O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capitulo 18: Botas justas

Agora sozinho no quarto, Tércio olhou para as roupas que tinha em mãos. Ele queria poder vesti-las em seu significado real, como um verdadeiro aluno da academia Elefthería, mas isso não passava de um sonho bobo.

Desapegado desse sonho infantil, o esperançoso jovem jogou as roupas brancas em cima da cama e dedicou mais atenção para o uniforme preto da equipe de subjugação. Eram realmente vestes belas, mesmo a calça possuindo uma configuração mais simples. E para ser sincero, achava que o tom combinava mais com o seu estilo.

Então, decidido a se livrar de seus trapos malcheirosos, que estava fazendo suas narinas arderem depois do banho perfumado, Tércio arrancou as roupas velhas e as jogou no canto sem qualquer compaixão ou nostalgia, e em seguida pegou a calça que era toda pintada de preto e a vestiu...

“Que sensação...”, pensou involuntariamente. O simples ato de trajar aquela calça... Não havia nada mais reconfortante. Era tão macia e tão leve que teve a impressão de estar vestindo uma nuvem fofinha. Não que ele soubesse como era vestir uma nuvem, mas não havia maneira melhor de descrever tal maravilha.

Após vestir a calça de maneira apropriada, ele deu alguns pulos para certificar que estava presa na cintura. Exibiu sua incrível elasticidade esticando a perna o mais alto que pôde e chutou o ar algumas vezes. Não era só confortável, o traje também era bastante elástico. Numa batalha, ela não impediria em nada os seus movimentos. E isso era importante para o gladiador ilegal, já que seu estilo de luta consistia no quão ágil poderia se mover.

Agora era a vez da camisa. Só de tê-la em mãos, ele sabia que ela era igualmente confortável. Tércio desabotoou os botões dourados e após vesti-la, tornou a abotoá-la. Girou os braços e, assim como a calça, não havia restrição em seus movimentos.

De início, pensou que tanto a camisa, quanto a calça, seria um pouco grande para suas medidas. Mas após vesti-las percebeu que não poderia estar mais errado. Ambas tinham o tamanho exato de seu corpo. Eram perfeitas em todos os aspectos.

Lamentando não ter um espelho por perto, ele pegou as botas, que também estavam em cima da cama. Com os calçados em mãos, Tércio logo viu um problema. Esses eram de fato grandes demais para seus pés cascudos ainda em desenvolvimentos. Dessa vez tinha certeza.

Mas mesmo assim, comparou a sola da bota esquerda com o couro encardido, e como imaginou, havia pelo menos cinco dedos de folga.

Tércio suspirou um pouco desapontado! Depois da camisa e calça servirem tão bem, era decepcionante que as botas fossem grandes demais. No entanto, ainda assim, isso era melhor do que ter de continuar andando descalço.

Já fazia tanto tempo que não usava nada para cobrir seus pés, que eles, de tão calejados, tornaram-se quase tão duros quanto cascos de cavalo. Mas agora ele enfim poderia parar de se preocupar em olhar por onde pisa, já que com as botas, coisas pontiagudas não seria mais um problema. É por isso que mesmo sendo folgadas, as usaria de bom grado.

Tércio se sentou na beira da cama e começou a calçar o presente. Um pé após o outro ele vestiu e assim como previu, a sensação de liberdade era grande demais. O garoto não conseguiu deixar de pensar que, o vasto espaço vazio, acabaria dificultando seus movimentos e isso era um problema.

Tentado a achar uma solução para o problema ― como cortar um pedaço ou encher de meias roubadas às pontas ―, Tércio começou a bater o pé no chão e sacudir os calçados na esperança de que algo lhe viesse à mente.

Mas de repente algo começou a acontecer...

Um brilho tímido emergiu da abertura das botas e clareou debilmente as canelas do garoto.

Assustado com o brilho repentino, ele tentou arrancá-las, mas sem sucesso. Determinado a tirá-la, agarrou firmemente a bota que estava presa no pé direito e a puxou usando toda a força que tinha. Puxou tão forte que até caiu da cama e mesmo assim o calçado, persistente, não cedeu.

A bota aos poucos foi abraçando os pés de Tércio. Aos poucos a pressão foi aumentando. Era visível que ela estava diminuindo de tamanho, pouco a pouco, ficando cada vez menor. Ele já estava começando a sentir uma pontada de desespero surgindo do fundo de seu coração. Puxava com toda a sua força, mas nada acontecia.

Sentia que precisava se livrar dos sapatos de qualquer jeito, do contrário, seus pés seriam esmagados. O Atroz ativou sua magia e chamas brotaram de sua mão.

Porém, quando estava perto de atacar, o brilho misterioso de repente parou.

Sem perder tempo, ele tentou tirar as botas, mas dessa vez elas saíram com facilidade.

 Ainda um pouco confuso com a situação, Tércio olhou para os seus pés e viu que ambos estavam bem, sem nenhum machucado ou marcas de estrangulamento. Em seguida, voltou seu olhar para o interior do calçado, tentando achar a origem do brilho misterioso.

Por dentro parecia ser um par de sapatos normais, não que entendesse muito disso, mas para ele estava tudo em ordem. Não havia nada de anormal. Bem, quase nada. A única exceção era um desenho de formas estranhas que estava gravado sobre as palmilhas.

O desenho consistia em dois pássaros, um menor que o outro. A parte estranha era que se você olhasse rápido, teria a impressão de que o pássaro maior estava diminuindo de tamanho, como uma ilusão de ótica.

Tércio nunca tinha visto nada parecido com aquilo, mas como era um simples desenho, pensou que aquela gravura não era nada mais do que a assinatura usada pelo artesão que fabricou o conjunto.

― O que eu faço?! ― arquejou, pesaroso. Pensou que poderia ser perigoso voltar a calçá-las, mas por outro lado, não queria ter de continuar andando descalço. Foi por isso que continuou avaliando os calçados, em busca de algum indício de perigo, só que nada de anormal foi encontrado.

Então, depois de uma longa reflexão, decidiu tentar colocá-los novamente, mas desta vez ele seria bastante cauteloso e se algo estranho voltasse a acontecer, queimaria as botas sem hesitar.

Primeiro vestiu o pé direito, e esperou...

Mas nada de preocupante aconteceu. Depois foi à vez do pé esquerdo...

E de novo, nada.

Tércio se pôs de pé e pulou, pulou e pulou, mas nada aconteceu. Então, pisou forte no chão, chutou um canto da parede. Mas não houve nem sinal daquele brilho misterioso.

Depois de muito pensar, achou tudo isso muito bizarro. Não fazia a mínima ideia do que tinha acabado de ocorrer, tanto é que estava começando a pensar que tudo não passou de sua imaginação. Talvez, passar uma semana próximo de Kay tenha lhe afetado. Mas então ele percebeu algo.

O sapato que antes sobrava espaço, agora envolvia com perfeição os seus pés. Não havia sequer uma folga. Era como se eles tivessem sido feitos especificamente para o seu tamanho.

Fico menor... ― murmurou, olhando para os sapatos com estranheza. Ele não fazia ideia de como ou por que, porém não havia dúvidas de que eles tinham diminuído de tamanho e agora cabiam em seus pés.

Era tudo muito misterioso. Os sapatos se tornaram muito confortáveis e agradáveis de usar.

Curioso como era, Tércio queria ficar ali e desvendar os motivos para esse fenômeno bizarro. No entanto, agora que os calçados novos não ofereciam risco de esmagar os seus dedos, existia algo mais importante para fazer. E isso era jantar.

Mesmo que Henry tivesse pedido para guardarem o jantar, Tércio não queria correr o risco de se atrasar demais e acabar ficando esquecido, por isso decidiu deixar o quarto enquanto arrastava os cadarços desamarrados pelo corredor.

Como o caminho para chegar ao refeitório não era nenhuma encruzilhada, ele rapidamente alcançou o saguão repleto de mesas, todas muito bem alinhadas.

A primeira vista o refeitório parecia vazio, mas no momento em que entrou, uma garota, que demonstrava ter quase a mesma idade que a sua, só que ligeiramente mais velha, de cabelos marrons longos, vestida de empregada, saiu de uma sala, localizada no canto direito do saguão.

Ela caminhou até Tércio, tentando manter uma postura calma e bem polida. E quando chegou perto o suficiente, perguntou:

― Posso ajudar o jovem senhor? ― disse a jovem em um tom respeitoso, ao mesmo tempo em que mantinha um sorriso agradável no rosto.

― Um cara chamado Henry disse que pediu pra guardar o meu jantar. ― Contrário a ela, o garoto não demonstrava ser muito cordial.

– Ah, o senhor deve ser Tércio, o novo aluno. Certamente o professor Valérios pediu para que guardássemos o seu jantar, já que o Sr. Tércio poderia se atrasar um pouco.

Hm... professor? ― Tércio franziu a testa e esboçou uma sincera surpresa diante do comentário.

Descobrir que Henry era na verdade um professor o surpreendeu um pouco, já que até o momento o via como um simples assistente daquela conselheira assustadora.

― Sim! O Prof. Valérios é um dos melhores professores de Encantamentos Mágicos da academia Elefthería.

― Encantamentos Mágicos?! Oh! ― exclamou, impressionado. ― Então o cara é fodão mesmo, hein?

― Fo... ― o linguajar grosseiro deixou a empregada sem reação e profundamente espantada com a vulgaridade. ― Sim... o professor é um grande exemplo para muitos. Pois bem ― logo tratou de mudar de assunto ―, Sr. Tércio, eu irei trazer sua refeição. ― disse ela, fazendo uma pequena reverência antes de se afastar.

― Tércio! ― pronunciou ele, com firmeza.

― ... Como disse? ― A jovem o encarou parecendo um tanto confusa.

― Essa coisa de senhor é um saco! Meu nome é Tércio, e só.

― Como desejar, Tércio! ― dizendo isso, ela se virou e saiu rumo à sala de antes.

 Não querendo dar muito trabalho para a garota, o pouco civilizado escolheu sentar na mesa que ficava mais próxima da sala na qual ela entrou. O objeto era feito de madeira rústica queimada e muito bem polida e envernizada, com seis cadeiras em cada lado. Ele se sentou na ponta e aguardou.

Enquanto esperava, olhou para os sapatos desamarrados e se lembrou do evento que acontecera há pouco tempo. Por sorte seus calçados estavam se comportando como filhos educados, mas mesmo assim ele se preocupava que aquilo poderia voltar a acontecer.

À medida que esperava a refeição chegar, Tércio continuou a buscar respostas na tentativa de explicar o estranho fenômeno responsável por quase esmagar seus dedos. Que aquilo não foi sua imaginação ele tinha certeza... Bem, um pouco de certeza.

Enquanto estava entretido, uma voz animada entrou pelo salão.

Ah, que bom! Eu não sou o único atrasado. Ahahah! ― falou um desconhecido. Tércio olhou na direção da voz e viu que um garoto, um pouco mais velho e alto, aproximava-se.

 


Nota do autor

Eae, como vão?

então, passando aqui rapidinho só para avisar que eu fiz um PIX só para as coisas que eu escrevo. Ainda não tenho nada específico para ele, POR ENQUANTO, mas prometo farei o meu melhor para atender os pedidos de quem puder dar essa ajuda. E também irei aumentar a frequência dos capítulos de O Condenado.

o PIX é: [email protected]

Ah, e amanhã tem mais um capítulo.



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