O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 32: O poder dos Encantamentos Mágicos

A tropa de cavaleiros estava correndo o mais rápido que podia, mas isso não foi o suficiente.

Do lado direito da floresta era possível escutar sons de: “Boom” “Boom”; cada vez mais próximo.

Árvores estavam sendo arremessadas enquanto, seja lá o que for aquilo, chegava cada vez mais perto. O chão tremeu, fazendo as pedras pularem apavoradas. Era como se o responsável pelo fim do mundo estivesse se aproximando.

Os cavaleiros olharam aflitos para a floresta. Eles não faziam ideia do que estava se aproximando, mas de uma coisa tinham certeza: tratava-se de uma criatura assustadora, condenada pelos justos a viver em reclusão.

Os cavalos não escaparam da agitação e à medida que os estrondos e tremores se aproximavam, seus relinchos desesperados aumentavam. Em diversas ocasiões, os homens e mulheres os montando precisaram se segurar para não serem derrubados, pois os animais estavam à beira de se lançarem ao mundo da loucura e do horror.

Arthur se achava sentado ao lado do cocheiro enquanto esse comandava a fuga através de gestos bruscos. Já Tércio estava ao lado da carruagem de seu companheiro, galopando com seu cavalo e puxando os outros em uma fila organizada.

― Que coisa é essa? Parece ser gigante! ― gritou o rapaz de olhos escuros e cabelo mal cuidado.

― Talvez nós tenhamos que nos envolver desta vez ― respondeu Arthur, mantendo um olhar atento na floresta.

Ha! ― Tércio deu um meio sorriso. ― Ainda é “talvez”?

Estavam todos alarmados. O medo podia ser visto se espalhando pelos rostos dos combatentes. A opressão causada pela chegada da criatura misteriosa era tamanha que, apesar de estarem entre os melhores do grupo, alguns dos membros da Equipe de Subjugação colocaram a cabeça para fora de seus veículos e procuraram em meio às sombras do cair da noite a origem do temor que abalava seus corações. Poucos dos ali presentes não se deixaram intimidar pelos barulhos assustadores que vinham da floresta.

A tropa de cavaleiros continuou correndo o mais rápido que pôde, tentando de alguma forma conseguir uma vantagem. Mas então, a criatura abominável que os perseguia enfim apareceu.

Ao lado da estrada, correndo entre as grandes árvores e derrubando as pequenas, uma besta gigantesca se aproximou da equipe de escolta.

A altura exata do monstro não se sabia, mas com certeza passava dos sete metros quando ainda sustentado pelas quatro patas. Sua cabeça lembrava a de um lobo, com dentes saltando de sua boca do tamanho de um braço humano. Seus longos pelos, grossos e eriçados, possuíam um tom cinza mesclado com preto. Seus membros eram longos e achatados e de certa forma se assemelhavam aos de humanos. Porém, suas garras eram compridas e afiadas como espadas.

O monstro corria entre as árvores de uma forma estranha, que lembrava um homem imitando um animal ― usando os pés e as mãos ao mesmo tempo que se impulsionava para frente.

Oh! Isto é raro. Um Varcolac! ― disse Arthur com uma expressão alarmada no rosto.

― O que? ― perguntou Tércio em voz alta.

― Eu não sei muito sobre eles, tudo o que eu sei é que: Varcolacs são muito raros de se encontrar e... poderosos! ― Existia na voz de Arthur. ― Acho que Enri não vai conseguir vencer sozinho.

Assim que o colega acabou de falar, Tércio olhou para o Cavaleiro Real e notou que o mesmo tinha uma expressão complicada no rosto. Sendo ele um dos líderes da expedição, responsável por garantir o sucesso na missão, entendia muito bem quais eram as suas próprias chances.

― Ele deve ter sentido o cheiro de sangue. Parece que estamos sem sorte ― acrescentou Arthur.

O Varcolac se aproximou da tropa pela lateral da estrada. Existia frieza em sua ação, pois apesar de ter pernas maiores e de estar perto o suficiente para lançar o primeiro ataque, a abominação esperou. Seus olhos amarelos estudaram as presas, fitando cada um dos rostos apavorados o encarando.

Os cavaleiros olharam para aquilo horrorizado. Por instinto, puxaram suas espadas e ergueram as lâminas. Mas os braços trêmulos demonstravam que cada homem e mulher não tinha esperança na vitória. Mesmo o seu comandante, Enri, estava abalado pela aproximação grotesca.

Usando suas patas para saltar longas distâncias, o Varcolac invadiu a estrada, obrigando a caravana a passar por cima do acostamento lateral, e ficou lado a lado com a tropa. As pessoas puderam sentir o bafo hediondo escapando da boca entreaberta da criatura. Seus “passos” provocavam tremores que faziam a estrutura das carruagens tremer.

E foi nesse ponto que o desastre começou.

O Varcolac balançou o braço esquerdo e como se estivesse varrendo insetos, jogou sua pata monstruosa contra a vanguarda.

Suas garras, sem sequer fazer esforço, rasgaram a estrada de um canto ao outro, abrindo quatro enormes fendas no chão. Cavaleiros, cavalos e carruagens foram arremessados para longe em uma visão infernal de vulnerabilidade e hediondez. Sangue foi esguichado para o alto, cobrindo a vegetação do outro lado com vermelho carmesim.

O barulho dos gritos dos cavaleiros sendo dilacerados, dos berros dos cavalos e a cacofonia horrível da destruição foi encoberta pelo som estrondoso que aquele simples movimento causou.

Mas o monstro ainda não estava satisfeito.

O Varcolac abriu sua boca descomunal, expondo fileiras de presas afiadas e gigantes, e abocanhou um cavaleiro e seu cavalo. O animal relinchou enquanto se contorcia, tentando fugir. E o homem gritou em desespero, balançando sua espada de um lado para o outro. Mas de nada adiantou seus esforços.

O sangue escorreu pela boca da besta junto da saliva que pingava pelo chão durante sua corrida bestial. Seu pelo acinzentado ficou salpicado de vermelho e os olhos amarelos vibraram de alegria.

Quando viu aquilo, o rosto de Enri se contorceu em fúria. Ele puxou a espada e guiou sua montaria até a fera.

Mas o movimento furioso ativou os sentidos aguçados do Varcolac, que “sentiu” a ameaça se aproximando. E então, através de um gesto simples e casual, a besta balançou o braço para o lado e, com as costas de sua pata, atacou o desafiante.

Embora ordinário e sem intenções assassinas, o ataque foi tão poderoso que o mero deslocamento da pata criou lufadas que balançaram as carruagens e derrubaram alguns cavalos.

Enri, em posição de batalha, segurou firme sua espada e, usando o mesmo golpe que usou para matar o Cão Negro Líder, contra-atacou a pata do Varcolac.

A espada do Cavaleiro Real atravessou o membro da criatura, como um espinho perfurando o pé de um sujeito desavisado andando descalço pela mata.

Contudo, aquilo foi incapaz de parar ou bloquear a investida da besta, que sequer se incomodou.

Enri e seu cavalo foram atingidos em cheio pelas costas da pata do monstro. O animal não resistiu ao impacto e foi destruído instantaneamente. Seus restos desapareceram entre a vegetação, poupando aos demais de uma visão hedionda. O comandante de cabelo amarelado e olhos castanhos, que recebeu a maior parte do dano, teve sua armadura espatifada e foi atirado contra o chão, batendo na estrada e rolando sem qualquer controle.

O homem foi jogado com tanta força que, antes de enfim parar, seu corpo levantou uma nuvem de poeira rasteira e abriu diversos buracos na terra, causando uma trilha de destruição. E mesmo conseguindo sobreviver ao ataque, o impacto foi tão grande que por alguns segundos ele perdeu a consciência.

Os cavaleiros, quando viram seu comandante ser derrotado com tanta facilidade, ficaram horrorizados. E contra qualquer ato de racionalidade, abalados pela derrota marcante, eles pararam o avanço da tropa e quiseram voltar para resgatar o amigo.

Mas no segundo seguinte, todos ali presentes entenderam o erro que cometeram.

No momento em que a tropa parou de avançar, Varcolac, em um movimento ligeiro e inteligente, saltou para frente e bloqueou a estrada com seu corpo gigante. E foi nesse momento que sua estatura descomunal foi revelada.

Assim que bloqueou a passagem, o monstro olhou sedento para as ovelhinhas que estavam ao alcance de suas garras. E então, ele lentamente tirou suas patas dianteiras do chão e ergueu o corpo, ficando de pé como um ser humano.

Quando estava correndo, Varcolac parecia ter por volta dos sete metros. Mas agora que estava em pé, sua altura chegava aos quinze metros, alcançando a copa das árvores mais altas na beira da estrada.

Nessa postura, a criatura parecia ser um homem peludo e corcunda que passou por uma transformação hedionda, deixando-o semelhante a um lobo. Seus braços eram tão compridos que os dedos de sua mão quase se arrastavam pelo chão.

Os cavaleiros ficaram estarrecidos. Mesmo montados nos cavalos, suas pernas tremiam. Jamais em suas vidas eles tinham visto um monstro tão assustador. Aquela criatura horrenda, sem sombras de dúvidas, era a definição da própria morte.

Varcolac deu um passo à frente e a terra sob seus pés cederam, causando um enorme buraco com o formato de seu pé. Muitos cavalos relincharam apavorados. Seus instintos de sobrevivência berravam, dizendo-lhes para fugir. Alguns conseguiram enfim derrubar seus donos e correram para a floresta.

Os animais que Tércio estava puxando entraram em desespero e quase o derrubou, obrigando o garoto a queimar a corda que os prendiam. Quando se libertaram de suas amarras, galoparam a toda velocidade para dentro da mata.

Os soldados queriam seguir o exemplo daqueles cavalos e fugir o mais rápido que pudessem, mas eles não sabiam como fazer isso.

Entretanto, quando todos achavam que tudo estava perdido, um berro de alguém reunindo suas últimas forças e coragem soou a distância.

Mesmo com o corpo coberto de sangue, o braço esquerdo contorcido de uma maneira repugnante e diversos ossos quebrados, Enri se ergueu para uma última luta.

Ele não tinha mais sua espada e nem sua armadura, mas ainda assim não se deu por vencido.

AAHHH! ― O Cavaleiro Real saltou da floresta e correu ferozmente de encontro ao Varcolac. Com o punho fechado, ele se preparou para as consequências de sua ação impensada.

Varcolac olhou para o adversário que corria em sua direção e balançou suas garras de encontro a ele, como se fosse esmagar uma barata.

Enri não recuou e continuou em frente, indo de encontro às patas pesadas, que eram tão grandes quanto ele.

“Boom!”

Um barulho estrondoso ressoou. E fragmentos de terra voaram para todos lados.

Muitos cavaleiros apertaram os olhos para tentar ver o que havia acontecido ― para saber se seu comandante continuava vivo.

Foi então que a voz de um conhecido surgiu:

Ei, ei! Você deveria ir com calma. A gente ainda não estava nem na metade do caminho. Ao invés de tentar se matar, porque não pediu nossa ajuda? ― A alguns metros do lugar em que o impacto aconteceu, Arthur estava caminhando enquanto arrastava Enri, que se encontrava desmaiado, pelas pernas.

― Comandante Enri! ― exclamaram alguns soldados emocionados. Eles não queriam que seu comandante, que se esforçou tanto, morresse dessa forma.

Nesse ponto, Tércio já tinha descido de seu cavalo e estava olhando para Arthur com certa surpresa. O companheiro foi tão rápido que quase o perdeu de vista. Em um instante ele gritava para o cocheiro correr e no outro tinha desaparecido.

Como Arthur praticava Artes Marciais, Tércio já tinha imaginado que ele fosse forte. Mas depois de testemunhar essa velocidade incrível, o rapaz das cicatrizes estava espantado, pois o colega era ainda mais rápido do que o Cavaleiro Real.

Segurando o comandante ferido pelo tornozelo, o líder de uma das Equipes de Subjugação olhou para o novato e falou:

― Nós vamos distraí-lo e enquanto isso...

Mas antes que Arthur pudesse terminar de falar, algo chamou sua atenção.

Um rapaz elegante, de dezoito anos de idade, estava calmamente andando em direção ao Varcolac. O jovem vestia um uniforme da Equipe de Subjugação e tinha um semblante arrogante enquanto encarava o monstro.

Aquele era Alec, o garoto que repreendeu Arthur pelo atraso ao deixar a academia.

O garoto, que usava gel em excesso no cabelo, caminhou até ficar de frente para a criatura. E a despeito de sua expressão arrogante, ele estava tranquilo, diferente do monstro.

No momento em que o rapaz se aproximou, o Varcolac emitiu um rugido furioso e tentou esmagar o “inseto” com seus pés gigantes. Mas então, quando estava com o joelho flexionado, algo o impediu de continuar o ataque.

No momento em que Varcolac ameaçou a atacar, Alec usou um tom firme para murmurar algumas palavras.

― Obedeçam-me! Prendam meus inimigos!

Assim que as palavras do garoto de cabelo bem aparado e rosto quadrado saíram, o chão começou a tremer. As árvores se agitaram como se estivessem sendo atingidas por tornados. Frestas foram abertas na estrada e em todo o terreno ao redor. E de repente dezenas de cabos parecidos com cordas da grossura de um braço rasgaram o solo e se lançaram contra os membros das criaturas, selando seus movimentos.

― Isso são raízes? ― perguntou um cavaleiro, espantado com a cena.

O que estava prendendo os membros do monstro eram as raízes das árvores que se encontravam nas proximidades. Elas foram erguidas do chão e se enroscaram ao redor dos braços e pernas da besta, como se fossem serpentes abraçando sua presa.

Porém, aquilo ainda não era o suficiente para parar por completo aquela criatura aterradora.

ROOAARR! ― O Varcolac soltou um rugido feroz e começou a puxar as raízes com toda a sua força, abrindo fendas enormes na estrada.

Algumas das árvores, que estavam próximas do monstro, balançaram violentamente conforme eram arrancadas do chão com ferocidade. E, consumido pela ira, o monstro as jogou contra as tropas, aumentando ainda mais a destruição e o desespero.

Os cavaleiros logo trataram de se esquivar do ataque, mas ainda teve aqueles que não tiveram tanta sorte. Eles foram arrastados pelos troncos junto de suas carruagens e cavalos.

Até mesmo os outros membros da Equipe de Subjugação tiveram que desviar do ataque, pois suas carruagens foram arrastadas para longe e destruídas.

Alec, por outro lado, continuava calmo. Não tinha sido intimidado pelo contra-ataque do Varcolac. E sem dar chances de o monstro atacar outra vez, ele entoou com uma voz imponente:

― Obedeçam-me! Dilacerem meus inimigos!

Nesse momento, centenas de raízes, finas e grossas, destruíram a estrada quando saltaram para fora do solo. Elas correram como cobras, serpenteando em conjunto com sutileza mas perigo. E novamente envolveram os membros da besta, que tentou se soltar. Mas foi inútil.

As raízes, com uma ferocidade indescritível, subjugaram o monstro, forçando o seu corpo gigantesco a cair impotente no chão. Seu pescoço, focinho, braços e pernas foram presos, impossibilitando-o de se mover. E então, quando Varcolac perdeu a chance de se movimentar, seus membros começaram a ser esticados em direções opostas.

O Varcolac rugiu miseravelmente enquanto batia a cabeça contra o chão, na esperança de que isso aliviaria a dor. Seus membros estavam sendo rasgados, arrancados de sua carne. Mas a dor de ter a sua pele sendo rasgada à medida que seus músculos e ossos eram deslocados era insuportável.

A criatura se debateu e tentou se libertar. Seus rugidos ecoavam pela floresta, obrigando bandos de aves a abandonarem o sono e fugirem para longe. Mas antes que a besta tivesse qualquer chance de escapar, de repente as raízes se juntaram como se fosse uma lança e perfuraram o seu coração, calando-o.

Um silêncio enlouquecedor tomou conta dos soldados que assistiram a luta. Ninguém sabia o que falar.

Mesmo Enri, que era um Cavaleiro Real, não foi páreo para Varcolac. Mas este garoto, que sequer tinha se formado, derrotou o monstro em um instante.

Triunfante, Alec olhou para os cavaleiros com uma expressão severa e sibilou com certa frieza:

― Por perderem tempo enterrando aqueles estrumes, fomos atacados. Espero que tenham aprendido a lição.

Após dizer isso, ele saiu rumo a sua carruagem, que também havia sido arrastada pelo último ataque do Varcolac.

 


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