O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 31: Cão Negro

GRRR!

Quando perceberam que os cavaleiros tinham notado sua presença, os Cães Negros abriram mão de uma emboscada e se prepararam para um ataque direto.

Rosnados intimidadores surgiram de diferentes partes conforme o som da vegetação seca sendo pisoteada ficou mais intenso. A cada instante, mais vultos apareciam. Porém, eles ainda se esforçavam para ficar ocultos atrás das árvores e arbustos.

Os cavaleiros que haviam descido de seus cavalos, formaram uma linha defensiva do lado esquerdo e direito da estrada, ficaram ainda mais atentos à medida que o barulho de pegadas aumentava. Com as espadas em mãos, eles fixaram o olhar dentro da floresta, tentando de alguma forma enxergar o que as sombras escondiam.

Os rosnados foram ficando mais fortes e mais altos. Os Cães Negros estavam cada vez mais próximos.

Então, do nada, silêncio.

Os Cães Negros pararam de fazer qualquer barulho. Era como se eles nunca tivessem estado ali. Estava tudo calmo, tão calmo que o barulho de insetos desapareceu e os ruídos da floresta morreram.

Prevendo o que estava preste a acontecer, os cavaleiros prenderam suas respirações e apertaram fortemente o punho de suas espadas. o olhar temeroso em seus rostos encarava cada deformidade sombria escondida atrás das árvores com pavor, como se fosse um monstro hediondo que pudesse matá-los.

Depois de um longo silêncio torturante, quando parecia que tudo não passava de uma alucinação, um único vulto preto saltou de trás de uma moita.

Tratava-se de uma criatura semelhante a um cachorro raivoso, espumando pela boca enquanto exibia seus dentes amarelos e encarava a presa com olhos loucos. Suas presas eram maiores do que o dedo indicador de um homem adulto. O monstro passava de um metro e meio de altura, quase tão grande quanto um cavalo. Seus pelos eram pretos, tão pretos que a luz do sol se perdia em meio aos fios.

Tércio se surpreendeu quando viu o monstro. Não pensava que algo tão grande poderia ser tão discreto.

O monstro corajoso, que se dispôs a investir sozinho contra o grupo inimigo, mirou em um dos homens que estava na ponta da linha de defesa que havia sido formada do lado direito da estrada.

O Cão Negro soltou um rosnado ameaçador, abriu sua enorme mandíbula cheia de dentes amarelados e correu com ferocidade em direção ao alvo. E por mais que seu tamanho fosse colossal, sua investida foi sutil, veloz e precisa.

O cavaleiro, por sua vez, brandiu sua espada com confiança e desferiu um ataque contra o rosto da besta selvagem que tentava ceifar sua vida.

O Cão Negro emitiu um uivo de lamentação quando teve seu olho esquerdo cortado e rolou pelo chão agonizando de dor. Mas logo se levantou e se preparou para correr de volta para a floresta.

Porém, antes que o animal gigante conseguisse fugir, uma mulher apareceu ao seu lado com a espada erguida, pronta para decepar a cabeça da fera.

Mas então, como se estivessem esperando por esse momento, três Cães Negros saltaram de trás das árvores ao mesmo tempo. O alvo deles era a cavaleira erguendo o metal.

Em um instante, um dos três Cães agarrou a jugular da mulher e os outros dois morderam suas pernas, quebrando-as como se fossem gravetos e puxando-as em direções opostas.

A pobre coitada tentou gritar, mas tudo o que conseguiu fazer foi soltar gemidos de dor.

Os outros rapidamente se adiantaram na esperança de salvar sua companheira. Mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, mais de trinta Cães Negros pularam para a estrada.

Em um instante o caos da batalha se espalhou. A formação defensiva montada a um instante atrás foi quebrada com facilidade e uma situação complicada e sangrenta tomou conta da cidade, quando os animais passaram a pular sobre os homens e agarrá-los pelas costas.

A mulher que teve suas pernas quebradas foi arrastada para dentro da floresta em meio a berros de desespero. Ela se debateu tentando salvar o pouco de vida que lhe restava, mas foi inútil.

Os homens que estavam do lado esquerdo da estrada quiseram ajudar seus companheiros, mas não tiveram tempo, pois outros vinte Cães negros surgiram do seu lado.

A batalha contra os caninos se intensificou. Eles estavam em menor número, mas não em desvantagem. Toda vez que um membro da matilha parecia estar em perigo, outro prontamente se dispunha a ajudá-lo. A coordenação deles era perfeita.

E essas situação deixava os cavaleiros ainda mais indefesos.

Dois homens fortes e altivos engajaram em uma batalha contra um único animal e quando estavam prestes a matá-lo, dois outros Cães os atacaram pelos flancos e abocanharam as suas cabeças em uma sincronia que parecia ter sido ensaiada.

A batalha se tornou mais sangrenta do que qualquer um havia previsto. Em segundos, mais de quatro cavaleiros já haviam morrido enquanto outros foram arrastados para a floresta e o número de feridos apenas aumentava.

Se continuasse assim, seria uma vitória esmagadora para os monstros.

Por outro lado, os membros da Equipe de Subjugação estavam sentados em suas carruagens, assistindo o massacre.

― A gente não vai mesmo ajudar? ― perguntou Tércio que continuava calmo, passeando os olhos ao redor do campo de batalha. Era como se a vista horrenda, o odor visceral ou os gritos agonizantes não o perturbasse em nada.

― Não precisa. Veja! ― disse Arthur, apontando para o embate que acontecia do lado esquerdo da estrada. Na qual o número de Cães Negros era menor. O jovem líder da expedição não estava tão relaxado quanto o parceiro. Seu rosto tinha sido tomado por uma brancura fantasmagórica. E gotas de suor pingavam de sua testa. Mas ele sabia que precisava se controlar e não agir por impulso.

Tércio olhou para o lugar que Arthur apontou e, logo atrás da primeira linha defensiva, viu Enri caminhando com sua espada em mãos.

A espada do sujeito do sujeito orgulhoso que permanecia de cabeça erguida apesar da situação catastrófica era semelhante à dos outros cavaleiros normais. No entanto, ela era um pouco maior e possuía uma linha dourada no centro do objeto metálico dotado de dois fios cortantes, que ia do cabo até a ponta.

Enri, até então, estava comandando seus subordinados, tentando manter a formação para que assim as baixas fossem reduzidas. No entanto, a situação só piorava. E antes que pudesse fazer qualquer coisa, outros dois foram arrastados para a floresta. Foi nesse ponto que decidiu agir.

O comandante caminhou até o lado esquerdo da estrada e, no momento em que se aproximou da batalha, um Cão negro saltou contra ele.

O monstro estava tentando usar a mesma tática que seus companheiros usaram no começo da disputa: fazer-se de isca enquanto dois membros da matilha se aproximavam pelos flancos.

Porém, no instante em que o animal deu início a sua abordagem, sem ao menos entender o que tinha acontecido, seu sangue jorrou como se tivesse sido esguichado de uma fonte de água descontrolada.

Com um único movimento de sua espada, Enri partiu o animal ao meio.

Logo em seguida, dois outros Cães Negros investiram contra o inimigo autoritário. Mas em um piscar de olhos suas cabeças foram degoladas.

Enri era implacável! Ele avançou, matando Cão por Cão, sem qualquer dificuldade. Sua força sequer podia ser comparada à dos outros homens e mulheres.

― Até que ele é forte ― comentou Tércio um tanto impressionado.

A decisão do Cavaleiro Real de se juntar a batalha trouxe uma virada impressionante e imediata. Os Cães Negros remanescentes foram caçados e eliminados em sequência por alguém que não sofreu um único arranhão.

No meio do cerco que lutava para conter o avanço dos animais, Tércio continuou ao lado de Arthur enquanto assistia Enri se dirigir, junto de alguns homens e mulheres, para o outro lado da estrada. Lá o número de monstros era maior, um total de vinte e quatro sobreviventes.

Não querendo perder mais nenhum cavaleiro, Enri correu para o campo de batalha sobrando a passos largos. E, demonstrando sua força, assim que alcançou o caos, matou dois animais que tentavam arrastar um combatente para a floresta. Mas quando se preparava para matar o terceiro, um rosnado alto ecoou da floresta.

GRRRRR!

Quando ouviu o som ameaçador, agindo como se tivessem recebido ordens, os Cães Negros começaram a recuar aos poucos, mas sem dar as costas para seus inimigos.

Preocupado, Enri olhou para a direção do barulho e lá, parado ao lado de uma árvore, o encarando com sede de sangue, havia um Cão Negro que passava dos dois metros de alturas. Suas presas eram duas vezes maiores do que os outros da sua espécie. E os olhos possuíam uma tonalidade sangrenta, macabra.

Aquele era o líder.

O líder dos monstros avançou um passo de cada vez, calmo e centrado. Ele encarava o comandante de cabelo amarelo com tal profundidade que poderia causar arrepios em uma alma fraca. Este era um desafio claro e direto para uma batalha.

E Enri, sem medo algum, aceitou o duelo.

Ele apontou sua espada para o Cão Líder e se preparou para atacar.

Mas a besta gigante foi mais rápida e disparou em uma animalesca corrida contra o oponente. Ele saltou e abriu sua boca enorme, capaz de partir a coluna de um cavalo ao meio em uma só bocada.

O ataque foi tão rápido que quando Enri percebeu, podia respirar o bafo podre que vinha da boca da criatura.

Sentindo o perigo, o homem de olhos castanhos saltou para trás, desviando das presas do monstro. Mas quando fez isso, no mesmo instante, uma pata pesada bateu em seu peito, fazendo-o rolar por vários metros.

Enquanto rolava sem qualquer controle, Enri saltou para o alto, usando suas mãos para se impulsionar, e assim conseguiu recuperar o equilíbrio após uma extraordinária cambalhota. Mas quando estava para pousar no chão, uma mandíbula que não demonstra piedade para com seus oponentes já se encontrava ao seu alcance.

O comandante vestindo prata e dourado não era um Cavaleiro Real novato. Já faz dois anos que havia subido de posto e sua experiência em batalha era vasta. E apenas por isso  podia enfrentar tal oponente assustador sem nenhum medo.

Quando o Cão Negro Líder estava prestes a devorá-lo, Enri sentiu o tempo desacelerar, um minuto pareceu uma hora. Sua adrenalina atingiu o auge. E então, ele se lembrou de cada movimento que aprendeu enquanto treinava Artes Marciais, cada técnica, cada golpe, todos passaram por sua cabeça.

Experimentando níveis anormais de adrenalina e coragem, ele brandiu a espada o mais alto que seus braços podiam esticar e...

“Woosh”

O metal assobiou enquanto descia cortando o ar. Sem que tivesse tempo para gritar ou fugir, o Cão Negro Líder foi partido ao meio.

Mas o impacto do golpe não parou por aí. Após cortar o monstro gigante como se fosse uma simples folha, a ponta da espada colidiu contra o chão e um estrondoso “Boom” soou. Uma enorme rachadura se espalhou pelo solo, fragmentos de terra voaram para todos os lados e uma densa nuvem de poeira surgiu.

O encarregado de liderar os cavaleiros pousou no chão sem nenhum ferimento à vista. Seu tórax subia e descia em um movimento ofegante que podia ser notado apesar da armadura pesada. E a ponta de sua arma continuava tocando o chão.

Os cavaleiros olharam para o seu comandante espantados. Sabiam que Enri era forte, mas muitos nunca imaginaram que ele possuía esse poder assustador.

Os monstros remanescentes, vendo o seu líder caído no chão, logo fugiram para a floresta em debandada, cada um correndo para uma direção diferente.

Foi então que os cavaleiros sobreviventes soltaram gritos de vitória enquanto balançavam seus punhos em euforia. Eles pensaram que iriam morrer. Os ataques dos Cães Negros, além de poderosos, eram também muito bem coordenados. Sem falar que havia muitos deles.

― Achei que ele ia perder ― disse Tércio, mirando o Cavaleiro Real.

― Eu também  ― confessou Arthur em um tom apreensivo. ― Mas isso é ruim. Não estamos nem na metade da viagem e já perdemos tantos cavaleiros. Se mais pessoas morrerem, a volta será bem perigosa.

― A gente devia ter ajudado.

― É... talvez. ― Diferente do novato, Arthur se mostrava preocupado com as consequências do ataque. E, acima de tudo, sentia-se culpa por não ter tomado uma atitude clara, mesmo acreditando ter sido a escolha certa.

O número de pessoas mortas, somada aos que foram arrastados para a floresta, era de quase vinte. Com isso, muitas equipes enfrentariam dificuldades na hora de voltar. Pois quando fossem retornar à academia, elas estariam por conta própria.

Enri, apesar de estar ferido, começou a organizar os cavaleiros:

― Aqueles que ainda podem andar, ajudem os feridos. Os que não sofreram ferimentos, continuem em guarda. Outros monstros podem tentar tirar proveito dessa situação. ― Como um verdadeiro líder, ele organizou os homens e mulheres sob seu comando ao mesmo tempo que suportava a dor no peito. Ele não tinha reparado antes, mas a patada que recebeu afundou parte de sua armadura, que agora pressionava seu tórax.

Aos poucos as coisas começaram a se acalmar e nenhum monstro parecia estar disposto a atacar.

Tércio montou no cavalo que havia prendido na carruagem mais cedo e deu algumas voltas pela área. Ele não estava procurando monstros ou coisas do tipo, só estava entediado.

Pelas próximas horas, o grupo continuou parado no mesmo lugar. Os cavaleiros não queriam deixar os seus companheiros mortos para trás, mas também não havia como levá-los. Assim sendo, eles decidiram enterrar seus corpos, para que quando voltassem pudessem recuperá-los para assim dar às famílias um enterro decente. Já os que foram arrastados para a floresta, de nove, apenas três foram encontrados.

Já era quase noite, e tudo estava calmo. Tércio e Arthur se encontravam sentados em um pedaço de tronco jogando conversa fora.

Os homens e mulheres de armadura já haviam terminado de enterrar seus companheiros. Os feridos já tinham sido tratados. E uma breve reunião tinha sido realizada pelos principais líderes da reunião.

Enri sabia que estava prestes a escurecer, mas ele queria se afastar um pouco daquela área antes que outros monstros fossem atraídos pelo cheiro do sangue e por isso decidiu não montar acampamento.

O grupo pretendia seguir viagem apesar do risco oferecido pelo ambiente escuro. E assim, no instante em que tudo foi organizado, eles subiram nas carruagens, montaram nos cavalos e avançaram.

Mas foi tarde demais...

ROARR!

Um rugido ensurdecedor ecoou pela floresta, causando medo no coração de quem ouvia e assustando os animais que relincharam e por muito pouco não derrubaram aqueles os montando.

― O que foi isso? ― perguntou um cavaleiro com pânico em sua voz.

― Demoramos muito ― murmurou Enri com uma expressão sombria espalhada no rosto. ― Todos se apressem! Precisamos sair daqui.

Os cavaleiros não ousaram desobedecer às ordens do comandante. Tomados pelo medo, cutucaram a barriga de seus cavalos e começaram a galopar o mais rápido que podiam. Até mesmo as carruagens estavam correndo desenfreadas.

Tércio se encontrava montado em um cavalo que pertencia a um dos cavaleiros mortos. Ele não queria deixar os animais sobreviventes para trás, então montou em um e arrastou os outros juntos a si, amarrando-os em cordas e puxando-os à medida que avançava. De certa forma, estava curioso para saber o que causara aquele rugido, mas mesmo assim seguiu junto à tropa.

A tropa de cavaleiros rapidamente se afastou do lugar em que ocorreu o confronto com os Cães Negros. E quando a área banhada em sangue desapareceu de seus olhos, eles se sentiram aliviados.

No entanto, esse foi um alívio precipitado.

 


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