigam em frente e foquem em se proteger e fugir. Não parem para combater. Apenas fujam. Eu lhes alcançarei assim que possível ― dizendo isso, o homem de braço quebrado bateu os calcanhares na cintura do cavalo e disparou rumo à retaguarda.

Percebendo que estariam por conta própria, Tércio abriu da carruagem, saiu e se pendurou ao lado dela, apoiando-se em um suporte que estava fixado no teto.

― O que vamos fazer? ― perguntou à Arthur.

Naquele instante, a dúvida e hesitação tomou conta do rosto do líder de esquadrão da Equipe de Subjugação. Ele mirou os confrontos irrompendo e depois olhou para frente. Por fim, encarou o companheiro de equipe por um instante. E foi nesse ponto que tomou sua decisão.

― Por enquanto, vamos fazer o que Enri nos disse para fazer.

― Tudo bem! ― concordou Tércio. ― Vocês, fiquem aqui dentro ― ordenou, apontando para Serena e os demais. Em seguida, ele fechou a porta da carruagem, deu a volta e se sentou ao lado do cocheiro enquanto Arthur continuou no teto.

Ei, vocês! ― O rapaz de cabelo encaracolado chamou os cinco cavaleiros deixados por Enri. ― Vocês vão na frente, mas não se afastem muito!

Não ousando desobedecer à ordem que receberam, os cinco homens logo assumiram a vanguarda e dispararam rumo à saída da vila ― mas é claro, sem se afastar muito.

― Se não quiser morrer, vá o mais rápido que puder ― disse Tércio ao cocheiro, um homem de roupas simples e um rosto apavorado, que balançou o seu chicote e pôs os cavalos a correr o mais rápido que podiam.

Enquanto isso, a batalha entre os cavaleiros e os “ladrões”, que havia acabado de começar, estava... Como posso dizer... Injusta!

Com a partida de Tércio e Arthur, acompanhados por mais cinco outros homens, o grupo de cavaleiros que enfrentava os agressores, liderados por Enri, estavam agora com apenas treze pessoas no total, sendo que os “ladrões” passavam dos trinta.

No entanto, nem mesmo essa vantagem numérica foi capaz de garantir a vitória para o lado inimigo, pois acompanhado aqueles treze homens haviam três Cavaleiros Reais, que superavam todos os outros em força e poder de batalha. Mesmo Enri, que se achava ferido, batalhava de maneira feroz, forçando alguns adversários a recuarem.

Sem demonstrar medo algum, Enri avançou em direção ao grupo de bandidos que estavam bloqueando a retaguarda. Com sua nova espada em punhos, ele balançou a lâmina contra o malfeitor que corria em sua direção.

O “ladrão” levantou sua espada para tentar bloquear o ataque, mas o enviado pela academia não demonstrou piedade e quebrou a arma do inimigo. E com o mesmo movimento, abriu-lhe um profundo ferimento no ombro esquerdo.

Agonizando de dor, o miserável apertou seu ombro ferido com a mão e uivou em um tom melancólico. No entanto, em meio à batalha não havia tempo para choramingar e ele percebeu isso quando, um segundo cavaleiro, atravessou-lhe uma espada nas costas.

Ao mesmo tempo, Enri saltou de seu cavalo e avançou contra os prováveis saqueadores restantes.

À primeira vista, parecia que seria uma vitória fácil. Mas ele logo descobriu que não seria tão simples assim.

Do ponto de vista de um Cavaleiro Real, Cavaleiros Baixos e aqueles ladrões eram apenas camponeses, brincando de balançar um pedaço de aço perigoso. Eles não possuíam qualquer técnica de combate. Era até um pouco risível o modo como lutavam ― mas, o quão arrogante era por pensar assim?

Por causa de sua atitude, que nem mesmo ele se dava conta, quase pagou um preço caro quando um dos “ladrões” desviou de um de seus ataques e no mesmo instante contra-atacou.

Pego de surpresa pelo contra-ataque, Enri mal conseguiu desviar. E como consequência, uma linha vermelha apareceu em sua bochecha. Ele deu alguns passos para trás, recobrando a compostura, e então percebeu. Alguns dos bandidos estavam usando Artes Marciais!

A situação estava indo de mal a pior. O sujeito de cabelo amarelo e braço quebrado, nesse momento, só tinha a sua disposição quatro cavaleiros, enquanto os bandidos possuíam oito homens (sem contar os que já foram derrotados) e entre eles haviam aqueles que sabiam usar Artes Marciais.

Como se já não bastasse a desvantagem numérica e o fato de um de seus braços estar inutilizado, agora o inimigo também possuía vantagem no poder de combate.

Isso era, ou não, uma receita para o desastre?

O “ladrão” que parecia saber usar Artes Marciais avançou contra Enri que bloqueou seus ataques usando o corpo de sua espada, mas foi obrigado a recuar mais alguns passos.

Se antes houvesse dúvida, agora já não mais existia. Aquele bandido de fato estava usando técnicas avançadas de combate.

― Cavaleiros! ― gritou Enri. ― Entre eles, há aqueles que sabem usar Artes Marciais. Fiquem próximos uns dos outros e foquem em se proteger. Nossa missão é pará-los, para que os jovens nobres possam escapar ― bradou com ferocidade, ao passo que agarrava ainda mais forte o punho da espada.

Ali perto, Darlan e Bernardo estavam tendo o mesmo problema.

Em ocasiões normais, um Cavaleiro Real iniciante poderia com facilidade derrotar cinco ou seis pessoas normais em segundos. Mas, quando se enfrenta alguém que também sabe usar Artes Marciais, o resultado de uma batalha se torna imprevisível.

Mesmo Darlan, o mais forte e experiente entre os três, não ousava garantir, imprudentemente, que sairia vitorioso dessa batalha.

 


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