O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 27: A função da Equipe

Tércio ainda estava impressionado com a runa quando Eliza empurrou-lhe outro par de sapatos. Mas ele logo recusou. Afinal, já estava cansado de toda essa compra.

Então, depois de uma breve discussão, ficou decidido que o único par de sapatos que eles comprariam era aquele simples, de cor preta. Ao menos, por enquanto. Os outros seriam enviados para a duquesa escolher mais tarde.

Tércio decidiu continuar com o novo sapato e guardar o antigo, mas não velho, dentro das bolsas de compras, junto das roupas. E logo em seguida deixaram a loja de Equipamentos do Saul.

 Ah, só para saberem, os sapatos custaram apenas seis moedas de Mágala. E quando o camponês viu esse preço, teve certeza: Sophia havia roubado os dois de forma descarada.

Eliza e Tércio foram até a avenida principal, que levava de volta para a escola. E lá encontraram a carruagem que os trouxe para fazer compras. Estava parada em um canto, aguardando o retorno de ambos.

Ao que parece a diretora tinha pedido ao homem encarregado de guiar os cavalos para esperar naquela parte enquanto terminavam as compras.

Sem demoras, a carruagem começou a andar assim que os passageiros entraram e logo eles foram em direção a escola. No caminho, Eliza falou um pouco mais a respeito das runas para o jovem curioso. Ele continuou perguntando sempre que uma dúvida diferente surgia.

Quando chegaram à escola, a responsável por gerir todos os assuntos administrativos da academia disse que tinha algumas coisas para fazer. E então voltou para a sua sala, mas antes pegou seu novo vestido rosa. E Tércio, que estava desocupado, foi para o quarto de número 3, no qual passou a noite.

No caminho para o dormitório, viu dois garotos andando pelo corredor e falando alto. Eles estavam fazendo um rebuliço enquanto iam de porta em porta, abrindo-as e explorando o interior.

Ao ver aquilo, Tércio olhou para os garotos com um semblante estranho e foi direto para o quarto.

Até aquele momento, antes de abrir a porta e encarar as duas camas dividindo o recinto, ele não tinha percebido. Porém, quando sentiu o cheiro de lençóis limpos entrando em seu nariz, o brilho do sol refletindo no piso claro e um conjunto de roupas brancas sobre um dos colchões, enfim percebeu: aquele era o seu quarto.

― Estudante... parece divertido ― murmurou. Ainda estava digerindo essa feliz novidade.

Uma das primeiras coisas que Tércio fez quando chegou ao quarto foi conferir a bolsa de cânhamo, que estava com o Núcleos de Cristal do Tardo que matou. Ele tinha escondido a bolsa em um canto discreto para que ninguém pudesse roubá-la ― debaixo do colchão.

Depois de ter certeza que a bolsa ainda estava onde deveria estar, ele começou a se preparar para guardar as novas roupas.

Como sabia que no futuro dividiria o quarto com alguém, decidiu ficar com a cama da direita e usar o guarda-roupa ao lado dela para guardar os presentes concedidos por Eliza.

Levou algum tempo para que conseguisse organizar tudo de forma aceitável ― ou tão aceitável quanto um ex-prisioneiro poderia organizar. E quando se deu conta, já estava começando a escurecer.

Tércio não sabia se já era a hora do jantar, então decidiu descansar um pouco antes de se dirigir para o refeitório. Para ele, fazer algo parecido com faxina era mais cansativo do que enfrentar uma horda de monstros.

Quando por fim decidiu que era o momento de ir ao refeitório, ele se deparou com um grupo de garotos e garotas sentados juntos em uma mesa e partilhando de uma conversa bastante animada. Eles pareciam ter a mesma idade do jovem das cicatrizes ― apesar de disporem de feições mais simpáticas ―, e estavam todos vestindo roupas simples.

Quando viram o “irmãozinho da diretora” chegar, muitos torceram o pescoço para dar uma espiada e começaram a cochichar entre si.

 ― Ei, veja! Ele também chegou hoje? ― disse um garoto.

― Aquele não é o uniforme da Equipe de Subjugação? ― perguntou uma menina.

― É sim! – Respondeu a colega ao lado. ― será que ele já entrou para a equipe ou ele não voltou para a casa durante as férias?

― Eu não faço ideia. Mas ele deve ser muito forte ― murmurou outro garoto. ― Será que é um nobre?

― Não pode ser. Porque um nobre viria até aqui? ― Comentou uma garota.

Entreouvindo a conversa do grupo, o citado, nada discreto, olhou para eles. Mas logo em seguida se virou e se sentou sozinho em um canto.

Vendo-o sozinho, alguns garotos se prepararam para convidá-lo a se sentarem juntos. No entanto, a expressão no rosto de Tércio rejeitava a todos sem precisar dizer uma única palavra.

A única pessoa que teve coragem de se aproximar do menino de cara fechada foi Emily, a empregada que o serviu no dia anterior.

Emily foi muito educada quando trouxe o jantar de Tércio. Ela era uma pessoa muito diferente de quando estava perto de Arthur ― que por sinal, estava atrasado, de novo.

Assim, após um jantar delicioso, seguido por um banho repleto de bolhas, o menino encerrou seu dia...

No dia seguinte, outra vez Henry foi até o quarto de número 3 procurar pelo novo estudante. Com tantas visitas, já estava começando a parecer que o nobre Valérios não passava de um “garoto de recado” da duquesa, ao contrário de um professor importante.

― A diretora Eliza quer vê-lo. ― Essa foi a breve mensagem que o prestativo homem trouxe. E logo ele tratou de conduzir o menino o quanto antes para o destino desejado.

Quando Tércio chegou à sala de Eliza, notou que ela não estava sozinha. Além de Kay ― que achava-se ao seu lado como um bom mordomo ―, havia um garoto de cabelo desgrenhado e roupas largas que pareciam muito com o uniforme da Equipe de Subjugação.

Tércio de imediato reconheceu a pessoa: era Arthur, o mentiroso que não conseguia chegar na hora certa para o jantar.

Tércio olhou de soslaio para o companheiro, depois se virou para e Eliza e como uma voz ríspida falou:

― O que você quer? ― Sua intenção não era ser hostil, mas seu modo de agir era tão bruto quanto o de um selvagem.

― Eu gostaria de te apresentar ao Arthur. ― disse Eliza, ignorando o tom grosseiro e a falta de um “bom dia”. ― Ele é o líder de um dos grupos que formam a Equipe de Subjugação e eu quero que você faça parte desse time.

Ao terminar de ouvir a sugestão, Tércio olhou para o mentiroso sem dizer uma palavra. Para ele não fazia diferença em qual grupo ficaria desde que ainda fosse pago. Afinal, esse era um dos principais motivos para aceitar o trabalho.

― Quando a diretora me disse que tinha um novo membro para o meu grupo, eu imaginei que fosse você. ― Diferente do menino das cicatrizes, que preferiu manter o semblante fechado, Arthur foi amigável e receptivo.

― Vocês já se conheciam? ― perguntou Eliza, intrigada.

― Nos conhecemos há dois dias, durante o jantar ― respondeu Arthur. Apesar de estar diante de uma importante figura, sua postura ou voz não indicava nenhum indício de subserviência ou admiração. ― O que acha de se juntar ao meu grupo, Tércio?

― Bem, se já se conhecem, isso deve facilitar as coisas ― disse Eliza, que logo em seguida olhou para Tércio. ― Eu garanto que Arthur não tentará tirar proveito de você. E ele também tem uma força decente. Fazer parte do grupo dele será muito vantajoso para você.

Tércio olhou com bastante atenção para a duquesa enquanto ela terminava de falar. Sua confiança em Arthur era evidente, algo que ficou claro pela seriedade no tom e no olhar. Isso tornou fácil a decisão.

― Por mim tudo bem ― respondeu o ex-prisioneiro, dando de ombros. ― Só não espere que te siga por aí feito um cachorro ― avisou com sinceridade.

Não é preciso dizer, mas ele odeia receber ordens. Mesmo que fosse dada por um superior, não era de seu agrado sair escutando as pessoas só porque lhe disseram para fazer.

― Não importa ― disse Arthur, bastante despreocupado. ― Para ser franco, eu também não gosto muito de ficar mandando.

― Agora que já está decidido, vamos ao próximo assunto ― Eliza voltou a se manifestar. Ela não tentou esconder que ficou satisfeita com o resultado. ― Eu sei que é um pouco repentino, mas... Tércio ― sua expressão ficou séria ―, amanhã uma equipe partirá para escoltar os novos alunos, você poderia ir junto?

― Buscar os novos alunos? ― perguntou o garoto, confuso.

― Como a academia fica na floresta, muitas pessoas não têm condições de viajar até aqui de forma segura. É por isso que todo ano, quando as aulas estão próximas de começar, a academia disponibiliza uma equipe de soldados e combatentes para escoltar os novos alunos em segurança ― explicou Arthur.

― Esse tipo de coisa costuma ser feita quando está faltando um ou dois meses para o início das aulas, mas esse ano tivemos alguns... imprevistos ― desviou o olhar.

Hm... Então amanhã nós iremos buscar esses novos alunos? ― Mesmo para Tércio, isso era repentino demais.

― Sinto muito! Eu deveria ter avisado sobre isso ontem, mas acabei me esquecendo ― desculpou-se a diretora com sinceridade. ― As aulas irão começar em vinte dias. É por isso que devemos mandar um grupo de escolta o quanto antes, já que a viagem de ida e volta é longa.

O tom de voz de Eliza era de quem estava fazendo um pedido. Parecia que ela queria muito que Tércio fosse nessa viagem.

E depois de algum tempo pensando, o antigo residente da prisão da capital falou:

― Eu achei que a Equipe de Subjugação fosse responsável por ajudar a defender a academia dos monstros. Porque também precisamos fazer um trabalho de escolta? Não seria melhor deixar isso para os soldados?

― É claro que defender a academia de ataque dos monstros é a principal função da Equipe de Subjugação. Contudo, quando necessário, vocês também ficarão responsáveis por proteger as pessoas que desejam visitar a academia ou deixá-la, entre outras coisas ― explicou a duquesa, tentando persuadi-lo.

― Entendo. ― Ele estava conformado. ― A gente vai sair de manhã? ― olhou para Arthur, esperando uma confirmação.

Mas ele não respondeu de imediato. Foi só depois de uma longa espera que falou:

― Estava falando comigo? ― balançou a cabeça, expulsando os pensamentos aleatórios. ― Eu não escutei. O que foi que você perguntou? ― O líder do grupo esboçou um sorriso desajeitado enquanto coçava a cabeça.

Como a diretora e o garoto estavam conversando entre si, Arthur acabou se desligando e parou de prestar atenção na conversa. Demorou algum tempo para perceber que outra vez estava sendo citado na conversa.

― A gente vai deixar a academia pela manhã? ― repetiu Tércio.

― Creio que sim. Para ser sincero eu também não sei ― confessou Arthur, abrindo os braços e balançando a cabeça.

E tal postura negligente chamou a atenção da diretora, que olhou para o aluno veterano e perguntou em um tom mais severo:

― Arthur, a conselheira Darcy me disse que realizou uma reunião para falar sobre isso. Você não participou?

A resposta do rapaz foi imediata e relaxada:

― Aquela reunião, hm... ― coçou o queixo e olhou para o alto, divagando. – Eu fui! ― garantiu. ― Claro que fui. Mas... eu estava tão preocupado com o sumiço da Srta. Griffon que durante as últimas semanas não conseguia pensar ou comer direito.

― E o memorando? ― Eliza não precisou se esforçar para perceber a tentativa de ganhar empatia.

― Um esquilo invadiu meu quarto e devorou tudo ― balançou os ombros de uma forma teatral. ― O memorando virou um monte de papel picado. Eu até pensei em dar uma lição no bicho, mas fiquei com dó quando olhei nos olhos dele. Parecia até que estava dizendo meu nome e pedindo desculpa.

Em silêncio, a duquesa olhou para ele por um tempo e então soltou um profundo suspiro. Ela não podia fazer nada, a não ser ter paciência. Até porque, tinha um mordomo que também era difícil de lidar.

Pensando nisso, ela olhou para Kay, que estava parado ao seu lado, quieto, sem dizer uma única palavra ou fazer uma brincadeira ― igual a uma estátua.

E então, a duquesa suspirou de novo.

As alegações de Arthur arrancaram um olhar suspeito de Tércio. Ao que parece, seu líder não era uma das pessoas mais honestas. Ele não conseguia deixar de pensar: “quem foi o louco que colocou esse cara na liderança?”

― Bem, tanto faz. ― A duquesa deu de ombros à medida que soltava um suspiro conformado. ― Pedirei para alguém te informar os detalhes mais tarde ― falou mirando Arthur. ― De qualquer forma, vocês partirão amanhã de manhã. Todos irão se reunir no lado oeste da escola. Estejam preparados.

― Entendo. Tentarei me lembrar disso. ― O mentiroso não estava nem um pouco preocupado.

Eliza, mais uma vez olhou para Arthur com um olhar rígido e depois se virou para Tércio, com uma expressão um pouco mais serena:

― Eu sei que é pouco tempo, mas você também deve se preparar ― reforçou o aviso. ― Como será uma longa viagem, por que você não leva algumas das roupas que compramos ontem?

Ouvindo as palavras da Srta. Griffon, Arthur não pôde conter a curiosidade que despertou de repente. A palavra; “compramos”, ganhou o seu interesse. Mas ele manteve isso para si mesmo.

― Vou levar algumas ― garantiu Tércio assentindo com a cabeça.

Eliza se sentiu satisfeita com a resposta e exibiu uma expressão branda. Não se tratava de um grande avanço, mas o garoto parecia estar aos poucos dando-lhe mais atenção.

― Vocês me desculpem, mas eu tenho muito trabalho pela frente, então poderiam me deixar sozinha agora? ― A desculpa da diretora foi principalmente para o novo estudante. E Arthur entendeu isso, mas não se importou. ― Tércio, se tiver alguma dúvida, sinta-se livre para me procurar quando quiser.

E após isso, ambos garotos deixaram a sala.

 


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