O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 30: Passeio a cavalo

Enquanto Arthur e Tércio conversavam, a tropa de soldados avançou pelos terrenos da academia. E depois de vinte minutos eles enfim alcançaram a imponente muralha que circundava toda a academia.

Tércio estava curioso para saber o motivo de terem parado, então esticou a cabeça para fora da carruagem. Foi nesse momento que viu algo que só podia ser descrito como colossal.

Impedindo que a tropa avançasse havia um gigantesco portão de aço com dezenas de metros de altura e largura. Era pelo menos duas vezes maior do que o portão pelo qual tinha entrado na academia.

Tércio olhou para aquilo e achou que era um verdadeiro exagero. Não conseguia imaginar uma criatura que pudesse oferecer risco para um objeto daquele tamanho. Mesmo um gigante teria dificuldade para pular por cima.

Ao lado do portão havia uma enorme construção que ele supôs ser a base para os soldados que estavam encarregados de vigiar e proteger a entrada do local.

Os soldados, quando viram a tropa de cavaleiros chegarem, começaram a se mover de um para o outro.

Tércio, que estava espiando toda a agitação, já se encontrava quase sentado na parte de cima da carruagem com mais da metade do corpo para fora da janela. Ele não tinha certeza, mas achou que algo interessante estava para acontecer.

E após uma longa espera, um barulho estridente tomou conta do local. O portão de aço aos poucos começou a ser deslocado, centímetro por centímetro. O gigante era movido de forma lenta, arrastado para a lateral por meio de trilhos, mas, a cada passo que dava, um som alto e metálico ecoava, fazendo o ar vibrar.

O rapaz de ombros caídos e marcado por queimaduras e cortes, olhou para aquilo com espanto nos olhos. Não achou que abririam o portão. No começo, pensou que a tropa teria de avançar para uma saída de porte menor e passar por lá. Ele não imaginou que abririam aquele gigante de aço que deveria pesar dezenas ou até centenas de toneladas.

O portão continuou sendo aberto lentamente. Parecia que nunca ia terminar, de tão vagarosa era sua movimentação. Um longo tempo passou e sequer metade tinha sido movida, mas uma inesperada nuvem de poeira começou a surgir quando a muralha vibrou em sua tentativa de sustentar o objeto colossal.

E então, quando por fim metade abriu, o barulho alto que cortava o ar parou. E com isso, sob o comando de Enri, a tropa voltou a avançar.

Tércio continuou do lado de fora da carruagem, espiando tudo com imenso interesse. E Arthur permanecia escorado na outra janela, espiando o exterior.

A tropa dos líderes da expedição desfez sua formação e avançou de forma organizada. Eles avançaram grupo por grupo. Até que, por fim, todos atravessaram o portão.

No momento em que cruzaram a muralha, logo o portão voltou a se mover e, depois de algum tempo, a passagem foi bloqueada.

Do lado de fora da muralha havia uma planície que se estendia por centenas de metros. E, de longe, as gigantes árvores que compunham a Floresta Meia Lua podiam ser vistas. A estrada era muito diferente daquela que o grupo de Eliza usou para levar Tércio até a academia. Ao contrário daquela, que era estreita e cheia de buracos, essa era larga e lisa, de forma que as carruagens prosseguiam sem enfrentar grandes problemas.

Os grupos voltaram para as suas formações originais e a partir desse ponto a jornada prosseguiu da maneira mais organizada possível, com todos os cavaleiros cumprindo o papel que haviam ensaiado em outra ocasião.

Depois de algum tempo, Tércio voltou para dentro da carruagem e notou que Arthur tinha deitado no outro assento e estava com os olhos fechados. Assim sendo, ele decidiu se deitar também. Até porque, mesmo se ficasse na janela não conseguiria ver muita coisa.

A viagem continuou lenta e calma. Parecia que os audaciosos monstros citados com tanto temor antes de partirem não se atreviam a entrar no caminho da enorme.

Bem, foi assim até a hora do almoço.

Durante a parada obrigatória para preparar a refeição, alguns cavaleiros ficaram de vigia enquanto os outros almoçavam e depois eles se revezaram, para que assim todos pudessem comer.

Os membros da Equipe de Subjugação e os comandantes de cavaleiros eram os únicos que não precisavam ficar de guarda.

Após o almoço, a tropa logo voltou a marchar em um ritmo tão lento quanto antes.

No entanto, os monstros que estavam à espreita não se aguentaram mais e começaram a atacar.

Os primeiros a revelarem sua barbaridade foi um grupo com mais de dez Tardos. Todos eles portavam espadas mal feitas e escudos tortos de madeiras.

No momento em que as criaturas avançaram, alguns cavaleiros imediatamente barraram sua passagem e facilmente os eliminou. O contra-ataque organizado não deu a menor chance dos monstros serem mais ousados e suas armas imperfeitas não foram capazes de resistir aos cavalos e seus montadores.

― Essas coisas feias não são muito inteligentes ―zombou Tércio, que apesar de não ter conseguido ver a ação, escutou quando alguém gritou anunciando a emboscada e depois gritou de novo, avisando a eliminação da ameaça.

― Eles estão em todo o lugar ― disse Arthur, que já estava acostumado a enfrentar essa espécie. ― É sempre assim.

Logo após a eliminação dos Tardos, a tropa expedicionária voltou a andar. Mas não demorou muito para que outro grupo de monstros aparecesse.

Só que desta vez não foram Tardos que investiram contra os cavaleiros. Tratava-se de uma criatura baixinha, solitária e peluda, que sobre quatro patas não passava dos cinquenta centímetros de altura. Seu pelo era laranja-escuro e de tão longo se arrastava pelo chão.

O monstrinho mais parecia uma bola de pelos do que qualquer outra coisa. Devido à pelagem comprida, não era possível ver seus olhos, orelhas e nariz. Nem mesmo suas patas se faziam visíveis. E por causa do focinho curto, parecia que não tinha cabeça.

Conhecidos como Felpos de Girassol, uma criaturinha bagunceira e extremamente fraca, os monstros não ofereciam nenhum perigo, a não ser pela trilha de pelos que deixa por onde passa.

O bando peludo era formado por pouco mais de vinte Felpos de Girassol. Eles estavam deitados no meio da estrada, tomando banho de sol e impedindo que a tropa avançasse.

Dois cavaleiros avançaram e começaram a fazer barulhos, na tentativa de espantar os pequeninos, que se assustaram e começaram a balançar seus pelos, de um lado para o outro, fazendo parecer que estavam girando.

Enquanto os Felpos de Girassol maiores formavam uma barreira com seus pelos dançantes, os menores, que estavam atrás, correram para o meio da floresta. E quando todos os outros pareciam ter evacuado, os adultos dispararam em direção às árvores.

Mesmo parecendo não ter patas, aqueles peludinhos eram extremamente rápidos. Em um piscar de olhos, desapareceram em meio à vegetação.

Hahaha! Eu adoro esses bichos! ― gargalhou Arthur, que se espremeu na janela junto à Tércio para poder assistir a fuga.

A tropa de cavaleiros, que foi obrigada a parar por um instante, continuou avançando floresta adentro.

O sol começou a se esconder e com isso ficou decidido que era o momento certo de montarem acampamento. E eles não se preocuparam em encontrar um lugar para isso. Sendo essa uma estrada pouco frequentada, ninguém foi contra a ideia de erguer as tendas ali mesmo, no meio do caminho.

 Os soldados a comando de Enri reservaram um espaço apenas para Tércio e Arthur passarem a noite. Os garotos eram alunos da academia e por isso precisavam receber certos privilégios; ao menos foi o que o comandante alegou.

À noite para Tércio foi tranquila. Algumas vezes era possível escutar o som de batalhas eclodindo próximo ao acampamento, mas nada que fosse capaz de interromper o sono de alguém que passou parte da vida na prisão ― sem um perigo iminente, ele não acordaria.

Além da tenda particular, os estimados membros da Equipe de Subjugação estavam recebendo diversos benefícios ao longo da jornada. Sempre que a marcha parava era a pedido de algum deles. Os primeiros a serem servidos nas refeições também eram eles ― ninguém podia comer antes que todos vestindo preto tivessem se servido.

Isso parecia não incomodar os demais, mas para o garoto desacostumado com regalias, a situação era um tanto desconfortável.

Entretanto, na manhã do segundo dia, Tércio decidiu tirar proveito da circunstância para conseguir algo que desejava há algum tempo. E assim, foi até Enri.

, ô dourado! ― O apelido fez o Cavaleiro Real franzir a testa. ― Você ou algum de seus homens não está a fim de trocar de lugar comigo, não?

― Como assim? ― Enri se sentiu um pouco confuso.

― Vai na carruagem e eu no cavalo ― explicou Tércio.

Uma das coisas que mais gostava de fazer durante uma viagem era ver a paisagem. Mesmo quando era criança e ia de uma vila para a outra, a mudança nos campos, na vegetação e nos tipos de animais era algumas de suas partes favoritas.

No entanto, desde que deixaram a academia, sempre que olhava pela janela se deparava com alguém bloqueando sua vista. Por isso decidiu que não iria mais à carruagem.

― Você sabe andar a cavalo? ― questionou Enri, inseguro das habilidades do rapaz.

― Melhor que vocês! ― garantiu Tércio, cheio de orgulho de si próprio.

― Bem, se esse é o caso, verei o que consigo. ― O soldado que servia o comando dos Griffon ainda estava hesitante, mas, apesar disso, não negou o pedido do garoto de olhos castanhos-escuros.

Enri, atencioso como era, saiu logo à procura de um cavaleiro cansado e não demorou muito para encontrar um. Na verdade, muitos desejavam trocar de lugar, pois viajar um dia inteiro montado em um animal não era algo fácil.

Quem cedeu o seu cavalo a Tércio foi um dos homens que fazia parte do grupo de escolta que iria para a capital. Seu nome era Darwin.

― Obrigado por trocar comigo ― agradeceu Darwin com um sorriso no rosto. Ele estava entre os mais novos vestindo uma armadura, um rapaz de vinte e um anos que apesar da empolgação, também preservava muitos anseios. ― A verdade é que eu não me dou muito bem andando a cavalo ― admitiu, sentindo-se um tanto sem graça. ― Mas quando você se cansar, a gente pode trocar de novo.

― Não se preocupa com isso. Eu gosto de andar a cavalos ― disse Tércio, feliz em encontrar alguém disposto a ficar em seu lugar.

O animal cedido por Darwin possuía pelos da cor castanho-claro e uma postura elegante. Ele era tão alto quanto aquele que o montaria e, para facilitar a montaria, suas costas se encontravam equipadas com a sela e todos os apetrechos necessários.

Mostrando uma destreza inegável, Tércio se apoiou no estribo e jogou a perna livre para o outro flanco do cavalo. Ele se ajeitou sobre o assento, que era quase da mesma cor dos pelos marrons, e balançou a rédea, fazendo o animal girar enquanto trotava.

Oh, nada mal! ― exclamou Enri impressionado.

― Quem te ensinou a montar? ― perguntou Arthur que estava sentado na entrada da carruagem, assistindo o acampamento sendo desmontado.

Com perfeição Tércio guiou o cavalo até parar próximo do colega.

― Meu pai! ― respondeu ele com um sorriso no rosto. Essa sensação nostálgica de cavalgar o encheu de lembranças alegres.

No passado, todos os finais de semanas, ele, seu pai e seu irmão saiam juntos para inspecionar as áreas próximas ao campo de plantação da vila e sempre faziam isso montados.

Arthur se surpreendeu com a sinceridade expressada no rosto do colega, pois além de achar que o novo membro de seu time era do tipo calado, também pensou que ele era daquelas pessoas que não gostam de sorrir.

Com o acampamento demonstrado e seguro de que o garoto sabia de fato cavalgar ― e muito bem, vale ressaltar ― Enri ordenou que as tropas avançassem.

Tércio não se importava em manter a formação e não demorou muito para ele tomar a dianteira e disparar pela estrada sem nenhuma proteção ou cobertura.

Sua empolgação era tanta que acabou fazendo o animal correr sem a necessidade. Mas quando percebeu que poderia cansá-lo, diminuiu o passo e avançou aos poucos.

Agora que ele enfim podia olhar para a floresta sem ter alguém bloqueando sua visão, a viagem se tornou muito mais divertida. A paisagem era ainda mais exótica do que tinha imaginado. O verde não era a única cor que se observava na vegetação. A mata estava repleta de plantas amarelas, vermelhas, marrons e diversas outras tonalidades. Mas isso não era tudo.

Escondido atrás de uma árvore, Tércio avistou dois pequenos Goblins, criaturinhas verdes e covardes que pareciam estar morrendo de medo dos estranhos grandes e brilhantes. Em uma clareira, sua visão foi tomada pelo surgimento de três cabras selvagens pastando.

O dia continuou passando e, depois do almoço, Darwin voltou a ceder o seu lugar. O jovem cavaleiro ficou tão alegre em poder seguir na carruagem que sugeriu passarem o resto da viagem se revezando. E a proposta foi aceita de bom grado.

No final do dia, Tércio estava exausto. Fazia muito tempo que não cavalgava e seu corpo tinha perdido o costume. Então, quando se deitou, ele imediatamente apagou.

Na tarde do terceiro dia, uma coisa inesperada, mas nem tanto assim, aconteceu.

Enquanto Tércio estava andando na frente do bando, montado no cavalo de Darwin, ele viu uma movimentação suspeita na floresta. Vultos pretos podiam ser vistos correndo a distância entre as árvores dos dois lados da estrada.

Tércio, quando viu aquilo, logo percebeu que aqueles vultos estavam seguindo os passos do comboio, tentando não ser percebidos ao mesmo tempo que acompanhavam a velocidade das carruagens. Ele não sabia que monstros eram aqueles, nem se eram monstros, mas de uma coisa tinha certeza: algo problemático se aproximava.

Ao contrário dos Tardos que avançam sem hesitação apenas por pensar terem feito a armadilha perfeita, aqueles vultos estavam encurtando a distância aos poucos, procurando a melhor oportunidade para atacar.

Percebendo isso, Tércio puxou as rédeas, forçando o cavalo a virar e galopou em direção a Enri.

― Aconteceu algo? ― perguntou o Cavaleiro Real quando viu a expressão tensa no rosto do rapaz.

― Estamos sendo cercados por algo. E são muitos!

― Onde estão? ― Enri ficou alerta e olhou de um lado para o outro, procurando pela origem da preocupação do garoto.

― Dos dois lados ― respondeu Tércio enquanto apontava para as direções em que avistou os vultos. ― Vão tentar nos emboscar.

Enri olhou para dentro da floresta, mirando entre as árvores e, no mesmo instante, fez um sinal para a tropa parar de avançar.

Seguindo as ordens do comandante, todo o comboio freou sem hesitação.

― O que aconteceu? ― perguntou um sujeito que se aproximou trotando.

― Cães Negros! ― proferiu Enri com uma expressão séria.

Quando ouviu isso, o soldado levantou sua guarda e olhou preocupado para a floresta.

― O que é isso? ― Tércio ficou curioso com a reação quase apavorada do homem que colocou a mão sobre a espada na cintura e precisou respirar fundo para não sacá-la em um ato de afobação.

― Cães Negros são monstros com uma força considerável. Mas o que os torna perigosos não é seu poder individual. Eles sempre caçam em bandos. A matilha costuma ter mais de trinta bestas. E o pior: eles são ótimos caçadores. Talvez percamos alguns homens ― disse Enri com uma expressão sombria. – Você fez um bom trabalho! Se fossemos pegos desavisados as perdas seriam enormes.

Terminando de dizer isso, o líder de cabelo amarelo e corpo robusto rapidamente começou a articular os homens e mulheres, formando uma linha defensiva dos dois lados da estrada.

Tércio, por sua vez, guiou o cavalo para a carruagem em que Arthur estava.

― A gente vai lutar também?

― Primeiro vamos ver como as coisas acontecem, depois decidimos o que fazer ― disse Arthur em um tom calmo. Ele não parecia muito preocupado.

Tércio desceu do cavalo e o prendeu ao lado da carruagem. Em seguida, olhou ao redor, observando a movimentação dos cavaleiros. Quando de repente, um som tenebroso e selvagem saiu da floresta.

GRRR! ― Um rosnado surgiu entre as árvores.

 


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