O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 36: O "castelo" do duque

Quando a equipe de escolta estava para passar pelo portão do grifo, Tércio olhou atentamente ao seu redor, virando a cabeça de um lado para o outro, tentando espiar através das sombras e dos arbustos. Sua busca não era para memorizar a deslumbrante paisagem. Existia outro motivo que o fazia olhar com desconfiança para o seu arredor.

Havia uma coisa que estava o incomodando desde que atravessou o muro dividindo a capital. Em momento algum viu guardas ou soldados fazendo patrulhas. Mesmo em frente aos portões, que davam acesso às residências dos nobres, não havia qualquer tipo de segurança.

Por isso, Tércio pensou que os soldados poderiam estar se escondendo nos bosques, mantendo-se à espreita. Afinal, existiam entre esses homens aqueles treinados para passarem despercebidos, ficar invisíveis incluindo entre multidões.

Contudo, ele não viu nem uma única pessoa escondida ou sequer passeando durante o horário de folga, mesmo quando passou pelo portão que levava a residência de um duque.

Para o garoto, isso só servia para demonstrar um desleixo preocupante ou uma autoconfiança arrogante.

Seja como for, ele encarou esse detalhe com curiosidade e continuou acompanhando o grupo enquanto atravessavam o portal. O bando avançou e assim que cruzaram o limite entre a estrada e a propriedade do duque, o portão começou a se fechar... sozinho.

A estrada que levava para o interior do domínio do duque apresentou ao grupo uma paisagem exuberante ― que apesar da pouca iluminação provocada pela copa das árvores que se abraçavam formando um túnel natural ―, repleta de verde e outras cores extravagantes. O odor exalado era de um perfume adocicado, silvestre e que lembrava vagamente um campo ocupado por abelhas.

Entretanto, à medida que eles avançavam, o bosque foi perdendo suas cores e aos poucos Enri e os demais entraram em uma planície que dava acesso a uma extensa colina que exibia um vistoso campo verde.

E foi nesse momento que uma majestosa construção, que se estendia por dezenas de metros no topo do morro, surgiu. Mesmo distante, era possível notar enormes colunas que sustentavam o telhado de uma ampla varanda que cercava toda a fachada da mansão e a lateral.

Embora ninguém tenha avisado, não era preciso muito esforço para adivinhar que aquela era a casa do duque.

Sob a liderança de Enri, o bando rumou em direção à colina. Conforme se aproximavam do topo, o formato da mansão foi ficando mais claro e Tércio percebeu que aquilo se assemelhava mais a um castelo do que de fato a uma simples mansão.

O edifício era gigantesco e apesar da ampla varanda na fachada, era possível notar torres altas, compondo parte da estrutura aos fundos. De longe, a residência se mostrava tão grande quanto à escola que ficava na academia. Mas, de perto, ficava evidente que se tratava de uma construção, no mínimo, três vezes maior.

Diferente do que acontecia na entrada da propriedade, do lado de fora do “castelo” existiam pessoas armadas fazendo a vigilância do local. Mas elas não eram as únicas, pois o lugar estava bastante animado graças à presença de homens e mulheres, trajando uniformes e roupas casuais, vagando de um lado para o outro.

Com Enri ainda na liderança, Tércio e os outros se dirigiram ao casarão que imitava um castelo em certos aspectos através da estrada de lajotas que subia a colina. Entretanto, antes que adentrassem em definitivo os limites da moradia, o Cavaleiro Real controlou seu cavalo para que ele diminuísse sua velocidade e, mantendo uma marcha lenta, continuou avançando.

Naquele momento, quando viu o grupo de estranhos se aproximar, alguns dos guardas parados em frente ao castelo ficaram alarmados e decidiram interceptar a aproximação.

Os dois soldados, liderados por um terceiro desarmado, avançaram a passos lentos à medida que deixava os visitantes irem até eles.

A pessoa que estava comandando os combatentes era um homem que aparentava ter por volta dos sessenta anos e estava usando um longo manto roxo dotado por uma cauda nas costas que se arrastava pelo chão.

― Estávamos à sua espera, guerreiros da Academia Elefthería ― anunciou o senhor, fazendo uma respeitosa saudação.

― Já estava esperando, é? ― balbuciou Tércio, olhando para Arthur com um olhar suspeito.

― Eu sei que vocês recém-chegaram e estão cansados da viagem, mas poderiam me acompanhar? ― A pergunta do desconhecido foi feita para os dois líderes da expedição, que estavam no foco de seu olhar.

O pedido repentino fez Enri e Arthur se entreolharam com certo estranhamento. Mas eles decidiram não se opor ao pedido e logo em seguida saltaram de seus cavalos.

― Será um prazer lhe acompanhar, Sr. Ezio Alle ― disse o Cavaleiro Real de forma respeitosa enquanto curvava a cabeça para frente.

Assim que tais palavras saíram, sem ao menos orientar seus subordinados, Enri e Arthur avançaram em direção a entrada da mansão, supondo que era por aquele caminho que iriam.

Ei, você. ― Entretanto, antes que eles se afastassem, Tércio, com sua maneira rude de falar, chamou por Ezio, que continuava parado no mesmo lugar, como se ainda estivesse esperando por algo. ― Os cavalos precisam descansar. Onde fica o estábulo?

Quando o garoto chamou pelo prestigiado nobre, que servia diretamente sob os comandos do duque, sem demonstrar qualquer tipo de educação, Enri sentiu um calafrio cortar sua espinha. Como temia, seu aviso mais cedo não tinha servido para nada.

Por outro lado, Arthur continuou com a mesma expressão indiferente, do tipo que não tem a menor intenção de intervir, como antes, quando o ataque na floresta aconteceu.

Naquele momento, Ezio Alle estreitou os olhos de uma maneira discreta, mas que produziu um ruidoso aspecto severo. Por alguns segundos ele prolongou uma pausa solene enquanto encarava o rapaz montado no cavalo. E foi só depois de perceber que não estava causando nenhum efeito que decidiu falar:

― Não se preocupe. Providenciarei um lugar para os cavalos repousarem.

Enri não conseguiu esconder a surpresa que tomou conta de sua face. Ele não pensou que o nobre concordaria com o pedido do garoto sem origem, depois de o mesmo ter sido tão desrespeitoso. No entanto, graças a isso, ele pôde respirar um pouco mais aliviado.

Ou foi isso que pensou, até que ouviu a próxima fala de Alle.

― O jovem também é um membro da Equipe de Subjugação, estou certo? ― perguntou enquanto mantinha um olhar atento em Tércio. ― Poderia o jovem nos acompanhar, também?

Assim que terminou de falar, o homem de cabelo quase completamente grisalho encarou o pequeno cavaleiro à medida que aguardava por sua resposta.

― É claro! Eu não tenho nada melhor para fazer mesmo ― respondeu Tércio, dando de ombros. E logo em seguida saltou do cavalo e se juntou ao líder da Equipe de Subjugação da qual fazia parte.

― Pois bem, sigam-me! ― dizendo isso, Ezio se virou e caminhou em direção ao castelo com os dois soldados o acompanhando de perto. E Tércio, Arthur, e Enri, seguiram logo atrás.

Separando o exterior do interior da suntuosa mansão existia uma enorme porta de mogno que passava dos oito metros de altura e dos três de largura. Assim que se aproximaram, o portão se abriu e eles passaram.

Dentro do castelo, encontrava-se um gigantesco saguão. O piso era feito de um mármore de branco puro que se estendia em todas as direções, trazendo uma iluminação requintada ao ambiente luxuoso. E preenchendo o espaço, notavam-se numerosos enfeites dourados como estátuas, quadros e muitas outras esculturas.

Pendurado na parte mais alta se achava um majestoso lustre, duas vezes maior do que uma carruagem, que continha centenas de pequenas Claritas brilhando fracamente. O recinto era rodeado por diversos portais que levavam para lugares distintos do castelo, além de escadas laterais em pontos estratégicos e um tapete púrpura cobrindo o chão e apontando para o corredor principal.

E no final, a metros de distância da porta de entrada e ao lado do extenso corredor forrado, encontrava-se uma escada de madeira, que levava direto para o piso superior, visível de onde estavam.

Tércio e os outros seguiram Ezio até um dos portais, que dava de frente a um largo corredor situado à extrema esquerda e que se encontrava ligado direto a um dos flancos da casa.

A parede do lado esquerdo da passagem estava repleta de janelas espaçosas, o que permitia a luz do sol correr livre pelo local aberto. Ao lado direito, fechado por uma parede, ficam estátuas separadas por dez passos de distância de tamanho real de soldados, estátuas essas que continham uma postura valente e destemida.

Depois que entraram no corredor, Tércio e os outros ainda demoraram para chegar ao destino final, pois a passagem se estendia por mais de cinquenta metros e em certo ponto eles foram obrigados a fazer uma curva para a direita, levando-os a andar por mais alguns metros. Até que enfim chegaram ao fim do extenso passadiço.

No final do corredor havia uma deslumbrante porta branca com entalhamentos dourados em forma de arco. E no centro da mesma, um orgulhoso Grifo estufava seu peito.

Os soldados que seguiam Ezio se posicionaram ao lado da abertura com seus peitos estufados e a cabeça erguida. E ali permaneceram. E o nobre que estava na liderança, sem qualquer hesitação, abriu a porta e entrou.

Do outro lado ficava um comprido salão, ladeado por dezenas de imponentes pilares de pedras, sustentando o teto abaloado. E no final, destacando-se de qualquer outra coisa no recinto, havia um trono simples, feito de madeira velha e ocupado por um homem de presença esmagadora.

Aquele era o Duque Griffon!

Com um pouco mais de dois metros de altura, notava-se que ele era um homem alto, um fato que se destacava apesar de estar sentado. A despeito da idade avançada, seu corpo exibia traços de jovialidade, dotado de músculos desenvolvidos e uma postura firme, inabalável. Seu cabelo, decorado por tons grisalhos, trazia um tom roxo marcante.

Mesmo sentado lá, em seu trono velho feito de uma árvore desgastada, com uma expressão calma, a presença que o homem impunha era opressiva.

E não era para menos, o assim conhecido “Protetor de Aurora” era uma das pessoas mais importantes em todo o reino e também uma das existências mais poderosas em sua história.

Entre as três famílias de duques no reino, os Griffon é a mais antiga e influente de todas. Acima deles apenas a família real.

E o Duque Griffon, o estimado líder, estava acima dessas pessoas que trazia no nome uma história profunda. No entanto, mesmo sem contar com essa posição herdada, ele ainda era um homem respeitado dentro e fora de Aurora.

Quando entrou no salão, Tércio avistou o homem de cabelos roxos e teve logo sua atenção roubada pela impressionante figura. No entanto, ele não era o único que merecia destaque, pois posicionado de ambos os lados do trono havia dois soldados trajando armaduras completamente douradas e trajando suntuosas capas que caiam sobre seus ombros.

Aqueles homens de nomes desconhecidos, apesar de tão calmos e parados, exalavam um ameaçador, que fez Tércio prender a respiração por um segundo. Sem sombra de dúvida eram homens cujo poder sequer poderia ser comparado a alguém tão ordinário quanto Enri.

No entanto, a pessoa mais intimidadora ainda era o homem sentado no trono. Sua postura era majestosa, como se tudo e todos estivessem abaixo dele. Seus olhos eram penetrantes, fazendo parecer que não havia nada que eles não pudessem observar.

Tércio olhou de longe para aquela figura de cabelo roxo com tons grisalhos e logo desvendou sua identidade.

Ele nunca tinha visto o Duque Griffon antes, mas nesse castelo, não havia ninguém que pudesse exercer tanta autoridade com um simples olhar. Sem falar que, os arranjos de Eliza deixaram tudo muito óbvio.

No momento em que viu o duque, Enri estremeceu. Como ele era um cavaleiro Real a serviço daquela pessoa, já havia estado muitas vezes, tanto nessa mansão, quanto no grande castelo localizado no território dos Griffon.

Porém, apesar disso, durante toda a sua vida, jamais tinha se encontrado com o Duque. Aquele homem ainda era uma lenda perdida em seus mais profundos devaneios.

Foi por isso que quando se aproximou do trono de madeira, ele imediatamente se ajoelhou e abaixou a cabeça da forma mais respeitosa possível.

― Meu senhor, Duque Griffon, é uma honra e um privilégio estar em tua presença! ― proferiu Enri em um tom cortês. Ele não ousou levantar a cabeça, nem mesmo para espiar aquele que tanto admirava.

Arthur também nunca tinha visto o duque antes, por isso não reconheceu de imediato o velho sentado no trono de madeira. Mas no momento em que viu Enri se ajoelhar, com uma expressão de choque no rosto, ele o imitou e se prostrou.

Outra pessoa que reverenciou o prestigiado nobre no momento em que se aproximou foi Ezio Alle. Mesmo que já tivesse uma relação estreita com o duque, ainda assim agiu de forma respeitosa.

O único que se manteve indiferente, com a mesma expressão mundana de sempre, foi Tércio.

Ele não se prostrou e nem reverenciou o chefe da casa, pois aos seus olhos, ninguém naquele salão era superior a sua pessoa.

Percebendo que apenas uma pessoa estava ajoelhada ao seu lado, Enri, ainda de cabeça baixa, correu os olhos ao seu redor e quando viu que Tércio continuava de pé, gotas de suor frio escorreram por sua testa.

O Cavaleiro Real sentiu que seus piores temores estavam para se tornar realidade.

 


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