O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 28: Prata e ouro

Juntos, Arthur e Tércio deixaram a sala de Eliza.

Enquanto desciam as escadas para voltar ao dormitório, o preferido da diretora permaneceu em silêncio. Ele tinha algumas perguntas a fazer, mas não sabia qual deveria ser a primeira.

Após deixar o terceiro andar e avançar para o segundo, Arthur lançou olhou de lado para o companheiro de equipe e, depois de um segundo de ponderação, falou:

― Eu te levaria para conhecer a área que o nosso grupo é responsável por vigiar, mas, já que vamos sair amanhã, é melhor deixar para quando voltarmos. Se tiver alguma dúvida, pode falar.

E apesar de existir inúmeras questões que desejava resolver, uma pergunta acabou ganhando mais destaque em meio a curiosidade de Tércio.

― Você também é um plebeu?

― É o que dizem, apesar desse meu sorriso de príncipe ― respondeu Arthur de forma brincalhona. ― É só isso que você quer saber?

― É você e mais quem neste grupo?

― Tirando eu e você, tem só mais um. Mas ele está de férias, então não vai com a gente amanhã.

― Três? Pensei que precisava de mais gente para formar um time desses – Tércio tinha quase certeza de já ter escutado algo do tipo.

― Normalmente, sim. Mas alguns dos membros antigos se formaram e deixaram a academia. E os outros saíram depois que assumi a liderança ― informou Arthur, que não parecia estar muito incomodado com o fato.

Hm! Entendo. ― Tércio ainda tinha algumas perguntas para fazer e aproveitou o caminho até o dormitório para esclarecer algumas delas. No entanto, apesar de não ter conseguido esclarecer todas as dúvidas, quando chegou no saguão de entrada ele deixou o novo companheiro de lado e voltou para o quarto.

A viagem seria no dia seguinte e havia muita coisa para fazer.

Quando pensava que estaria partindo amanhã, ele se sentia ansioso e frustrado, ao mesmo tempo. A ideia de enfim começar a trabalhar era empolgante, até mesmo misteriosa, já que os detalhes eram incertos. Entretanto, era decepcionante partir sem ao menos conhecer melhor a prestigiada academia.

Além do mais, o fato de Eliza ter se esquecido de mencionar algo tão importante era um pouco frustrante. Ele levou horas para arrumar as roupas que ganhou no dia anterior e agora teria de bagunçar tudo de novo.

Hunf! Que saco! ― resmungou enquanto soltava um longo suspiro.

Tércio estava revirando seu guarda-roupa, decidindo quais roupas levariam para a viagem. E depois de pensar um pouco, decidiu levar a túnica vermelha vinho, que era a sua favorita, e quatro outras vestimentas.

Como não sabia quantos dias duraria a viagem de ida e volta, e nem quão árdua seria, achou melhor levar o mínimo de bagagem possível. Já que assim facilitaria as coisas no caso de algum imprevisto.

Agora que já tinha decidido quais roupas o acompanharia, ele estava pensando em como faria isso. Tércio cogitou usar as sacolas que Sophia lhe deu para carregar as compras, mas elas eram grandes demais. No entanto, ele não tinha mais nada que pudesse usar.

― Talvez se eu prender isso aqui... ― murmurou conforme pensava numa forma de diminuir o tamanho das sacolas.

No entanto, antes que ele pudesse rasgar uma das bolsas, alguém bateu na porta, impedindo-o de usar os dentes e o fogo.

Do lado de fora se encontrava um homem vestido de mordomo, com um sorriso que não era bem um sorriso. No momento em que Tércio abriu a porta, sem pedir licença, o sujeito, que estava carregando uma espada em uma das mãos, foi entrando e se acomodando na cama localizada do lado esquerdo.

― O que você quer, Kay? ― disse o garoto com uma voz ríspida. A presença do homem o incomodava de um jeito irracional.

― Não seja tão hostil ― Pediu Kay com uma voz dócil, agindo como se aquilo o magoasse. ― A Srta. Eliza me pediu para trazer uma bolsa para você colocar suas coisas, e uma espada. Só quero ser útil para as pessoas que me importo. Havia uma nota distinta de servidão em seu tom.

Mas Tércio não acreditou na mudança repentina de comportamento. A expressão medonha e o olhar indiferente eram os mesmos, afinal.

Kay jogou a espada que estava em sua mão em um canto da cama e logo em seguida tirou uma pequena bolsa que se encontrava embolada em um de seus bolsos.

O jovem das cicatrizes pegou a mala, mas ignorou a arma.

― Agora que você fez o que tinha que fazer, dá o fora do meu quarto ― Sibilou Tércio fazendo um gesto grosseiro com a mão. ― Não preciso da espada, então pode levar de volta.

― Que garoto mais rígido. ― disse Kay, assumindo um tom desdenhoso enquanto se levantava da cama e pegava o metal frio. ― Tem certeza que não vai querer a espada? Essa é uma boa arma.

― A qualidade não importa, eu não sei usar. Só vai me atrapalhar. ― O interesse de Tércio estava todo na bolsa.

― Um pensamento prudente ― elogiou Kay, virando-se de costas e caminhando até a saída.

O mordomo abriu a porta do quarto e quando estava prestes a sair, virou-se para Tércio e falou usando uma voz maliciosa:

― Divirta-se!

Quando Kay deixou o recinto, Tércio olhou para a porta fechada com um semblante profundo.

Há alguns dias, ele concordou com o plano do mordomo para se fazer de isca, para que assim pudesse atrair as pessoas que, supostamente, mataram sua família. No entanto, mesmo tendo concordado com esse plano, ainda não confiava nem um pouco nele.

Por alguns segundos, foi difícil para o garoto se concentrar. A presença daquele homem lhe causava calafrios profundos e duradouros. Mas quando enfim conseguiu parar de pensar na visita indesejável, voltou a se focar no que precisava fazer.

A bolsa enviada por Eliza era pequena, mas com espaço o suficiente para guardar as coisas que ele levaria na viagem. Ao que parece, a duquesa entendeu muito bem o que estava planejando.

Nesse meio tempo, enquanto Tércio estava terminando os preparativos para a viagem, Eliza achava-se em sua sala, assinando uma pilha de papéis.

Como as aulas se iniciarão em alguns dias, ela, por ser a diretora, tinha muitas coisas para fazer. Sem falar que, a conselheira da academia Elefthería, Darcy Wovous, estava o tempo todo lhe pressionando. Embora isso não fosse necessário, pois, apesar das fugas ocasionais, Eliza era muito dedicada ao seu trabalho.

A duquesa se encontrava concentrada em seu afazer quando alguém bateu na porta de seu escritório.

― Entre! ― disse ela, levantando a cabeça.

Assim que recebeu a permissão, Arthur entrou na sala. O aluno terceiranista caminhou até a mesa da diretora e parou em frente a ela.

― Precisa de algo? ― As palavras de Eliza soaram rígidas e ásperas.

Mas apesar da maneira pouco amigável com que foi tratado, Arthur não se abalou e continuou mantendo uma expressão despreocupada.

― Eu recebia as informações da missão de escolta, mas deve ter algum erro.

― Que erro? ― Questionou Eliza sem dar muita atenção para ele.

― Me disseram que meu grupo ficará responsável por trazer os alunos da capital. ― Embora estivesse tendo manter uma postura relaxada, a desconfiança ficava mais evidente em seu rosto à medida que sua voz se tornava mais pesada.

― Isso não está errado!

― Mas o meu grupo está incompleto. Aires ainda está de férias. Não seria melhor deixar outro time cuidar daquele lugar?

― Não se preocupe com isso. Eu lhe darei mais alguns soldados para compensar a ausência de Aires. ― Esse era o fim da  conversa e ela deixou isso claro pela maneira de falar.

Arthur olhou para a diretora por algum tempo sem dizer nada. Era como se estivesse tentando penetrar em seus pensamentos e revelar os segredos que tentava preservar apenas para si.

― Precisa de mais alguma coisa? ― perguntou Eliza com aspereza.

― Não. ― O terceiranista de bermudas largas se virou e se preparou para deixar a sala. Mas no meio do caminho parou, olhou sobre o ombro e falou: ― Tudo isso é por causa do novato? Por um acaso ele...

― A única coisa que você precisa saber é que um trabalho importante lhe foi atribuído. Esteja preparado.

E isso encerrou a conversa.

Na manhã seguinte.

Como já havia se acostumado, Tércio acordou cedo, antes mesmo do sol se manifestar por completo. Assim que acordou, ele se levantou da cama, espichou o corpo, pegou a bolsa para a viagem e deixou o quarto.

Ele não sabia o momento exato que a Equipe de Subjugação deveria partir da academia, por isso decidiu sair o mais cedo possível. Não queria perder sua primeira missão.

E ele não foi o único a se levantar junto do sol, pois no momento em que deixou o quarto, viu uma pessoa completamente desencorajada se arrastando pelo corredor.

Com um olho aberto e o outro fechado, metade do rosto amassado e as costas curvadas, Arthur surgiu se arrastando enquanto soltava diversos bocejos.

― Acordar cedo... Odeio! ― praguejou o líder da missão quando se aproximou.

Arthur estava vestido como sempre. Uma bermuda e camisa larga da Equipe de subjugação. E preso em sua cintura havia duas facas de mais ou menos trinta centímetros, uma de cada lado. Duas adagas embainhadas e pontiagudas.

― Antes de ir... Café da manhã... ― voltou a balbuciar utilizando o menor número de palavras possíveis. Em seguida, ele se virou e deslizou em direção ao refeitório.

Cada passo de Tércio valia por três do sonolento. E foi apenas depois de uma caminhada que pareceu levar horas que os dois enfim chegaram ao refeitório. Nesse ponto, o sol já havia se levantado por completo.

O café da manhã foi principalmente de frutas e algumas outras comidas leves. Quem os serviu desta vez não foi Emily, mas uma mulher que era desconhecida para o novo aluno ― apesar disso não significar muita coisa.

Enquanto comia, Tércio sentiu sua empolgação aos poucos ir embora. Olhar para Arthur estava acabando com seu entusiasmo, pois ele estava caído de cara na mesa, com uma maçã presa na boca e roncando alto.

Ei! Acorda! ― O ex-prisioneiro sacudiu o companheiro com imensa “delicadeza”. Já fazia muito tempo que eles estavam parados ali.

Mhm... ― Arthur abriu os olhos e levantou a cabeça, mas quando fez isso a maçã que estava em sua boca caiu sobre a mesa e rolou para o chão. – Só mais cinco minutos.

E então, ele voltou a repousar a cabeça sobre a mesa.

Tal atitude descompromissada deixou Tércio com fúria nos olhos. Ele queria chutar o outro lado até acordá-lo, mas se conteve. Afinal, bater no novo chefe não parecia uma coisa boa de se fazer.

Foi então que um homem entrou a passos largos no refeitório.

O sujeito era alto e seu cabelo era de um tom amarelado. O corpo apresentava a robustez de uma pessoa treinada e os olhos, castanhos, traziam a firmeza de alguém acostumado a tomar decisões.

Ele vestia uma armadura diferente das que Tércio viu os soldados usando até o momento. Ela misturava um prata reluzente na região torácica com um dourado ofuscante nos braços e na gola. E incrustado no peitoral tinha o desenho de um grifo.

Em sua cintura pendia uma longa espada que, de tão comprida, a ponta quase tocava o chão.

O homem de armadura se aproximou da mesa a passos largos e sem nenhuma hesitação chutou Arthur para longe, fazendo-o rolar por alguns metros.

― Como ousa dormir enquanto estão todos te esperando?! ― gritou o estranho, bufando pelo nariz.

Aquilo arrancou um sorriso discreto em Tércio, que continuou sentado, apenas observando.

― Porque você me chutou, Enri? Isso machuca, sabia? ― Sentindo-se completamente acordado, Arthur se sentou e massageou o local atingido.

― Que direito você tem de me criticar? Estão todos preparados para partir. Só estamos esperando por você! ― bufou Enri enraivecido, provocando um som metálico ao mexer os braços.

― Mas eu só estava esperando o Tércio acabar de tomar o café da manhã.

O cavaleiro estava tão irritado com folgado que sequer percebeu a presença do outro menino. Mas a mentira descarada fez sua atenção ser voltada para o garoto que tinha uma expressão descontente no rosto.

― É um prazer conhecê-lo, senhor Tércio! ― A voz de Enri era respeitosa e cortês, muito diferente daquela usada para falar com Arthur.

― Não sou um nobre ― avisou. ― Só “Tércio”.

― Eu sei que o senhor não é um nobre. Eu já fui informado sobre você. Mas em Elefthería os alunos possuem o status mais elevado do que os civis e soldados, em especial aqueles que fazem parte das duas grandes equipes. Portanto, tratá-lo como um superior é apenas algo natural a ser feito.

― Essa baboseira de “status” me irrita, sabia? Meu nome é apenas Tércio ― afirmou com uma voz orgulhosa.

― Se é o que deseja ― Enri curvou a cabeça de maneira respeitosa e ficou assim por alguns segundos antes de voltar a levantá-la. ― Os outros estão nos esperando, vamos!

Dizendo isso o cavaleiro se virou e deixou o refeitório. E Tércio o seguiu, com Arthur, muito desanimado, logo atrás.

 


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